Harry
Era o terceiro comprimido que eu tomava desde que entrara no camarim. Que palhaçada eu estava fazendo com a minha vida? Gostaria de me recordar em qual momento eu deixei as coisas perderem o controle.
Tudo que eu ouvia era como nossa banda estava famosa e como estávamos lucrando. E daí? Que eu me lembre, eu e os meninos queríamos mais do que isso. Tudo bem, conseguimos adquirir fama, mulheres e conquistamos coisas, mas ainda faltava algo.
Para mim, falta algo.
— O que há de errado com você? – Era a quarta vez que Candice me ligava. Já estava começando a me cansar da voz dela e da maneira grudenta como ela sempre agia quando estava comigo.
— Nada. Tenho que me preparar para o show. Nos falamos depois. – Disse ríspido.
— Tudo bem. – Senti um tom de frustração em sua voz. — Venha para o meu apartamento depois do show, posso animar você. – Seu tom sexy invadiu meus tímpanos, o que me fez sorrir. Candice sabia como me enlouquecer.
— Quem sabe eu vá. Até logo. – Desliguei.
A noite estava fria. O barulho estava ensurdecedor e procurando um pouco de alivio fui ate uma porta que dava direto para a saída. O corredor estava vazio e calmo. Não costumo fumar, apenas quando fico nervoso. Então acendi um cigarro e tentei relaxar por alguns minutos.
Em menos de cinco minutos de paz, meu silêncio é interrompido por gritos. Não sabia identificar se eram das fãs entéricas que esperavam por nós do outro lado ou se era de alguém pedindo socorro. Apaguei o cigarro e caminhei um pouco. Vi movimentos bruscos e barulho de choro.
Um homem agredia e tentava covardemente abusar de uma garota ali. Odeio bancar o herói, mas se não fizesse alguma coisa, aquele dia estragaria a vida daquela garota.
— Ei! – Gritei. O homem me encarou assustado. Sua cara era de pervertido e ele alisava o corpo da garota que agora, estava desacordada. Suas roupas estavam rasgadas e havia sangue em seu rosto. — Seu monstro! – Xinguei, me aproximando. O homem apenas se levantou, roubando a bolsa da garota e correu.
Liguei para a polícia e pedi para que trouxessem com eles o resgate. A garota estava muito machucada. Coloquei minha jaqueta em cima do seu corpo nu e logo os policiais chegaram.
— Acabamos de mandar uma viatura para o fim da rua, algumas pessoas disseram que viram um homem que bate com as características que você descreveu, correr para aquela direção. – O policial avisou.
— Obrigado. Vocês vão leva-la ao hospital? – Perguntei nervoso.
— Sim, mas precisamos de um acompanhante.
— Vou pedir ao meu empresário para cuidar disso. Me dêem noticias da garota e do cara, ele tem que ser preso, ainda mais depois do que eu vi ele fazer. Falei furioso e segui para a arena do show.
Três horas depois meu celular toca. John havia acompanhado a garota ao hospital, mas não conseguiu descobrir nenhuma informação sobre ela. Mas o cretino que havia lhe feito mal, já estava preso. Só espero que apodreça na cadeia.
Peguei minhas chaves e fui para o carro. Candice disse que estava me esperando, e eu precisava disso. Ainda mais depois de um show de quatro horas e da cena horrível que presenciei.
Parei no semáforo, estava cansado e nervoso. Já era hora de um comprimido. Ultimamente estava sendo impossível viver sem eles. Meu celular toca.
— O que foi, John? – Falo impaciente.
— Você tem que vir aqui, Harry. Os pais da garota querem te agradecer pessoalmente pelo que você fez.
— Não tenho tempo para isso, John! Se livra deles por mim.
— Não me importa se você tem tempo ou não. Venha até aqui. Já pensou no ibope que isso pode trazer pra você e pra banda? – John, sempre ganancioso.
— Eu não quero ir. – Falei mais uma vez.
— Você não tem que querer, apenas venha. Você tem quinze minutos para isso. – Desligou na minha cara.
Odiava a maneira como todos queriam me controlar. Odiava o que John fazia comigo. Mas não tinha escolha, mudei a rota do caminho. Disquei o número de Candice.
— Você vem? – Ela disse animada.
— Hoje não dá, Candy. Nos vemos amanhã.
— Tudo bem, problemas com a banda, né?! – Ela falou decepcionada, já sabia minha resposta. — Se cuida.
— Você também. – Desliguei o telefone.
Lá se vai mais uma noite perdida. Lá se vai outro comprimido goela abaixo.
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