História Entediante como sempre - One

Não acredito.

Simplesmente não.

     O Marshall realmente conseguiu, depois de duas garrafas de vodka e uma competição de quem bebia mais, ter a infame capacidade de atirar uma pedra na vitrine de uma loja. Agora cá estamos nós, sendo presos de novo por causa de algum cagueta de merda que parece estar sempre com um binóculos espionando a gente, só esperando a hora de denunciar quando fazemos algo errado.

    "Então não faça nada errado, Marceline" 

    Eu não faço nada errado! No máximo planto bananeira seminua em uma rodovia movimentada enquanto vomito litros de qualquer porcaria. Mas o Marshall consegue fazer muito pior. Ele paquera qualquer um que aparecer na frente, inclusive meninas de 13 anos voltando da escola. Esse foi o motivo de terem nos prendido da última vez, ele estava bêbado e deu um abraço forçado numa garotinha de 13 anos super assustada. Eu tentei parar, mas estava ocupada demais rindo. Hoje ele ultrapassou os limites da vergonha alheia e trajando apenas sua cueca, tacou uma pedra na vitrine da Losango's Candies, a loja mais famosa de doces da cidade.

    Quando a polícia chegou, nos encontraram seminus (como sempre), comendo um delicioso bolo de chocolate com recheio de creme de avelã e nozes. Não é culpa minha, ele consegue me convencer a fazer qualquer coisa quando estou bêbada! Juro que quando estou sóbria consigo evitar essas situações, pena que só saímos juntos fim de semana e eu estar sóbria de sexta à domingo, tipo... não rola.

    Chegou um amigo qualquer do meu pai e tirou a gente da delegacia, graças a Deus. Tinha um careca na nossa cela afiando uma pedra usando um pedaço de algo que não pude identificar. Acho que se tivéssemos saído 10 minutos mais tarde provavelmente seria com um furo entre as costelas. 

    Finalmente, chegamos no nosso apartamento. Nosso pai paga tudo que a gente usa, afinal ele é dono da " A. Enterprises", uma das empresas mais ricas do mundo, e contanto que nós estejamos vivos e indo pra escola, ele não liga. E não ligaria nem pra isso se não fosse para manter as aparências. Ele abafa qualquer caso que nos envolva, ou seja, nós fazemos o que nós queremos. O que o dinheiro não faz, não é mesmo?

    Nosso querido pai, para não nos ver sujos e largados em qualquer roupa barata e tendo a consciência de que não vamos encontrar um emprego tão rápido, nos beneficia com uma generosa mesada de aproximadamente cinco mil reais cada.

    Marshall está no segundo ano do ensino médio, ele tem 19 anos. Nós somos irmãos gêmeos, cabelos pretos, pele pálida, e nossa árvore genealógica nos presenteou com caninos afiados e grandes. Não sei o Marshall, mas eu tinha apelidos como: vampira da Fini, dente de morsa, e dente de foca. Mas depois do sétimo ano, cansaram de me chamar assim. Os únicos que me chamam de algo semelhante são o Finn e o Jake. Eles me chamam de "vamp-vamp" e às vezes "rainha dos vampiros". 

    Hã... tem outra pessoa que me chama de rainha dos vampiros, mas eu prefiro não comentar sobre isso.

    Tiro os fones de ouvido ouvindo o Marshall dizer algo da cozinha e grito:

    -QUÊ?! REPETE, EU TAVA DE FONE! 

    -EU PERGUNTEI SE VOCÊ QUER LASANHA! - Ele grita ainda mais alto que eu, e ouço o som dos botões do microondas sendo pressionados.

    -NÃO, VALEU, JÁ PEGUEI UMA MAÇÃ. - Digo, alcançando a maçã na mesinha ao lado da minha cama e dando uma mordida.

    Ouço o som de passos se aproximando rapidamente e corro pra fechar a porta, largando tudo que eu estava segurando na cama, mas é tarde demais.

    -ATAQUE DO IRMÃO PROTETOR! - Marshall se atira em mim e nós caímos na cama. 

    Eu tento proteger minha maçã com todas forças, mas ele consegue pegar e jogar janela afora. Empurro ele pro lado irritada e bufando.

    -Por quê PORRAS você fez isso?! - Digo muito estressada, afinal era a última maçã, e eu amo maçã.

    -Marceline Abadeer, você não comeu NADA o dia inteiro. Não venha você, mocinha, me dizer que só vai comer uma maçã e dizer que está bem, não! - Ele fica gesticulando e se curvando pra frente e pra trás, imitando uma mãe. O avental rosa que ele usava só deixava mais engraçado, e eu tive que abafar a risada no travesseiro fingindo estar chorando de birra, pra entrar na brincadeira. Levanto a cabeça fungando e encaro Marshall.

    -Mas mãe... eu não tô com fome! 

    -Ah, não tá com fome? FOME DE INTERNETES E COISAS ELETRÔNICAS TÁ, NÉ? - Ele diz, puxando meu celular com fone e tudo de mim - ESSE MUNDO DE HOJE TÁ PERDIDO! PER-DI-DO! - Ele larga meu celular do meu lado e sai do quarto rebolando e estressado.

    Começo a rir pra caramba, me desequilibro e caio no chão de tanto rir. Ouço ele rindo da cozinha e rio ainda mais. Após uns 5 minutos rindo, eu fui pra cozinha e peguei um pedaço de lasanha, fazendo uma careta pro Marshall, e provocando:

    -Satisfeita, mamãe? 

    Ele suspira como se tivesse ouvido algo super idiota e diz:

    -Não tá fazendo mais do que a obrigação, menina. - ele abana o ar na direção do corredor e fala: - Depois de comer vai dormir que já passou do horário, vai.

    Depois de dois minutos em silêncio, ouço ele segurar uma risada parecendo um cachorro sem nariz espirrando e eu abro a boca e começo a rir muito alto, com a lasanha escorrendo pelos cantos e pela língua. O Marshall vê aquilo e solta uma risada também, e nós ficamos rindo por um bom tempo, até eu terminar a lasanha.

   -Como você é idiota... - eu digo, rindo.

   -Você é mais, idiota. - ele sorri e eu aceno, atravessando o corredor.

    -Boa noite, Marshall! - falo em voz alta, fechando a porta do meu quarto atrás de mim e colocando meus fones enquanto me jogo na cama. A última coisa que ouvi foi um "boa noite" do Marshall, e apaguei de cansaço.