História Entre Mundos- A Nova Era - III- Amor platônico- Capítulo alterado.

   

Rimos e seguimos pelo corredor, chegamos a porta da minha sala e bati duas vezes até Sr. Lewis, meu professor de história. Porém mais conhecido como, meu amor platônico desde o ano passado, abrir a porta. 

– Scarlett, como vai? Soube que estava na enfermaria. 

Meu professor de história, por incrível que pareça, não é um velho barrigudo, ele é jovem. Veio de outra estado e como tinha acabado de terminar a faculdade não tinha muitas opções de emprego e a primeira que surgiu foi pra cá. 

Então por mera coincidência ou pelo destino querendo nos juntar, ele entrou ano passado o mesmo ano que havia adentrado ao meu 1° ano do Ensino médio. Desde o momento que ele entrou na sala, e disse " Bom dia " com aquele sotaque do sul, eu soube quem seria, meu professor preferido. 

Seu corpo esguido e sua altura passam total segurança, sua pele tão branca, que parece que ele nunca tomou sol ou foi a praia, olhos da cor de chocolate que pareciam perigosos de se olhar, como se a qualquer momento você fosse se perder ali. 

– Estou melhorando, só vim buscar minhas coisas e falar com Kiara. – Quando termino de falar a observo com minha mochila em mãos atrás do professor e a puxo para fora. – Olha só ela aqui, posso pegar ela emprestada alguns minutos? 

– Claro, vejo que fez um amigo também, não vai me apresentar? 

– Pergunta encarando Nathan atrás de mim, parecendo um segurança, sorri com a cena. 

– Sr. Lewis, esse é Nathan. – Apontei furtivamente para o loiro que lançava um olhar ameaçador para meu professor de história. 

– Ah sim, é um prazer Nathan. – Falou sorrindo de lado, consegui sentir uma ironia tão grande e o clima ficar tão tenso que me fez sentir calafrios. 

– Não posso dizer o mesmo. – Resmungou Nathan. Olhei para o garoto e ele deu de ombros. 

Dei um sorriso amarelo para Sr. Lewis e me despedi. Kiara me olhou, como se não tivesse entendendo nada. 

– Depois explico. – Sussurrei. 

– O que? – Ela sussurrou de volta. 

– De-po-is eu ex-pli-co. – Falei pausadamente. 

– Não tô entendo nada. – Minha amiga resmungou. 

– DEPOIS EU EXPLICO PORRA. – Berrei. 

– Ata, tá bom. – Respondeu calmamente. 

Me recordo da burrada de algumas horas antes e me aproximo, enlaçando meus braços em seu corpo pequeno. 

– Me desculpe nanica, não queria ter falado daquele jeito contigo, sei que só quer o meu bem... – Sussurro em seu ouvido. 

– É claro que... – Pausa. – SIM. Acha que vai se livrar tão fácil de mim assim? Há minha querida, nem sonhe com essa possibilidade. 

São em momentos assim, que penso no tamanho do meu azar, por meus pais terem sumido e me deixado sozinha no mundo, sem ao menos explicar o porquê e ter passado noites em claro chorando pela dor da rejeição. Mas também, na minha tamanha sorte, em ter conhecido pessoas tão incríveis como minha tia, Kiara e Simon, que mesmo que o mundo desabe eles estarão lá para me fazer enxergar que mesmo no fim se vê um começo, que as coisas são mais coloridas do que podemos enxergar. 

Sinto o cheiro de chocolate de seus cabelos e uma onda de nostalgias invadem meus pensamentos. 

Estava na 5º série, quando uma garotinha gordinha com cara de bolacha trakinas e cachinhos pretos que caiam sobre seus olhos, se aproximou de mim e de Simon de um modo desajeitado, mas sem demonstrar medo, se mostrando indiferente ao resto. 

– Oi, me chamo Kiara, será que podem me mostrar a diretoria? Não consigo achar de jeito nenhum, minha mãe me largou aqui e disse que era pra fazer amigos mais rápido, dá pra acreditar nisso? 

Simon e eu nos olhamos e caímos na risada, enquanto ela nos olhava com divertimento. 

– Sim. – Dissemos sorrindo. 

– Sim o que? – Questionou. 

– Nós vamos. – Respondi rindo. 

– Pra onde? Lá tem comida? Tô morrendo de fome! 

Simon não parava de rir e ela o olhava furiosa, aquilo seria extremamente divertido. Me levantei e peguei no braço de minha nova amiga. 

– Aonde vamos? – Perguntou. 

– A diretoria, uai. 

– Ata, tendo que pegar um papel lá mesmo. Que sorte de você conhecer a escola. – Respondeu com um sorriso sincero. 

Ri de seu esquecimento e amei o jeito dela me fazer sentir mais viva e em paz. 

E daquele momento em diante nunca mais nos separamos. 

Sou tirada de meus pensamentos quando escuto um sussurro. 

– Quem é o guarda-costas bonitão aí atrás? Vai me dizer que está com Nathan Cooper? Por que não me contou nada? – Kiara pergunta. 

– Amor, não acredito que não contou a ela. – Nathan se aproximou colocando a mão no coração. 

– Ei! Calado você aí. – Falei olhando para o loiro. – É óbvio que não, esse idiota que está me seguindo. E eu estou bem, obrigada por perguntar. – Resmunguei me voltando para Kiara que segurava o riso. 

– Assim você me mágoa, ruivinha. – Nathan retruca fingindo estar ofendido. 

Kiara e eu nos olhamos e rimos. As vezes parecíamos ler o pensamento uma da outra, era estranhamente reconfortante. 

– Aqui sua mochila. – Ela me diz entregando. – Simon perguntou se vai querer ir ao parque com a gente. Vamos logo depois da aula só pra comemorar a volta às aulas, você vai, né? 

– Claro, vou passar em casa e pego umas coisas pra comermos lá. 

– Então nos vemos lá, ruivinha. – Se despediu deixando um beijo na minha bochecha. 

– Até mais tarde, nanica. – Me despeço e me deparo com um Nathan surpreso olhando pra mim.  – Eu disse que tinha amigos. 

– Só não imaginei que fosse tão... – Ouço seu suspiro. 

– Cuidado pra baba não cair aí. – Digo irônica. – Mas ela não é pro teu bico. 

– Ha ha. Que engraçado. – Revira os olhos. – Veremos. 

– Então tá, tô vazando. Até mais Nathan. 

– Nada disso, agora VOCÊ vai comigo pegar minha bolsa, e depois te levo até em casa. – Diz me puxando pelo corredor. 

– O que te faz pensar que irei com você? – Pergunto segurando em uma quina da parede. 

– Te pago um sorvete depois. 

– Humm... Feito! – Falo, aposto que meus olhos estão brilhando e só de pensar em comer minha barriga da sinal de vida. 

– Então vamos. – Diz.

Depois de passarmos do prédio três e pela quadra, chegamos ao prédio 4. 

Era onde funcionava o quarto ano, meio óbvio não? Era onde os que se achavam fodas estudavam.

Andamos alguns corredores e não demorou muito para pararmos em frente à uma porta, onde Nathan bateu diversas vezes, bateu não, ele praticamente espancou a coitada da porta. 

– Ei, por que não arromba logo essa porra? Seria bem mais fácil. – Resmungo. 

Ele dá um sorriso de lado e logo uma menina loira, com feições tão familiares aparece abrindo a porta com um sorriso no rosto. 

Ela o abraça e ele geme de dor baixinho, ela sussurra algo em seu ouvido com que faz que ele fique tenso, eles se afastam e depois de um tempo ela parece notar minha presença. 

Não tô gostando dela não, quem pensa que é pra me ignorar desse jeito? Aposto que é uma das ficantes desse safado. 

Ela não é puta por que meu sensor não apitou (É isso mesmo, tenho um sensor de puta, qualquer dia vão ver ele em ação), mas algo me diz que ela não foi muito da minha cara, e o sentimento é reciproco. 

Ela me dá um sorriso amarelo e volta pro seu lugar ao lado de um grupo de meninas. 

“ Aí meu sensor, não disse que funciona? ” 

– Vamos ruivinha, você quem vai carregar minha bolsa. – Diz me arrastando pra dentro da sala. 

Paramos em frente à um grupo de garotos com a pele bronzeada e todos tão musculosos quanto Nathan. 

Quando eles notam a nossa presença, um ser de jaqueta preta e parecendo ser o maior do grupo se levanta e vira pra nós resmungando: 

– Aí está você Nat, estávamos pensando se conseguiu dar conta daquele... – Vejo um garoto de cabelos castanhos dar uma pequena cotovelada no da jaqueta e quando ele se vira... 

Não sei por que me surpreendi vendo aqueles olhos tão pretos me encararem, com um misto de confusão e espanto. 

Ele cheirou o ar e não parou de me encarar. 

Faz tanto tempo desde que fiz com que ele e seus amiguinhos levassem algumas advertências quando estavam na 3º série e eu no 1º. Nesse tempo eu tive uma queda por ele mas, quem não teria?

Ele era um garoto popular, todas queriam estar com ele. Até que uma semana antes do baile eu fui falar com o garoto, sem menos saber o nome dele, eu queria que ele mesmo me dissesse, queria saber pela boca dele. Sim, eu era doida, bem doida. (ou trouxa se preferir)

Eu estava na sexta série, auge dos meus doze anos, e eu estava apaixonada por um Carter, o garoto mais bonito e popular do ensino fundamental. 

Sendo ele dois anos mais velho, se encontrava na oitava série, faltando somente um ano para sair da escola, eu precisava ao menos tentar, o baile de primavera se aproximava, faltavam apenas dois dias, Simon e Kiara já tinham par, só eu que ainda estava empacada, um garoto havia me chamado, ele se chamava Adam, mas acabou ficando com catapora e não poderia sair de casa por uma semana. 

Ele estava tão bonito naquele dia, seu corpo bem adolescente forte, sabe? Seus olhos pretos se destacavam em meio de sua pele acastanhada. 

Me aproximei da mesa em que ele estava sentado, rindo com seus amigos. Teria de ser agora, já tinha planejado tudo. Era tradição, quem quer que fosse, tinha que fazer algo especial para chamar o par para o baile. 

– Hãm... Olá Carter, será que poderia falar com você? – Toquei seu ombro, um silêncio reinou pela mesa e ele se virou pra mim, com uma cara séria. 

– O que deseja falar? Seja rápida, não tenho tempo pra órfãs. – Respondeu ríspido. 

Aquilo me doeu muito, normalmente as crianças eram legais e entendiam minha falta de presença de pais, alguns faziam perguntas, esvaziavas ou insensíveis, mas não podia culpa-los era apenas curiosidade. 

– Eu gostaria...Hãm... 

– Vamos logo órfã. – Me apressou. Ignorei todos na mesa e finalmente falei. 

– Quer ir ao baile comigo? – Tirei um anel, que havia talhado na aula de artes, de dentro de uma caixinha e estendi para ele. Uma risada escandalosa soou pelo refeitório e quando percebi que vinha do garoto a minha frente, fiquei confusa. 

– Acha mesmo, que eu... Espere, espere...– Falava entre risadas. 

– Não entendo...– Sussurrei. 

– Acha mesmo que vou sair com uma órfã? Ainda por cima nerd? Olha pra você, pelos deuses, eu tenho garotas muito melhores que você. Porque diria sim a você? Por dó? Por favor. 

– Ei cara, não precisa falar assim com ela. – Um garoto falou, seus cabelos loiros estavam sobre seu rosto, então não pude vê-lo direito. 

Eu absorvia as palavras ditas até ali, e a cada segundo, sentimentos tais como: Raiva, mágoa e vergonha, se apossavam do meu corpo, naquele momento não derramei nenhuma lágrima, apenas recuei minha mão, joguei o anel no chão dei as costas para ele. 

Ignorei os olhares das pessoas de mesas próximas e sai dali o mais rápido que consegui.