História Entre Herdeiros (Pausada) - Não faça perguntas, faça o que eu mando.

Carson Walker

Las Vegas – Estados Unidos

07h43min

Andava impaciente de um lado para o outro dentro do meu escritório. Não tinha conseguido pregar o olho desde a hora que cheguei. Eu só conseguia pensar em Jason e nas burradas que eu havia cometido desde que ocupei o lugar do meu pai. A verdade é que nunca estive preparada para assumir tamanho compromisso, eu nunca quis isso para mim, mas agora, não tinha mais jeito, eu já estava nessa á muito tempo e mesmo que quisesse abandonar tudo não dava. Quem entra nessa vida jamais consegue sair dela, á não ser morto.

Tudo que eu desejava naquele momento era encontrar um jeito de tirar Jason das garras de Kastiel.  Eu pensava e pensava, mas era como se algo estivesse bloqueando meu raciocínio, eu não conseguia arquitetar nem um plano para ajuda-lo e aquilo me deixava frustrada. E o pior de tudo é que a culpa de toda essa desgraça era minha. Porque eu tinha que mandar a cabeça daquele traste pro Kastiel, por quê? Se não fosse a minha enorme teimosia nada disso estaria acontecendo, droga, droga e droga.

― Para de andar de um lado pro outro vai acabar afundando o chão. ― Alana falou irritada enquanto me encarava sentada em um dos sofás.

― Droga. ― bufei me sentando na poltrona em frente á mesa. ― O que nós vamos fazer? ― quem deveria estar dizendo o que fazer era eu e não estar perguntando, mas eu realmente estava perdida.

― Eu sinto muito dizer isso, mas dessa vez a gente não pode fazer nada. ― Derek falou passando as duas mãos em seus cabelos enquanto apoiava seus cotovelos em seus joelhos, ele parecia atordoado.

― Como assim não podemos fazer nada? ― perguntei brava ― É do Jason que estamos falando você esqueceu? ― me levantei novamente da poltrona ― Aquele que você chamava de irmão.

― E o que você pretende fazer, hã? ― se levantou também ― Pedir licença pro Kastiel e trazer ele de volta? ― riu irônico, suas palavras tinham um misto de raiva e decepção que acabava me deixando com mais raiva dele e de mim também. ― ACORDA CARSON! ― gritou tocando com o dedo indicador minha testa ― JASON NÃO VAI VOLTAR E A CULPA É TODA SUA!

Senti meu coração acelerar e minhas bochechas aquecerem, não me contive e acertei um tapa em seu rosto fazendo-o virar para o lado com o choque. Acabei me arrependendo logo depois, mas aí já era.

Que merda, todos tiraram o dia para infernizar a minha vida.

Eu estava estragando tudo. Nunca conseguia me controlar isso era quase impossível para mim e eu sabia que um dia iria acabar me custando caro, como hoje. Mesmo não querendo ouvir da boca dele que a culpada de tudo isso era eu, minha cabeça e meu coração sabiam que ele estava coberto de razão.

Derek me encarava perplexo, aquele era um dos piores dias da minha vida, parecia que o mundo estava conspirando contra mim. É nessas horas que eu sinto falta do meu pai, tenho certeza que ele saberia perfeitamente o que fazer. Respirei fundo enquanto os dois á minha frente me encaravam com uma feição indescritível.

― Eu vou achar o Jason, ― afirmei apontando para ele que permanecia imóvel na minha frente agora com todos os meus dedos marcados na sua face ― com ou sem a sua ajuda, mas eu vou encontra-lo. ― completei e saí batendo a porta com força.

Desci as escadas atingindo fortemente os degraus com a sola das minhas botas. Eu estava com tanta raiva que seria capaz de decepar a cabeça do primeiro que aparecesse na minha frente. Caminhei apressadamente até a cozinha queria me ver longe de todos. A única coisa que martelava na minha cabeça era como ajudar Jason.

Apoiei minha cabeça em minhas mãos na bancada á minha frente enquanto me sentava. Porque isso está acontecendo comigo? O que fiz de errado para merecer tanto castigo? Eu só queria ter um dia, um único dia longe de tudo, das pessoas, dos problemas, dessa vida.

― Carson.

Levantei meu olhar vendo Alana parada feito um poste do outro lado da bancada e afundei meu rosto novamente em minhas mãos.

― O que? ― rosnei com brutalidade, não queria falar com ninguém iriamos acabar brigando novamente e eu estava tentando fazer com que isto não acontecesse.

― Não liga pro Derek, você sabe como ele é estourado. ― falou calmamente tocando meu braço.

― Eu não estou nem aí pra ele. ― falei com desdém.

― Porque você é assim? ― senti um ponto de mágoa na sua voz.

Nem eu mesma sei.

― Não existe problema algum em você demonstrar que se importa com os outros.

Ergui meu rosto vendo a morena me fitar. Ela me encarava com piedade, como se eu precisasse de lições de moral ou que alguém sentisse pena de mim, não eu não preciso disso querida.

― Me deixem em paz você dois. ― revirei os olhos, eu queria me enfiar na minha cama enrolada no meu cobertor e só levantar de lá quando esse pesadelo acabasse, mas não podia, porque a única pessoa que poderia me fazer acordar desse sonho horrível era eu mesma. ― A culpa é toda minha. ― balancei a cabeça negativamente enquanto passava as duas mãos em meus cabelos.

― O que? Claro que não. ― negou ― Não dê ouvidos ao Derek ele não quis dizer aquilo. ― tentou me convencer.

― Ele quis sim. ― afirmei com convicção ― E o pior é que ele está certo. ― falei olhando em seus olhos dessa vez. Eu estava me sentindo horrível, como se Jason já estivesse morto e eu não pudesse fazer mais nada por ele e aquilo me deixava maluca.

― Você não pode pensar assim. ― alterou a voz ― Jason precisa de nós. ― completou com firmeza.

― Derek está certo eu não posso fazer mais nada Alana. ― alterei minha voz também ― Como vou descobrir onde está Jason se nem perto do Kastiel eu posso chegar sem cruzar pelo território do Bieber? ― indaguei com raiva ― Ele jamais me deixaria passar por lá viva.

― E depois de você ter recusado o pedido de casamento dele então. ― debochou agora com um pequeno sorriso no rosto fazendo um flashback da conversa que tive com Justin atravessar minha mente.

Não, eu não podia fazer aquilo. Iria contra tudo que meus pais sempre falaram durante a minha vida. Isso com certeza, não iria dar certo e além do mais que eu correria o risco dele não aceitar depois do soco que lhe dei. Um pequeno sorriso involuntário se formou em meus lábios lembrando-me da cara de raiva que o Bieber fez quando o ataquei.

― O que? ― Alana indagou confusa e logo depois me encarou com os olhos arregalados ― Não, não, não, você não está pensando em se casar com aquele filho da mãe né? ― perguntou brava.

― O que? ― Derek entrou na cozinha com o pior dos semblantes, fuzilei a bocuda da Alana com os olhos enquanto ela me encarava perplexa e de braços cruzados. ― Eu espero não ter escutado direito.

― E eu realmente espero estar enganada. ― Alana falou completando o comentário de Derek.

Eu poderia dizer que eles estavam enganados, que eu jamais faria isso, que a única coisa que me traria para perto de um Bieber era para cuspir em seu túmulo logo depois de mata-lo. Mas, era Jason, eu não podia abandoná-lo, eu não podia simplesmente fingir que nada aconteceu e tocar minha vida sem ele. Talvez Derek, Alana e Jason também jamais me perdoem por isso, mas eu não podia ficar de braços cruzados e conviver com a culpa de ter matado alguém que sempre se colocou á frente para me proteger, era minha vez de retribuir.

― É eu vou sim. ― levantei de onde estava sentada e me dirigi até o chaveiro ao lado da porta pegando as chaves do carro.

― Carson, você não pode fazer isso. ― Derek segurou meu braço me fazendo virar para ele e encarar seus olhos que estavam queimando de raiva.

― Me solta. ― falei puxando meu braço, mas ele apertou com mais força causando um pequeno incomodo no local.

― Eu não vou te soltar, você não pode fazer uma loucura dessas! ― exclamou transtornado.

― Tanto posso como vou! ― cuspi as palavras ― Agora já falei pra me soltar. ― falei entre dentes.

― VOCÊ NÃO VAI! ― gritou me empurrando fazendo com que me chocasse contra parede.

― EU VOU! ― gritei ― SE EU TIVER QUE ME CASAR COM O MALDITO DO BIEBER PRA SALVAR A VIDA DO JASON, É ISSO QUE EU VOU FAZER! ― retruquei o empurrando várias vezes enquanto falava.

― Pelo amor de Deus parem com isso! ― Alana falou inquieta.

― Ta bom, ― Derek falou com o tom de voz mais baixo ― se é isso que você quer, ótimo! Corre, vai atrás do Justin, joga na lata do lixo tudo que o seu pai lutou pra colocar de juízo nessa sua cabeça. ― ele estava ofegante, podia ver seu peito subir e descer rapidamente, eu tinha certeza que ele estava se segurando para não me avançar, o que seria uma loucura. ― Agora, quando isso der tudo errado e você não tiver mais ninguém, NÃO CONTE COMIGO! ― completou e saiu bufando em direção á escada.

Que ódio!

Eu estava muito confusa, não sabia se era o certo a se fazer, mas que outra opção eu tinha? Juntar toda a tropa e invadir o território do Kastiel? Justin me mataria antes de chegar lá. Eu não estava ciente se era o certo, mas se a vida de Jason depende disso, era isso que eu iria fazer.

― Carson não faz isso, por favor, em nome da sua família, não faz isso. ― Alana implorou.

― Eu sinto muito.

Abri a porta e sai fechando-a logo depois. Caminhei até a garagem onde encontrei Joe, chefe da segurança e mais três homens sentados conversando. Assim que me viram todos se levantaram com os olhos arregalados, entendo, não é muito comum me ver por aqui, normalmente Derek e Jason buscam os carros.

― Senhora, algum problema? ― Joe perguntou vindo ao meu encontro.

― Sim, junte alguns homens, vamos á casa do Bieber. ― ordenei adentrando a garagem em busca do Romeu.

― O que vamos fazer lá? ― perguntou surpreso.

― Não faça perguntas, faça o que eu mando.

Ele murmurou um “sim senhora” e logo depois desapareceu da minha vista. Passei por todos os carros que estavam ali e encontrei Romeu, destravei entrando nele logo depois e dando partida para fora de casa.

Pensei em desistir algumas vezes antes de chegar ao portão, mas se o fizesse estaria abandonando um dos meus e uma Walker jamais deixa alguém para trás.

Cheguei lá fora e Joe já estava em um dos carros da segurança, um Audi R8 preto, á minha espera. Buzinei para que ele fosse a frente e na mesma hora obedeceu. Dei partida logo depois á caminho do território proibido.

...

Assim que ultrapassei as barreiras do meu território adentrando no de Justin, reconheci alguns dos seus homens andando pelas ruas, eles estavam disfarçados, nada de roupas extravagantes e nem armas, estavam normais.

Com certeza meu carro não passaria despercebido por ali, já que o tinha á muito tempo e todos sabiam disso. Mas, eu precisava arriscar, Justin precisa de mim tanto quanto eu estou precisando da ajuda dele, então me matar será como dar um tiro em seu próprio pé.

Andamos mais alguns metros e percebi uma movimentação estranha em uma das esquinas. Três homens entraram rapidamente em um carro que estava estacionado ali e deram partida. Passei rapidamente por eles que vieram logo atrás, eu tinha quase certeza que estava sendo seguida. Chamei Joe no rádio que logo respondeu.

― Estamos sendo seguidos.

― Entendido. Qual a ordem?

― Por enquanto nenhuma, mas fique atento.

― Sim senhora.

Desliguei e continuei meu caminho, fui seguida pelo carro até a casa do Bieber. Assim que cheguei lá tinham cinco seguranças vestidos de ternos, todos equipados com pontos eletrônicos e muito bem armados. Eu ainda tinha uma chance de desistir, as palavras de Alana rondavam minha mente á todo segundo “Carson não faz isso, por favor, em nome da sua família, não faz isso.” Mas, no fim eu sempre acabava me lembrando de todas as vezes que Jason colocou o peito na frente de miras de revólveres só para me defender e isso me dava ainda mais força para continuar.

Atravessei meu carro no meio da rua e parei. Joe já estava parado um pouquinho mais á frente e logo desceu com mais três seguranças. Ele vestia um colete a prova de balas e carregava um fuzil que era quase do seu tamanho, exagerado como sempre, enquanto os outros estavam todos de preto com metralhadoras em mãos.

O carro que me seguia parou logo atrás do meu e os três homens desceram, resolvi descer também. Destravei e sai do carro batendo a porta não com muita força. Olhei para os homens que estavam logo atrás e um mais novo que os outros dois me parecia um tanto perturbado. Ele suava e estava trêmulo com uma pequena arma em mãos, podia jurar que ele estava tendo um colapso nervoso.

O fitei estreitando meus olhos tentando entender o motivo de tanto nervoso, assim que seus olhos atingiram os meus ele rapidamente levantou sua arma e atirou contra mim. Por uma sorte enorme ele errou o alvo acertando na lataria do Romeu.

Eu vou quebrar a sua cara seu infeliz!

― FICOU MALUCO? ― vi o homem mais velho que estava atrás dele arrancar a arma de sua mão e lhe dar um tapa na cabeça e logo depois jogá-lo novamente para dentro do carro.

Vi Joe passar como um furacão do meu lado com certeza iria atrás do garoto, preferi deixar isso de lado, afinal não tinha vindo atrás de guerra e sim de um acordo. Barrei Joe antes que ele pudesse chegar ao carro, fiz sinal de negativo com a cabeça e sem retrucar ele voltou para onde estava. Voltei minha atenção para o portão onde tratei de me aproximar seguida por Joe e os demais.

― Quero falar com Justin. ― disse para um dos seguranças que me olhava estranho.

― Ele já está á sua espera. ― o homem falou com uma voz grossa e séria. Como assim já está á minha espera? Não me lembro de ter ligado para avisar que viria. O outro segurança que estava ao seu lado em frente à passagem para dentro deu espaço e entrei, Joe foi passar, mas o primeiro homem que havia conversado comigo o barrou. ― Só a garota.

Garota é sua mãe seu pau mandado!

Joe me encarou esperando uma ordem. Tenho certeza que se dissesse que ele deveria entrar junto, ele entraria de um jeito ou de outro, mas eu realmente não queria outro problema minha vida já estava cheia deles e um á menos faria uma enorme diferença.

― Tudo bem, se eu não voltar em vinte minutos você já sabe. ― ele assentiu e se distanciou um pouco do portão se juntando aos outros homens da minha guarda.

Respirei fundo, agora não tinha mais volta, era isso que eu teria que fazer a coisa mais humilhante da minha vida, pedir ajuda para um Bieber. A casa estava bem distante ainda, tinha uma enorme rua até lá com várias árvores em ambos os lados, nunca imaginei que um sem coração como aquele gostava da natureza.

Andei observando cada detalhe daquele terreno, já tinha vindo aqui algumas vezes, claro que não foi para uma visita cordial e muito menos tinha entrado só havia visto lá de fora, mas devo admitir que o Bieber tem um bom gosto pelo menos.

Depois de alguns longos e cansativos metros a pé, já podia avistar a enorme casa de alvenaria toda pintada de branco com seis grandes pilastras que sustentavam o teto da entrada. Tinha um designer muito bonito, não mais que a minha, claro, mas era razoavelmente interessante.

Subi os quatro degraus de escada da entrada avistando um segurança que logo abriu a porta toda de vidro colorido para mim, nem me dei o trabalho de agradecer já que ele está sendo pago para isso mesmo.

Adentrei o local e meu amigo, aquilo ali era gigante, com certeza eu precisaria de um mapa para encontrar o escritório do Bieber se não fosse por uma senhora bem mais baixa que eu de uniforme branco vir ao meu encontro.

― Bom dia, você deve ser a Senhora Carson, eu me chamo Lucy. ― ela sorriu simpática, ao menos alguém que não me odeia por aqui.

― Só Carson, por favor. ― respondi com um meio sorriso, não iria destratar a coitada, acho que ela tinha idade para ser minha mãe.

― Tudo bem. ― sorriu ― O escritório do Senhor Bieber é no segundo andar terceira porta a direita, ele pediu que eu á direcionasse assim que você chegasse.

Mas que droga está acontecendo aqui? Desde quando Bieber lê mentes e sabe o que eu pretendo ou não fazer? Isso não está me cheirando bem. Agradeci à senhora e me direcionei á sala onde tinha uma escada que dava acesso ao segundo andar. Subi todos os degraus na maior calma, porque ele tem que morar tão longe da rua? Que saco.

Minhas mãos soavam um pouco e o nervosismo começava a me dominar, isso não podia acontecer eu deveria estar confiante em frente ao Bieber e não parecendo uma adolescente de quinze anos que vai perder a virgindade. Parei no topo da escada e um enorme corredor se formou na minha frente. Terceira porta á direita. Caminhei até a bendita e de supetão fui surpreendida por uma garota morena que saia do cômodo á minha frente.

― Você? ― ela me olhou de cima abaixo.

Já descobri o que estava cheirando mal.

― Bieber está ai? ― disse ignorando seu espanto.

― Está, o que você quer? ― cruzou os braços ficando na minha frente.

― Falar com ele. ― disse como se fosse óbvio.

― Pois dê meia volta e volte pro seu muquifo, você não vai entrar aqui. ― falou brava. Qual é a dessa garota? Nem á conheço para ela colocar suas garras em cima de mim. Soltei um riso anasalado.

― Oh garotinha melhor sair da minha frente. ― falei já com os nervos a flor da pele.

― Não vou sair.

― É melhor você cair fora, eu tô perdendo a paciência. ― falei entre dentes tentando me controlar.

― E quem vai ser a mulher que vai me tirar daqui? Você? ― riu e continuou no mesmo lugar.

― GAROTA RALA SE NÃO QUER LEVAR UM TAPAS NESSA SUA CARA! ― gritei á plenos pulmões, já estava a ponto de levantá-la do chão pelo pescoço.

Era o que eu pretendia fazer, mas ouvi um barulho que me fez parar e elevar meu olhar para a porta de madeira que imediatamente se abriu revelando um topete loiro que se manifestou por de trás dela.

― Olá Carson.