Gotham
Após todos os acontecimentos traumáticos dos últimos meses, a paz se instaurara novamente entre a família Wayne. Bruce, enfim tinha ao seu lado as pessoas que mais amava no mundo, tendo a certeza de que estavam em segurança. Selina, depois do longo período em uma realidade em que o homem de sua vida a odiava e onde sua filha nem sequer existia, enfim podia respirar aliviada. Helena mais uma vez sentia-se segura por estar em casa e feliz por ter descoberto o quanto amava realmente seus pais. Estar junto novamente deles e dos amigos lhe trouxera mais uma vez um sorriso ao rosto.
Clark e Lois haviam acabado de ir embora, levando o pequeno Jon que não estivera disposto a permanecer longe de casa. Bruce retornou a sala de estar/cinema após ter se despedido dos convidados.
- Eles realmente não quiseram ficar? – Selina perguntou, espreguiçando-se em uma das poltronas.
- Não. Lois disse que Jon não esta acostumado a dormir fora de casa, ele é ainda muito pequeno.
- Bruce, por que você não me disse que eles tiveram um filho?
- Selina, é muita informação para passar em apenas dois dias. Muita coisa aconteceu enquanto você esteve fora. De qualquer forma Clark faria questão de mostrá-lo para cada ser humano no planeta- brincou.
- Até parece que você não babou a Helena tanto quanto ele. Nós fomos muito corujas, também, Bruce. Pena que ela cresceu tão rápido... Você acredita que a nossa filha ajudou a derrotar um androide com super-força, pilotando um jato? O Batman “do outro mundo” deu a ela uma insígnia de honra. A nossa garotinha foi incrível.
Bruce a olhou, totalmente surpreso.
- Você a deixou pilotar um jato, sozinha? Ela nunca tinha feito isso antes...
- A Helena foi ótima... O androide absorvia os poderes de quem encostasse em sua superfície. Quando ele absorveu os poderes do Superman, ela e o Batman usaram os lança-mísseis dos jatos para atingi-lo com kripitonita...- Selina contava a história empolgada enquanto ele continuava a olhando, assustado. – Ela ganhou uma insígnia de honra em nome da Liga, Bruce.
Foi interrompida por uma mensagem de alerta vinda do celular de Bruce.
- Algum problema?
- É provável que sim... - respondeu, lhe dando um beijo e saindo apressado. Selina suspirou e deitou-se novamente no sofá. Como sempre, a calmaria precedia a tempestade.
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Itália- Um dia antes
Steven sabia que não havia tempo para lamentar a morte de Carlo. Lauren com certeza estava em perigo e cada segundo contava. Subiu as escadas correndo e entrou no quarto de hóspedes que ocupava. Trancou a porta e ligou o notebook em cima da escrivaninha. Enquanto o sistema iniciava, colocou três automáticas, munição e explosivos químicos em uma mochila. Logo em seguida o computador emitiu um alerta. O sistema de rastreamento que ele próprio criara mostrava a última localização da Caçadora: Gotham City. Quem quer que fosse que levara Lauren, estava disposto a uma guerra e ele estava preparado para iniciá-la.
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Gotham, tempo atual – Porto, no interior de um iate
Lauren abriu os olhos, logo que sua consciência foi despertada por uma voz familiar. Sua vista ainda turva não pôde distinguir o lugar onde estava, mas aquela voz áspera, ela jamais esquecera. Seus instintos estavam certos o tempo inteiro. Ele nunca estivera morto.
- Boa noite, minha querida. Que bom que você acordou a tempo para o jantar. – um homem gordo, extremamente alto e de barba a encarou com um sorriso sarcástico.
- Mandrágora- ela conseguiu falar, finalmente, ainda entorpecida.
- Eu mesmo, minha doce criança. Tenho certeza de que você tem boas lembranças de mim.
Ela não respondeu, mas a terrível imagem de seus pais mortos a atingiram em cheio. Durante vários anos sentira raiva por não ter exterminado com as próprias mãos o mandante do assassinato que destruíra sua vida. Agora aquele cretino estava bem diante de seus olhos.
Mandrágora sentou-se na mesa na frente de Lauren e a encarou.
- Eu soube que você se tornou uma boa lutadora, estudou várias artes marciais, aprendeu a arte do disfarce. Mas, você não foi capaz de se esconder de mim- proferiu as últimas palavras, segurando o rosto de Lauren com força, entre suas mãos. – Inclusive, seu pequeno truque de trocar de lugar com sua amada prima não funcionou muito bem, meu anjinho...
A um sinal do imponente mafioso, um capanga trouxe nos ombros uma moça de clara semelhança com Lauren. A verdadeira Lauren Iniesta foi jogada no chão. O homem que a trouxera retirou sua mordaça e foi embora.
- Me desculpe... – a jovem conseguiu dizer, com a voz já quase inexistente. O rosto machucado evidenciava as torturas que sofrera.
- Ohhhhh que meigo! Sua priminha sente muito por ter te entregado, Bertinelli. – Mandrágora olhou para a moça no chão com ar de desprezo. – Até que ela aguentou bem, antes de falar alguma coisa. Vamos ver se você vai ser leal também, Bertinelli...
O coração de Lauren/Helena disparou de ódio e ela gritou, enfurecida
- O QUE VOCÊ QUER?!
O asqueroso homem sorriu sarcasticamente.
- Não se preocupe. Vamos apenas fazer negócios. – Puxou uma mecha de seu cabelo e a cheirou. Lauren virou o rosto, com nojo- Eu soube que você andou incomodando meus aliados. Que você causou alguns problemas e matou a flechadas TRÊS DOS MEUS HOMENS! – O sarcasmo agora dera lugar a raiva. Mandrágora pegou uma afiada faca que estava em cima da mesa e passou pelo lado do pescoço de Lauren, arranhando sua pele, arrastando-a até o braço.
Uma cicatriz característica provocou sua atenção.
- ENTÃO É ASSIM QUE AQUELE CÃO DE GUARDA ACHA VOCÊ! –Mandrágora cortou o antebraço de Lauren com fúria, retirando um microchip que estava implantado sob o músculo.
O sangue escorreu rapidamente e Lauren urrou de dor.
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Em terra seca Steven estudava a melhor forma de render os homens que garantiam a segurança do mafioso. Precisava ser ágil e silencioso.
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Mandrágora sussurrava agora aos ouvidos de Lauren
- Eu disse que iria testar sua lealdade com sua querida família, não disse?
Lauren, estancava o sangue no seu braço e não levantou o rosto para olhá-lo. Ele a arrancou da cadeira e a levou para bombordo. Dois homens que estavam de guarda se aproximaram. Um deles arrastava com destreza sua prima, agora acordada. O outro carregava nos braços um menino amarrado e amordaçado. Não podia ter mais do que oito anos e estava terrivelmente assustado.
- Vamos, Bertineli... vamos ver se consegue salvar sua família dessa vez. E deixar a criança morrer, quem sabe– Ao dizer isso, tanto a jovem como o menino foram jogados no mar.
Em um ato de reflexo, Lauren pulou na água. E então o pavor apoderou-se de seu corpo. Não era possível enxergar nada além de meio metro. O menino franzino debatia-se, em desespero e afundava rapidamente. A outra mulher, a verdadeira Lauren, tentava manter-se na superfície, mas seu braços e pernas machucados não estavam correspondendo. Uma decisão terrível teria que ser tomada.
A alguns metros, na costa, dois contêineres de grande porte explodiram e Steven viu três homens correrem em direção ao fogo. Era sua deixa para avançar em direção ao iate. Com uma habilidade incrível, correu até o mar e mergulhou nas águas escuras. Em questão de segundos já estava entrando na embarcação. A roupa impermeável e de alta resistência não fora prejudicada pela água e seus movimentos continuavam rápidos e certeiros, quando atacou um dos guarda-costas. Um golpe agudo rente à nuca do homem o colocaria em inconsciência por no mínimo meia hora.
Mandrágora acabara de ser informado que não havia ninguém perto dos contêineres e, portanto, havia sido uma distração para um ataque direto.
- Revistem cada centímetro desse iate! O cachorro de guarda da Bertinelli esta aqui. – Olhou para a água, onde, com muita dificuldade, Lauren tentava trazer o menino à superfície. Com um sádico sorriso no rosto, o mafioso mirou a arma na outra garota, que tentava nadar em direção à terra seca. O tiro atingiu um de seus ombros e ela imediatamente começou a afundar.
- NÃAAAO!- Lauren gritou, já sem forças, enquanto puxava o menino consigo.
- AHAHAHAHAHAHAH, vá salvar sua prima, agora! Deixe o garoto. Ele é só um menino de rua, ninguém vai sentir falta!
O pobre menino, assustado, agarrou-se à mulher.
- Não, por favor! Não me deixe morrer! – A dormência nos músculos, causada por algum opiáceo e o peso do garoto, puxando seu pescoço, fizeram com que Lauren começasse a afundar. Mandrágora sorriu, satisfeito. Logo, logo, a última representante da família Bertinelli estaria morta.
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Steven lutava ferozmente com um dos homens, na sala do gigante iate. Seus braços pressionavam o pescoço do adversário com força, enquanto giravam pelo chão. Rapidamente o outro homem, usou o corpo de Steven como pêndulo e jogou-se de costas contra uma mesa de vidro. O vingador perdeu suas forças e sentiu que parte da sua nuca, desprotegida pela máscara, fora cortada. Ainda um pouco desorientado, usou um pedaço dos estilhaços para avançar contra o guarda-costas. O homem gritou de dor, ao sentir o vidro entrar em sua perna e os milésimos de segundo de desatenção foram suficientes para ser nocauteado por Steven. O próximo alvo era o nojento mafioso que acabara de descer as escadas com a arma em punho.
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Seus pulmões começaram a queimar, quando a água invadiu as vias respiratórias. Seu corpo não estava mais suportando a dor. Lauren estava lutando com todas suas forças para salvar aquela vida inocente, mas estava chegando a seu limite. Sua visão foi tomada pela água acima do seu corpo, enquanto afundava cada vez mais...
Inesperadamente, sentiu algo puxar seu corpo e o do menino para a superfície. Um vulto azulado a levou para perto da embarcação, enquanto carregava o menino em suas costas.
Enquanto recuperava as forças, agarrada a um cabo de aço preso no iate, viu Asa Noturna nadar até a superfície e levar a criança. Desesperada, Lauren começou a bater os braços na água, na mesma direção. Não iria perdoar-se se sua prima morresse por sua causa. Quando finalmente chegou na costa, viu que o jovem herói se revezava em fazer massagem cardíaca nas duas vítimas de afogamento.
- Eu a encontrei presa nas pedras do cais- informou Asa Noturna. – Ela não esta respondendo...
Lauren tomou o controle da situação e começou a massagear o peito da garota inconsciente, alternando com respirações boca a boca.
- VAMOS! RESPIRE! – suas mãos abertas pressionavam o tórax aparentemente sem vida. – VAMOS!
Ouviram-se tiros, vindos do Iate ao mesmo tempo em que o herói conseguia fazer o garotinho respirar novamente.
Lauren não podia suspirar aliviada, enquanto a outra vida inocente que estava em suas mãos fosse recuperada. O corte em seu antebraço começara a sangrar novamente, enquanto batia com força sobre a caixa torácica da mulher. Mas, seus esforços estavam sendo em vão, pois nenhum sinal de vida se manifestara.
Lauren sentou na terra, chorando, desolada. Em seguida, em um impulso de ódio, voltou em direção a água. Asa Noturna tentou impedi-la, puxando-a pela roupa:
- Fique aqui, eu e Batman resolvemos as coisas com Mandrágora!
A anti-heroína não obedeceu e pulou na água, rumo a sua vingança pessoal.
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Alguns minutos antes, na Mansão Wayne
Selina desceu à caverna, irritada. Depois do longo tempo de separação, Bruce ousara lhe deixar sozinha. Aparentemente ele e Dick haviam saído apressados após o alerta de uma explosão no porto. Sua irritação transformou-se em choque quando viu Helena ligando uma das motos do pai e indo em direção da saída da caverna.
- Helena Kyle-Wayne, onde você pensa que vai com tanta pressa?
- Preciso resolver umas coisas, mãe. Volto logo. – respondeu, ligando os comandos do veículo.
- Helena!
A garota saiu em meio a escuridão, em alta velocidade, deixando a mãe estarrecida.
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Batman acabara de imobilizar todos os capangas de Mandrágora que estavam em terra quando recebeu um chamado de Asa Noturna.
- A Caçadora voltou para o Iate! O garoto ainda esta lá dentro!
- Vá atrás deles, não podemos permitir mais um banho de sangue.
- Preciso levar duas vítimas para o hospital. Um garotinho de uns 8 anos e Lauren Iniesta, a verdadeira.Ela esta sem pulso, não posso esperar socorro!
- Vá, rápido! Eu vou atrás dos dois. – Batman desligou o comunicador.
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Steven escapara dos disparos feitos por Mandrágora, por muito pouco. Um dos tiros atingira sua orelha esquerda e agora o sangue respingava pelo chão, em abundância.
- Você realmente acha que vai conseguir me atingir, garoto? Você até que se defende bem, mas não vai durar muito com esse zumbido no ouvido... – gargalhou- Sua coleguinha, minha garotinha prodígio já foi. Agora é sua vez. – Apontou a arma automática para Steven, mas não disparou. A arma saltou para longe quando um violento golpe atingiu sua cabeça.
Lauren atirou a estaca de madeira no chão e encarou com ódio o mafioso, que se contorcia, desorientado. Todas as imagens terríveis de seus pais retornaram a sua mente. A dor e a raiva, a saudade. E agora, ele havia lhe tirado o último membro de sua família. Mais uma morte de inocente nas mãos de Mandrágora.
- Eu devia ter acabado com você quando eu pude, seu monstro imundo... – suas mãos estavam firmes segurando a arma, apontada para o peito do criminoso, quando uma voz grave e com autoridade irrompeu atrás de si
- Largue a arma, Caçadora! Deixe a justiça cuidar disso. – Batman estava determinado a reverter a situação e impedir a execução. Mas, a anti-heroína sentia seu peito arder pela dor e pelo desejo por vingança.
Um único tiro foi suficiente para dar fim à carreira criminosa de Mandrágora.
Nenhum dos três proferiu palavra alguma, deixando apenas o sinistro silêncio dominar. Até que poucos segundos depois, as sirenes de ambulâncias e da polícia foram ouvidas e Batman decidiu deixá-los ir através da escuridão da noite de Gotham.
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Helena pilotava pelas ruas da cidade, com maestria. Precisava chegar a tempo no porto. Os comentários cuidadosos que seu pai fizera sobre as últimas ações da Caçadora lhe deixaram confusa. Qual era a identidade do tão misterioso Vingador, que Dick falara sobre?
Os questionamentos em sua cabeça foram parados quando notou uma movimentação estranha em cima de alguns prédios. Ela poderia estar ficando louca, ou aquela era a própria Caçadora?
Sem pensar duas vezes, Helena deixou a moto para iniciar uma perseguição nas alturas. Usando suas habilidades acrobáticas razoáveis e alguns gadgets que roubara do pai, escalou um prédio residencial de 7 andares, pelas escadas externas. Escondeu-se a tempo de não ser notada por Bertineli, que avançava rapidamente para o próximo prédio. Quando levantou-se, saindo da sombra que a encobria, viu que o Caçadora, de fato não estava sozinha. O jovem Vingador aproximava-se, também correndo, com o rosto coberto pela máscara. Uma estranha sensação tomou o corpo de Helena, como se algo estivesse errado. De forma totalmente irracional, pulou em cima do desconhecido, fazendo com que os dois caíssem. Sem pensar duas vezes, tirou sua máscara e então o tempo parou. Tudo em volta começou a girar e o coração de Helena começou a bater forte em sua garganta. James. James Stark era o misterioso vingador.
Ainda atordoado pelo tiro que acertara sua orelha, ele se levantou, com dificuldade para se equilibrar. Helena aproximou-se, em choque, com os olhos lacrimejando e tocou seu rosto, com carinho. Tudo o que conseguiu dizer foi uma única palavra:
- Jamie...
Steven encarou a garota a sua frente, sem esboçar qualquer reação. Recolocou a máscara e partiu.
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