História Enquanto houver amor - 1. Laura

O relógio soou 17h10, argh! Hora de me aprontar para mais um dia de aula.

Preguiçosamente levanto do sofá da sala onde assistia a um filme que nem mesmo sei qual era o nome. Subo as escadas para ir ao meu quarto e tomo um banho demorado ao fim vestindo o meu look de sempre: jeans e tênis.

Com as costas da mão limpo o espelho embaçado pelo vapor e encaro uma garota pálida de olhos castanhos com cabelos rebeldes. Ô cabelinho que nunca me obedece! Penteio o cabelo com um pouco de dificuldade e prendo-o em um rabo de cavalo e, me dirijo a cozinha para fazer um rápido sanduíche.

Moro com minha mãe e não tenho pai, quer dizer, meu pai a deixou assim que soube que ela estava grávida. Nunca o conheci e obviamente por isso não sinto a falta dele ou de um carinho de pai, minha mãe sempre fez o papel dos dois. E, falando nisso tem o Christian que está com ela desde os meus nove anos de idade, não conversamos muito mas nos damos bem não se intrometendo na vida um do outro. Christian é um cara legal mas o considero apenas como marido da minha mãe.

Após preparar meu sanduíche volto para o meu quarto, ele é simples mas é aconchegante, um guarda roupa em um dos cantos da parede, ao meio do quarto uma cama de casal, logo ao lado minha escrivania onde ficam meu computador, alguns livros, meus ursinhos de infância... pois é, eu ainda os guardo e, uma foto minha com a mamãe num casamento de uma amiga dela. Na foto eu sorria exibindo o aparelho ortodôntico. Ah, como eu odiava aquele aparelho, mas hoje sou agradecida pelos dentes alinhados.

Durante o dia a casa é toda minha, minha mãe Isabella e Christian trabalham o dia todo e por isso sempre estou sozinha, não que isso me incomodasse.

Enquanto devoro o sanduíche pego o meu celular que deixei carregando durante a tarde toda e agora sentada na cama certifico se minha mãe não me enviou nenhuma mensagem como: "Tire a carne do congelador", ou para ir no mercado comprar algo. Mas ao contrário dela, outra pessoa havia me enviado mensagem.

Wallace Walker 16h07

Oi, Laura.

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Eu não o conhecia e muito menos respondia mensagens de estranhos mas ele não parecia ser uma má pessoa. Em seguida pensei na minha mãe, no que ela pensaria se por acaso eu estivesse conversando com algum "entranho": "Laura você não pode conversar com pessoas pela internet que não conheça, que nunca tenha visto... ainda mais homens. Deus me livre ser algum estrupador!!". Ela se desespera por pouca coisa e sempre procurou ter a razão em alguma coisa que eu dissesse e esteja ela certa ou não.

Ignorando meu pensamento irônico volto para a realidade. O garoto parecia ter a minha idade ou alguns anos mais velho que eu e admito que fiquei um pouco curiosa em respeito dele.

Com o polegar dei um clique na foto de perfil do garoto e fiquei a observando. Hmm... Wallace Walker, você não é nada feio, pensei boba.

A foto mostrava apenas acima de seu peito, tinha o cabelo escuro na altura da orelha e eram meio bagunçados mas de um jeito que caía bem nele; olhos castanhos e lábios carnudos que estampavam um leve sorriso. O sorriso que de alguma forma me fez sorrir. Me perguntei se ele fazia o meu tipo e fico na dúvida, mas acho que saberei quando encontrar.

Enquanto viajava imaginando coisas dou um pulo ao olhar a hora, tinha perdido a noção do tempo e as pressas termino de comer e me preparo para sair de casa e embarcar no ônibus que sairá dali sete minutos. "Andei" quatro quadras para chegar no ponto de ônibus e por pouco não consigo embarcar.
Em quinze minutos chego ao meu destino e embora o pessoal no colégio estivessem usando blusa eu estava só de camisa, ofegante por ter caminhado toda desengonçada feito louca para alcançar o ônibus.

As horas se arrastavam e eu só pensava em voltar para casa. No colégio não sou muito social, praticamente não falo com ninguém, nem olho... na verdade sempre fui meia tímida e sempre a última a ser escolhida para o time de futebol. Fico até agradecida quando alguém entra na minha frente evitando que a bola caia em pés errados.

                               ***

Como de costume lá estava ela, me aguardando do outro lado da rua dentro do carro.

— Oi mãe. — digo entrando no carro.

— Oi querida, como está? — pergunta ela sorrindo.

—Bem mãe, tudo bem. Como foi no trabalho hoje? — pergunto já sabendo a resposta.

— Ah... a mesma coisa de sempre: corrido!

Em poucos minutos estávamos em casa, minha mãe logo foi se deitar e o jantar foi nada mais que panqueca de carne ao molho branco, Christian adora e pelo menos uma vez na semana mamãe faz.

Enquanto jantava sozinha num silêncio absurdo, pela janela da cozinha eu olhava lá fora, estava tudo escuro mas o céu estava limpo sem nuvens e repleto de estrelas brilhantes. Automaticamente fui envolvida pelos meus pensamentos agoniantes e estava prestes a chorar mas ouvi uma porta se abrir do outro lado do cômodo.

— Boa noite Laura. — disse Christian após pegar uma garrafa de água na geladeira.

— Boa noite. — respondi e ele se retirou.

Peguei meu celular que estava no bolso da minha calça e no impulso fui até umas das minhas redes sociais e procurei por Wallace. Descobri que ele tinha vinte anos, mora em Seattle, sua mãe chama Martha, um irmão - Adam e, uma irmã linda chamada Ashley..."Que coisa feia ficar especulando a vida dos outros!", dizia o meu inconsciente. Bufei e ignoro o celular e deixo-o emcima da mesa e vou lavar a louça.

Quando estava quase acabando levo um susto quando o celular vibra da mesa. Não dei bola mas minha mão coçava por ter aquele celular. Enxuguei minhas mãos num pano de prato e fui em direção a mesa.

Wallace Walker 22h58

Se quiser conversar vou deixar o meu número.

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Ele, de novo ele. Em seguida recebo outra mensagem com um numero anexo. Mais uma vez ignoro a mensagem. Por que eu deveria responder?

                                ***

Não demorou para eu me deitar e com os olhos fechados eu me concentrava no sono mas de repente senti uma pequena claridade percorrer minhas pálpebras . Abri os olhos e vi meu celular depositado na mesinha ao lado da minha cama notificando uma nova mensagem.

Wallace Walker 23h37

Boa noite, Laura!!

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