História Era outono. - 1.

Poderia ser como uma tarde qualquer de um dia qualquer, poderia ser só mais um dia chato e entediante onde nada demais iria acontecer. E quando acabasse, seria mais uma noite mal dormida como qualquer outra nos últimos seis meses. Mas não foi, infelizmente ou felizmente, você resolveu aparecer pra fazer tudo ser diferente e me fez enxergar a mesmice em que eu vivia.

Era outono, as folhas caiam de uma maneira tão lenta que eu me perguntava se era realmente de tal forma ou se minha cabeça havia acabado de resolver praticar mais alguma pegadinha como essa. Mesmo com a duvida, decidi prestar atenção durante alguns minutos no que estava acontecendo ali, por mais clichê e besta que aparente ser. Parei por alguns instantes na esperança de achar uma resposta pra alguma das minhas perguntas, o que como todos os dias, acabou sendo um completo desperdício de tempo. Ou eu achava que havia sido. Mas como sempre, fui enganado com mais uma das brincadeiras que a vida ama fazer, como sempre me mostrando que eu não conseguia ter controle nem sobre minhas próprias ações.

Claro que isso pode parecer confuso, mas é como eu tento organizar essa história na minha cabeça sem parecer um romance juvenil idiota. É como eu tento explicar em palavras de uma maneira simples, porém interessante, o fato de ter conhecido a garota mais maravilhosa e complicada do mundo, em um dia como qualquer outro. E eu posso afirmar que depois desse dia, comecei a levar minha vida de uma maneira diferente, de uma maneira que eu negava ser possível até o dia em que pus os meus olhos nela.

Primeiramente, eu espero que você entenda o motivo de tanta enrolação pra finalmente explicar o que realmente aconteceu antes, durante e após nossos caminhos se cruzarem. Mas bom, eu não consigo explicar isso com facilidade porque ainda é complicado para mim mesmo ver como tudo aconteceu, da maneira tão rápida e ainda sim tão intensa.

Indo ao assunto, enquanto eu estava observando cada uma das folhas chegando ao chão, percebi que alguém estava fazendo o mesmo, mas não com as folhas e sim comigo. Ela estava em pé do outro lado do lago, com seus grandes olhos castanhos me fitando de uma forma que fez cada parte do meu corpo se arrepiar. Sua boca pequena estava entreaberta, e com o certo frio que estava fazendo, pude vê-la jogando uma fumaça causada pelo frio no ar, misturada com a do seu próprio cigarro. Normalmente eu não acharia isso atraente, na verdade se fosse qualquer outra pessoa no mundo eu provavelmente acabaria nem notando tal olhar, porque era sempre assim, todos os dias, um dia após o outro. Mas com ela não.  Eu não pude deixar de perceber aquela garota me olhando tão fixamente, não pude deixar de perceber o quão suas bochechas ficaram coradas quando eu retribui o olhar na mesma intensidade, como se estivesse tentando enxergar sua alma.

Poderia ser como qualquer história normal, nós poderíamos ter nos apaixonado naquele momento e o mundo iria conspirar ao nosso favor, no final iríamos viver felizes para sempre e toda aquela besteira clichê. Obviamente não foi isso. Eu não me apaixonei por ela naquela hora, na verdade, posso até ter me apaixonado, mas no momento em si o que eu pensei foi completamente diferente.  Ela me deixou assustado.