História Enlace (Larry Stylinson - ABO) - XXVIII. O passado deve ficar em seu devido lugar

Não seria mentira se eu dissesse que tive a melhor noite de minha vida. Harry parecia em êxtase em meus braços e não deixou de sorrir mesmo enquanto eu passava remédio e fazia um curativo sobre sua mordida.

– Me desculpe. – Ele disse enquanto me olhava com seus olhos verdes ainda brilhando de forma desconcertante.

– Pelo quê? – Beijei sobre o curativo e percebi seu corpo se arrepiar.

– Por ter um dia duvidado do seu amor. – Ele suspirou. – Louis, eu sinto tudo! Sinto tudo o que você sente por mim, sinto como se sentiu em nosso primeiro beijo, sinto o que sentiu em nossa primeira noite e em meu primeiro heat. Sinto como você se sentiu quando descobriu que seria pai. Deus! – Disse chocado. – Como conseguiu guardar tudo isso para você?

– Eu sou paciente. – Disse sem graça, me deitando na cama ao seu lado.

– Muito mais do que paciente. – Ele se deitou sobre mim, com o queixo apoiado sobre as mãos espalmadas em meu peito, meio de lado por conta da barriga saliente. – Eu estou envergonhado, para dizer o mínimo, eu não sentia o mesmo e fiz tanta coisa errada...

– Você não tem que se envergonhar de nada. – Segurei seu rosto em minhas mãos. – Seria doentio de minha parte se cobrasse de você que sentisse o mesmo. Não seria real se eu o obrigasse a me amar. Eu já me arrependi muito de um dia ter tentado te forçar a algo.

– Viu? – Ele se levantou, sentando sobre meus quadris e erguendo os braços de forma dramática. – Você é tipo o alfa perfeito! – Eu ri com vontade.

– Eu não quero ser o alfa perfeito. Estou muito longe disso, perdi a cabeça muitas vezes. Eu só quero que você se sinta bem, amado e feliz.

– Eu desisto! – Ele riu. – Olha só o que você está dizendo.

O puxei pelos braços, com cuidado, mas rápido o suficiente para que ele risse e o joguei no colchão ao meu lado, fazendo cócegas nas laterais de sua barriga. Harry riu até perder o fôlego.

– Eu podia não te amar com tanta intensidade àquela época. – Ele acariciou meu rosto. –Mas eu amo agora. Intensamente. Profundamente. Com todo o meu coração. E de alma. Não senti o mesmo que você quando descobri sobre nosso bebê, mas hoje eu sinto. Eu amo vocês dois demais!  

Sorri bobo por suas palavras e o beijei lentamente, sentindo ali toda a verdade de suas palavras. Fomos interrompidos por uma mexida rápida de nosso bebê e nos afastamos rindo.

– Eu também quero fazer parte da festa, papai. – Disse em uma voz infantil, acariciando sua barriga.

– Você é a parte mais importante dela, bebê. – Me abaixei para beijar sua barriga e acariciei com minha bochecha.

Foi ainda mais especial ter Harry em meus braços enquanto ele dormia. E ainda melhor por ser acordado por seus beijinhos. Ele parecia mesmo disposto a me fazer sentir amado e, embora eu tivesse certeza de seu amor e não gostasse que ele se sentisse como se me devesse algo, estava amando ser mimado por ele.

Ganhei, inclusive, um beijo na bochecha cheio de espuma de pasta de dente, o que fez Harry rir pela travessura. Em resposta, segurei seu rosto e lhe dei um selinho, unindo nossas bocas sujas pela espuma. Rimos os dois, totalmente presos em nossa bolha de amor.

Quando descemos para o café, Anne se sobressaltou ao ver o curativo no pescoço de meu ômega, mas logo depois sorriu, deixando um beijo nos cachos do Harry, que se sentou à mesa e piscou para mim sem que seu filho visse. Sempre soube que minha sogra era minha maior fã.

Quando chegamos ao colégio, encontramos Liam com Niall em suas costas, preso a si como um pequeno filhote, eles riam de alguma piada interna e pareciam felizes como se nada de ruim tivesse ocorrido.

Eu desejava que minhas brigas com Harry fossem assim, efêmeras e sem grandes consequências.

– Harry! – Niall disse animado, pulando das costas do namorado. – Tenho boas notícias, quer dizer, boa para nós e péssima para nosso professor de geografia que está doente. – Eu ri. – Mas teremos as duas últimas aulas vagas e os meninos vão estar na aula de educação física, o que significa...

– Que você e Liam vão fazer sexo no vestiário? – Eu brinquei interrompendo-o.

– Na verdade, eu ia convidá-los para sexo grupal. – Niall entrou da brincadeira. – Agora que vocês também se ataram, não corremos mais riscos desnecessários e podemos explorar nossa sexualidade animal. – Piscou.

– Vocês o quê?! – O outro alfa disse chocado.

Nós não havíamos contado para ninguém, mas Niall era sagaz demais, ele não precisava de alguém para contar-lhe. Por isso, ele simplesmente abaixou a gola da camiseta de Harry, que corou quando Liam assoviou surpreso.

– Ia acontecer mais cedo ou mais tarde. – O ômega deu de ombros.

– Bem vindos à monogamia na adolescência. – Liam debochou, dando tapinhas em meu ombro. – Nem parece o mesmo alfa que debochava de mim.

– A maturidade chega para todos. – Respondi erguendo os ombros.

– Abençoado seja Edward! – Liam dramatizou comemorando.

– Até você, Liam? – Harry revirou os olhos.

– Desculpa, é que Niall só o chama de Edward.

– Eu sou voto vencido em tudo. Francamente. – Meu ômega saiu andando na frente, fazendo cena e nós três rimos.

Niall tinha razão sobre seu professor e acabou que eles não teriam as duas últimas aulas. Eu e Liam teríamos aula de educação física e Harry e Niall combinaram de nos esperar.

Estava saindo do vestiário quando escutei Harry reclamar.

– Ai, Niall! – Ele reclamou.

– Eu sei que dói, mas o que quer que eu faça? – Liam parou ao meu lado e me olhou confuso.

– Você pode, por favor, fazer isso devagar? – Harry pediu.

– Só vai ser pior, o melhor é fazer rápido, assim dói tudo de uma vez e depois fica melhor. – Liam arregalou os olhos e eu comecei a rir.

– Você é um maldito pervertido, Liam. – Eu disse rindo, enquanto entrava no banheiro ocupado pelos ômegas, ganhando seus olhares.

– Eu não disse nada! – O outro alfa se defendeu, me acompanhando.

– Nem precisou. – Eu ri.

Muito diferente do que a mente pervertida de Liam, e talvez a minha, imaginou, os dois ômegas estavam perto da pia, em frente ao espelho e Harry estava de costas para Niall, que examinava o curativo em seu pescoço.

– Vocês sabem que não deveriam estar aqui no banheiro dos ômegas, não é? – Niall nos repreendeu.

– Claro, porque vai ser a primeira vez que eu entro em um banheiro por causa do Harry e a primeira que Liam entra para te agarrar, porque obviamente, vocês nunca transaram no banheiro da escola.

– Eu não acredito que você contou para o Louis! – O ômega corou violentamente e deu um tapa no braço de Liam.

– Eu estava bêbado... – Ele se defendeu.

– Niall James Horan! – Harry disse chocado. – Que ousado, nunca ia imaginar que meu melhor amigo ômega, fofo e com carinha de bebê, ia arrastar seu alfa para transar no banheiro do colégio. E dizem que eu é que era o safado do grupo...

– Eu estava em pré-heat, era uma necessidade fisiológica. – O ômega, mais vermelho do que já esteve em toda a sua vida, se defendeu.

– Baby, porque você acha que a monogamia nunca foi um sacrifício para o Liam. Niall é uma máquina de sexo. – Eu e Harry gargalhamos, enquanto os dois ficavam cada vez mais vermelhos.

– Nós conversamos em casa. – Niall ameaçou o namorado. – Quero saber quem mais conhece nossas experiências sexuais.

– Ih, o chicote vai estralar hoje, Liam. – Debochei.

– Agora eu super consigo imaginar o Liam algemado na cama e o Niall lhe dando tapas e usando o chicote, no maior estilo dominador. – Harry nem terminou de falar e gritou de dor. Niall aproveitou o momento de distração para puxar o curativo que estava incomodando meu ômega.

– O único de nós que nunca brincou de subjugar o alfa é você e você não sabe o prazer que está perdendo. – O loiro piscou para Harry, que o olhava tão chocado quanto eu. – Vamos, papai coala. – Voltou-se ao Liam e pulou em seu colo, sendo recebido de braços abertos pelo outro. – Harry, esqueça os remédios e curativos, a mordida não é uma ferida comum, peça para Louis cuidar disso, a saliva dele vai fazer isso cicatrizar em um dia. – E se foi, sendo levado por seu alfa.

– Quem é aquele e o que ele fez com meu amigo Niall? – Ele me perguntou rindo.

Eu me virei para ele e abracei sua cintura prensando-o contra a pia do banheiro.

– Não sei, mas acho que deveríamos ouvi-lo. Sussurrei próximo ao seu ouvido e comecei a beijar seu pescoço, fazendo seu corpo se arrepiar. – Vai ser um sacrifício horrível ter que beijar você, seu lindo pescoço e a marca que diz que somos um do outro para sempre. – Mordi o lóbulo de sua orelha e ele gemeu baixinho.

Segurei suas coxas e o coloquei sentado sobre a pia enquanto passava a lamber sua mordida, alternando com beijos molhados, lentos e carinhosos. Era um momento ótimo, tanto que eu havia esquecido o lugar em que estávamos. Estava totalmente focado no ômega gemendo manhoso em meus braços.

Mas para minha total infelicidade, embora tenha sido necessário, já que eu começava a ficar excitado, fomos interrompidos por alguém que entrou no banheiro.

– Opa! – O ômega desconhecido corou e paralisou – porta. Mas correu para uma das cabines, fazendo com que Harry e eu ríssemos.

– Está muito melhor, obrigada. – Ele passou os dedos sobre a mordida.

– Por que não me disse que estava doendo?

– Achei que era normal. – Ele ergueu os ombros um pouco culpado. – Niall é que disse que a dele não doeu nada, porque Liam tratou-a com sua saliva. Achei meio nojento quando ele disse, mas eu gostei dos seus métodos. – Eu ri e lhe dei um selinho.

– Vamos repetir mais tarde. – Murmurei próximo aos seus lábios.

– Vou cobrar. – Ele me puxou e demos um último beijo antes de sair.

Quando cheguei os times já haviam sido divididos, mas não era algo com o qual eu precisava me preocupar, porque, modéstia à parte, eu sempre era a primeira pessoa a ser escolhida.

Mas diferente do que geralmente acontecia, mal encostei-me à bola e joguei mais mal do que em qualquer outro dia de minha vida.

Isso porque meus olhos e, principalmente, minha mente não conseguiam desligar da imagem que acontecia nas arquibancadas. Harry estava rodeado por dois alfas e um ômega, mas não era um encontro do tipo amigável, eles davam algumas risadas que não eram acompanhadas pelo meu ômega, mas principalmente porque eu sentia a angústia de Harry crescer, a mordida era mesmo uma ligação muito forte.

Nem esperei um pedido por parte dele para correr até o lugar. Assim que me aproximei pude ouvir Niall rindo debochadamente.

– Sim, olha só como Harry está mal, ele nem tem um alfa tão incrível e lindo quanto Louis. Por falar nisso, oi, Lou. – Abriu um sorriso cínico. Niall sabia ser afrontoso quando queria.

– Tudo bem? – Perguntei a Harry, ajoelhando-me à sua frente e vendo que ele segurava as lágrimas. – Saiam daqui. – Eu sabia que soava rude, mas era tudo o que eles mereciam. – Harry está grávido, saiam logo daqui antes que eu esqueça o diálogo.

– Nós não dissemos nada de errado, Louis. – Um dos alfas, Justin, disse risonho. – Acredite em mim, é impossível ignorar o fato de Harry estar grávido. – Ele levou a mão até sua barriga lisa e fez um contorno em alusão à barriga de meu ômega.

– Vamos para a casa? – Perguntei a Harry, acariciando seu rosto.

– Viu, Harry? – O garoto continuou. – É disso que estávamos falando, se atar é coisa séria. Eu só queria que soubesse que vou sentir saudade daquele ômega feliz e bêbado das festas, que eu beijei algumas vezes e que sempre deixava que eu me divertisse um pouco mais. – Maliciou.

Harry murchou e empalideceu, por outro lado, eu enrijeci e senti meu sangue correr mais rápido por minhas veias.

– Vamos, baby. – Mantive meu carinho em Harry e me levantei. Percebi que Liam já estava parado ao meu lado, provavelmente após ter percebido minha mudança abrupta de humor. – Eu disse para Liam que poderíamos almoçar juntos e depois podemos ir visitar o apartamento. – Sorri o mais natural que consegui.

– Porra, Louis. Você está estragando nossa diversão, colocando uma coleira nele!

– Sei que está se esforçando muito para conseguir um soco na cara, mas não vai conseguir me irritar. – Disse o mais calmo possível. – Qualquer alfa babaca que tente desqualificar um ômega por algo que ele fez para se divertir no passado enquanto era solteiro, principalmente, quando se trata de um ômega grávido e recém atado, só merece a minha pena por ser tão pobre de espírito e sentimentos e os meus votos de que nunca tenha um ômega ao lado, porque nenhum deles merece alguém como você. – Voltei minha atenção para meu ômega que não chorava mais. – Vamos? Vou te ajudar a esconder do médico que vamos comer pizza hoje no almoço. – Pisquei para ele e ganhei um sorriso.

– Você é um babaca ridículo e prepotente, que se sente o máximo só porque conseguiu o ômega mais requisitado. Não se ache tanto, todo mundo já pegou o Harry. – O alfa rebateu

– Os melhores querem os melhor. – Respondi calmo, fazendo Harry rir.

– Com muito queijo? – O ômega perguntou.

– Qual é a graça de pizza sem muito queijo? – Niall deu risada.

– Niall está muito inteligente hoje, acho que a água oxigenada ainda não atingiu o cérebro. – Brinquei e todos riram, mas Liam parou no momento em que Niall o fuzilou com o olhar.

– Você está muito engraçadinho hoje, não pense que esqueci de que espalhou meus segredos por aí. Vai ter volta, Louis! – Niall rebateu.

Combinamos de nos encontrar em uma pizzaria, mas assim que entramos no carro, eu tive que abordar o assunto, porque por mais que soubesse que Harry estava melhor, também sabia que ele ainda remoia aquelas palavras.

– Amor, não acredito que está levando em consideração o que aquele babaca disse.

- Eu só... – Suspirou. – Eu me senti péssimo, do tipo muito, muito culpado. Escutar ele falando de como eu costumava ser antes me fez lembrar que você já me amava naquela época e eu...

– Nós não namorávamos, você era livre para ficar com quem quisesse.

– Mas você...

– Eu também tive outras pessoas, Hazz. Zayn, Eleanor, algumas que eu nem lembro o nome. Está tudo bem, o passado tem que ficar em seu devido lugar, no próprio passado, trazer isso para nosso relacionamento não vai nos trazer nada de bom.

– Eu queria que estivéssemos juntos desde sempre, como Niall e Liam. Queria que nunca tivéssemos brigado e que eu nunca tivesse te julgado mal.

– Então não seríamos nós. Nossa história é linda porque é nossa, lembra?

– Pelo menos eu não cometi o erro de deixar outra pessoa me tocar. – Abri um sorriso involuntário. – Quando meu filho ômega vir me perguntar como foi a minha primeira vez, eu vou dizer que foi com o pai dele e que foi lindo e que você sempre foi o único em minha vida.

– Eu não acho que fazer sexo escondido de sua irmã, quando seus pais viajaram e tendo dificuldade para colocar a camisinha seja uma história linda de primeira vez. – Rimos ao lembrar da bagunça que foi aquela noite.

– Foi lindo, porque foi a nossa história. – Ele rebateu enquanto acariciava meus cabelos e eu dirigia. – E foi muito bom saber que você nem sabia colocar a camisinha, então eu soube que se fizesse algo de errado, você não iria me julgar.

– É, acho que depois de desperdiçar três camisinhas enquanto tentava colocar uma, você poderia ter desistido de transar comigo que eu acharia muito sensato de sua parte. – Eu brinquei e ele gargalhou.

– Foi bom ter acontecido aquilo, eu estava nervoso e sua pequena dificuldade me fez rir e quebrar o clima tenso. Eu me senti bem mais solto e livre.

– Ei, o que quer dizer com “pequena dificuldade.” – Perguntei chocado e ele gargalhou novamente.

– A sua “pequena dificuldade” – Fez as aspas. – Não tem nada de pequena e você sabe disso, não era a isso que eu me referi. – Ele explicou. – Além do mais, sua dificuldade com camisinhas nos rendeu um filho. – Acariciou a barriga.

– Eu juro que vou fazer um curso intensivo sobre como colocar uma camisinha direito depois que ele nascer. – Brinquei.

– Curso é? – Ergueu a sobrancelha para mim. – E quem será o seu professor? – Soou ciumento.

– Eu vou ser autoditada, mas se quiser me ajudar, será sempre bem vindo. – Sorri malicioso e ele riu.  

– Lou, obrigado por ser tão incrível. – Soou bem mais leve. – Eu também tenho pena daqueles alfas que não são tão incríveis como você, sinto muito por cada ômega que não possa sentir um amor tão puro quanto o que eu sei que você sente por mim.