História Entre Herdeiros (Pausada) - Ainda não terminamos a nossa conversa.

Carson Walker

Las Vegas – Estados Unidos

08h21min

Eu abominava o modo como aquele crápula lançava seus olhos sobre mim. Era um mesclado de hipocrisia e superioridade, como se ele triunfasse diante da minha pessoa, o que estava muito longe de acontecer. Seu cabelo estava completamente desarrumado e alguns fios caiam sobre seu rosto enquanto ele me encarava fixamente com seu maxilar travado.

― Como vai Bieber? ― perguntei cinicamente, na verdade eu não estava nem aí para sua vida miserável.

― Algum problema? ― ignorou totalmente a minha educada pergunta e firmou seu olhar na garota que eu já havia me esquecido que estava por ali.

― Vários. ― falou nervosa ― Mas já vi que você não está nem aí pra eles! ― esbravejou com uma carranca e saiu batendo fortemente seus pés no piso laminado.

Garota perturbada.

Assim que a menina saiu da minha vista voltei meu olhar para Justin que passeava seus olhos caramelados pelo meu corpo parando no pequeno decote feito por alguns botões abertos da minha blusa. Ele vagarosamente passou a língua em seus lábios umedecendo os mesmos e logo depois fitou meu rosto novamente. Não entendi o porque, mas me senti rebaixada diante do seu semblante desagradável, como se eu estivesse em um local sem saídas, rodeada por lobos famintos em busca da primeira mordida.

Cruzei meus braços na tentativa de tapar a parte á mostra dos meus seios o que não deu muito certo já que eles quase pularam para fora da blusa, vi o canto direito da boca de Justin subir e um meio sorriso aparecer, ele definitivamente estava me analisando e eu realmente não queria nem saber o que estava se passando na mente daquele depravado. Respirei fundo e resolvi acabar logo com aquela cena desconcertante.

― Será que podemos conversar? ― passei as duas mãos em meus cabelos buscando estômago para pedir ajuda á um dos meus maiores inimigos. Ele deu dois passos para trás dando uma larga passagem para mim. Entrei rapidamente sem se quer olhar para seu rosto, contatos visuais não te ajudam em nada quando você não quer transparecer nervosismo.

Caminhei até a grande mesa de madeira pintada de marrom que estava bem afastada da porta, atrás dela havia uma parede de vidro que dava visão para toda á frente da casa. Bem afastado dali conseguir ver Joe que andava de um lado para o outro com seus olhos fixados no seu relógio de pulso, na certa contando os minutos para invadir esse lugar, ansioso como sempre.

Percebi que o vidro tinha uma película grossa e escura, então com certeza quem estivesse do lado de fora jamais veria quem estivesse do lado de dentro, por um pequeno momento senti um calafrio subir minha espinha só de imaginar Justin parado do lado de dentro do vidro me olhando caminhar em direção a sua grande mansão.

― Whisky? ― ouvi sua voz rouca soar ao meu lado e rapidamente tratei de varrer esses pensamentos imprudentes da minha cabeça. Justin continuava a me olhar com uma sobrancelha arqueada esperando uma resposta enquanto segurava seu copo já servido.

― Não. ― falei um tanto ríspida e desviei meu olhar dele voltando-o para frente novamente. Só a presença do Bieber já me dava nos nervos, é quase que incontrolável.

― Cortesia da casa. ― falou cínico se pondo de pé á minha frente do outro lado da mesa. Revirei os olhos e ele soltou um riso fraco. Maldito estava se divertindo com a minha desgraça, como eu queria fazê-lo engolir aquela garrafa de whisky e voltar para minha casa, mas eu realmente precisava daquele imbecil e ele sabia disso, pois jamais eu pisaria neste solo se não fosse por algo de extrema importância e urgência.

― Eu tenho uma proposta pra você. ― falei decidida a acabar com aquilo tudo de uma vez.

― Sou todo ouvidos. ― apontou á cadeira ao meu lado e depois se sentou na sua. Ignorei seu gesto e resolvi ficar de pé, não pretendia demorar mais que cinco minutos naquela sala insuportável.

Pelo Jason, tudo pelo Jason.

Respirei fundo enquanto buscava as palavras certas para falar a Justin Bieber que eu precisava da ajuda dele, mas sem ferir meu orgulho e nem dar sinais de desespero. Às vezes eu acho que devíamos ter um modo ler mentes que poderia ser acionado a qualquer momento assim eu não precisaria pedir ajuda a ele, bastaria que ele adivinhasse que eu estava precisando e pronto.

― Eu preciso resgatar uma pessoa que Kastiel sequestrou ― dei uma pequena pausa colocando alguns fios de cabelo atrás da orelha ― e pra isso eu preciso ter contato com ele, e como a sua área fica mais próxima, talvez você pudesse liberar minha passagem por aqui. ― falei calmamente tentando parecer uma das pessoas mais tranquilas desse mundo e rezando para não me arrepender de nada que havia dito.

Ele deu um lento gole em seu whisky e depois tombou sua cabeça um pouco de lado e ficou me olhando seriamente com os olhos estreitados, parecia estar pensando em algo, talvez em aceitar minha proposta, ou não.

Tenho que admitir que como ele estava ali atrás daquela mesa, com um copo de whisky na mão e sua feição mal-humorada, ele parecia um tanto intimidador, mas nada que me fizesse sair correndo, pelo contrário me dava nos nervos aquele seu semblante despreocupado. Eu poderia até compará-lo com Don Vito Corleone se as aparências não fossem tão distintas.

Eu já estava ficando impaciente, o que ele está esperando para me responder? Que eu ajoelhe e implore por sua ajuda, sinto muito, mas isso nunca iria acontecer. Eu jurei para mim mesma que não iria me irritar, não dessa vez. Eu iria manter a calma e esperar. Depois de alguns eternos segundos que para mim pareciam horas, ele respirou fundo e largou seu copo sobre a mesa voltando a me olhar.

― O que eu ganho com isso? ― cruzou as mãos com os braços apoiados no encosto da cadeira. Agradeci mentalmente por aquele ar de superioridade dele não ter tomado conta de seu corpo e ele ter me desmoralizado diante do meu pedido.

― Você ganha á mim. ― falei mesmo contrariada, afinal não era o que ele queria? Se casar comigo para de algum modo, o qual eu não fazia ideia, acabar com Kastiel? Pois eu estava disposta á isso para salvar Jason.

― Você até é gostosinha, mas não vale todo o meu esforço. ― tripudiou com um sorriso de escárnio estampado em sua face. Eu já deveria imaginar que um Bieber não dá ponto sem nó.

Calma Carson respire fundo e não se estresse.

Contei até três mentalmente para não pular em cima dele e deixar uns rasgos bem grandes em seu lindo rostinho com minhas unhas afiadas. Bufei expulsando o ar que estava preso em meus pulmões e logo depois formei uma linha dura com meus lábios. Eu já devia imaginar que não se pode falar de negócios com um Bieber, eles não prestam. E o que me dava mais raiva é que ele sabia exatamente do que eu estava falando, mas fazia de tudo para me tirar o juízo.

― Derek tinha razão ― neguei com a cabeça erguendo as duas mãos para o alto me sentindo uma idiota ― foi um grande erro vir até aqui.

Como eu pude ser tão burra a ponto de pensar que Justin aceitaria minha proposta? Com certeza desistiu depois do soco que lhe dei, e quer saber? Não me arrependo, teria feito tudo novamente. Girei meus calcanhares decidida a ir embora e arranjar outro jeito qualquer de encontrar Jason, talvez houvesse outra opção que não envolvesse o mau caráter do Bieber, mas antes que eu pudesse chegar à porta ela se abriu violentamente me dando um pequeno susto.

― Justin porque tem vários homens no... ― o homem á minha frente se calou assim que me viu e seus olhos se escancararam como se ele tivesse visto o próprio demônio. Eu reconheceria aquele loiro oxigenado a quilômetros de distancia, senti minhas mãos formigarem e travei meu maxilar cerrando meus punhos, ele me olhou com uma feição pavorosa e deu dois passos para trás.

― Butler seu traidor eu vou matar você. ― disse entre dentes controlando-me para não arrancar sua cabeça de cima do seu pescoço. Ryan deu mais dois passos para trás enquanto eu caminhava em sua direção, estava prestes a dilacerar seu corpo quando Justin me agarrou pela cintura não deixando com que me aproximasse mais. ― ME LARGA. ― gritei tentando me desvencilhar dele com algumas unhadas em seus braços, mas para o meu desagrado ele era bem mais forte e me apertou mais contra seu corpo. ― Ryan seu desgraçado você terá uma morte lenta e bem dolorosa. ― falei apontando o dedo para ele.

― Ca... Carson me desculpa, eu... Eu não queria. ― falou desesperado, seria cômico se eu não estivesse com tanta raiva.

― Não quero saber de desculpas agora, quando eu pegar você, vou te transformar em dois e eu não estou brincando. ― rosnei tentando tirar os braços de Justin que me apertavam cada vez mais quase me deixando sem ar. ― E VOCÊ ME SOLTA, AGORA! ― gritei me debatendo.

Justin me ergueu do chão mesmo contra minha vontade e se virou ficando no meio, entre mim e Ryan e logo depois me soltou. Eu odiava aquela gente, odiava aquela casa, odiava Ryan, odiava Justin, odiava todo mundo ali dentro. As palavras de meu pai, que cansava de ler O Poderoso Chefão ecoavam na minha mente a todo instante “Não odeie seus inimigos, isso afeta seu raciocínio”. Eu definitivamente não sei como meu pai e Don Corleone faziam isso acontecer porque para mim era impossível não odiar alguém tão... Odiável.

― Idiota. ― falei arrumando minha blusa que estava toda torta ― Pode ter certeza que isso não acaba aqui. ― afirmei olhando naqueles olhos azuis que me engaram por tanto tempo. Passei as mãos nos meus cabelos tirando os fios que caiam rebeldes sobre meu rosto e caminhei em direção à porta, mas antes de passar por Justin ele se pôs á minha frente como um poste impedindo minha passagem. ― Saí, eu vou embora. ― exigi firme enquanto olhava em seus olhos.

― Ainda não terminamos a nossa conversa. ― falou arrogante, como se estivesse dando uma ordem á um de seus capangas, mas o que ele esqueceu é que eu não sou um deles.

― Não temos mais nada pra conversar. ― afirmei ― Pra mim já ficou bem claro que você não pode me ajudar.

― Ajudar? Em que? ― Ryan me olhou por cima dos ombros de Justin com o cenho franzido ainda com uma distância inteligente entre mim e ele.

― Cala boca, isso não é da sua conta. ― murmurei raivosa com o dedo apontado em sua direção.

― Kastiel sequestrou alguém da turma dela. ― Justin disse com um sorriso vitorioso no rosto, parece que gosta de me ver soltar fogo pelas ventas.

― Quem? ― Ryan perguntou curioso como sempre.

― Já disse que não é da sua conta. ― falei um pouco mais alto.

Esse garoto só pode ser surdo.

― Foi o Derek? ― indagou chegando um pouco mais perto, ele me parecia preocupado, mas com certeza era mais uma das suas artimanhas baratas.

― Não.

― A Alana? ― arqueou uma sobrancelha.

― Não.

― Então foi o Jason?

― Já disse que não. ― falei me virando de costas e dando alguns passos com as duas mãos na cabeça, que merda eu vim fazer aqui, eu realmente não deveria ter vindo, que babaca que eu sou, merda. ― Droga! ― falei dando um violento tapa em um porta-canetas que estava sobre a mesa fazendo-o voar longe, Justin não mexeu um músculo, parece que se divertia com a situação o que me deixava enlouquecida.

― Foi sim, ― afirmou passando por Justin que tentou segurá-lo, mas ele se desvencilhou se pondo á minha frente ― eu tenho certeza que foi se não você não estaria tão transtornada. ― completou firme, Ryan me conhecia bem e mesmo que quisesse não conseguiria enganá-lo.

― Eu posso furar seus olhos agora sabia. ― tentei persuadi-lo pegando uma das canetas que haviam sobrado sobre a mesa, mas não obtive resultado.

― Eu quero ajudar. ― falou ignorando meu comentário, ele parecia não se importar se eu realmente iria mata-lo agora ou não. ― Justin você precisa fazer alguma coisa. ― passou por mim parando em frente ao Justin que apenas nos observava. O que esse garoto está fazendo? Ele é um inimigo e inimigos não se ajudam.

― Eu? ― Justin falou surpreso e soltou uma risada anasalada ― Tô fora, eu já iria fazer demais se aceitasse a proposta da Carson, agora ajudar? ― falou com desdém ― Você só pode estar brincando.

Justin andou até sua mesa e pegou um cigarro da cigarreira prateada que estava sobre a mesma acendendo-o no mesmo instante. Foi até a parede de vidro e se manteve de costas tragando o mesmo. Eu não entendia como ele conseguia ser uma pessoa tão desprezível, meu pai tinha razão quando disse que os Biebers só se importam com seu próprio umbigo e eu fui uma desvairada em pensar que algum dia eu e ele concordaríamos em algo.

― Eu já sabia que não podia contar com você, mas eu tinha esperança de estar enganada. ― falei indo até a porta enquanto Ryan olhava com incredulidade para Justin que permanecia de costas sem fazer nenhum movimento á não ser o de levar o cigarro até sua boca e voltar. ― Há, ― disse me virando e encarando suas costas ― um capanga seu atirou no meu carro e eu vou te mandar a conta.

Terminei de falar e sai batendo aquela droga de porta, o golpe foi tão forte que escutei o barulho de coisas caindo mesmo estando do lado de fora. Eu queria matar todo mundo dentro daquela casa, seria a maior chacina do ano, não pouparia ninguém, nem Ryan com aquela cara de santinho tentando me ajudar, me poupe, eu não nasci ontem.

Eu não entendo como eu pude me humilhar assim para um Bieber? Eu sou uma trouxa mesmo, sabia que não daria certo, mas tinha que vir, tinha que ir atrás do maldito para levar um belo não na cara, eu estava de volta na estaca zero a única diferença entre antes e agora era que além de não ter ajuda do Justin também não teria de Derek e Alana.

Mas, tudo bem, isso não acaba aqui. Eu vou encontrar Jason de um jeito ou de outro, com ou sem ajuda, nem que eu morra para isso acontecer. Passei como um furacão pela sala onde dois homens estavam sentados no sofá, eles me olharam como se não acreditassem que eu estivesse ali, os ignorei totalmente indo até a porta por onde saí sem olhar para trás.

Fiz o mesmo caminho de antes só que dessa vez bem mais rápido, não via a hora de sair daquela casa imunda e esquecer que um dia pisei aqui por qualquer motivo que fosse. Andei rapidamente e saí no portão fazendo com que os seguranças tomassem um susto com a minha presença.

― Tudo bem senhora? ― Joe indagou preocupado vindo ao meu encontro.

― Não, vamos embora.

Andei até meu carro e entrei no mesmo. Liguei e arranquei. Os pneus cantaram no asfalto e eu tive a plena certeza de ter deixados algumas marcas de borracha por ali. Olhei no retrovisor e Joe já estava me seguindo. Maldita hora que pisei desse lado de Las Vegas.

...

Entrei em casa rapidamente passando por Alana e Derek que estavam na cozinha, não queria falar com ninguém, ainda mais agora, depois de ter certeza que eles estavam com a razão e eu mais uma vez tinha feito burrada. Subi as escadas em meio aos gritos da Alana me chamando, não dei importância e me dirigi ao quarto, a coisa que eu mais queria agora era enfiar minha cara no travesseiro e acordar só amanhã de manhã.

― Carson, abre a porta. ― a voz da Alana soou do outro lado da porta e algumas batidas na mesma ecoaram pelo quarto.

Joguei-me na cama do jeito que estava deixando meus pés para o lado de fora e cobri minha cabeça com um dos travesseiros. Porque as coisas tem que serem tão difíceis assim?

― Não quero falar com ninguém, vai embora. ― falei com a voz abafada pelo travesseiro. Eu estava parecendo uma garotinha de cinco anos fugindo de uma bronca de seus pais, mas e daí? Se era isso que estava parecendo, então era isso que eu seria pelo menos por enquanto.

― Carson, por favor. ― Alana implorou, que parte ela não entendeu? Eu queria ficar sozinha e não ficar ouvindo suas lições de moral.

― Eu não quero falar com ninguém. ― repeti grossa.

― Abre, por favor. ― insistiu.

― VAI PRO INFERNO.