Carson Walker
Las Vegas – Estados Unidos
07h56min
Pela primeira vez na vida a visita de um Bieber fez me sentir motivada, não pelas baboseiras que ele falou ― as quais eu nem dei importância já que ele é um filho da mãe depravado ―, mas sim por ter me dado ao menos um pingo de esperança de encontrar Jason vivo e isso já era um motivo e tanto para me fazer pular da cama cedo até demais.
Corri até o banheiro me despindo pelo caminho e entrei embaixo do chuveiro sentindo a água gelada entrar em contato com a minha pele me deixando com todos os pelos do corpo eriçados, aos poucos me acostumei com a temperatura e tomei um banho rápido. Assim que terminei, sequei meu corpo vestindo um lingerie branco e um short jeans preto. Vesti uma regata branca, um casaco fino azul marinho e uma das minhas inseparáveis botas de cano médio preta.
Sequei meu cabelo e fiz um coque alto desarrumado, passei lápis, rímel e um batom vermelho escuro, borrifei meu perfume, peguei meu celular e minha arma colocando a mesma na cintura e logo saí do quarto descendo as escadas de dois em dois.
Estava apenas Alana na cozinha tomando café, o que é muito raro já que ela levanta só na hora do almoço. Ela vestia uma calça colada preta, tênis cano alto branco e uma regata da mesma cor.
― Choveu na sua cama? ― indaguei com humor chamando sua atenção para minha presença ali.
― Não, por quê? ― me olhou confusa levando o copo de suco, que deduzi ser de laranja pela cor, até a boca.
― Você, de pé á essa hora. ― ri fazendo a mesma rir também.
― Está de bom humor? ― arqueou uma sobrancelha surpresa.
Qual é? Não é tão raro assim me ver de bom humor.
― Estou. ― falei vasculhando a mesa em busca do meu café, mas não encontrei. ― Não tem café? ― perguntei enquanto fazia um sanduíche, estava morrendo de fome, nem me lembrava da última vez que havia comido algo e meu estômago implorava por comida.
― Acabou e ninguém foi fazer compras. ― deu de ombros.
― E porque a Maria não foi? ― perguntei confusa e mordi o sanduíche, coloquei suco em um copo bebendo um gole logo depois.
― Porque você a demitiu semana passada. ― falou com indignação, fazendo-me lembrar de que a expulsei de casa depois de ter queimado minha blusa preferida, eu não estava nos meus melhores dias.
― Tinha esquecido. ― revirei os olhos.
Eu sinceramente não sei qual o problema das empregadas que eu arrumo, sempre acontece algo e tenho que manda-las embora, não entendo, talvez eu seja exigente demais, mas eu estou pagando então quero tudo perfeito.
― Carson. ― Alana falou quase em um sussurro, respondi em um gesto com a cabeça já que estava de boca cheia.
― Eu só queria dizer que eu estou com você pro que der e vier. ― sorriu amigável, me fazendo rir da sua cara de cachorro pidão.
― Obrigada. ― falei depois de engolir a comida.
― Você agradecendo? ― fingiu surpresa ― Meu Deus o que você fez com a verdadeira Carson? ― riu.
― Não exagera. ― revirei os olhos.
Terminei de comer meu sanduíche em silêncio refletindo sobre tudo que havia acontecido nos últimos dias, minha vida estava de cabeça para baixo. Alana tagarelava várias coisas e eu apenas concordava com a cabeça sem nem dar ouvidos aos seus murmurinhos. Acho que estava falando sobre o Derek ensiná-la a dirigir o que eu acho que não vai dar certo já que ele tem tanta paciência quanto um mendigo tem dinheiro.
― E o Derek? ― indaguei notando que ele não havia descido para o café, estranhei, já que ele é sempre o primeiro a levantar.
― Ainda não desceu.
Percebi.
― Você acha que algum dia ele vai mudar de ideia? ― perguntei mesmo sabendo que ela diria sim, mas a verdadeira resposta era não, porque ele simplesmente odiava o fato de estar cedendo á um inimigo.
― Mas é claro que vai, não é porque vocês discordam em alguns assuntos que vão deixar de se falar para o resto da vida. ― ergueu as mãos para o alto protestando.
― Não sei. ― balancei a cabeça negativamente ― Eu só queria que ele entendesse meus motivos e ficasse do meu lado como sempre, mas ele é tão cabeça dura. ― bufei enquanto ciscava os farelos de pão sobre a toalha com os dedos.
― Igual você. ― riu me fazendo revirar os olhos.
Eu não sou cabeça dura...
― Então quer dizer que o Justin aceitou sua proposta? ― perguntou arqueando uma sobrancelha.
― Pra você ver até o Justin que é um filho da mãe vai me ajudar e o Derek que é quase um irmão pra mim, me deu as costas. ― falei com amargura.
Sim, eu estava realmente chateada com ele, eu só queria um pouco de apoio dos meus amigos, das pessoas que dizem querer o meu bem, da única família que me restou, mas parece tão difícil para ele entender que eu só estou fazendo isso pelo Jason e por nada mais, eu só quero Jason de volta como sempre foi.
Assim que terminei de falar vi Derek entrando na cozinha, mas quando ele me viu deu meia volta e sumiu da minha vista. Pelo jeito sou eu na companhia de mim mesma, já que Alana mesmo estando do meu lado jamais se quer tocaria em uma arma ou enfrentaria uma gangue de mafiosos nem que estivesse a ponto de morrer.
É acho que ele nunca vai mudar de ideia.
...
Dirigi-me a garagem com Alana me seguindo, ela insistiu tanto que queria ajudar que acabei cedendo, mesmo sem saber o que ela realmente faria, já que não sabe dirigir nem atirar. Joe e os outros estavam por lá como sempre, assim que bati meu olho neles lembrei-me do acontecido da noite passada e senti meu sangue ferver. Eu estava desprotegida dentro da minha própria casa e se Justin conseguiu entrar com tanta facilidade assim, Kastiel não faria o mínimo esforço para conseguir o mesmo. Minha vontade era de sair demitindo todo mundo, mas teria que ter um bom motivo para isso, eu só não queria que todos soubessem o que aconteceu, então, dessa vez, preferi deixar passar.
― Você, ― apontei para Joe ― junte alguns dos seus homens, vamos sair. ― ordenei e andei até meu carro destravando o mesmo.
― Vamos pra onde? ― perguntou receoso.
― Casa do Bieber. ― falei prestes a abrir a porta do carro.
― De novo? ― perguntou indignado me fazendo fuzilá-lo com os olhos.
Mas que droga, será que estou cercada por pessoas que adoram me afrontar?
― Eu já disse pra você parar de me questionar e não vou mais repetir, a não ser que queira ir pro olho da rua. ― falei entre dentes apontando o dedo para ele que assentiu na mesma hora.
― Tudo bem, desculpe senhora. ― falou e saiu do meu campo de visão.
― Nossa, precisava ser tão grossa? ― Alana me olhou incrédula.
― É eu precisava.
Abri a porta do carro bufando. Acho que ninguém gosta de me ver de bom humor por aqui. Estava quase entrando no carro quando vi um vulto passar atrás de mim rapidamente, virei meu corpo na direção contrária vendo Derek vestido com uma calça jeans, camiseta manga longa preta e um tênis da mesma cor, ir em direção ao seu veículo, abri a boca para falar, mas ele me cortou.
― Não fala nada antes que eu mude de ideia. ― apontou o dedo para mim com sua carranca natural e logo depois adentrou seu carro batendo a porta com força.
Sorri mentalmente, no fundo eu sabia que seu senso protetor não me deixaria entrar nessa sozinha. Adentrei no meu carro com um leve sorriso que brotou do nada em meus lábios, buzinei para que Alana fizesse o mesmo, mas ela negou e fez sinal que iria com Derek, não sei como ela não vai atrás dele até no banheiro. Liguei e acelerei saindo da garagem, Joe já estava lá fora como sempre, á minha espera no carro da segurança. Pisei fundo no acelerador ouvindo o cantar dos pneus traseiros no asfalto. Acho que nunca na minha vida senti tanta vontade de chegar rápido a casa de um inimigo, a não ser para manda-lo dessa para uma melhor.
...
Assim que parei em frente á casa do Bieber estacionei meu carro do outro lado da rua, Derek fez o mesmo mais a frente e Joe parou atrás do meu. Estranhei ninguém ter me seguido dessa vez, talvez todos já saibam do nosso acordo e além do mais detesto essa gente no meu encalço.
Saí do carro, seguida por Alana, Derek, Joe e mais dois seguranças. Caminhei até o portão que estava abarrotado de capangas do Bieber com seus uniformes formais, terno preto e camisa branca. Dirigi-me ao mesmo homem que havia falado ontem, ele era careca e do tamanho do Joe, parecia bem intimidador.
― Quero falar com o Justin. ― falei autoritária.
― Pode entrar, ele está esperando. ― respondeu dando passagem para mim. Passei por ele adentrando o portão, mas quando os demais foram passar ele os barrou tapando a passagem com seu corpo exageradamente grande. Passei por ele esbarrando em seu corpo que parecia uma muralha e saí novamente.
― Qual o problema hem? ― perguntei colocando as mãos na cintura.
― Tenho ordens para deixar somente á senhorita entrar. ― me olhou com superioridade.
Senhorita é a mãe!
― Pois então ficaremos todos aqui fora. ― sorri falsamente e me sentei em um pilar de concreto bem próximo dali cruzando os braços com uma criança emburrada por não ter ganhado um doce da mãe no supermercado. Alana riu da minha atitude infantil e Derek revirou os olhos, mas eu não estava nem aí para a opinião de quem quer que seja. O homem me olhou receoso e levou sua mão até o bolso esquerdo da calça preta que usava tirando de dentro um rádio comunicador.
― Senhor, a senhorita Carson está aqui fora.
― E porque você não a deixou entrar ainda?
― É que ela não quer entrar se os outros não entrarem também.
― Eu já disse que é só ela.
Revirei os olhos com cansaço, será que tenho que fazer tudo nessa vida? Levantei de onde estava e arranquei com brutalidade o rádio da mão do segurança que me fuzilou com os olhos, mas não teve a audácia de me impedir, levei o mesmo até próximo da minha boca.
― Escuta aqui Bieber, eu não atravessei a cidade para dar meia volta e ir embora antes de falar com você, mas se Derek e Alana não entrarem é isso mesmo que eu vou fazer. ― falei rápido e com raiva.
E sim, eu faria isso mesmo se eles não pudessem entrar, afinal, se ele pode ter seus capangas por perto porque Derek e Alana não podem estar comigo também? Ouvi o mesmo bufar do outro lado e ficar em silêncio por um tempo me deixando impaciente, eu já estava a ponto de mandar ele se foder e dar as costas voltando para casa, mas antes que pudesse abrir a boca ouvi sua voz novamente.
― Tudo bem, mas os seguranças ficam ai fora. ― falou grosseiramente.
Ótimo melhor que nada. Entreguei de volta o rádio para o segurança com um sorriso de escárnio no rosto.
― Espero que eu não tenha que repetir. ― falei com deboche e ele saiu da frente ainda carrancudo deixando-nos passar.
Alana, Derek e eu entramos sem trocar nenhuma palavra e nos dirigimos até a porta da casa do Justin, chegamos lá depois de uma grande caminhada na qual Alana ficava reclamando de dor nos pés, também, quem mandou trocar um tênis por um salto quinze, eu avisei. O segurança que estava de pé ao lado de fora da porta abriu-a e nós entramos. Alana e Derek estavam receosos, mas logo entraram também, eu sei como é já passei por isso.
Assim que passamos pela porta dei de cara com a Lucy que esperava vestida com seu uniforme branco impecável e um coque perfeito em seus cabelos grisalhos, ela mantinha um largo sorriso e as mãos cruzadas nas costas.
― Bom dia! ― falou entusiasmada fazendo Derek e Alana se entreolharem de sobrancelhas arqueadas ― O Senhor Bieber está no escritório, vocês podem subir...
― Não, não podem. ― uma voz fina e um barulho irritante de saltos no piso soaram da entrada do outro cômodo. Direcionei minha vista juntamente dos outros para o lugar de onde vinha o som e para a minha falta de sorte era a mesma garota que tentou me barrar no dia anterior.
― Mas o Senhor Bieber disse que... ― Lucy tentou argumentar, mas a garota a cortou novamente.
― Não me interessa o que ele disse. ― falou grosseiramente e eu revirei os olhos, barraqueira. ― O que você pretende hem? ― perguntou me encarando enquanto eu a observava de volta ― Acha que vai entrar nessa casa a hora que quiser, quando bem entender e ser convidada para um café? ― riu com deboche.
Eu estava preparada para socar seu lindo rosto até o sangue escorrer e seus dentes quebrarem, mas Alana tocou de leve meu braço fazendo com que me segurasse. Uma briga era o que eu menos precisava agora, mas essa vadia maluca me dá nos nervos.
― Há não se preocupe, eu me alimentei muito bem antes de sair de casa. ― debochei vendo a mesma trincar o maxilar.
― Não brinque comigo você não tem ideia do que eu sou capaz. ― apontou o dedo próximo ao meu rosto, agarrei seu braço com força fazendo a mesma fazer uma careta de dor e abaixar o dedo que com certeza eu quebraria com prazer.
― E você não me ameace, já mandei gente pro espaço por muito menos. ― falei entre dentes apertando com força seu braço para garantir que ficaria uma marca roxa no local.
― O que está acontecendo aqui? ― olhei para o lado e vi Justin vestindo uma calça de moletom cinza, que lhe caiu bem, mas isso não tem a mínima importância, seu tronco estava coberto por uma camiseta branca manga longa e em seus pés havia um Adidas preto com listras brancas. Ele estava acompanhado de Lucy que eu nem tinha percebido que havia saído dali. Com a minha distração a garota puxou o braço se desvencilhando de mim e dando alguns passos para trás com cara de dor.
― Essa maluca me machucou. ― rosnou mostrando o braço avermelhado para Justin que se pôs a frente dela.
― Será que você não consegue entrar aqui sem arrumar confusão? ― esbravejou com raiva enquanto a garota me olhava com um sorriso sínico nos lábios.
― Não fala assim com ela. ― Derek me empurrou e se pôs a minha frente.
Mas que droga ele está fazendo? Não preciso de ajuda.
― Não se meta. ― Justin disse entre dentes ― Acho que a Carson já está bem grandinha pra se defender sozinha. ― cerrou os punhos e travou o maxilar me deixando com medo do que poderia acontecer ali, já que Derek jamais recuaria e ele também não.
― Está sim, mas eu adoraria ter um motivo pra quebrar essa sua cara. ― Derek fechou os punhos e ia partir para cima de Justin, mas o segurei e fiquei no meio dos dois enquanto Alana e a garota observavam tudo de olhos arregalados.
― PAREM COM ISSO. ― gritei com raiva ― Você ficam falando de mim como se eu nem estivesse aqui, droga.
― Você não deveria estar aqui. ― a garota falou com raiva.
― Caitlin, cala boca. ― Justin disse rude sem desviar os olhos de mim.
― Não viemos aqui para brigar tudo bem? ― não acredito que disse isso ― Eu preciso falar com você, em particular. ― completei tentando manter a calma de todos quando na verdade quem deveria estar raivosamente brava era eu.
― Vamos pro meu escritório. ― ele falou ríspido depois de alguns segundos analisando meu pedido.
Pedi para que eles me esperassem ali embaixo e os mesmos assentiram mesmo a contra gosto. Justin e eu subimos os inúmeros degraus enquanto eu me perguntava o porquê de uma casa daquele tamanho não ter um elevador. Assim que cheguei lá em cima eu estava um tanto ofegante, já fazia alguns dias que não fazia uma academia e parecia estar perdendo a forma.
Justin nos direcionou até seu escritório sem proferir nenhuma palavra, agradeci mentalmente por isso. Ele abriu a porta e entrou, fiz o mesmo e me dirigi a sua mesa enquanto ele fechava o pedaço de madeira que havia ficado para trás.
― Você realmente não sabe o que é ser pontual. ― falou olhando em seu relógio de pulso. Eu não fazia ideia de que horas eram, mas como ele disse para eu chegar as oito e eu saí de casa por volta das oito, constatei que deveria estar bem atrasada.
― Antes de tudo, eu preciso falar com você. ― ignorei seu comentário e respirei fundo vendo o mesmo dar a volta na mesa e se sentar em sua cadeira me observando atentamente. ― Sem brigas, ironias ou xingamentos, como dois adultos, é possível? ― indaguei calmamente, esperando um "sim" como resposta, talvez pudéssemos nos entender uma vez na vida.
― Senta aí. ― assentiu apontando a cadeira ao meu lado. Eu não queria me sentar, mas se era para conversarmos civilizadamente, então eu teria que ceder um pouco também.
― Eu preciso saber de algumas coisas. ― me sentei cruzando os braços enquanto ele girava uma caneta sobre a mesa me deixando mais ansiosa.
― Sobre? ― perguntou parecendo disposto a responder.
― O casamento. ― falei com desgosto, mas tentando não transparecer o mesmo.
― E o que quer saber? ― arqueou uma sobrancelha enquanto se mantinha sério, pelo visto ele realmente estava disposto a ter uma conversa de adultos.
― Por quê? ― indaguei sem compreensão ― Por quê você precisa tanto se casar comigo?
Ele respirou fundo e passou a mão direita sobre seus fios loiros que caiam em seu rosto enquanto eu aguardava por uma resposta. Sua feição era pensativa, talvez nem ele mesmo saiba o porquê de tamanha loucura.
― Assim como Kastiel está infernizando a sua vida, ele está fazendo o mesmo com a minha. ― suspirou parecendo cansado ― O território dele é bem maior que o meu e que o seu, mas juntando os nossos, o dele fica na sarjeta. ― sorriu cruel me fazendo soltar uma risada baixa quase imperceptível por conta da sua feição e continuou ― Assim nós podemos fechar contratos bem maiores e os fornecedores dele não verão mais tanta vantagem em fazer negócios pequenos e partirão para o nosso lado. ― explicou calmamente enquanto mantinha seus olhos fixados na mesa.
― E nós não podemos fazer isso sem casar?
Mesmo com tanta explicação eu não via nada que me obrigasse a me amarrar a ele. Nós poderíamos juntar nossos territórios por um tempo, conseguir os fornecedores, acabar com Kastiel e depois tudo voltaria ao normal, mas cada um em sua casa, eu não via porquê de me casar com uma pessoa como o Bieber, quando simplesmente poderíamos fazer tudo isso sem se quer nos enxergar.
― Você realmente acha que alguém acreditaria que a família Walker e a família Bieber juntaram os territórios? ― cruzou as mãos sobre a mesa e se ajeitou na cadeira, seu rosto continuava com uma feição séria enquanto ele me encarava com seus olhos cor de mel.
Eu não havia pensado nessa possibilidade. Famílias tão antigas e rivais na máfia não se juntam de um dia para o outro apenas para destruir um inimigo em comum, eu com certeza acharia uma piada se me contassem isso á alguns dias atrás.
― Foi o que eu pensei ― ele completou percebendo minha feição negativa ―, mas com um casamento, nós teríamos uma prova de que estamos juntos nessa.
Eu havia entendido, mas não queria compreender, talvez porque se meu pai estivesse vivo hoje e sonhasse que eu faria um acordo tão sujo com um inimigo, ele me deserdaria sem pensar duas vezes.
― E o Jason? ― respirei fundo enquanto absorvia toda sua explicação. ― Como vamos tirá-lo de lá? ― perguntei curiosa, isso seria um trabalho bem difícil, mas era esse o motivo para me levar á tamanha loucura.
― Ryan está trabalhando nisso, não se preocupe, ele estará com você quando menos esperar. ― como assim? Eu não vou ficar de braços cruzados esperando que ele faça tudo.
― Eu quero participar disso, não quero que faça tudo, isso é meu dever. ― afirmei com convicção e decidida fazendo-o revirar os olhos.
― Eu sei disso, não se preocupe, assim que Ryan estiver com tudo pronto e um plano traçado, eu aviso. ― falou sério.
― Tudo bem, só espero que não demore. ― falei ríspida.
― Mais alguma coisa? ― perguntou cansado.
― Sim. ― relutei um tanto em perguntar, eu queria saber sobre isso, mas estava com muito medo que a resposta fosse sim, ele percebeu minha inquietação e estreitou os olhos me encarando confuso ― Vamos precisar morar juntos?
Talvez não. Quem sabe ele não possa morar na casa dele e eu na minha, assinamos os papéis e tudo fica bem, ninguém vai saber á menos que alguém conte e nós seriamos felizes. Um bem longe do outro.
― Mas é claro! ― riu da minha pergunta ― Quem acreditaria em um casamento em que os noivos moram em casas separadas? ― se recostou na cadeira.
Que ótimo!
― Então você vai morar na minha casa. ― falei decidida, eu não iria vir para esse covil de cobras venenosas e além do mais que se eu passasse dez minutos sobre o mesmo teto que a tal Caitlin cabeças iriam rolar.
― Tá brincando? ― me encarou perplexo ― Não mesmo, você vem morar aqui. ― bateu o dedo indicador sobre a mesa todo autoritário.
― Porque eu tenho que fazer o que você quer e você não pode ceder em alguma coisa também? ― perguntei com raiva descruzando os braços e colocando as mãos sobre a mesa.
― Porque é a mulher quem vai morar com o marido e não ao contrário. ― esbravejou se levantando.
― Isso é machismo. ― quase gritei e levantei também encarando seus olhos.
― Não, isso é a realidade. ― imitou meu tom, fazendo sua voz sair mais rouca que o normal ― Ou as coisas acontecem assim ou elas simplesmente não acontecem. ― me lançou um olhar desafiador que me fez ter vontade de tirar minha arma cintura e mata-lo ali mesmo, desgraçado.
Argh!
Isso é muito injusto. Aonde eu vim parar meu Deus? Nunca na minha vida me imaginei em uma situação dessas, eu odiava ter que ceder em qualquer coisa, ainda mais se essa coisa se tratasse de morar na casa do Justin com ele e seus cães de guarda. Eu não acreditava que teria que me render aos seus caprichos, mas não tinha outra escolha.
― Tudo bem. ― bufei desviando meu olhar do dele e dando alguns passos na direção da porta, tentando acalmar o demônio que queimava em meu corpo. ― Mas, não virei sozinha. ― girei meus calcanhares em sua direção novamente, ele abriu a boca para protestar, mas fui mais rápida. ― Essa é a minha condição.
― Tudo bem. ― revirou os olhos ― Acho que acabamos. ― ele disse em um tom de voz não tão amigável.
― Não, tem mais uma coisa.
― O que? ― me olhou um tanto confuso.
― Se vamos morar na mesma casa precisamos parar de um tentar matar o outro. ― afirmei objetiva.
― E o que você sugere? ― arqueou uma sobrancelha.
― Eu sugiro uma trégua. Eu não mato nenhum dos seus e você não mata nem um dos meus. ― propus enquanto segurava no encosto da cadeira a minha frente. Ele me olhou pensativo e virou de costas para mim, levou sua mão direita até a nuca e coçou o local, parecia estar analisando minha proposta, não era algo ruim, pelo menos eu garantiria minha segurança e a dele também. Ele se virou novamente me encarando.
― Até quando? ― molhou os lábios rapidamente.
― Até a morte de Kastiel. ― estendi minha mão direita para que ele apertasse, o mesmo encarou minha mão com receio, mas apertou.
― Até a morte de Kastiel.
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