História Entre Herdeiros (Pausada) - Eu tenho certeza que você não vai viver pra fazer isso.

Carson Walker

Las Vegas – Estados Unidos

21h53min

Senti meu coração doer como se estivessem o cutucando com a ponta de uma faca afiada. Jason estava tão machucado. Tinha vários hematomas roxos pelo rosto, seu olho esquerdo estava inchado impossibilitando sua visão, ele sangrava por diferentes lugares e em outros o sangue já estava seco. Suas roupas estavam furadas e todas sujas, havia vários cortes em suas mãos, ele estava descalço e seus pés também sangravam. Fiquei imaginando o quanto ele sofreu, tudo por minha causa e aquilo me deixava com tanta raiva de mim mesma que me fazia desejar estar em seu lugar agora.

― Temos que ir. ― Justin disse se abaixando ao meu lado todo afobado enquanto tentava desamarrar as mãos de Jason. Eu estava paralisada e minha voz não saia, queria ajudar, mas meu corpo não se mexia. ― Droga! ― murmurou tentando desvencilhar as mãos de Jason da corda em vão. ― Com licença. ― falou para o homem que estava morto ao lado de Jason enquanto arrancava a faca que agora estava presa em seu pescoço. O pedaço de metal veio completamente cheio de sangue, Justin cortou as cordas e virou Jason de costas para o chão.

― VOCÊS TEM QUE SAIR DAÍ, KASTIEL ACABOU DE CHEGAR! ― Ryan gritou pelo ponto eletrônico fazendo minha cabeça rodar.

― Como assim? ― Justin perguntou perplexo ― E o tal jantar?

― Eu não sei o que houve, ele voltou mais cedo que o esperado, vocês precisam sair daí rápido. ― falou desesperado.

― Tudo bem. ― Justin assentiu e se levantou. ― Carson, me ajude. ― pediu tentando levantar Jason.

Eu estava em choque, não conseguia me mover, era como se eu estivesse amarrada a alguma coisa que me impossibilitava de me mexer mesmo que fosse o que eu mais desejava naquele minuto. Sentia meus olhos arderem pela vontade de chorar, meu estômago estava embrulhado e meu coração batia tão devagar que cheguei a pensar que ele pararia para sempre. Eu me via ali, sentada naquele chão sujo e gelado, com os ombros caídos, a respiração vaga e os olhos vidrados no corpo desacordado de Jason que eu não fazia ideia se estava vivo ou morto.

― CARSON! ― Justin gritou.

Nós iriamos morrer, Kastiel iria nos matar, não conseguiríamos fugir. Eu não queria acabar assim, eu queria voltar para minha casa e me esconder em algum canto para que ele nunca mais me achasse, mas eu não conseguia me mexer. Eu queria sumir. Não deixaria Kastiel me encostar de novo, antes disso eu mesma me mataria se fosse preciso.

― Nós vamos... Morrer. ― falei tão baixo que pensei que Justin nem ouviria, mas no mesmo momento ele se abaixou na minha frente.

― Carson. ― segurou meus braços junto ao corpo ― CARSON OLHA PRA MIM! ― gritou e me chacoalhou ao mesmo tempo me fazendo fitar seus olhos caramelados. ― Nós não vamos morrer tá me ouvindo? ― passou a língua rapidamente pelos seus lábios rosados e segurou meu rosto com as duas mãos ― Você vai levantar daí e nós vamos sair daqui... Agora! ― em outras circunstâncias eu jamais o obedeceria e na certa o tiraria de perto de mim, mas agora tudo que eu queria era sumir daquele lugar.

Busquei forças no fundo da minha alma e assenti. Justin levantou e estendeu sua mão pra mim, encarei a mesma por alguns segundos e a segurei, num impulso ele me levantou do chão.

― Me ajuda. ― falou indo até o corpo de Jason. Respirei fundo e peguei o mesmo pelas pernas enquanto Justin o segurava pelos braços, andamos alguns passos até chegar á escada.

― Como vamos subir? ― perguntei olhando para trás e verificando se ninguém vinha ao nosso encontro.

― Eu vou subir, e você me alcança ele. ― disse soltando o mesmo no chão novamente e subindo a escada.

― O QUE? ― perguntei aflita ― Mas ele é muito pesado, não dá. ― me desesperei.

― Você quer subir no meu lugar? ― revirou os olhos me olhando, é claro que eu não queria. Como iria puxar Jason pra cima? O máximo que eu conseguiria era cair de volta em cima dele. ― Então não reclama. ― voltou a subir.

Argh!

― Pronto. ― disse deitando no chão e estendendo os braços para baixo.

Puxei Jason pelos braços com um impulso e segurei o mesmo pelo tronco. Ele era muito pesado quase me esmagava, estava muito difícil de conseguir segurá-lo ainda mais com Justin reclamando no meu ouvido e me mandando ir rápido como se eu não estivesse fazendo o possível. Depois de muito sofrimento consegui alcançar os braços de Jason para Justin que foi o puxando para cima enquanto eu ia empurrando seu corpo. Depois de muito esforço Justin conseguiu terminar de puxá-lo.

― Agora você. ― disse parado de pé na porta do alçapão.

Tomei um pouco de distância e corri até a escada subindo no degrau que não estava quebrado. Aquela escada era o demônio, a madeira podre rangia me dando nos nervos enquanto eu subia os degraus morrendo de medo de cair de volta e me quebrar toda naquele piso imundo. Estava praticamente no último degrau quando senti meu coração acelerar e um grito involuntário pular para fora da minha garganta quando alguém me puxou de volta pelos pés.

― ME SOLTA! ― gritei segurando firme em um dos degraus enquanto dava vários chutes na pessoa debaixo, mas ela simplesmente não me soltava e em poucos segundos eu já estava de cara com aquele piso nojento.

― Vem aqui vadia. ― uma voz de homem soou e senti uma dor imensa no meu couro cabeludo. Ele simplesmente me levantou pelos cabelos me fazendo ficar em pé enquanto segurava uma faca próxima ao meu pescoço.

Meu coração estava disparado, minha respiração ofegante, minhas mãos suando e minhas pernas bambas. Naquele momento eu só desejava jamais ter voltado á aquela casa por qualquer motivo que fosse.

Olhei para cima e Justin estava parado com a arma na mão prestes a atirar. Na certa ele teria que ter uma ótima mira para não matar a mim também ou talvez isso fosse o que ele desejava se livrar de mim e colocar a culpa em outra pessoa. Eu estava sentindo o cheiro de morte entrar pelas minhas narinas e naquele momento tive a plena certeza que de um jeito ou de outro eu não sairia viva daquela situação, mas mesmo que isso acontecesse Jason merecia viver, ele era uma ótima pessoa com um coração bom, um dos poucos que não se deslumbrava e se corrompia pelo maldito dinheiro e eu cumpriria minha promessa de salvá-lo mesmo que isso dependesse da minha vida.

― TIRA O JASON DAQUI! ― gritei tentando me desvencilhar das mãos daquele filho da puta, mas Justin continuou parado nos olhando. Eu tinha certeza que iria morrer, mas Justin estava livre e o mínimo que ele teria que fazer era ajudar Jason.

― Atira Bieber... ― o homem atrás de mim rosnou fazendo Justin trincar o maxilar ― Atira nessa belezinha aqui. ― cheirou meu cabelo enquanto mantinha a faca pressionada em meu pescoço.

― FOGE JUSTIN! ― gritei novamente ele me olhou inseguro e confuso por alguns instantes. Nem eu mesma acreditava no que estava falando, eu deveria fugir com Jason e deixar aquele maldito matar Justin então me livraria daquele casamento estúpido, mas meu senso ético de nunca desprezar alguém que o ajude falou bem mais alto naquele momento.

Justin abaixou a arma e a única coisa que consegui ver foi sua sombra delineada no muro enquanto carregava Jason com ele para longe daquele lugar. Agora sim, eu estava totalmente sozinha e dependente de mim mesma.

― Eu vou matar você por ter encostado no meu cabelo. ― falei entre dentes e o homem aproximou a boca do meu ouvido enquanto apertava mais a faca em meu pescoço impedindo-me de me mover.

― Eu tenho certeza que você não vai viver pra fazer isso. ― sussurrou e puxou com mais força meu cabelo fazendo lágrimas brotarem em meus olhos. ― Agora vamos. ― me virou em direção á porta ― Kastiel vai adorar rever você gracinha.

Ele me guiou até a porta em meio a puxões de cabelo e empurrões. Aquela faca entrava em contato com a pele fina do meu pescoço me causando um enorme desconforto. Eu preferia que ele me matasse ali mesmo á ter que ficar cara a cara com Kastiel novamente.

Eu não conseguia parar de chorar, não sabia onde estavam meus pais e nem para onde aquele velho nojento estava me levando. Eu estava com medo, muito medo. Rezava baixinho enquanto as lágrimas corriam dos meus olhos sem parar molhando toda minha blusa.

― Para de chorar menina. ― o homem da esquerda falou grosseiramente, mas não dei ouvidos e continuei ― Se você não parar eu vou te dar um motivo pra chorar. ― falou bravo fazendo-me calar assustada e tentar controlar o choro.

Demorou um tempo até que o carro estacionou olhei pela janela e avistei uma casa muito bonita rodeada por grandes muros altos com cerca elétrica em cima. Kastiel desceu do carro e o homem que estava a minha direita também.

― Desce garota. ― ordenou assim que percebeu que eu não iria descer daquela droga de carro. Encolhi-me mais no banco em busca de um refugio. ― Mandei descer! ― falou entre dentes e agarrou meu cabelo me puxando para fora do carro com violência eu gritava de dor, mas ele simplesmente não ligava. Assim que tirou todo meu corpo para fora do carro ele me jogou na calçada me causando alguns arranhões doloridos nos braços.

― Levem ela. ― Kastiel falou e adentrou ao portão da casa.

― Levanta. ― o mesmo homem de antes falou. Obedeci com medo de ser agredida novamente, meu couro cabeludo ainda doía então resolvi não retrucar.

Ele agarrou meu braço e me levou para dentro da casa, passamos por vários cômodos, não havia ninguém no local, apenas uma senhora que aparentava ter uns oitenta e tantos anos estava sentada no sofá assistindo televisão. Ela olhou para nós e sorriu como se eu não tivesse sido sequestrada como se fosse apenas uma visita que tinha acabado de chegar.

O homem me arrastou para um corredor e andou comigo até a última porta, abriu a mesma e me jogou lá dentro como um saco de lixo então fechou e trancou me deixando lá sozinha. O lugar estava escuro demais, tateei as paredes em busca de um interruptor até que encontrei e o liguei rapidamente.

Aquele cômodo era um quarto. Não tinha janelas. Havia uma cama de solteiro em um canto com lençóis brancos que pareciam novos. Uma penteadeira velha com um espelho trincado e uma porta no canto. Caminhei até lá na esperança de ter algo para que pudesse fugir, mas para minha decepção era um simples banheiro sem janelas. Voltei para o quarto e me sentei na cama.

Eu estava perdida, sem amigos, sem família, sem minha casa e logo mais também estaria sem vida.

― Sobe. ― ele disse assim que chegamos á escada me fazendo voltar para a realidade.

Olhei para o degrau prestes a fazer o que ele mandou.

― Leva isso. ― Ryan se virou na minha direção e me entregou uma faca pequena.

― Pra que isso? ― perguntei olhando a faca.

― Precaução. ― deu de ombros.

Coloquei meu pé sobre o primeiro degrau e dei um grito não tão alto fingindo uma torção.

― Ai, eu não consigo ficar em pé. ― choraminguei elevando meu pé do chão enquanto segurava nos braços do homem para não cair.

― Sobe logo sua vagabunda, para de fingimento. ― quase gritou puxando ainda mais meu cabelo.

― Eu tô com cara de quem tá fingindo seu babaca? ― deixei algumas lágrimas escorrerem. ― Eu só preciso sentar um pouco ou você vai ter que me carregar.

Ele permaneceu quieto enquanto eu resmungava de dor no pé, até achei que ele estaria pensando na hipótese de me carregar, mas quando eu menos esperava, ele me jogou contra a escada.

― Senta aí. ― esbravejou e eu me sentei no primeiro degrau levando as duas mãos ao meu pé direito ― Se tentar me enganar eu mato você antes de chegar á Kastiel tá me ouvindo? ― assenti e enfiei a mão dentro da minha bota fingindo massagear meu tornozelo, ele continuava me observando sem desgrudar os olhos de mim um segundo se quer. Tateei o cano da bota e encontrei o cabo da faca segurei firme e sorri pra ele que me olhou confuso.

― O que você... ― sua fala foi interrompida por um grito de dor assim que enfiei a lâmina da faca em sua coxa.

― Jamais confie em alguém.