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História Entre Mundos - Halloween


Escrita por: MissLoner

Notas do Autor


Então pessoas, mais uma ficzínea!
Me deu essa idéia pro desafio de Halloween lá do grupo Translations, mas ficou meio atrasada! Bom, saiu, e nem iria sair! hahaha
Então vamos à algumas considerações/avisos importantes.

1- Yaoi, Milo x Camus. Porque sim. Curtinha, terminada. Não tem outros casais, só menção de alguns, mas bem breve. É só sobre Milo e Camus mesmo.

2- Não tem Lemon por motivos de: não caberia na estória. E também porque esta que vos fala não sabe escrever lemon. Enfim, desculpa por isso.

3- A estória se passa após a Batalha das Doze Casas, antes de Hades. Saga Poseidon é irrelevante nisso, e me baseio mais na estória do mangá que animê quando escrevo.
Sobre as idades: tenho a minha própria lógica quanto à isso. Qualquer dia crio um arquivo explicando isso certinho porque ficaria longo demais aqui, e preciso fazer umas contas dae.
Sobre datas: explico nas notas finais.

4- Tem palavrão pra caralho. Nem sei se a classificação da estória tá certo. Capaz do Spirit exigir que seja +18 por ser yaoi, mesmo que seja inocente.

5- Sou leiga nisso. Procurei o autor da imagem, e não achei / não entendi como isso funciona. Não lembro de onde peguei, apenas cortei porque achei que ficava melhor. Enfim, quem souber de quem é, avisa ae pra eu dar os devidos créditos, e desculpa a ignorância em procurar decentemente.

É isso, espero que gostem da estória.
E ah, vou deixar uma musiquinha aqui que adoro, e deu uma bela inspiração pra editar/betar a estória. É, editar, porque durante a escrita estava em transe ignorando o mundo por completo! haha
Korpiklaani, Pellonpekko: https://youtu.be/HA4NDZKF3FY

Cheers o/

Capítulo 1 - Halloween


Fanfic / Fanfiction Entre Mundos - Halloween

Entre Mundos (05/11/2016)

 

Música alta e de gosto duvidoso ressoava pelo vasto salão do Santuário de Atena, onde previamente servira como a sala do trono do Grande Mestre, e hoje inutilizada, a não ser para tais eventos, como uma bela festa de Halloween custeada pela deusa renascida e retornada ao seu posto.

Milo de Escorpião trajava a mesma fantasia do ano anterior, numa festa de Halloween não tão suntuosa como esta, por sugestão de Camus de Aquário - Scorpion do jogo Mortal Kombat, enquanto o francês ruivo havia se vestido de SubZero na ocasião. Ambos sem os capuzes das fantasias, no entanto.

Ah, as memórias daquele dia…

Finalmente Camus havia retornado definitivamente para o Santuário na Grécia, após anos treinando seu pupilo na Sibéria. Já contava com vinte e dois anos, e Milo apenas chegaria à mesma idade na semana seguinte. O escorpiano permanecera na Grécia durante toda a ausência de Camus. Sempre fora assim: uns meses juntos antes de o francês partir para a Rússia. E já haviam se passado alguns meses que Camus estava residindo no Santuário em definitivo

Mas aquela noite fora especial. Milo insistira demais para que Camus dançasse, e este apenas repetira como um mantra “nem pensar!”

Até que, com um sorriso largo nos lábios, e ambas as mãos nos ombros de Milo, Camus sugerira, “vem, tenho uma ideia melhor, Escorpião.” E sem que pudesse responder, Milo se viu sendo guiado por um francês um tanto quanto alto pelas bebidas misturadas que ingerira enquanto afirmara “não dá nada!”, para a entrada da Casa de Peixes, local da festança então.

À lembrança, o cavaleiro de Escorpião mexia negativamente a cabeça com um sorriso nos lábios. Cambaleantes, os dois cavaleiros atravessaram as onze Casas escadaria abaixo, e seguindo à direita, se encontraram às portas do cemitério dos cavaleiros.

— Tu tá de sacanagem, Camus? — Questionara então. Não estava tão bêbado quanto o ruivo, e toda a caminhada havia dissipado um pouco do álcool de seus organismos.

— Imagina, não tem sacanagem nenhuma aqui, mon cher. — Camus dissera com um meio sorriso, a voz levemente rouca e embargada. Com uma piscadela, caminhara em direção ao interior do cemitério. Mordendo o lábio inferior, Milo o seguira. Logo o ruivo estava recostado em uma árvore que já havia perdido metade de suas folhas. A noite de lua cheia estava clara e estrelada, portanto, mesmo na ausência de luz artificial, a natural os impedia de ficar na penumbra.

— Tá, agora me diz o que estamos fazendo aqui em vez de estarmos na festa. — ‘ou na minha cama’, pensara em seguida.

— Me pareceu mais interessante passar a noite de All Hallows' Eve no cemitério que na Casa de Peixes ouvindo música brega. — O grego rira, realmente Afrodite tinha um gosto duvidoso para muitas coisas. — Por quê? Tá com medo, Escorpião?

— Que medo o quê, Francês! Só não conhecia esse seu lado mórbido…

— Mórbido? Ah, Milo… — dissera dando um passo à frente, ficando a centímetros de distância do grego. — Depois eu que sou inocente. — A voz soara um tom abaixo.

— Porra, Camie, se quisesse ficar sozinho comigo era só me levar pra sua casa, ou pra minha, até pra Casa de Libra ou pro banheiro da Casa de Peixes. — Aproximara seus corpos um pouco mais, elevando uma das mãos até a nuca do francês enquanto a outra agarrara-lhe a cintura. — Se bem que você é meio estranho e tem as ideias mais sem noção possíveis, então talvez essa visita noturna ao cemit…

— Como você fala, Milo! — Milo se viu puxado por suas vestes amarelas, e de maneira nada delicada, Camus colara seus lábios aos dele, em seguida os abrindo um pouco e mordendo até um pouco forte demais o lábio inferior do grego. Milo sorriu com a atitude urgente do aquariano, empurrando-o de volta para a árvore, pressionando seu corpo contra o dele. Permitindo-se abrir mais os lábios, não perdeu tempo, explorando vorazmente a boca com gosto de vinho daquele francês. Há quanto tempo não almejara aquilo! Provavelmente desde criança sentia algo mais por Camus, mas nunca havia sido o momento certo de trazer certos benefícios para a amizade inabalável deles. Até aquela noite de Halloween. Bom, não haviam avançado mais que apenas beijos então - algo mais deixaram para a comemoração do último aniversário do escorpiano…

 

Com os olhos fechados e um sublime sorriso nos lábios, Milo rememorava, ainda jogado em um sofá vermelho, vestido de Scorpion.

— Milo? Tá acordado?

Em um pulo ele abriu os olhos azuis intensos, encontrando um Mu inclinado sobre si. Sentiu a realidade como um soco no estômago. Ou melhor, como uma voadora.

— Não, Mu, só tava relembrando… — Pressionou os lábios após proferir as palavras, olhando Mu de cima à baixo, percebendo sua fantasia de Britney Spears, como no clipe Baby One More Time. Em outro momento, teria gargalhado daquela visão, e também de Aiolia vestido de Marilyn Monroe, ou da ironia de Shaka fantasiado de capeta  e Aldebaran de Hobbit, e da grande criatividade dos cavaleiros de bronze como Power Rangers. Marin e Shina se vestiram de Mário e Luigi respectivamente, Jabu estava como um integrante do Kiss, e parou de prestar atenção quando viu Ichi de bailarina. Imaginou que escolheram as fantasias mais bizarras possíveis para o Halloween desse ano, e todos estavam se divertindo.

Além da dor, que chegou a ser física, em seu peito, Milo também sentiu certa revolta com tanta alegria.

— Não faz isso com você, Milo. Eu sei como isso é triste e…

— Não, Mu, você não sabe. — Falou um pouco mais ríspido do que tensionara. — Tá vendo ali? Você tem o Aldebaran bem ali.

— Não seja ingrato, Milo. — Ralhou o ariano. — Todos nós perdemos nossos amigos e…

— Sem essa, carneirinho! Eu perdi o amor da minha vida, não apenas um amigo, como vocês acham que ele era pra vocês! — Sem nem se dar conta, Milo levantou-se do sofá, e também subiu uma nota na voz. — E a nossa querida deusa nem pra reconhecer o que ele fez pela merda do pupilo dele, capacho dela.

— Shh, fala baixo, Milo! Quanto você já bebeu? — Mu segurou em seu braço, tentando levá-lo para um canto mais reservado, mas bruscamente o escorpiano se desvencilhou.

— Eu não bebi nada, caralho! Mas deveria era tomar veneno, pena que essa merda não faz efeito algum em mim! — A voz falhou um pouco com o bolo que se formou em sua garganta.

— Para de drama, Milo! Faz quase um ano que o Camus morreu, e por escolha dele próprio em assumir tal risco. Você precisa seguir em frente! — A voz de Mu era calma, porém autoritária.

— Como você pode exigir isso de mim, Mu? Eu esperei a vida inteira pelo Camus, e o tive por menos de três meses. Sabia que eu nunca passei um aniversário dele junto com ele? E o meu último foi o melhor da minha vida justamente por estar com ele. — Não pôde conter uma lágrima que insistiu em rolar por sua bochecha. Mordeu fortemente o lábio na intenção que outras não seguissem - alguns outros cavaleiros já o estavam olhando com certa curiosidade, em especial Hyoga, segurando o capacete de Ranger azul em uma das mãos enquanto na outra uma garrafa de vodka - tinha certeza que Camus não aprovaria aquilo, sendo que o ex-pupilo ainda contava com dezessete anos.

Mu respirou fundo. — Milo…  me diz o que eu posso fazer pra aliviar a sua dor… — a sugestão foi completamente vaga, Milo o sabia. Compreendia o apoio que o amigo estava tentando lhe fornecer, mas era inútil.

— Você pode trazer o Camus de volta, Mu? — Não houve resposta, apenas um olhar pesaroso no rosto do ariano. — Então não há nada que você possa fazer para aliviar minha dor.

Levou uma mão brevemente ao ombro de Mu, e, com a cabeça baixa, Milo caminhou para a saída daquele salão que o estava sufocando.

 

Caminhou vagarosamente pela escadaria entre as Doze Casas, mal enxergando o caminho em meio às lágrimas. Ah, como sentia falta daquele francês, sentia tanto que doía. Após a Batalha das Doze Casas, onde não apenas Camus, mas também Afrodite, Máscara da Morte, Shura, e Saga, que se revelou ter usurpado a ocupação de Grande Mestre após assassinar Shion, haviam sido mortos em lutas intensas, Milo havia vivido em um estado letárgico de negação. Até hoje.  Não havia nem sequer chorado. Parecia surreal demais Camus ter morrido apenas uma semana antes de completar vinte e três anos.

A caminhada sem rumo levou o Cavaleiro de Escorpião à entrada do cemitério dos cavaleiros.

— Isso só pode ser sacanagem… — Disse a si mesmo, querendo sair correndo dali, mas algo o impedia. Ficou imóvel, apenas alguns pêlos eriçados em seus braços nus pelo frio se moviam, e também o peito, no vai e vem ritmado da respiração profunda. A noite não estava tão límpida como no último Halloween em que estivera ali, a lua agora era nova, e a luz parca das estrelas era a iluminação que se tinha. Bem no zênite se delineava a constelação de Orion. (1)

Não saberia precisar por quanto tempo esteve ali parado. Levou uma das mãos aos cabelos loiros enrolados, mais revoltos que o usual. Com um suspiro, pôs-se a caminhar cemitério adentro, mas dessa vez sabia exatamente para onde iria - para o lado oposto daquela árvore cheia de boas lembranças, para o lugar onde sua dor se concretizava.

Ainda em pé, observou aquela lápide de pedra, fria. Tocou-a com a ponta dos dedos. Leu sua inscrição em um fio de voz, — Camus de Aquário, 07/02/1993 - 01/02/2016. (2)

Milo sentou-se em frente à lápide, os antebraços apoiados nos joelhos, as mãos entrelaçadas. Não mais chorava, apenas observava à que se resumira a vida da pessoa que mais amou na vida, e suspirou.

— Temi encontrá-lo aqui.

Arregalou os olhos ao ouvir aquela voz atrás de si, a respiração, que já era sôfrega, cessou. ‘Devo estar enlouquecendo de vez, ouvindo vozes. O luto faz isso com as pessoas?

— Milo?

Mordeu o lábio inferior antes de tornar o olhar para trás, e sentir o coração parar, o corpo inteiro gelar. Aquilo não era possível.

— Camus? Mas… como…? — A voz saiu em um sussurro. Milo levantou-se, observando a visão à sua frente.

Camus. Vestido em uma espécie de camisola branca, os olhos castanhos à estudá-lo, nos lábios finos um breve e nervoso sorriso.

— Ah, Milo… — aproximou-se com uma mão estendida, mas o escorpiano deu um passo atrás, tropeçando na lápide e só não caindo pois esta era relativamente alta. Ficou recostado nela.

— Isso não é real, né? Puta que pariu, caralho, agora dei pra ficar tendo alucinações! — Havia desespero no tom de Milo, a voz saía com uma certa rouquidão.

— Milo, calma. Você não está alucinando ou ficando louco. Sou eu mesmo, de verdade, de carne e… ah, sei lá, mas sou eu mesmo, meu amor. — Com ambas as mãos, segurou o rosto do grego, olhando carinhosamente naqueles olhinhos azuis inchados.

— Como…? — Balbuciou sem sequer emitir som.

All Hallows' Eve. — Sorriu mais largamente. — Você sabe, conhece as tradições. Neste dia, o véu que separa o mundo dos vivos e dos mortos se levanta, a fronteira se estreita.

Milo elevou suas mãos e as pressionou sobre as mãos do ruivo, ainda em seu rosto. Elas estavam frias, mas as mãos de Camus sempre foram assim. O que surpreendeu o escorpiano foi o fato de poder tocá-las normalmente - Camus não era um espírito, um ser etéreo. Era de carne e osso,  ou seja lá o que. Era palpável, era físico.

Assim sendo, Milo segurou Camus pelas vestes, o trazendo para mais perto de si. — Eu senti sua falta pra caralho! — E capturou os lábios do francês com os seus, logo exigindo acesso em um beijo febril, se perdendo no momento, naquela sensação tão familiar, naquele gosto tão saudoso. Camus retribuiu com igual fervor, enlaçando seus dedos naqueles cabelos loiros desgrenhados.

— Ah Camus… — sussurrou ao apartar o beijo.

— Gostei de ter repetido a fantasia do ano passado, Milo, mas eu tive que mudar a minha pra Gasparzinho… — Com uma risadinha, deitou o queixo no ombro de Milo.

— Isso não tem graça, Camus. — Disse em tom sério. Respirou fundo, abraçando o ruivo apertado. O sufocaria se ele já não estivesse… cortou o pensamento instantaneamente. — Por que você me abandonou, Camie?

— Eu não te abandonei, Milo, eu morri.

Aqueles palavras, proferidas de maneira tão trivial e calma, saíram como adagas  arremessadas em direção ao coração de Milo. Puxando Camus pelos cabelos ruivos, afastou-o, fazendo com que olhasse diretamente em seus olhos.

— Sim, você morreu. E de uma maneira absurdamente estúpida. — Falou com firmeza. Amava demais aquele francês filho de uma puta, entretanto, não conseguia esconder seu ressentimento. A felicidade em revê-lo, em poder tocá-lo novamente, se mesclava com a frustração das coisas nunca ditas e o medo de que aquilo fosse um sonho, algum devaneio que logo cessaria. — Porra, Camus, por que você não me escutou e acreditou que o seu pupilo estava preparado pra seguir em frente?

— Milo. Conversamos várias vezes sobre a inaptidão do Hyoga quando eu fui chamado de volta para o Santuário sem ter terminado o treinamento dele. — Camus não alterara o tom suave de voz. Com a ponta dos dedos, coçava carinhosamente o ombro de Milo.

— E você me disse que ele já era capaz de destruir a parede de gelo eterno, e ainda assim se recusou a dizer pra ele onde estava a armadura de Cisne. — Soltou o ar audivelmente, os olhos focados nos olhos castanhos de Camus, estudando aquela falta de expressão.

— Força não é tudo, Milo. Hyoga não estava preparado psicologicamente para ser um Cavaleiro. Seus motivos eram egoístas, ele vivia em função de um fantasma do passado, literalmente.

— Devo renegar a armadura de Escorpião então, pois não consigo deixar pra lá um fantasma do passado também. — Ironizou, apertando a cintura de Camus. Acreditou em Camus quando este lhe contara sobre o pupilo, a quem ele amava e respeitava demais, a quem dizia ser um menino incrível - porém, não estava perto de terminar o treinamento e “se formar” como cavaleiro. E quando Camus soube que o Grande Mestre havia agido pela suas costas e, em carta, dito à Hyoga onde a armadura de Cisne se encontrava, o francês ficou realmente puto. Ele sabia que o pupilo seria capaz de adquirir a armadura, de destroçar tal pedreira de gelo, - apenas o achava imaturo demais para a responsabilidade de servir uma deusa. Camus repetira isso incansavelmente para Milo.

— É diferente. Você teve o seu treinamento completo, e sempre foi um dos mais responsáveis cavaleiros do Santuário, não tem nada mais a provar. Eu fiz o que foi necessário pelo meu pupilo, Milo. Era minha responsabilidade, e eu sabia dos riscos.

— Você é um idiota, Camus! Você não precisava morrer pra “formar” a merda do seu pupilo. Você tem noção de como eu fiquei quando senti seu cosmo se extinguir? Você tem alguma noção de como eu ainda me sinto todos os dias sem você? — Nem a mordida, que chegou a tirar sangue em seu lábio, impediu um soluço e que lágrimas viessem à tona.

— Milo, me desculpa. — Tentava secar as lágrimas do escorpiano, mas mais começavam a cair. — Eu sinto muito mesmo que as minhas ações, necessárias, tenham lhe causado tanta dor. Eu não acho que conseguiria permanecer vivo se você morresse em vez de mim.

— E quem disse que eu tô vivo, Camie? Eu morri quando você morreu. Isso aqui é só uma carcaça patética.

— Milo…

— Eu sei, não sou tão diferente do seu pupilo querido. Não consigo, e não quero, deixar pra lá esse meu fantasma do passado. Não amo a deusa mais do que eu amo você. Eu juro que tento, mas minha devoção à ela foi abalada quando ela trouxe de volta os cavaleiros de bronze, fiéis à ela, mas não quis fazer o mesmo com você, ou mesmo com o Dite, que apesar das merdas que fez, muitas pela má influência do Máscara da Morte, não era má pessoa e muito menos mau cavaleiro. Caralho, Camus, ela poderia ter ressuscitado vocês também, isso não foi justo.

— Talvez tenha sido. Afinal, estávamos todos contra ela e seus aliados. — Ponderou, dando de ombros.

— Nós fomos enganados pelo Saga, caralho! Aquele filho da puta sim que merece queimar no inferno. — O breve tremor de Camus às suas palavras não passou despercebido. — Mas você sempre desconfiou, principalmente dos motivos que o levaram a ter confidenciado ao Hyoga sobre a armadura, a que preço. E à obsessão de eliminar meros cavaleiros de bronze. Lembra quando discutíamos sobre isso? Você, principalmente, Camus de Aquário, NUNCA ficou contra a deusa Atena!

— Meu amor… — Abraçou o grego, fazendo-o deitar a cabeça em seu ombro, já não mais chorando, e pôs-se a acariciar seus cabelos com cheiro de shampoo. — Nada disso importa mais. Está no passado, e não podemos mudar os acontecimentos. Você ainda é um cavaleiro de Atena, e tenho certeza que a deusa tem muita confiança em você, assim como eu tenho. Nós temos uma missão ainda a cumprir, Escorpião, e você precisa  levantar a cabeça e seguir em frente.

— Você morreu, Camus, já cumpriu sua missão. — Ouviu o ruivo suspirar pesarosamente e abraçá-lo mais forte antes de beijá-lo na têmpora.

— Eu te amo tanto, Milo…

Milo levantou a cabeça, procurando os olhos castanhos do francês com os seus. — Você olha por mim? — Ao perceber a confusão na sobrancelha bifurcada e arqueada do francês, Milo reformulou a pergunta. — Você só tá aqui porque é Halloween, digo, por isso que posso te ver e te tocar, os mundos estão colidindo. Mas nos outros dias… eu não posso te ver. Você pode me ver? Você me vê? — Expectativa estampada naqueles olhos azuis esperançosos.

— Não é assim que as coisas funcionam, Milo. — Balançou negativamente a cabeça. — Eu também não posso te ver. Não estou em férias, que faço o que bem quero e que posso ficar observando um certo Escorpião delícia. — Milo riu com aquilo. Ninguém nunca acreditava que Camus falava coisas do tipo, mas com Milo ele realmente se libertava.  E o grego sentia orgulho disso, de ter esse lado de Camus só para si. — Hoje foi um dia atípico, mas eu precisava dar um jeito de subir pra te ver. E dei. — Roçou os lábios de leve nos de Milo.

— Subir? Como assim? Onde você esteve, Camus? O que foi que você fez? (3)

Recostando a testa na do grego, com os olhos fechados e com ambas as mãos na nuca dele, Camus disse em um sussurro: — Isso não importa, Milo. Tudo o que me importa é que você saiba que eu te amo muito. Sempre te amei, e te amarei enquanto minha alma existir.

— Eu também te amo, Camus. Eu te amo pra caralho, meu francês!

Sorriram mesmo com os lábios colados, beijando-se lentamente. Milo acariciava as costas de Camus, enquanto este lhe fazia cafuné, vez ou outra enroscando os dedos no meio do cabelo enrolado de Milo, até dando pequeno puxões. No passado, Milo chegou a ralhar com Camus que aqueles puxõeszinhos doíam - mas não hoje. Se dava conta de como sentira falta de absolutamente tudo que Camus fazia, até puxar seu cabelos - inclusive quando o francês puxava com tudo em certos momentos

Gemeu baixinho contra a boca do ruivo, e este aprofundou mais o beijo. Milo, no entanto, apartou o beijo, ofegante. — Um de nós ainda precisa respirar, meu bem.

Camus riu, porém, ao olhar para o horizonte atrás de Milo, o sorriso morreu em seus lábios finos. Milo seguiu a direção que ele olhava, depois tornou a fitá-lo. — O que foi?

A hora do lobo. (4)

A expressão de Milo tornou-se séria, sabia o que aquilo queria dizer. — Não!

— Sabíamos que só tínhamos essa noite…

— Não! — Envolveu Camus em um abraço possessivo, agarrando-lhe as costas e a nuca. Seus olhos azuis marejaram.

— Milo… — Segurou a mão dele que estava em sua nuca, mais uma vez encostando suas testas. — Fica bem, por favor. Seja forte. — Tocou em seus lábios pela última vez, um beijo breve demais.

Desvencilhando-se, Camus foi caminhando de costas para trás, sem tirar o olhar dos olhos novamente umedecidos de lágrimas de Milo.

— Aconteça o que acontecer, Milo, eu te amo.

— Camus, não… — Esticou o braço em direção ao francês, que já se via envolto em uma bruma com os primeiros raios de sol se fazendo presentes no horizonte leste.

— Não esqueça, Milo, eu ainda te amo.

— Camus, volta! Camus, eu te amo, não me deixa de novo. CAMUS!

Com um breve sorriso nos lábios, Camus de Aquário finalmente sumiu em meio às brumas, deixando um Milo desolado, chorando copiosamente. O grego se jogou de joelhos, e com a cabeça voltada para cima, soltou um grito imenso. Até se desequilibrou, sentando-se no solo úmido de orvalho, recostando-se na lápide do túmulo de Camus. Ainda chorava muito, porém já silenciosamente - apenas os soluços se faziam ouvir naquela quietude funesta.

Dizia a si mesmo que teria que ser forte - Camus pediu que assim o fizesse. Mas não se sentia nem de longe bem, nem de longe forte. Sentia-se morto mais uma vez, como as folhas amareladas que desprendiam das árvores naquele novo dia de outono.

 

FIM


Notas Finais


(1) meu conhecimento da posição das constelações é escasso, e só estou me baseando nisso. Orion fica no lado oposto de Escorpião no céu. Ou seja, Escorpião não era visível, e imagino que nem aquário na ocasião.


(2) datas, sempre um problema… Bom, como a fic era pro desafio de Halloween desse ano, apenas contei 23 anos antes pra data de nascimento de Camus. Qualquer dia explico melhor isso, mas as idades dos Cavaleiros, em que escrevo, seguem a minha própria lógica e não a oficial do Kurumada.


3 Como Camus não respondeu às perguntas de Milo, então aqui vai, em off. Sabemos que logo eles voltariam como “aliados” de Hades, certo? Então. Como parte dessa (falsa) negociação, Camus exigiu visitar Milo, claro, sem dar com a língua nos dentes. Sim, ele e os outros mortos nas Doze Casas estavam no inferno/Hades, no Cocitos, afinal, mesmo que sem intenção, e apesar das nuances, ficaram contra um deus. Atena, no caso.


(4) a hora do lobo. Traduzi ao pé da letra “the wolf’s hour”, que é aquela hora da manhã um pouco antes de o sol nascer, quando o céu começa a adquirir um tom mais cinza/azulado no horizonte leste. Não sei de onde a expressão surgiu, mas existe, li em alguns livros por aí.

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E ae, gostaram da sofrência? É, não tem jeito... Poison & Ice é amorzinho, mas tem que ter uns dramas no meio, né, se não não tem graça! hahaha

Cheers!


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