1. Spirit Fanfics >
  2. Equal - Norminah. >
  3. Parachute.

História Equal - Norminah. - Parachute.


Escrita por: norminahanonimo

Capítulo 6 - Parachute.


Novembro 2016. Santa Ana, Califórnia.

Normani Kordei POV.

Eu olho para os quadrículos de vidro da porta que dava acesso a sacada em meu quarto, observando a varanda coberta por recém-chegados floquinhos de neve enquanto termino de secar meus cabelos com a toalha. Novembro havia chegado, e com ele trouxe aquela época gostosa em clima de natal onde as pessoas são mais caridosas e bondosas uma com as outras. Gosto desse clima, tudo fica tão mais calmo e mais aconchegante. O começo de Novembro também trouxe a minha típica época menstrual acompanhada de uma forte cólica. E nesse mês parece estar ainda mais forte, como se saltos agulhas pisoteassem o meu útero incansáveis vezes, deixando-me facilmente sem irritada.

Praguejo aos céus quando sinto meu ventre se contrair, lembrando-me das dolorosas cólicas que eu estou sentindo desde hoje mais cedo, o motivo pelo qual eu resolvi dar uma pequena caminhada pela vizinhança para me distrair e acelerar esse processo chato. Praguejo-me mentalmente também por ainda ter insistido em tomar aquele comprimido que eu não faço nem ideia de quanto tempo já está guardado naquele potinho em cima da geladeira. Por sorte esse fim de semana eu estou de folga, já que a escala nova do hospital havia mudado, dando prioridade de plantão a outra equipe que já estava há um bom tempo sem ter. Eles estavam intercalando esses horários para não haver cansaços, ainda mais nessa época de fim de ano. Bom, pelo menos terei esse fim de semana para descansar e aproveitar meu pai que chegou hoje de manhã e está lá embaixo preparando o jantar. 

Meu celular depositado sobre o travesseiro toca sua típica musiquinha, causando-me uma certa curiosidade em saber quem estaria me ligando. Eu finalmente sento na ponta da cama e largo a toalha úmida, observando o nome de Marie surgir na tela do celular juntamente de sua foto. Eu fico estática, sem saber o que realmente fazer.  

Marie me ligando às dez da noite? 

O que ela quer? Afinal, eu não estava preparada para essa ligação tão inesperada. Durante todo esse tempo em que estivemos conversando ela nunca cogitou em tentar me ligar.

 Será que está bêbada?

 Será que ficou preocupada com o meu pequeno sumiço por conta da cólica que me deixou bem irritada e sentimental a ponto de me isolar para assistir filmes idiotas durante o dia todo na netflix?

Continuo estática admirando sua foto; ela parecia estar em Londres, era inverno pelo visto, pois usava toucas e roupas tão quentes e confortáveis enquanto fazia careta para um senhor - que suponho ser seu pai por tamanha semelhança -, sorrindo largamente enquanto segura duas enormes bolas de gelo. Um meio sorriso arma no canto da minha boca ao ler pela terceira vez o seu apelido gravado em meu celular, percebendo o quão próximas estávamos desde aquele dia no parque onde ela foi uma adorável cavalheira. Depois daquele dia, o que mais fazíamos era trocar mensagens, principalmente quando eu não tinha o que fazer no hospital e ela sem inspirações para escrever em seu livro. Dentre um mês em conversas e visitas repentinas dela no hospital, criamos uma forte ligação. Eu honestamente estou gostando muito dessa aproximação, de saber que há alguém, além do meu pai, Jilly e Allyson, se preocupando verdadeiramente comigo em todos os sentidos. 

Marie é uma pessoa adorável.

— Mani, desça aqui, por favor. – A voz do meu pai no andar de baixo ressoa pelo corredor. O celular logo pára de tocar, atraindo a minha atenção de volta a pequena notificação fixa avisando sua ligação. 

Largo-o agora bloqueado sobre a cama e praticamente arrasto-me pelo corredor até chegar na metade da escada, onde papai está parado atrás do encosto do sofá marrom que mamãe sempre fora apaixonada.

— O que houve? – Pergunto com a voz arrastada sentindo as malditas cólicas. – Você queimou o jantar novamente?

Meu pai - usando um avental rosa escrito papai de uma linda princesa -  faz uma careta para mim, provavelmente segurando-se para não rir do pijama rosa da hello kitty que resolvi usar esta noite. Eu o tenho há um bom tempo, e apesar de ser largo, eu o acho bem confortável para dias assim. 

— Primeiro: você está uma graça com esse pijama. - Ele deixa a risada escapar por instantes. - Segundo: eu só queimei uma vez. - Ele revira os olhos. - Mas não foi por isso que eu lhe chamei. Te chamei porque você tem visita.

 Ele olha em direção a parede do longo corredor que dava acesso a porta de saída, onde Marie, – vestida com um lindo sobretudo de couro preto, blusa de frio cinza por baixo, calça preta bem colada ao corpo e all star surrado –, surge timidamente carregando duas caixas de pizzas em mãos. A touca que cobria seus longos cabelos encaracolados está totalmente revestida de pequenos flocos de neve, seus olhos estão livres de quaisquer tipos de maquiagem, as bochechas vermelhas e lábios rosados do frio. 

Ela está tão estilosa e ao mesmo tempo eu estou tão... Oh, merda! 

Eu rapidamente jogo algumas mechas do meu cabelo totalmente bagunçado para atrás na tentativa de estar melhor diante daquela mulher tão bem vestida. Disfarçadamente eu tento ajeitar o meu pijama que não teria jeito a não ser um grande milagre. 

Ela prensa o maxilar e os dois acabam rindo com a cena. 

  — Hey. – Ela diz tímida por conta de estar ao lado do meu pai e acena para mim com a mão livre. – Boa noite, senhor. Desculpe o incomodo. Eu sei que é tarde, mas precisava vir visitar a sua filha. 

Meu pai me olha de esgueira com um olhar de depois você vai me explicar muito bem essa história, mocinha e sorri para Marie que intercala olhares para nós. Eu umedeço os lábios com a ponta da língua me sentindo uma adolescente completamente idiota e extremamente sem graça com a presença daquela pessoa que te deixa bem sem graça e idiota. 

— Boa noite... - Papai franze o cenho. 

—  Marie Jane. 

— Oh. Boa noite, Marie Jane. Não se preocupe com o incômodo, vejo que se importa com a minha filha. 

Ela olha para mim ainda bem desconsertada com a presença do meu pai, afinal, ela nunca iria imaginar que ele estaria por aqui hoje.  

  — Oh, bem... Sim, me importo. - Ela leva a mão livre até a nuca, demonstrando bastante nervosismo. - Hoje mais cedo ela me disse que iria correr, pois estava sentindo fortes cólicas, depois sumiu e não respondeu as minhas mensagens, acabei me preocupando achando que você estava sozinha, então resolvi vir direto do escritório para ver como está. E, trouxe pizzas e remédio.

Eu lhe dou um sorriso sem graça por tamanha bondade em vir trazer todas essas coisas. 

 — Escritório de quê, minha jovem? - Meu pai pergunta curioso. Ele e suas interrogações com todas as garotas que não são Ally ou Jilly. 

  —  Pai! 

  — Eu sou escritora, senhor. Estou por um tempo aqui para publicar o meu livro. Minha mãe mora aqui em Santa Ana também, e eu resolvi vir passar as festividades de fim de ano ao lado dela. 

 —  Como conheceu a minha filha?

Ela me olha novamente.

— Houve uma festinha na casa da minha mãe comemorando a minha chegada, e eu fui na cozinha buscar mais um pouco de suco, não havia mais, então resolvi fazer mais suco de abacaxi e acabei me cortando feio com a faca, então resolvi ir ao hospital para ver se não era nada grave e acabei conhecendo-a. - Marie parecia bem tensa com aquele monte de pergunta, o que não é pra menos com essa cara de bravo que o meu pai faz quando quer intimidar alguém, principalmente pessoas que ele acha serem as minhas mais novas namoradas. 

 —  Ok, Marie... você demonstra ser uma boa pessoa, e trouxe pizza, me livrando de preparar o jantar que está um caos essa noite. - Sua carranca some rapidamente, dando lugar a um meio sorriso. - Irei pegar alguns pratos, copos e um refrigerante na cozinha. 

Alegremente, ele se retira da sala, deixando apenas eu e Marie que soltara toda a sua respiração de uma vez. Eu desço os últimos degraus, sentindo seus olhos tão misteriosos e observadores perseguirem-me em confusão.

 — Eu honestamente não esperava encontrá-lo por aqui, isso foi tão precoce. - Ela comenta ainda chocada com a cena e procurando fôlego.   

— Eu pensei em cortá-lo, porque ele sempre faz isso quando alguém diferente aparece por aqui, mas sinceramente achei toda essa cena divertida. – Eu pego as duas caixas de pizzas de sua mão e deposito-as sobre a mesinha de centro. – E obrigada por trazer o remédio, você é um anjo. O que eu tenho aqui não faz efeito há anos. Nem sei porque ainda tomei aquilo. 

— Eu entendo o que você está passando. – Ela comenta divertida, retirando a pequena cartela de remédio de dentro do bolso do sobretudo e entregando-me. – E não precisa me agradecer, isso é apenas mais um agradecimento da minha parte pelo o que fez por mim.

Era óbvio que aquilo não era apenas um agradecimento de sua parte. Até quando ela agradeceria por algo que era a minha obrigação fazer? Eu trabalho lá, tenho de cuidar das pessoas de um jeito ou de outro, não era necessário haver tantos agradecimentos como ela estava me dando.

Marie é adorável, sua preocupação por mim também, mas não normal. E eu sei, olhando em seus lindos e indecifráveis olhos claros, que estou despertando algo nela, porque eu sei quando alguém começa a gostar de mim. Não que muitos tivessem gostado a ponto de eu poder me gabar por isso, mas eu sinto quando alguém demonstra intenções de algo à mais. E eu sinceramente sinto que também estou gostando dela, não uma vasta paixão no qual me vejo daqui alguns anos me casando com ela, mas, uma pequena, amigável, confortável e boba queda.

Meu pai volta com os pratos e copos, Marie prontamente se propôs a ajudar em retirar alguns enfeites da mesinha enquanto eu ia até a cozinha para tomar o comprimido. Os dois conversavam sobre diversas coisas enquanto ajeitavam o local onde jantaríamos, Marie ficou deslumbrada, excitada e empolgada, – ainda sim bem tímida,– em saber que estava conversando com o quadragésimo comandante principal da Marinha Americana. Está sendo engraçado ver sua grande timidez com a presença do meu pai, afinal, ela sempre me visitava no hospital e provavelmente veio fazer surpresa pela primeira vez vindo aqui depois da última vez no dia do parque e não imaginou que justo nesse fim de semana ele estaria aqui.

— Muito bem, meninas. Eu vou pegar duas fatias e um pouco de refrigerante para subir ao meu quarto e deixá-las sozinhas. – Papai prontamente se levanta do sofá com seu prato contendo mais duas fatias de pizza. Ele pisca para mim de forma como se dissesse um depois eu quero saber mais sobre isso, e olha para Marie que levantou de seu lugar rapidamente para apertar sua mão.  

— Foi um prazer conhecê-lo, Senhor Hamilton. Agradeço por ter me aceitado em sua confortável casa. – Ela diz ainda chacoalhando a mão dele formalmente. 

 — Foi um prazer conhecê-la, Marie Jane, espero vê-la mais vezes por aqui. E obrigado por livrar-me de preparar o jantar, as pizzas são deliciosas.

Ela sorri para ele. 

—Eu honestamente adoraria voltar aqui, claro, se me permitirem.

— Por mim já está permitido. – Ele sorri para ela que parecia estar tão tímida e nervosa. – Bem, boa noite e aproveitem a pizza. Mani, se sentir qualquer dor me chame, está bem? – Ele se aproxima para depositar um beijo calmo no topo da minha cabeça e sussurrar um conversamos sobre tudo isso amanhã. Eu sorri com a sua curiosidade e empolgação em ver alguém que não fosse Allyson me visitando. 

— Boa noite, papai. – Digo vendo-o subir com o prato em mãos. Giro em meus calcanhares para ver Marie soltar uma forte lufada de ar que desencheu seus pulmões em segundos. – Está tudo bem?

Ela retira os olhos da escada, olhando-me com o os lábios entreabertos.

— Tirando o fato de que eu ainda não estava preparada para ver o seu pai... sim. Acha que ele está de acordo por eu ter chegado praticamente as dez da noite sem avisar?

Seu semblante preocupado era cômico e ao mesmo tempo fofo.

— Ele amou o fato de você ter chegado com as pizzas para livrá-lo de seu dia de fazer o jantar, Marie. – Eu digo tranquilamente para que fique segura. – Que tal mais um pedaço de pizza?

— Seria ótimo. 

[...]

Estou deitada de barriga para cima sobre o felpudo cobertor em minha cama, com as duas mãos depositadas na mesma até que o remédio fizesse efeito por inteiro. Marie está deitada ao meu lado, folheando o meu antigo álbum de fotos com todos os momentos mais importantes da minha vida. O único som emitido é o barulho das gotas de chuva se chocando contra os vidros da janela. Eu insisti que ela ficasse até a forte chuva parar, afinal, não quero que ela corra riscos pela rua após ter se preocupado tanto comigo. 

  — Essa eu tinha seis anos, estava participando do batizado da minha prima. - Comento ao perceber em qual foto ela está observando. 

— Você era uma criança que dava muita vontade de apertar até os olhos esbugalharem para fora. - Ela solta entre risos com aquele seu sotaque Britânico tão marcante. Eu apenas solto uma risada nasal e vejo-a folhear a próxima página. - Gostei dos cabelos rosas e do óculos. Achei bem charmoso em você.

 Eu suspiro alto, tendo vastas lembranças daquele trágico dia e trágico ano. 

Olhar para aquela Normani era como olhar para outra pessoa. Eu havia prometido à mim mesma que superaria tudo isso, esqueceria quaisquer momento que machucaram-me, principalmente o dia da festa do Fred. Após todo aquele acontecido, eu nunca mais fui a mesma, tanto sentimentalmente quanto fisicamente. Lembro-me de ter chegado em casa aos choros, implorando ao meu pai que mudássemos o quanto antes daqui, de vê-lo totalmente desesperado em tentar saber o que realmente aconteceu comigo e dele ter passado a noite toda deitado ao meu lado na cama com medo do que eu pudesse fazer. Essa é a minha última foto adolescente na qual eu estive usando aquele óculos e cabelo rosa, depois que me formei oficialmente e decidi começar a faculdade, eu me transformei totalmente em outra pessoa, em outra mulher. Até o meu pai ficou impressionado quando me viu descer a escada. A transformação não foi do dia para a noite, claro, passei muitos dias indo às aulas de dança, ioga e massagem corporal. Conforme o tempo meu corpo também foi ajudando, ganhei mais massa, meus seios cresceram mais do que eu imaginei um dia tê-los deste tamanho, o ioga e a dança ajudaram-me a ter o abdômen não definido, mas formado do modo em que eu sempre desejei , e as pernas bem formadas. E bom, as espinhas? Isso eu não precisei me preocupar, a fase adolescente foi embora e as levaram junto. 

—  Oh, não minta, eu era horrível na adolescência. 

—  E quem não era, huh?! - Marie ergue a cabeça para me encarar com seus lindos e vibrantes olhos claros. - Acha que sempre fui assim? No ensino médio eu usei aqueles óculos fundo de garrafa, sabe? Nem sequer realçavam os meus pobres olhos. 

Eu sorri sentindo-me confortável pela forma como falara sobre isso. 

  — Você é incrível. - Deixo escapar e ela arqueia as sobrancelhas bastante surpresa.

—  Oh, não. Incrível são as suas mechas. Quero saber como você conseguiu deixá-las tão vibrantes com o seu tom escuro de cabelo. - Ela larga o álbum de fotos ao lado enquanto vira-se de lado, apoiando a cabeça sustentada pelo braço apoiado na cama e encara-me curiosa. - É sério, Mani, eu quero saber. 

Eu meneio a cabeça ainda achando aquilo tão confuso e engraçado. Ela está tentando me fazer se sentir bem diante das antigas fotos que eu tanto odeio? 

—  Eu não me lembro muito bem o método, foi a minha prima quem fez, depois eu só retoquei no cabeleireiro. 

— Eu honestamente achei incrível, e não estou mentindo para te fazer sentir-se bem. Eu amo cabelos coloridos. - Minha boca se curva num sorriso tímido, ela me devolve um de canto sem mostrar os dentes, apenas aquele charmoso que ela sempre dá para mostrar as covinhas. - Você realmente está muito linda naquela foto. 

Eu estou corada? Oh, sim, eu estou bem corada e sinto-me aquecer as bochechas.

  —  Obrigada, Maj. De verdade. - Eu respondo ainda bastante sem graça, e provavelmente ela percebeu pois rapidamente coloca uma boa quantidade de mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, dando prioridade para admirar da melhor forma os meus olhos que não sabiam exatamente onde focarem; seus olhos tão vibrantes, as bochechas rosadas por conta do frio ou dos lábios macios entreabertos? Ela é uma junção de céu com o inferno. Ela é um anjo iluminado e tão quente quanto o diabo. 

Sinto-me disparar por dentro ao sentir minha nuca forçar-se sozinha indo mais a frente em direção ao rosto da loira que encarava-me com devoção. Seu polegar acaricia a lateral do meu rosto suavemente, fazendo-me fechar os olhos para apreciar aquele toque por alguns segundos. 

 — Eu poderia... - Ela pede, umedecendo os lábios. - Você sabe...  

Eu concordo com a cabeça, dando-lhe o aval que precisa para fazer o que quer fazer. Marie se aproxima aos poucos enquanto os meus olhos se fecham prontos e ansiosos para apreciarem  aquele momento. Tudo dentro de mim está uma tremenda bagunça, sinto-me revirar, tremer e ferver. Arrepios percorrem por todo o meu corpo, como se aquilo fosse a primeira vez que eu estivesse prestes a beijar alguém. Cada segundo que eu conto esperando finalmente seu toque parecia uma eternidade, pensei por diversas vezes abrir os olhos para ver o que ela estava fazendo, mas comandar o meu corpo já é algo impossível de se fazer. 

Sinto-me entrar em combustão quando finalmente seus lábios tão macios quanto imaginei serem tocam os meus de forma suave, ela arrasta-os calmamente, sugando o meu lábio superior para si e depois o inferior. Eu arfo com o arrepio em minha espinha, chocando-me ainda mais contra a sua boca que parecia querer degustar-me com calma. Minhas mãos correm até encontrarem seus ombros e percorrem timidamente até a nuca, emaranhando meus dedos em seus cabelos tão macios. Ela não pensa duas vezes em descer sua mão em meu rosto até o quadril, puxando-me para mais perto de si e intensificando o beijo. 

Eu abro os olhos, encontrando com aqueles pares de cristais verdes apreciando-me, Marie retira e joga o seu sobretudo no chão ao lado da cama e eu suspiro de frio por não ter seu corpo me aquecendo. Meu ventre se retorce, fazendo-me lembrar que não poderia deixá-la ir muito longe com aquilo, mas meus pensamentos somem quando o seu corpo se aproxima do meu e sua língua invade-me sem pudor algum.  A minha língua percorre cada canto de sua boca carregando um bom gosto do molho de pizza e sua mão puxa-me pelo pijama, colocando-me totalmente por cima de seu corpo. 

Eu deveria fazê-la parar. Não deveria? 

Sim, é óbvio que eu devo fazê-la parar, se ela não se lembra, eu ainda estou menstruada e não posso fazer o que pensa em tentar fazer. Mas... Droga! Nunca imaginei que seu beijo fosse tão bom e viciante. 

 —  Maj... - Eu tento chamá-la, mas estou tão ofegante por conta de seus beijos que tiram-me o fôlego. - Maj, eu não... - Ela pressiona-me mais contra o seu corpo e eu peço aos céus que não tenha nada de errado na área mais abaixo. - Marie! 

Eu chamo-a mais alto tamanho o desespero cada vez que ela me pressiona contra si. Ela rapidamente pára o que está fazendo e me olha confusa. 

 — Eu não posso continuar com isso, lembra? - Ela entreabre a boca. - Não seria nada legal tentarmos algo justo no dia em que estou menstruada. Imagina como ficaria a minha cara se eu manchasse toda essa cama e a sua roupa. 

Ela violentamente ruboriza com o que digo e eu saio de cima de seu corpo para a mesma se sentar. 

   —  Perdoe-me, foi um pouco mais forte do que eu. - Ela ainda continua bem ruborizada e eu admito estar sendo uma graça vê-la assim. 

—  Não se preocupe. Eu já venho. - Rapidamente levanto da cama para ir até o banheiro e me trancar por alguns instantes até acalmar o calor dentro de mim. 

Não foi assim que eu imaginei quando montei todo esse plano. O beijo sairia mais para frente, eu apenas a testaria para ver quais eram as suas verdadeiras intenções, mas Marie é tão charmosa, calma, linda e quente que eu nem sequer me aguentei e perdi quaisquer forças que eu imaginei ter para aquele momento. 

Eu respiro fundo mais duas vezes, controlando as reações causadas pelo os seus beijos e toques antes de sair e encontrá-la já vestida com o seu sobretudo olhando para as diversas fotos no porta-retrato que tenho pendurado na parede. Quando ela percebeu a minha presença, enfiou as mãos dentro dos bolsos e prensou o maxilar. 

  —  Moni, me desculpe se eu fiz algo que lhe assustou. - Ela inicia com a voz tão rouca quanto o normal. - Eu juro que isso não irá se repetir, só... não fique brava comigo. Por favor? Eu só iria tentar alguma coisa quando você demonstrasse-me que também queria e e-

— Fique quieta! - Ela prensa o maxilar novamente e pisca pesado com a minha atitude. - Seu beijo é muito melhor do que eu imaginei ser, eu já estava querendo experimentar faz tempo, só você que não percebeu. Ou acha que eu quis ficar com aquele bigode de chocolate quente porque achei divertido?!

Ela suaviza o semblante, sorrindo ao lembrar do dia em que me visitou no hospital e ficamos durante toda a minha pausa conversando e tomando chocolate quente. Não que eu realmente tivesse feito de propósito, mas eu gostei de ver o seu nervosismo ao me ver daquele jeito. O tempo todo ela umedecia os lábios, remexia em seu lugar e olhava em direção a minha boca, mas em momento algum tentou algo. 

 — Mas depois eu limpei com o guardanapo. 

 — Tenho certeza que não era com ele que você queria limpar. 

— Não tenha tanta certeza assim, enfermeira Kordei. - Ela dá aquele maldito sorriso de canto.  - E como andam as coisas aí embaixo? 

Agora foi a minha vez de corar as bochechas. Eu encosto na mesinha do computador, admirando-a remexer-se sobre os pés enquanto continua com as mãos dentro do bolso. 

— Tudo sob controle, nada fora do lugar. - Eu tento demonstrar normalidade com a sua pergunta. - Odeio esses dias. 

—  Seria esquisito se você gostasse, não?  

 — Sim, bastante. - Eu torço o nariz e meneio a cabeça. 

O silêncio paira sobre nós enquanto apenas nos observamos; ela remexendo-se sobre os pés e eu parada encostada na mesinha. 

 —  E-eu, bem... Acho melhor eu ir, não é? Deve estar bem tarde e seu pai não vai gostar de saber que ainda estou aqui. 

 — A chuva ainda não parou,  acho que você deveria continuar aqui até passar. 

—  Boa tentativa, mas Joseph já está me esperando há uma hora aqui na frente, e você precisa descansar. 

 — Tudo bem. - Suspiro vencida. - Eu te acompanho até lá embaixo. 

E, em silêncio novamente, descemos os degraus até chegar no corredor que dá acesso à saída de casa. Eu encosto-me na porta agora aberta, enquanto Marie pára em minha frente prestes a sair por completo. 

—   Agradeço pelo remédio, a pizza e... o beijo. 

Marie cora violentamente e sorri bastante satisfeita em ouvir aquilo. 

  — Sou grata por você ter deixado e não ter dado um doloroso tapa na minha cara, pois eu achei que fosse fazê-lo. - Ela torce o nariz. - Melhoras da cólica. Boa noite e bom descanso. 

  — Obrigada, novamente. Bom descanso. 

Um silêncio paira pela terceira vez, até que ela se aproxima para depositar um beijo demorado em minha bochecha e passa pela porta, onde um estrondoso som de chuva faz-me despertar e observá-la correr até o carro parado do outro lado da rua. Assim que fecho a porta por completo, deixo um largo sorriso preencher a minha boca. 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...