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História Entre Sem Bater - Capítulo 14 - Mesmo quando o passado volta a bater em sua po


Escrita por: andreiakennen

Notas do Autor


Atualização de aniversário para Gi-chan! Viva! \o/
Gi-chan, é hoje seu dia minha kohai fofíssima que amo de coração.
Que sempre me apoia mesmo sendo essa autora tão relapsa. Que me enche de ideias, fanarts e carinho. Que é apaixonada pelo Caio e sempre que pode está me cobrando atualizações. Então, é para todos que acompanham essa original sim, mas em especial para você, pois você sabe que se não fosse seu apoio ESB teria ficado naqueles 6 capítulos feitos para o dia internacional do Yaoi há uns anos atrás, né? Então ESB tem muito de você. Porque você gostou tanto e me encheu de sentimentos por essa história que hoje ele está ficando adolescente, chegando ao capítulo 14, e olha que acredito que ela tem muito chão ainda.
Feliz aniversário, Gi-chan! Espero que seu dia tenha sido lindo e que meu humilde presente possa alegrar um pouco mais as festividades. <3
Seria atualização dupla, mas ainda falta alguns retoques no capítulo 15, por isso vou deixar pra postar ele no fim de semana. Ou seja: sim. Fica por aqui que vai ter mais bolo.
Espero que goste, feito com aquele amorzão de senpai pra kohai, tá?
Beijos no seu coração e feliz aniversário de novo!! \o/ <3
Para todos que lerem também fica aqui um coração <3
Se faltar responder algumas reviews, vou fazer até sábado também.
Nesse capítulo chega ao fim o arco do passado do Caio e quase no final dele a narração volta para primeira pessoa, ou seja, ele. É isso.
Boa leitura pra todos! o/

Capítulo 14 - Capítulo 14 - Mesmo quando o passado volta a bater em sua po


Obs: Esse arco do passado do Caio será narrado em terceira pessoa para que vocês leitores tenham um panorama geral de tudo que ocorreu, mas quase no final a história volta para narrativa em primeira pessoa. 

 

Entre Sem Bater

Por Andréia Kennen

Capítulo 14

Mesmo quando o passado volta a bater em sua porta?

Parte 4 (Final)

 

Os olhos azuis claro de Cassiano se arregalaram demonstrando todo seu espanto na confissão do amigo.

— Usted...

— Tente falar em português, Cass. Eu sei que quando você fica nervoso dispara no espanhol e eu não vou conseguir te acompanhar.

— Caiozito... Eu... Digo... Você... Espera? Gay? Meu mejor amigo?

— Sim.

— Em um verano que me voy e passo longe, usted me descobre que és um trolo[1]?

— É.

— Como? Digo... Como...?

— Como você descobre que gosta ou não de uma comida?

— Experimentando?

— Então...

— Diabos, Caiozito! — Cass elevou as duas mãos à cabeça e deslizou-as sobre os cabelos ondulados jogando-os para trás. — Usted não pode estar sério sobre isso.

— Mas estou. E muito.

— Como usted pode ter tanta certeza que é gay apenas se beijando com outro... outro... outro... Ah, diabos! Outro. Com outro!

— Quem disse que foi apenas um beijo? Foram vários. E não foi apenas isso, nós já transamos também — Caio disse aquilo tentando manter a expressão mais séria possível, mesmo que por dentro estivesse tendo dificuldade em conter a vontade de rir da cara que o amigo fazia.

— Do que usted está a rir? — Cassiano notou, mudando ele a expressão para irritado.

— Bem, eu não sei dizer — o sorriso virou uma breve risada. — Mas é engraçada a cara que está fazendo, você precisava se olhar no espelho.

— No te rías!

Caio tentou se conter.  

— Ok. Desculpe.   

— É mesmo sério? Você fez sexo com um cara?

— Sim — confessou naturalmente, juntando os joelhos e abraçando-os. Caio estava sentado no carpete do quarto do amigo, os dois começaram a conversar enquanto Cassiano desfazia as malas. Mas quando entraram naquele assunto o argentino parou de mexer no guarda-roupa para prestar atenção no amigo e nas novidades que ele contava. — Eu estava tão ansioso para te contar tudo — Caio continuou. — Começou faz algum tempo, no natal, quando nos falamos por telefone aquele dia, só que não era algo que dava para detalhar por telefone, por isso esperei que chegasse.

— Foi depois de usted ter beijado a Fê?

— Isso. Talvez, eu não ter sentido nada com a Fê e ter sentido um reboliço tão grande com o Denis, que eu pude ter certeza do que eu realmente sou.

— Denis? Esse não es su vizinho que é casado?

Caio assentiu, sentindo um pouco o peso daquela observação.

— Usted descobriu que é gay com um cara casado?

— Por que esse tom? — Caio franziu o cenho começando a ficar incomodado com os comentários do amigo. — É isso mesmo que estou entendendo, Cass? Está querendo dar um de moralista comigo? Logo você que vive dando em cima de garotas que tem namorado?

— Es diferente!

— Por que seria?!

— Elas son ninas. Son da nossa idade. E não son casadas! Usted está ficando com um cara, um CARA, um velho! E casado, Caio? E usted ainda deu su culo para el?!

— Não fale isso alto assim! — Caio se levantou e encarou o colega de forma dura. — A dona Rosa pode ouvir. E nem todas as garotas com que você sai são da nossa idade, seu mentiroso! Você adora mulheres mais velhas que eu sei. E eu dei sim! Eu senti vontade de dar e dei. Ele me fez sentir desejo. Eu me entreguei para o Denis porque eu quis. O corpo é meu, eu faço o que eu bem entender. E eu transei com ele e vou continuar transando! E digo mais: foi bom. Foi muito bom.

Cassio cobriu os ouvidos com ambas as mãos.

— Cass?

— No quiero oírlo! — gritou e descobriu os ouvidos. — Nunca pensé que diría esto, pero estoy com nojo de usted, Caio. Se vá, por favor — pediu e destapou os ouvidos para apontar a porta.

Aquele gesto e aquela fala do amigo fizeram Caio paralisar. A adrenalina causada pela discussão fez seu coração bombear sangue mais rápido e por esse motivo sentia as mãos trêmulas, a boca seca e o rosto em chamas. Mas a pior sensação que se apossou do seu interior, ao ponto de doer, era a de decepção. Jamais imaginou que o melhor amigo o rejeitaria e o trataria daquela forma.

Ouviram duas batidas na porta e a mãe de Cassiano abriu uma brecha na porta do quarto antes de receber a autorização para entrar.  

— Lo que está sucediendo aquí? — dona Rosa perguntou, adentrando o quarto ao ver os dois adolescentes se encarando com os rostos abrasados.  — Debido a que están a gritar así?

Olhou de um para outro, mas não obteve respostas de nenhum deles. Caio apenas passou pela porta que a mãe do amigo deixara aberta e foi embora sem dizer nada.

— Caio?! — Mas o menino não deu ouvidos ao chamado da argentina, que estranhando o comportamento dele, voltou-se para o filho. — Qué passo, Cassiano?

— Estoy com dolor de cabeza. Después hablamos.

— Seguro de que no quieres decirme qué pasó?

— No es nada que le interesse, mamá.

— No seas grosero con su mamá!

— Bien, bien, mamá. Disculpe. Necesito ficar solo por um momento. Me deja en paz, por favor?  

Dona Rosa suspirou e tentou consolar o filho fazendo-lhe um afago na cabeça, mas este se livrou do alcance da sua mão antes que conseguisse encostar em seus cabelos e se jogou de barriga na cama. Certa de que não conseguiria descobrir o motivo do estranhamento entre os dois jovens naquele instante, resignou-se com um suspiro e decidiu deixar o filho descansar da viagem e seguiu rumo a porta aberta do quarto. 

Mas antes de sair ela deu um conselho ao jovem, prezando pela amizade que parecia querer ruir por algo provavelmente bobo.

— No sé ni que su amigo le dijo que causó toda esta discusión. Pero si Caio vino corriendo a hablar con usted es porque se basa demasiado en ti, mi hijo, y esperaba su apoyo. Un hombre de verdad nunca da la espalda a sus amigos, Cassiano. Piense antes de terminar esta amistad tan duradera debido a algo tan vago. Buenas noches.

 Cassio afundou o rosto no travesseiro e a mãe saiu apagando a luz.

“Yo se, mamá. Yo se. Simplesmente no pude conter mi enojo por Caiozito ser tão tonto. Quería proteger a mi hermano querido, porque sei que al final, por ser frágil, el será o único que sairá con daño. Y no quiero ver sufrir alguien que me gusta mucho”.

...

Suzana estava terminando o jantar ouvindo em alto volume seu CD de hinos evangélicos favoritos quando ouviu o portão se abrindo, imaginou que fosse Caio, pois se fosse o marido entraria com o carro. Abaixou o volume do aparelho de som e foi ao encontro do filho no hall de entrada.

— Ué, Caio? — estranhou o retorno rápido do menino. — O Cassiano não chegou de viagem?

O adolescente que ia subindo as escadas deteve-se de costas e procurou responder a mãe sem se voltar para ela, não queria que ela notasse sua expressão destruída.

— Chegou sim. Mas ele está cansado da viagem, então eu não quis atrapalhá-lo.

— Estranho. Achei que iria jantar e dormir lá como das últimas vezes. — O filho não respondeu, mas ela não deu tanta importância ao fato. — É melhor assim, pois você dorme cedo e não corre o risco de perder a aula.

— Verdade.

— Assim que o jantar ficar pronto eu te chamo.

— Eu lanchei na casa do Cass — mentiu. — Estou sem fome.

— Você comeu bobeira antes do jantar, Caio Henrique? — ela ralhou. — Você está muito magro. Vai descer para jantar sim.

— Estou em fase de crescimento, é normal eu estar magro. Estou cheio, mãe. Só hoje.

— Por estar em fase de crescimento que você precisa se alimentar direito. Estou fazendo frango frito empanado e purê de batatas, eu sei que você gosta. Na hora que estiver pronto eu te chamo.

— Tá — concordou apenas querendo se livrar dos argumentos da mãe e voltou a subir as escadas. Sabia que se fingisse estar dormindo quando ela fosse chamá-lo ela não insistiria.

Suzana pareceu dar-se por satisfeita e sem desconfiar da mudança de humor do filho, voltou para o jantar ao ritmo do louvor pop do seu CD.  

Caio entrou no quarto, trancou a porta e encostou-se a ela; escorregou até o chão onde cobriu o rosto com os braços e chorou.

Não que esperasse um completo apoio do seu melhor amigo, apenas não imaginava que ele seria tão avesso e tão ignorante.

— Droga, Cass... Babaca! Eu queria tanto ter alguém com que eu pudesse compartilhar tudo que estou vivendo. Eu te ouvi tantas vezes. Ouvi todas suas histórias de amor estúpidas, suas experiências e aventuras extravagantes. Por que precisava ser tão egoísta? Por quê?

Apanhou o celular e digitou uma mensagem de texto rapidamente.

“Doutor, o senhor tem horário em sua agenda hoje?” e enviou.

 Era um código que havia criado com Denis para que pudessem se comunicar sem levantar desconfiança. A verdadeira pergunta era se eles poderiam se ver aquela noite.

Não houve resposta de imediato e quando Caio estava prestes a mandar uma segunda mensagem chegou o retorno. 

“Sim. No meu consultório. No mesmo horário da última consulta”.

Largou o celular do lado e se deitou no chão mesmo. Precisava apenas esperar.

O consultório na verdade era a casa de Denis. Eles se encontravam em dias e horário que coincidiam com o plantão de Mariana. Se o dentista respondesse positivo era sinal que a casa estava livre para eles.

Os encontros ocorriam sempre de madrugada, pois Caio esperavam seus pais dormirem e, em torno da uma da madrugada, sairia de casa e iria para casa do vizinho.

...

— Parece chateado... — comentou Denis, abraçando Caio por trás e subindo sua camisa. — Estava tão eufórico ontem. Aconteceu alguma coisa?

Caio estava sem paciência e preferiu não entrar no assunto, apenas ergueu os braços e deixou a camisa ser retirada por cima da sua cabeça. Denis vestia somente uma boxer, dando assim para sentir todo o volume que formava em seu baixo ventre.

O mais velho jogou a camisa do mais novo no chão e sorriu para pele clara que fora descoberta e parecia reluzir pedindo por seu contato. Beijou os ombros e subiu a boca para pescoço do adolescente.

— Seus cabelos estão lindos. Deixe-os crescer.

— Meus pais não vão gostar.

— Ah, é... — ele revirou os olhos. — Seus pais, crentes, caretas...

Caio se retesou ao sentir a língua úmida de Denis passeando pela lateral do seu pescoço, as mãos dele subiram e adentraram seus cabelos, afastando-os da nuca e o forçou para que abaixasse a cabeça, onde ele depositou beijos molhados e mordiscadas.

O adolescente sentiu arrepios passearem toda sua coluna e se alojarem no cóccix, fazendo-o empinar o traseiro e encaixar-se ao volume que roçava suas nádegas. Denis soltou um chiado de prazer com aquele avanço.

— Deus... Já estou louco de tesão.

— Mesmo?

Caio inclinou o pescoço para o lado e acomodou-se completamente junto ao corpo atrás do seu. Os braços de Denis o envolveram e apertaram seu peito, e logo os dedos ágeis dele encontraram seus mamilos que despontavam rijos devido a excitação.

Caio surpreendeu-se com aquele último fator, pensara que por estar chateado com o melhor amigo não conseguiria ficar excitado e fazer sexo direito com Denis. Viera procurá-lo mais com a intenção de ter um pouco de atenção e consolo do que prazer em si. Porém, se era o possível, o sexo era uma forma de alívio muito bem vinda.

Foi apanhado no colo e sorriu com aquela surpresa.

— Denis, vai me derrubar.

— Não confia nos músculos do seu homem?

Riu novamente em resposta e agarrou-se ao pescoço de Denis, deixando-se ser levado para cama.

Transavam na cama dele. Na cama de casal. Na cama que ele dormia com a “esposa” nas noites que ela não tinha plantão. Era estranho. Ou melhor: “pervertido”. Ao mesmo tempo em que achava estimulante ser “a outra”.

A primeira vez que decidiram chegar ao fim, depois de duas semanas onde o único avanço fora a masturbação, Denis fez o convite alegando que seria cuidadoso. E ele foi. Abusou ao extremo do lubrificante e o preparou muito usando os dedos. Mesmo assim, a ansiedade e o nervosismo não o permitiram relaxar e acabou frustrado e chorando na primeira tentativa. Denis o amparou em seus braços, o consolou e disse que poderiam tentar de novo, e que eles tinham todo tempo do mundo. 

Foram três tentativas falhas que antecederam a certeira. Na quarta vez Caio estava desistindo quando Denis perdeu a paciência e disse que não podia parar e que “necessitava” gozar dentro dele.

Com a desculpa que “iria colocar somente a cabecinha”, Denis o virou de bruços, pedindo para que se apoiasse sobre os dois travesseiros que o permitiriam manter o quadril empinado e facilitaria a penetração. Após encaixar o sexo entre suas nádegas, Denis debruçou-se sobre ele, passando a resfolegar em cima do corpo menor com certa brutalidade e rapidez, forçando a glande na entrada.

Para Caio, como da vez do banheiro, receber aquele estímulo de forma mais forçada fez com que o medo aumentasse; criando um tipo de sensação de expectativa a qual comprimia seu estômago. Sentiu também que a dor do início da penetração o excitou ao ponto de querer que o amante continuasse se afundando e aquele pedido acabou escapando da sua boca sem que percebesse: “mais...”, “quero mais”, “entre mais”, e antes que a consciência pudesse abatê-lo Denis o fez.

Mas o mais velho não continuou ao ouvir o grito de dor emitido pelo adolescente e parou, notando, com grande prazer, que apesar do grito de dor, o menino estava gozando somente com metade do seu pênis encaixado de forma esmagada no traseiro dele.

Sentir as contrações de Caio fora um estímulo tão grande que fizeram com que Denis chegasse ao ápice também, soltando um gutural. Seu membro pulsava forte bombeando sêmen para dentro daquele orifício comprimido, proporcionando-lhe uma sensação de satisfação extrema.   

Depois daquele dia, Caio perdera o medo.

Todas as outras vezes permitiu que Denis o penetrasse, notando que não tinha como evitar a dor do começo da transa. Mesmo com todo estimulo e preparação que recebia, sempre iria doer antes de vir a parte boa. Então o jeito fora se acostumar com incomodo inicial.

Superado o medo, tudo que descobrira a seguir fora as sensações mais inebriantes provocadas pelo sexo. Toda vez que sentia o volume de Denis preencher seu interior completamente, atingi-lo e golpeá-lo no fundo, sua mente esvaía, as pernas tremiam, o coração descompassava, a respiração se perdia e seu corpo convulsionava de prazer. E tudo que desejava era que a orgasmo pudesse durar mais que aqueles injustos segundos.      

Gozar com outra pessoa daquela forma era algo que jamais imaginara.

Por isso não se incomodou por Denis não ter procurado alongar a conversa e saber os detalhes da sua chateação e passou a despi-lo e a acariciar seu corpo. Depois que descobriu o prazer com o sexo, ansiava por todos seus encontros apenas para culminar no momento que seria levado para cama.

O amigo Cassiano não sabia de nada. Ele, Caio, não era nenhum inocente que estava sendo seduzido sem noção alguma. Havia se deixado seduzir e estava se deliciando em caminhar por aquela estrada de luxuria.

De repente aquele desejo bateu com força e parou Denis espalmando as mãos em seu peitoral.

— O que foi, Caio? 

— Quero ficar por cima — pediu, empurrando o vizinho para baixo e trocando de posição com ele, subindo sobre o quadril dele.

Denis parecia chocado.

— Vai doer mais do que o normal.

— Eu não me importo — respondeu, levantando os ombros. — Sempre dói no começo de qualquer jeito.  

Denis fechou os olhos, respirou fundo, sorriu e lambeu os lábios.

— Faça como quiser.

Caio imaginava que ele não relutaria muito.

Mas não imaginou que seria tão difícil segurar e encaixar o pênis de forma apropriada em sua entrada, muito menos imaginou o quanto de coragem precisava ter para forçar o quadril e fazer com que aquilo tudo se afundasse dentro de si. Denis estava tão excitado que seu membro parecia com o dobro do volume, inchado e com as veias latentes. Apertou os olhos com força e parou na metade para respirar. Suas mãos tremiam apoiadas no peito dele.

Tentou descer mais um pouco e sentiu a região arder, retesou-se, e um arrepio frio veio forte. Pensou em recuar, mas não queria. Não podia. Seria chamado de “criança”, “covarde”. Voltou a forçar até que a resistência foi vencida e sentiu que o membro entrara. 

Soltou um gemido de aflição e buscou respirar profundamente. Queimou tanto que precisou trincar os dentes e fechar os olhos com força para se conter e evitar que o orgasmo o tomasse. Teria que esperar um pouco até se acostumar com aquela sensação incomoda de ter o pênis ereto de um homem alojado em seu interior.

Denis gemeu alto e contorceu a face, passando a movimentar suas mãos grandes sobre as pernas de Caio.  

— Pelo amor de Deus, tente se mexer, Caio — Denis praticamente implorou, apertando o quadril dele. — Está quente e meu pau está tão esmagado dentro de você que parece que vai se desmanchar.  

— Dói muito? — perguntou curioso, voltando a encarar Denis e notando que ele também havia fechado os olhos.

— A ansiedade e o desejo por alívio doem mais — ele respondeu. — Dá vontade de te virar e meter com tanta vontade que eu faria um estrago. Sinto arrepios só de pensar e ter que me conter.  

— Por que está com os olhos fechados?

— Porra, Caio — Denis riu, como se não acreditasse na pergunta. — Você acha que vou aguentar olhar para você, lindo como é, sentado no meu pau, sem mover um músculo?

Caio achou graça. Não imaginava que aquilo poderia ser tão tortuoso para o amante e sentiu-se enviesado por estar provocando nele aquelas sensações. Imaginou se seria capaz de proporcionar a ele o prazer mais intenso de sua vida.

Pensando nisso, tentou se mexer; começou com um rebolar tímido sobre o sexo para fazer com que ele se encaixasse melhor dentro de si, tirava-o e voltava a colocá-lo devagar. O incomodo naquela posição não se esvairia tão facilmente de qualquer jeito, por isso precisava se mexer, mesmo que todos seus movimentos fossem dolorosos.

Notou quando Denis começou a ficar impaciente e passou mover o quadril ao seu encontro, enquanto apertava sua cintura e forçava-o descer.

— Vai, desce mais. Senta com vontade.

— Assim dói, Denis! — reclamou. — Ai. Dói. 

— Você quis assim, não choramingue, mostre que é homem.

— Não estou choramingando...

— Não? — Denis abriu os olhos e a visão que teve fora o golpe final. Caio tinha a feição vermelha, os olhos lacrimejados, os cabelos cobrindo a lateral do seu rosto, os mamilos ouriçados e o membro completamente enrijecido. — Oh, merda!  

Denis subiu ao encontro de Caio e o abraçou, forçando-o a descer sobre seu membro, enquanto se encarregava dos mamilos. Escorreu a língua pela barriga e subiu até os botões róseos os quais passou a chupar.

Caio assustou-se com o avanço, mas o aprovou. Arqueou-se para trás e usou suas mãos para apartar as nádegas e conseguir envolver o sexo de Denis melhor. O amante dedilhava sua coluna e encheu as mãos com suas nádegas apartando-as, levantando-as e massageando-as em torno do seu membro.

— Ah, céus! Porra! Eu vou gozar! Eu vou gozar — Denis declarava de maneira chula, totalmente desconexo.

Caio arqueou um pouco mais o corpo para trás, fazendo seu peso agir e engolir por completo o membro do amante. Sentiu-o atingir o ponto máximo em seu interior e não conseguiu controlar as contrações que o tomaram com força e fizeram seu corpo retesar por inteiro e comprimir o sexo de Denis em seu interior.

O vizinho soltou um urro e desesperado passou a se movimentar afoito embaixo de Caio, fazendo-o cavalgar involuntariamente sobre seu ventre, judiando da sua próstata com golpes potentes, ele gozou novamente, desta vez pela frente, espirrando goza em seu peito e sua face. O orgasmo acabou arrebatando-o também, causando arrepios intensos e desregular da respiração. O sêmen que despejou dentro de Caio facilitou os movimentos e aquela sensação de tirar e colocar era tão enlouquecedora que só parou de se mexer quando não havia mais vestígios do orgasmo e se sentiu completamente satisfeito.

...

Eram quase quatro da manhã quando Denis acordou Caio. Ele era acostumado a dormir tarde, ou passar madrugadas em claro, devido ao trabalho e aos estudos, por isso, mesmo exausto, depois do sexo, não pegava no sono. Ele nunca pegava. Exatamente com medo dos dois dormirem. Estava no notebook na escrivaninha quando o sono o pegou, fechou o aparelho e voltou para cama, sentando-se na beirada e retirando os cabelos do rosto de Caio.

— Está na hora de ir, preguiçinha — avisou, depositando um beijo em sua fronte.

Caio se remexeu dando jus ao apelido, preguiçoso.

— Já? Que horas são?

— Falta dez para quatro.

— Nossa... Tenho escola daqui a pouco.

— As aulas começam hoje? Será que vai ter disposição para vir me encontrar ainda?

— Eu não vou perder a disposição para isso nunca — remexeu-se, quase que sonâmbulo, e jogou as pernas para fora da cama. Levantou-se, descobrindo-se e revelando o corpo ainda nu, com algumas marcas em lugares estratégicos e que não seriam vistas com roupas. Estava se abaixando para pegar seu short quando Denis o puxou e o fez sentar-se em seu colo.    

— Não vá me trair com nenhum moleque da sua escola, hein? Eu sou ciumento.

— Ah, é? E você pode ter uma esposa?

Denis riu.

— Está ficando malcriado, hã? O tio aqui vai te dar umas palmadas na bunda para te disciplinar. Afinal, você sabe bem que o relacionamento meu com a Mari é pura fachada.

— Ah, claro — Caio revirou os olhos, não dando importância para o que achou ser uma brincadeira, soltando um bocejo em seguida. — Mas não se preocupe com isso. Ninguém mais vai saber que sou gay.

— Ninguém mais? Alguém mais sabe?

— Meu melhor amigo.

— O que chegou da Argentina ontem? Você contou sobre nós?

Caio sempre foi sincero e por isso a resposta que veio na ponta da sua língua era a verdadeira: “sim, eu contei sobre nós e ele foi super arrogante”, mas ao ver Denis tão apreensivo, bateu um estranho medo de ele querer se afastar caso afirmasse aquilo e preferiu omitir aquela parte.

— Não. Eu disse que era gay e que estava com alguém. Mas não disse quem.

O vizinho suspirou aliviado.

— E qual foi a reação dele?

— Não como eu esperava. Por isso decidi que ninguém mais vai saber. Não até eu me tornar adulto e poder tomar minhas próprias decisões.

— Sabe, Caio. Você pode tentar, mas ser gay não é algo que seja fácil de esconder. Seu comportamento vai mudar. Você vai começar a ver as pessoas a sua volta de forma diferente. Principalmente os rapazes. E, alguns deles, começarão a te perceber também. Por isso estou advertindo para que tenha cuidado.

Caio sorriu e saiu do colo de Denis para se vestir.

— E eu já disse: não se preocupe com isso.

 [Retorno ao POV do Caio]

Realmente, fora como Denis alertara: não foi nada fácil. Meu comportamento foi mudando gradualmente. Primeiramente em casa. Eu me recusei a assumir o ministério que meus pais queriam, não achava justo com Deus e com meus pais eu estar na igreja enquanto eu me esbaldava tendo um amante. Recusei-me a iniciar o relacionamento com a Rebeca e comecei da dar desculpas para parar de frequentar a igreja.

A princípio eu acompanhava meus pais, mas entrava por uma porta e após o início do culto, escondido dos meus pais, saía por outra.

Não tinha como. Eu não me sentia bem sendo hipócrita e orando a Deus durante o dia e me deitando com um homem casado durante a noite.

Meus pais perceberam que eu não estava ficando no culto e não acreditaram no que eu estava fazendo. Ficaram revoltados. Fizeram todos os tipos de ameaças. Chamaram minha atenção, queriam saber o motivo de eu estar me rebelando contra a igreja. Como eu nada dizia, eles decidiram me punir cortando minha mesada e não me permitir que eu saísse do quarto. Além disso, eu passei a ouvir o drama diário da minha mãe.

Eu deixei meu cabelo crescer.

E eles decidiram que eu precisava de um psicólogo.

Na escola, meus amigos não acreditavam na minha mudança e viviam me questionando o que tinha acontecido.  

“Eu ainda sou o mesmo Caio de sempre”, era o que eu argumentava, sem sucesso.

O Cass e eu ainda não estávamos nos falando, e algumas meninas da escola que tinham contato com ele, tentavam descobrir o que tinha acontecido comigo, ele apenas desviava do assunto. Afinal, eu estava mais atraente de alguma forma, os cabelos compridos deram um charme diferente, e eu usava um pouco amarrado e um pouco solto, as garotas ficaram mais interessadas em mim e eu nenhum pouco nelas, o que aumentava a desconfiança.

Até que um dia, um dos meus colegas de classe, o Bruno, que cansou de dar em cima de uma garota que não dava oportunidade para ele por se dizer caidinha por mim, jogou a verdade com a intenção de me ofender.

“Vocês garotas ficam aí correndo atrás desse Caio de besta que vocês são! Não tão vendo que ele é viado e não gosta de mulher!”.

As meninas ficaram muito bravas com esse colega, e alguns dos meus amigos pediram para eu me defender, o chamar para briga.

Mas...

Eu não consegui desmentir o que era bem a verdade e eu apenas virei as costas e fui embora, deixando aquela incógnita no ar.

Claro que o fato de eu “não ter defendido minha honra como homem” e chamado o Bruno para briga, fez com que a alegação dele fosse vista como verdadeira por toda escola e o rumor se espalhou, afinal, eu não fiz questão nenhuma de desmenti-lo.

Era meu último ano escolar, eu não estava mais me importando. Obviamente isso teve um preço: muitos dos que diziam serem meus amigos começaram a se afastar, as meninas passaram a me olhar torto ou a me esnobarem. Também passei a ouvir cochichos, risos e piadinhas as minhas costas.

Ficou difícil frequentar as aulas, mas eu continuava indo, mantendo as boas notas, para não correr o risco dos meus pais serem chamados.

Mesmo assim, eles foram chamados à escola. Afinal, era uma instituição evangélica de renome que estava lidando com um aluno homossexual. Além disso, alguns dos meus colegas levaram o rumor para casa e os pais deles, que frequentavam a mesma igreja que os meus, levaram a notícia para dentro da igreja.

Meus pais perderam o chão.

“Você vai voltar para igreja amanhã, Caio Henrique! Precisamos expulsar esse demônio que invadiu seu corpo!”, minha mãe gritava quase todos os dias.

Meu pai não me olhava mais nos olhos.

Eu fui obrigado a voltar para igreja. Mas agia dentro dela da mesma forma impassível que vinha agindo na escola e com a vizinhança.

 “Por que se afastou da igreja, filho?”, me perguntou o pastor ao atender o pedido dos meus para conversar comigo.  

“Eu só não quero ser um hipócrita, pastor”.

“Você acha que é de Deus isso, Caio Henrique?!”, minha mãe interviu aos berros. “Deus criou o homem e a mulher para eles viverem juntos e povoarem a Terra. Você acha que se Deus permitisse a aberração de dois homens se deitarem juntos ele teria criado a mulher? Você está envergonhando a nossa família, a nossa raça humana, Caio Henrique. Você não pensa na vergonha que esta fazendo comigo e com seu pai? Seu pai está desgostoso. Ele perdeu o brilho. Ele fica indagando a Deus a todo tempo por que temos que passar por essa provação tão destruidora. Você quer ir para o inferno e nos levar junto, é isso? É, Caio Henrique? Responda!”.

Mas eu não conseguia dizer nada. Não tinha o quê responder. Eu não conseguia argumentar. Pensar. Nada. A única coisa que eu tinha convicção era que eu não poderia mentir. Não adiantava eu dizer o que eles queriam ouvir se dentro de mim eu tinha certeza de que eu não mudaria.

Aquela era minha essência.

Deus havia me feito daquele jeito.

Ele teria me feito imperfeito para eu ser rejeitado então? Ou era certo viver no fingimento?

Não.

Eu ouvia Deus gritando dentro de mim: você tem que ser da forma que eu o moldei. E assim será.

E assim eu decidi me manter. Mesmo com o mundo desabando a minha volta.

Nesse período que a minha homossexualidade veio a tona, eu tive que diminuir as visitas ao Denis, porque meus pais passaram a vigiar cada passo que eu dava. Chegaram ao ponto de confiscar meu celular. Mas como eu apagava as mensagens e não tinha o nome dele gravado na agenda, não houve suspeitas.

Porém, a ausência dele estava me fazendo uma falta terrível e quando chegaram as férias de inverno eu achei que teria a oportunidade perfeita de marcar um encontro. Mas eu precisava de ajuda para isso. Por isso eu resolvi apelar para o Cassiano.

Nós voltamos a nos falar pouco depois que meus pais descobriram sobre o boato na escola. Graças a tia Rosa também, que ao descobrir o motivo do filho ter sido estúpido comigo, fez com que ele viesse me pedir desculpas. Meus pais, ao saberem que o Cassiano tinha parado de falar comigo por eu ter contado que era gay, passaram a simpatizar mais com ele e acharam ótimo que retomássemos a amizade, imaginando que Cass me influenciaria com toda sua virilidade masculina.

Era mais fácil ser o contrário.

Cass confessou que só havia ficado muito puto comigo ao ouvir que eu era gay por me amar e ter medo que eu me machucasse ficando com um cara que ele achava ser um crápula.

No mais, ele aderiu toda minha “viadagem” e até dormia comigo na mesma cama que eu, fazendo graça com a minha bunda.

Sim. O “virilidade masculina” em pessoa adorava apalpar a bunda do amigo viado aqui.

 “Usted ficou com uma bunda gostosa después que começou a dar ela, no es?”, ele fazia aquelas observações inescrupulosas sem nenhuma vergonha na cara ou pudor.

“Cala a boca, Cass! Pare de pegar na minha bunda e me responde logo o que perguntei: vai ou não me ajudar?”.

“Usted sabe que yo não gosto desse cara, no es? Es um cobarde, Caiozito! Vive en el armário. No es assumido. Vea a diferença dele para usted. Usted mal se descobriu e se abrió para o mundo. Jugó o foda-se! Enfrentou sus padres,  a escuela, a igreja, sus amigos. E ele? Está allá, oculto atrás de un falso matrimonio? Él no presta. Deje que este trolo se foda e arruma otro. Yo te ajudo a elegir um cara bem gostosão.”

Eu revirei os olhos e dei risada. Depois tentei fazer a melhor cara de pidão que pude. 

“É por ele por quem estou apaixonado, Cass. Por favor, me ajuda?”.

O meu querido amigo me olhou com um misto de indecisão e eu soube na hora que ele não iria resistir meu pedido.

“Santa Madre de Dios! Por que o Senhor me envia un amigo gay com um baita rabo e essa cara de bonequinha? Ah, vá! Tá, tá, yo te ayudo. Pero no me culpes más tarde, está bien?”

O Cass retirou o celular do bolso e me entregou. Eu consegui falar com o Denis e perguntei se poderíamos nos ver no período da tarde naquele dia, na casa dele, porque minha mãe sairia para um encontro da igreja e meu pai estaria trabalhando.

Ele sequer pestanejou a ideia. Eu notei, pelo timbre eufórico que ganhou sua voz, que ele também estava ansioso para me reencontrar e isso me animou.

“O Denis disse que vai remarcar as consultas da tarde para outros dias e deve chegar em casa por volta das duas”, eu expliquei para o Cass ao devolver o celular para ele. “Obrigado”.

Meu amigo apenas negou com a cabeça, recebendo o aparelho de volta, ainda não concordando com a ideia.

Mas eu não estava mais preocupado com os pitacos do Cassiano e sim ansioso por Denis. Esperei contando os minutos e quando ouvi e vi o carro dele chegando, e ele sendo recepcionado pelos latidos eufóricos do Brutus, eu deixei meu quarto quase correndo. 

Saí de casa sentindo o coração vindo à boca tão forte ele batia.  O portão havia sido deixado aberto para facilitar minha entrada, exatamente como fazíamos nos encontros noturnos, a diferença era que de dia eu precisava ter mais paciência, observar bem a volta e esperar que a rua esvaziasse. Assim que percebi tudo tranquilo eu entrei. Bastava bater o portão que ele trancava.

Nessas ocasiões o Denis deixava o Brutus preso nos fundos para evitar que ele ficasse latindo. Entrei de mansinho pela porta da frente, que estava somente encostada, mas subi as escadas correndo não contendo a aflição. Ao entrar no quarto, vi Denis me esperando na cama, nem pensei duas vezes em arrancar o excesso de roupa devido ao frio e pular na cama com ele. Fizemos amor durante a tarde inteira e eu só fui embora para casa perto das dezoito, quando eu sabia que a minha mãe estava prestes a chegar para preparar o jantar.

Não houve suspeitas daquele nosso encontro, por isso decidimos repetir a estratégia nos mesmos horários.  

Nesse tempo, houve um único problema, em um dia que eu estava saindo da casa do Denis e quase tive uma parada cardíaca ao deparar com a minha mãe chegando de carro, ela havia pegado carona com uma colega da igreja que morava na rua debaixo.

Mas ela pareceu não suspeitar que eu estava saindo na casa dos vizinhos, principalmente depois do comentário da colega que desviou o foco da sua atenção.

 “Esse é o Caio, Su? Como ele cresceu! Está tão bonito”.

Contudo, assim que entramos em casa ela quis saber da onde eu estava vindo.

“Estava com fome, fui comer algo na padaria”, a mentira saiu tão natural que eu me surpreendi.

“Perto do horário do jantar? Por isso você não anda comendo direito”.

Como eu vinha fazendo, não respondi, buscava de todas as formas não entrar em atrito com nenhum dos meus pais e aumentar a tensão entre a gente, ou as restrições.

“Não quero você saindo de casa sem a nossa companhia, Caio Henrique”.

Aquilo parecia à gota d’água e eu não consegui ficar quieto.

 “Mãe, eu não posso sair nem para ir à padaria? O que eu sou agora? Um prisioneiro dentro da minha própria casa? Uma criança de cinco anos?”

“Eu disse que não é para sair e pronto! Enquanto você não voltar para o caminho de Deus e viver debaixo do nosso teto terá que seguir as regras de conduta de uma família crente como a nossa. Eu não o quero perambulando sozinho na rua para encontrar com gente que não presta para enfiar mais coisas erradas na sua cabeça. Por que, Caio Henrique, você foi desviado do caminho de Deus pelo inimigo. Você foi seduzido por algum demônio e você precisa se livrar dele. Eu estou orando em campanhas dia e noite e eu vou livrar você, meu filho, dessa coisa ruim”.

Eu simplesmente não sei o porquê eu tive que respondê-la naquela ocasião e ouvir tudo aquilo novamente.

Era assim que meus pais tratavam a minha homossexualidade: como um distúrbio, uma doença, ou simplesmente uma possessão do mal. E doía. Doía ser tratado por aqueles que me colocaram no mundo como se fosse uma erva daninha, algo podre, doente, corrompido. Doía ter que comer na mesma mesa em silêncio. Andar no mesmo carro, respirar o mesmo ar, andar na mesma casa e todas às vezes sentir-me uma fruta podre dentro de um cesto de frutas sãs e brilhantes. Tudo que eu desejava era que aquele ano passasse em um fechar e abrir de olhos para que eu pudesse ir fazer faculdade longe dali e ter minha liberdade. 

E eu tinha total convicção de que eu suportava tudo aquilo por estar com o Denis. Se eu não o tivesse como válvula de escape eu não sabia se conseguiria suportar toda aquela pressão tão friamente.

E quanto mais coação eu sofria em casa, mais aumentava minha necessidade de estar com ele. Mais eu pedia por encontros. E, bobamente apaixonado, Denis atendia todos os meus chamados e caprichos.

Quando as aulas retornaram, decidimos que voltaríamos para os encontros noturnos.

Tudo estava indo bem.

O fim do ano estava chegando e junto com ele o aniversário do Denis. Eu queria atender um desejo dele e perguntei o que ele queria ganhar. Ele fez um pedido bem peculiar, que me queria ver vestido de lingerie e usando maquiagem. Eu achei muito esquisito. Fiquei apreensivo no começo. Mas decidi atender aquele fetiche bizarro. Ele comprou um conjunto branco formado por uma calcinha de fio e a parte de cima lembrava uma blusinha feminina de alcinha, de um tecido fino e transparente, com detalhes em renda na parte dos seios e com fios entrelaçados nas costas. Eu usei a maquiagem que tinha no banheiro da Mari, lápis no olho, pó no rosto, um batom rosa brilhante nos lábios e blush nas bochechas. Soltei os cabelos que estavam passando dos ombros e quando vi minha imagem no espelho senti uma imensa vergonha. Eu parecia uma garota de rosto bonito, mas de corpo horrendo, ombros largos, despeitada e peluda. Não conseguia imaginar como Denis se excitaria com uma visão tão escrota. Eu relutei para sair do banheiro, ele precisou insistir muito.

Mas como esperado ele amou quando me viu. Tanto que me tomou vestido daquele jeito. Não transamos apenas, bebemos, comemos, rimos muito e em meio a comemoração ele confessou que eu era a coisa mais linda e perfeita que Deus tinha lhe concedido. Eu me senti enviesada, bobo, apaixonado. Porém, nos deixamos levar pela alegria, o clima festivo e acabamos passando dos limites na bebida; dormimos.

Suspirei fundo e encarei o Thiago que ouvia tudo sem se me interromper em nenhum momento desde que eu havia começado a narrar àquela história.

— Consegue imaginar o que aconteceu?

Eu o vi ajeitar os óculos no rosto e balançar a cabeça afirmativamente.

— Posso. A esposa chegou e os flagrou dormindo juntos?

— Bingo.

— Deus...

— Não foi suficiente ela nos flagrar. A Mari fez muito pior, ela nos deixou dormindo inocentemente, se deslocou para minha casa e buscou meus pais para que nos vissem juntos também. Foi um verdadeiro caos. Meu pai me arrancou da cama me puxando pelos cabelos e me dando tapas na cara, rasgou nos punhos a lingerie que eu vestia e me arrastou para casa sem roupa alguma. Ao chegarmos, ele pegou uma tesoura de cozinha e passou a cortar meu cabelo de forma desregular. Eu chorava, pedia para ele parar, mas meu pai parecia possuído e gritava que eu era a maior vergonha da face da Terra. Quando não havia mais nada do meu cabelo para cortar ele me largou e chamou a polícia. Minha mãe passou mal e foi levada para ao hospital de ambulância. O Denis foi preso enquanto a Mariana escandalizava no meio da rua, gritando a todos os pulmões o monstro cafajeste que o marido era.

— E o que houve depois?

Eu respirei fundo.

— O Denis pagou uma fiança e saiu da cadeia no mesmo dia. Fiquei sabendo que a Mari e ele se separaram, venderam tudo que tinham, dividiram os bens e se mudaram. Meu pai pediu para que a minha mãe passasse um tempo na casa da minha avó. Ficamos apenas eu e ele em casa por um tempo. Mas não conversávamos nada. Eu o via chorando de vez em quando. Ele não tinha mais coragem de ir para igreja e os irmãos é que vinham visitá-lo, fazer orações. Comíamos marmita, apesar de eu praticamente não tocar na minha. Foi quando a Dona Rosa veio me visitar com o Cassiano. Preocupada com meu estado de saúde. Eu estava definhando. 

“Voy a vivir en Campo Grande, permita que Caio passe um tempo conmigo, Edivaldo? Usted y Suzana necesita repensar sus conceptos para aceptar el niño que tiene ahora”.

Eu vi meu pai se voltar na minha direção e me olhar como se eu não estivesse ali, seus olhos estavam vazios, sem foco, era como se ele estivesse encarando uma parede. Então ele falou.

“Você quem escolhe. Pode escolher ficar e se submeter a um tratamento médico e da igreja e voltar a ser um homem como Deus o concebeu nessa vida. Ou pode escolher ser essa aberração e ir contra sua natureza e a de Deus. Mas se você escolher ser essa coisa maldita, eu não o quero de volta. Você não terá mais um pai”.

— Ele não teve a coragem de te dizer isso?

— Disse. Com todas essas palavras.

Os braços do Thiago me envolveram e eu me senti verdadeiramente amparado.

— Não sei se o pior é não ter um pai ou ter esse tipo de pai. Vocês nunca mais se falaram?

— Com ele nunca. A minha mãe ainda me importunou bastante. Ela não aceitou eu ter vindo para Campo Grande. Disse que o meu pai não tinha o direito de tomar aquela decisão sem o aval dela e tentou de todas as formas fazer com que eu voltasse. Obviamente eu rejeitei todas as tentativas dela. Parece que minha mãe e meu pai quase se separaram, ou ficaram separados por um tempo, não sei ao certo. Mas faz tempo que estão firmes de novo. Meu pai se tornou pastor. A minha mãe deixou de ser religiosa tão fanática, apesar de ainda frequentar a igreja. Ela sempre me liga no meu aniversário, no Natal, do ano novo, nas férias, me convida para ir visitá-los e diz que meu pai me perdoou e quer me ver. Eu não consigo acreditar nela. Agora, exatos três anos se passaram, e o passado vem bater na minha porta para me assombrar. Por mais que o tempo tenha passado, eu ainda não sei se estou preparado para encará-los.

— Cedo ou tarde você teria que rever seus pais, Caio. Afinal, eles são seus pais. Mas agora, há uma grande vantagem. Você é um adulto que vive por conta própria, paga suas contas, não deve satisfação a ninguém. Apenas não se permita abalar.

— Obrigado, Thi.

— Obrigado por ter me contado toda sua história.

Sorri em resposta.

— Posso te fazer uma pergunta bem idiota?

Eu ergui os olhos, duvidando de que seria mesmo alguma idiotice, mas foi.

— E o Denis?

Eu dei risada. 

— Por que eu imaginei que você perguntaria sobre ele?

— Por tudo que descreveu. Está na cara que você o amou muito. E o primeiro amor, sendo tão intenso assim, dificilmente se esquece. Além disso, ele se separou. Ele poderia ter te procurado. Ter te assumido. Os dois poderiam estar vivendo juntos agora.

— É. Poderia. Mas foi bem como o Cass previu. O Denis era um covarde acima de tudo. Eu não fui enganado com relação a isso, pois ele me alertou desde o primeiro momento. Mas fui eu quem quis ficar com ele assim mesmo. E quando a verdade estourou ele preferiu fugir e recomeçar em outro lugar, como ele disse que faria.

— Você não guardou nenhuma esperança? Rancor? Algo com relação a ele? 

— Thi, o que isso importa? Estou cansado. A história foi longa. Vamos dormir, por favor? — eu deitei e me cobri com o edredom.

O Thiago deitou ao meu lado e me abraçou por trás, repousando o queixo no meu ombro.

Era óbvio que eu havia guardado esperança e eu me senti muito idiota por isso. Eu esperei por Denis por um bom tempo. Esperei que ele surgisse e me chamasse para morar com ele e durante algum tempo busquei por ele pelas redes sociais, mas seus perfis haviam sido todos excluídos. O número no celular havia sido desabilitado. Mandei mensagem em seu e-mail e nada. Ele desaparecera sem deixar rastros.

Claro que eu não podia confessar aquilo para o Thiago que era extremamente ciumento ou ele pensaria que eu ainda guardava algum sentimento por Denis.

E a verdade é que o único sentimento que restara por ele era muita vergonha por ter esperado atitude de alguém tão covarde. Há muito eu o havia expulsado completamente do meu coração, deixando um imenso espaço vazio. Não havia nenhuma possibilidade dele voltar a ocupá-lo.  Ainda mais naquele instante e que ele havia sido totalmente preenchido pelo Thiago, que havia entrado sem bater. E esperava ficar.

Continua...

[1] Trolo: gíria argentina; forma pejorativa de se referir a alguém que é homossexual; usada como xingamento. No Brasil os equivalentes seriam: “viado”, “bicha”, “boiola”, etc.   


Notas Finais


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