História Era Só Pra Você - (06) - Quem sabe a dor de uma derrota enfrentar

[...]

Já estava na casa do Ibra, deitada naqueles lençóis macios enquanto dormia abraçada com o seu corpo junto ao meu. Não tínhamos transado e nem nada até porque o médico me deu uma 'resguarda' após os resultados do exame de corpo de delito. Suas mãos pousaram na minha cintura e — mesmo dormindo — aproximaram nossos corpos fazendo minhas pernas enroscarem com as suas e beijei seu pescoço.

- Papai! – ouvi a voz aguda e fina de Vincent e levantei para abrir a porta encontrando o loirinho de pijama, coçando os olhos e bocejando. – Tia Michelle!

- Oi, meu amor. Tá tudo bem?

- Eu estou com fome e Maxi... Papai!

A cópia perfeita de Helena saiu correndo até a cama assim que viu Ibra sorrindo e eu pude ver seu braço esquerdo apoiado atrás da nuca enquanto o outro me chamava com o dedo indicador.

- E aí, filho, que quê você já está perturbando a tia Michelle?

- Eu estou com fome e daqui a pouco a gente que ir pra escola, mas o Max não quer acordar.

- Papai vai preparar o café enquanto você e a tia Michelle vão lá acordar o dorminhoco do seu irmão.

Saí com Vincent para acordar Max e depois de muito tempo, mas muito tempo, o pequeno levantou da cama e os foram tomar banho enquanto eu arrumava as mochilas que eles deixaram todas soltas. Assim que saíram, se vestiram e descemos as escadas já vendo apenas uma cozinha sendo ocupada por Zlatan Ibrahimovic.

- Bom dia, amor. – o beijei quando as crianças pegavam o leite na geladeira. – Tá cheirando isso aí.

- Mas são dos meninos, amor. O seu é aquele ali – apontou para algumas frutas e um copo de leite com torrada. – que o médico pediu.

- Só um diazinho não vai fazer mal.

- Nem vem. Tá pior que os meninos.

Ele me deu mais um beijo e olhamos os loirinhos comendo enquanto prestavam atenção na TV que passava um desenho em francês — segundo o Ibra, os favoritos dele — e resolvemos tomar nossos cafés. [...] Esperava Ibra voltar do PSG porque por mais que ele tenha saído, o Paris Saint Germain nunca saiu dele e enquanto os meninos estavam na escola eu resolvi a minha situação com a Comic já que o mostro ligou essa semana para a LSE e explicou a situação fazendo com que eles me dessem um tempo de "férias".

- Amor, me ajuda aqui!

Ibra abriu a porta e eu o vi com várias sacolas de supermercado. Mulher sempre quer um companheiro para dividir as despesas, mas saber que agora Zlatan faz as compras, da semana ou do mês e cuida da casa é demais pra mim. Ainda arrasta na cozinha — e não que seja masterchef — mas dá para o gasto.

- Pra que tudo isso?

- Lucas quer fazer um churrasco brasileiro.

- O moreno careca?

- Isso. – me deu um selinho e deixou a última sacola na bancada. – Sabe o que eu estava pensando?

- Não. – enlacei meus braços em seu pescoço e ele ergueu meu corpo para a bancada colocando suas mãos na minha coxa. – O que?

- Quando acaba a resguarda?

- Não sei, amor, o resultado sai hoje às 17h e sinceramente eu estou com medo.

- Não vai dar em nada. Você não está grávida e se estiver, – na hora que ele falou gravidez eu abaixei a cabeça e meus olhos marejados. – Amor, olha pra mim... – ergueu meu rosto e me deu um selinho. – se estiver eu vou assumir esse filho como sendo meu, ouviu?

- Mas, Ibra...

- Não quero saber. Não vou deixar ele encostar um dedo em você e nem na criança.

- Eu te amo. Desculpa por isso.

- Você não precisa se desculpar e sim Andrew.  – fez uma pausa. – com a Justiça.

Zlatan on

Vê Michelle tão vulnerável quando ela parece ser tão forte foi um baque pra mim. Ela desviava sempre o olhar enquanto eu dirigia de volta pra casa e saber que ela havia perdido bebê, no ato do estupro, que era meu... Nosso filho, doeu tanto em mim quanto nela. O médico disse que ela ainda teria mais uns dias de 'resguarda' e que as chances dela engravidar, por graças, ainda eram muitas já que o seu óvulo era novo. Olhei para seu rosto observando de longe a Eiffel e vi que lágrimas caíam em seu rosto enquanto ela repousava e massageava sua barriga.

- Meu amor... Ei. – virei um pouco à direita e estacionei o carro na primeira vaga que encontrei. – Michelle?

- Quando você volta pra Manchester?

- Final de semana que vem. Por quê?

- Eu vou voltar para Palatine. É o melhor que eu faço. Vou comprar minha passagem para Londres hoje, arrumo minhas coisas, peço demissão da Comic e volto a minha vida pacata.

- Michelle, meu amor, – a virei para lhe olhar e levei minha mão para limpar seu rosto. – você não vai voltar a sua vida pacata porque eu não vou deixar. Eu também estou a arrasado com a perda do nosso filho, mas eu tenho que ser forte por nós dois e se depender de mim, você vai virar a primeira humana com herança de coelho e vai me dar mais... Quanto é onze menos dois? Nove mini Zlatan. – ela riu. – Nós vamos fazer nossa família. Palavra do Zlatan.

- Mas e Helena? Andrew? Ibra, se nós tivéssemos terminados naquele dia nada disso teria acontecido.

- Você estaria um filho meu e eu não saberia disso. – falei rude e a vi chorar novamente. – Amor, desculpa, não era isso que eu... MICHELLE! – a porta do carro foi aberta e ela saiu andando rápido e fiz o mesmo. Lhe alcancei e peguei em seu pulso. – Michelle, desculpa... Perdão... Eu estou parecendo ter 20 anos a menos que a minha idade e não estou me importando eu só quero que nós não terminemos aqui.

- Não tem jeito, Ibra. Desculpa.

Ela saiu caminhando eu a deixei ir. Saberia que teria que respeitar seu tempo e suas escolhas, mas Zlatan cumpre com suas promessas e não a deixaria escapar.

Zlatan off

(...)

- Filha, toma um pouco desse chá, vai lhe fazer bem.

Minha mãe sabia de tudo o que tinha acontecido. Há dois meses atrás eu bati a porta da casa de Zlatan prometendo não voltar, mas tudo o que eu mais quero, nesse momento, são seus braços fortes me abraçando, seus beijos e seus carinhos.

- A febre baixou, mas vou lhe deixar de repouso e vê se da próxima vez não brinca mais de pegar chuva com seus primos, tá mocinha? – eu ri do jeito que a mamãe me tratava. Ela guardou o termômetro, quando virou meus olhos cruzaram com quem eu menos queria ver naquele momento. Ibrahimovic estava sorrindo bobo enquanto sua mão repousava na maçaneta da porta. – Ah, oi, querido, pode entrar.

- Obrigado, dona Marie. Como vai a senhora?

- Muito bem. Olha, tente pôr juízo na cabeça dessa mocinha viu?

- Vou tentar. – eles riram, mamae bateu nos braços do Ibra e depois fechou a porta nos deixando a sós. – Então quer dizer que a senhorita está gripada?

- É, talvez. E você? Tem jogo do Manchester hoje.

- Eu pedi para não jogar. Você sabe que o que Zlatan fala é lei e por isso eu estou aqui. Eu falei que não desistiria de nós.

- Mas eu desisti, Zlatan. Desisti de muita coisa desde que...

- Você perdeu nosso filho? – ele sentou na beira da cama e pegou em minha mão, a entrelaçando. – Se tem uma coisa eu não posso mentir é sobre o amor que eu sentia por ele ou ela.

- Eu o amei mesmo sem saber que estava grávida, Ibra, isso dói porque eu me sinto culpada. Eu matei meu filho... Matei uma criança fruto do nosso amor porque deixei que o louco do Andrew fazer o que fez! Mas minha avó sempre diz que Deus sabe o que faz!

- Ele sabe. Deve saber. Mas Ele sabe que você será uma ótima mãe e lhe dará a oportunidade de ter mais um bebê, um não, já disse que vamos ter mais nove. Quero meu time de futebol. – ri do jeito que ele falou. – Michelle, eu quero que você ponha na sua cabeça que quem foi o culpado do nosso filho morrer foi Andrew e não você! Mas, acima de tudo, eu quero que você saiba que... – se aproximou e eu deixei minha mão direita em seu rosto. – se depender de mim, eu faço nove mais um. Eu te amo demais para...

- Me beija, Zlatan.

Ele sorriu e sem tirar sua mão das minhas, que estavam na minha cintura, envolveu nossas línguas em um beijo calmo e totalmente comandado por ele. Como eu amo esse homem. Terminamos um e ele desceu seus beijos para o meu pescoço, mas nada agressivo, como ele sussurrou em meu ouvido: "quero curtir o momento".

- Eu te amo, morena. – beijou meu queixo e meu nariz em seguida. – Nós vamos montar nosso time viu? 

- Quero saber se você vai levar esculhambação do Mourinho por ter saído de Manchester e ter vindo até aqui.

- Não. Aquele português não tem vez com Zlatan. – riu. – Mas agora, vamos jantar? Sua avó disse que você precisava comer, que estava muito fraca... Coisas de vó.

- Dona Catherine acha que se eu tiver uma dor de cabeça é sinal de que não estou me alimentando direito. Mas tudo bem, aceito seu pedido.

- Quem disse que foi um pedido? Zlatan não pede, Zlatan manda.

- Tá, mandão, – lhe beijei e depois apertei seu nariz. – vamos vai.

Descemos e meus primos fizeram a maior festa quando lhe viram.