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História Era uma vez amor - Capítulo VII - Velhos novos ares.


Escrita por: dluizfan e misswusck

Notas do Autor


Lá embaixo a gente se vê!

Nota importante: o fuso de Londres e Paris tem diferença em uma hora a mais para a capital francesa. Prestem atenção nos horários que são citados, isso é importante.

Capítulo 7 - Capítulo VII - Velhos novos ares.


Fanfic / Fanfiction Era uma vez amor - Capítulo VII - Velhos novos ares.

Paris, 10 de janeiro - 18h30.

O semáforo aponta que eu deveria parar o carro, mas eu não consigo assimilar nada que não seja o motivo pelo qual minha visão se embaça. Freio bruscamente quase em cima da faixa de pedestres e, por sorte, só há um homem para atravessar, ele parece ter notado minha distração e me encara assustado, correndo para terminar de atravessar a rua. Peço desculpas como se ele pudesse me ouvir e bato no volante, me xingando por estar tão fora de órbita.

Saí do treino há pouco e não estou bem e muito menos feliz com a situação que me aconteceu. Ver Nina ir embora com sua mãe foi terrível, muito pior do que eu poderia tentar imaginar. O professor chamou a minha atenção em torno de quatro vezes, coisa que nunca teve necessidade. Meu foco só se concentra em me fazer lembrar o rostinho tristonho da minha pequena e foi o que minha cabeça visualizou quase que o tempo todo desde o momento em que ela entrou na sala de embarque junto com Sofia. É claro que eu chorei e é claro que eu não queria que as coisas fossem dessa forma. É óbvio que eu nunca quis que o meu casamento se acabasse de maneira tão decepcionante, mas falhei demais. Sofia não merecia, Nina não merecia, nem eu mesmo merecia. O ditado é claro: tudo o que vai, volta. Voltou e me acertou onde eu sou mais vulnerável, infelizmente. Não consegui ligar para falar com Nina ainda, muito menos respondi o áudio em que ela me pede para buscá-la.

Nas últimas semanas, todos os meus medos se juntaram e surtiram um efeito dominó onde eu não tenho mais o controle sobre que está ruindo diante dos meus olhos. A certeza virou dúvida e a dúvida virou desespero. É por desespero que eu já nem sei mais o que estou fazendo. Dirijo rumo à casa da única pessoa que sei que poderá me ajudar: Daphne. Sinto saudades da sua presença na minha rotina e preciso do seu colo e do seu carinho mais do que nunca. Estive tão envolvido emocionalmente com a separação que queria procurá-la depois que tudo se resolvesse, porém a dor me antecipou. Ter alguém confortável por perto vai evitar que eu fique sozinho. Sozinho, eu me sinto pior. Eu optaria por me isolar se fosse num caso de danos menores. Meus amigos mais próximos me ligaram durante o dia para saber como eu estava, eu não estiquei o assunto e desconversei, dizendo que tinha muitas coisas a fazer. Eles não vão entender muito bem a grande bagunça que está em minha cabeça enquanto eu estiver bagunçado. Por todas as nossas conversas anteriores, eu sei que Daphne tem noção do quanto eu amo a Nina; do quanto amo ser o pai da Nina. Como mulher, sua sensibilidade é mais aflorada. Ela sempre soube do meu medo em ver Sofia ir embora e levar nossa criança e se sentia tão culpada quanto eu me sentia só de cogitar a possibilidade.

Continuo dirigindo sem ter a menor ideia de onde Daphne está, porque a francesa não me atende e não me responde mais há dias. Como insisto até conseguir o que quero, vou procurá-la pela cidade inteira, mas vou encontrá-la. Não desisti de mantê-la em minha vida e não me arrependo de nós – ainda quero que haja nós. Só sinto muito em não ter mais os abraços da minha filha durante as manhãs que saio para trabalhar e por não vê-la mais sempre que eu entrar pela porta da minha casa.

Identifico-me e peço passagem para estacionar na garagem do subsolo do prédio, que se localiza num pequeno condomínio. Caminho até a entrada e cumprimento Pierre, o porteiro, que sempre é muito simpático e educado e já se declarou torcedor do Paris Saint-Germain.

- Está tudo bem? - ele pergunta. Imagino que a transparência do meu estado seja notável em meu rosto.

- Sim, Pierre, só estou cansado. - sorrio sem mostrar os dentes e ele assente, não acreditando muito. Não sei mentir e não queria prolongar o assunto.

Pierre me sorri sem vontade ao me avistar indo em direção ao elevador e avisa que Daphne não está em casa antes que eu fale qualquer coisa. Digo que vou subir para esperar, pedindo para ele não anunciar que estou aqui. Ele estranha e não contesta, mas desconfio que esteja somente seguindo ordens. Não é a primeira nem será a última vez que alguém age dessa maneira quando quer evitar outro alguém.

Entro no compartimento de metal e aperto o número sete. O sétimo andar, na minha ansiedade, está mais distante do que o costume me faz recordar. Faz quase dois meses que não apareço, algo que eu fazia de semana em semana. Com sorte, se ela realmente não estiver em casa, torço para que chegue cedo e não dobre seu plantão em um dos hospitais nos quais trabalha.

Aperto a campainha e me escoro na parede, de modo que não me torno visível ao olho mágico. Depois de alguns minutos, ouço sua voz hesitante perguntando quem é. Se eu a conheço um pouco que seja, ela já sabe que sou eu. O porteiro também deve ter me anunciado, afinal é um dos seus deveres combinados ao pedido de uma das moradoras. Depois ele viria me pedir desculpas explicando que era o seu trabalho, como já aconteceu antes.  

- É você, David? - ela indagou novamente - Responde. - insiste - O Pierre me disse que você está me procurando. 

- Sou eu. - me apresento ao olho mágico e espalmo as duas mãos na porta, estico os braços e abaixo minha cabeça, me apoiando no grande objeto de madeira.

- O que você quer? - ela ainda mantém a porta fechada.

- Você... - suspiro - Eu preciso de você. - admito com a voz mais baixa do que eu gostaria.

- Por favor, David, não vamos começar com essa história de novo. Vá para a sua casa e fique com a sua família. Vai ficar tudo bem, seja lá o que esteja acontecendo.

- A Sofia foi para Londres e levou a Nina, elas não vão voltar. Nos separamos de verdade, estamos esperando a conclusão do divórcio. - miro a pequena lente imaginando que ela me observa através da mesma - Minha única família agora é você. - travo meus lábios num bico trêmulo.

- O quê? - sua entonação não nega que ela está surpresa. - Meu Deus... David...!

- Me deixa entrar, por favor. Eu não quero nada além da sua companhia. - meus olhos ardem e uso os dedos para coçá-los. Meu nariz está vermelho. Definitivamente eu não consigo disfarçar e também não faço questão a essa altura.

Daphne demora, mas abre a porta e me encara confusa. Sua expressão me transmite um misto de compaixão e afeto. Esse rosto familiar me provoca sentimentos mais mistos ainda. Seu semblante parece mais bonito do que minha mente havia decorado, mesmo que seja tão simples e exausto, não muito diferente do meu. Ela abre seus braços e eu desfaço qualquer distância entre nossos corpos, afundando meu rosto na curvatura de seu pescoço e agarrando-a com a força que eu tenho, não conseguindo mais evitar ou prender o que me incomodava há horas. Seu perfume é suave e inspirá-lo enquanto não nos desprendemos me dá a sensação de ter um lar novamente.

- Calma vai ficar tudo bem. - afaga as minhas costas - Vem cá, vamos entrar. Eu não vou deixar você. - ela me solta depois de alguns minutos e leva sua mão até a chave encaixada na fechadura para trancar a casa novamente, logo em seguida me puxando para dentro do seu pequeno apartamento.


***

Londres, 10 de janeiro - 13h55.
 

O grande aeroporto de Heathrow está movimentado como em todas as vezes que estive nesse lugar. A última vez foi em um voo direto para Paris, mais de seis meses atrás. Vim à Inglaterra pouquíssimas vezes depois que fui morar na França - graças ao meu trabalho, que me fez optar por viajar de trem expresso. 

A viagem e despedida mais triste de todas tinha sido quando voltei ao Brasil, sozinha, no fim do meu intercâmbio. Algumas lembranças resolvem comparecer e é inevitável, de certo modo, não sorrir. Sim, eu sorri me recordando de quão medrosa eu estava por achar que não conseguiria ficar longe de quem eu amava. Era nova demais nessa coisa de gostar de alguém de verdade, ainda mais morando em um país bem distante e bem diferente no qual eu residia. Londres era só um plano temporário e se tornou muito mais do que isso, me dando muito mais do que uma experiência inesquecível. Agora, ironicamente, eu estava na mesma situação, com dois tipos de amores diferentes na minha bagagem: um deles, o mesmo de todo esse tempo, distante. De novo. Só que eu estava chegando pra ficar e ele não estava lá. Ele não estaria mais lá. Se naquela época eu temia por algo, hoje eu deveria ter pavor em lidar com meus sentimentos. E, não nego, eu tenho. No entanto, eu descobri o maior amor do mundo envolvido e dividido por dois: um, que se desenvolve dentro de mim; e o outro, de cabelos cacheados e loiros como os do pai, que segura a minha mão nesse momento. É dessa fonte vital que vem a minha dose de coragem em prosseguir sem olhar para trás.

Eu não podia ficar próxima a David e viver me questionando sobre onde houve erros e acertos na nossa relação. Culpá-lo e vê-lo com outra pessoa seria onde minha dor mais aguçaria, porque doeu só de pensar em ter de conviver com aquilo. Eu fui feliz fazendo o que julguei ser o correto enquanto estávamos juntos. Não feri ninguém e tenho o aval da minha consciência tranquila para escolher o que é melhor para mim, porque, se eu não estiver bem, não poderei cuidar de quem precisa que eu esteja bem. Nina e o outro bebê vão crescer e vão entender o que houve entre mim e David. Eu não vou esconder nada, tampouco vou ultrajar o pai deles como um monstro. Reforço a minha intenção de querer que eles permaneçam tão próximos e tão ligados e sei a importância desse relacionamento na vida dos meus filhos.

Apesar dos fatos mais recentes, não acredito que eu possa, verdadeiramente, odiar David Luiz. Não há como anular o bem que ele já me fez. Irrefutavelmente, esse homem deixou duas partes suas comigo, que também são minhas. Eu jamais me esquecerei de como ele é maravilhoso - quando quer ser - e eu acho que eu não quero me esquecer de enfatizar essa ideia para não guardar rancor. É mais mal que me faço. Não pretendo omitir de David que teremos mais um filho, só quero um pouco de tempo para que as coisas tomem o seu devido lugar, porque eu sei que vão. Eu sinto que ainda há muito por vir.

Cheguei ao pátio principal empurrando o carrinho com as malas poucos minutos antes de voltar a observar e reparar o quão saudosa a minha história nessa cidade havia me deixado. Tinha ligado para Charlie enquanto caminhava para buscar tudo o que me pertencia e ela disse que viria, mas avisou que se atrasaria um pouco por ter confundido os horários. Decido esperá-la, não estou com a menor pressa de me trancar em um quarto pra me consumir em sono e lamentações. A gravidez deixa qualquer mulher à flor da pele e eu já tenho motivo suficiente para estar sensível, coisa que detesto. Voltei a essa cidade para pôr a vida em ordem e é o que farei, mesmo tendo lembranças tão vivas de tudo o que aconteceu quando eu e David vivíamos aqui.

Nina e eu caminhamos até uma cafeteria e ela me pede cookies de chocolate. Faço o seu pedido e o meu - uma xícara de chá preto. Sentamo-nos para esperar e ela se distrai mexendo em seu tablet. Eu checo meu celular, decidindo ver as mensagens que recebi. Uma das primeiras janelas de conversa era de David, que de hoje em diante vai me encher a paciência o máximo que puder por causa da nossa filha. A aba de notificações continha dezenove mensagens só suas. Não posso me privar totalmente de falar com ele e prevejo que terei dificuldades em manter o autocontrole para não brigarmos. Alterações de humor, pra que as quero?
Respirei e inspirei três vezes antes de começar a ler:
 

David Luiz

Online

Vc deve estar embarcando nesse momento e eu nem disse tdo o q queria (13:28)

Nao sou tao bom com as palavras e vc sabe,queria ter te falado mais coisas q nao consegui entao vou tentar escrever ...  Nossa historia nao foi linda pq continua sendo linda e Nina eh a maior prova disso (13:29)

Infelizmente nao posso voltar no tempo e desfazer minhas burradas,mas nao se esqueça q smp estarei pronto pro seu perdao (13:30)

Ja sinto saudades do nosso pinguinho de gente,se cuidem bem (13:30)

Me de noticias quando vcs chegarem por favor (13:31)

Ei chegaram bem ? (13:50)

Nao me deixa sem noticias (13:51)

Vc deve estar pegando as malas mas poderia ter me avisado neh (13:55)

Cade vcs ??? (14:01)

Sofia o voo de vcs pousou tem quase meia hora e vc nao falou nada ate agora (14:10)

Me responde eu to preocupado (14:11)

????? (14:13)

Nao eh possivel q vc nao esteja vendo o cel (14:18)

Nao csg te ligar (14:19)

Seu numero ta fora de area (14:19)

Eu vou ligar pra Charlie se vc nao me responder em 5 min (14:20)

As msgs estao sendo entregues entao pq vc nao ta respondendo ??? (14:20)

Vc nao quer msm falar cmg ??? (14:20)

Como eh q ta a Nina ? (14:21)

 

Tem um áudio seu sendo gravado enquanto eu termino de ler seu ataque de nervos. Não conheço ninguém mais insistente do que David. Chega a ser irritante a sua maneira de agir quando está ansioso. Reviro os olhos com o tom autoritário em forma de palavras, ignorando as primeiras mensagens para colocar os fones em meus ouvidos e apertar o play da mensagem de voz:

“Oi... Já que você não me respondia, eu liguei pra Charlie e... [pausa] ela me disse que tá tudo bem com vocês e que você devia estar ocupada pegando as malas... é... [pausa] to mais tranqüilo agora. Vê se na próxima me avisa. [pausa de três segundos] Eu vou treinar daqui a pouco, depois ligo pra falar com a minha princesa, diz pra ela que to morrendo de saudade... [pausa e silêncio por mais alguns segundos] É só isso mesmo. Tchau, tchau."

Ele ainda está online e decido pedir Nina para gravar um áudio em resposta.

- Filha, vem falar com seu pai.

- Meu papai? - ela arregala os olhos cor de mel e se anima.

- Sim, meu amor.

- Ele tá vindo me buscar? - seu sorriso se alarga.

- Não, Nina, seu papai tá trabalhando. - vejo seu biquinho de decepção se formar.

- Eu quelo o meu papai, mamãe, eu to com sodade. - Nina parece ressentida com a nova situação. Vai ser muito difícil nos adaptarmos a um dia a dia sem ele.

- Você quer dizer isso para ele?

- Eu quelo.

- Então diga. - tirei o fone e aproximei o aparelho de Nina, de modo que ela poderia gravar a mensagem em um volume audível, apesar dos ruídos do local.

- Papai, to com sodade, vem me buscar, eu quelo você.

David reproduziu o áudio assim que enviei, mas seu status online sumiu revelando que ele, provavelmente, deve ter guardado o seu celular.

 

A despedida em Paris não foi boa para ninguém, confesso. Nina não queria deixá-lo de jeito algum, David também não queria deixá-la. Eu não queria deixá-los. Creio que ninguém estivesse sofrendo mais do que eu, acarretando pesos e medidas diferentes e reprimindo-os o máximo que pude durante os últimos e intensos dias. Eu não os separaria se suportasse toda a situação na qual estou vivendo. Não fugi, porque eu não posso fugir do que trago comigo; eu arrumei uma válvula temporária de escape. Preciso me manter sã e saudável e em Paris isso não seria possível. Também não seria possível ficar longe da minha filha e deixá-la com David, muito menos com a vida atarefada que o pai dela tem. Eu nunca ficaria em paz. No Brasil, que eu não moro há muito tempo, eu não saberia me reconstruir. Seria a melhor opção? Sim, seria, e ficaria mais difícil para Nina, para David e para mim, vendo os dois se magoarem com a grande distância. Sinto saudades dos meus pais e do meu país, mas tenho um trabalho e amigos em Londres, uma vida que já conheço e que se reinicia faltando só uma peça - que eu perdi e tento aceitar que perdi. Eu quero que a saudade vire somente falta. A falta é costume, a saudade é amor. 

A cena dos dois repassou em minha mente durante toda a viagem. Doeu tanto em mim quanto em David presenciar o choro escandaloso da criança ao se separar dele, sabendo que ele não viria junto de nós. Crianças sentem e ela sentiu que não era como das outras vezes, porque quem viajava era David, não nós. Sem querer parecer forte ou invencível como em outras ocasiões, eu me permiti chorar. Quem quer que prestasse atenção no que estava acontecendo se emocionaria. David se aproximou de mim e me abraçou sem que eu o retribuísse, juntando nossa família pela última vez com Nina presa em um dos seus braços, deitada em seu ombro direito e o segurando como se sua vida dependesse da força dos seus bracinhos envoltos no pai. Eu não me afastei, precisava saber o que ele tinha a dizer naquela hora. Em meu ouvido direito, sua voz baixa disse algumas poucas frases:

- Se um dia você me perdoar, eu quero ser seu amigo. Sei que errei e já admiti meu erro, mas gosto muito de você e juro que não queria que terminássemos assim... Vão com Deus.

Eu não quis ficar para ouvir mais e dei dois passos para trás, limpei os olhos e faces e apenas assenti com a cabeça. Não tinha condições de falar. Já tinha escutado demais e tinha me deixado envolver demais por sua reflexão e pela minha emoção. Fechei os olhos com uma breve tontura e me apoiei na parede, mas David mal percebeu porque falava com a nossa filha. Eu também espero perdoá-lo, só me parece impossível atualmente. Cedi-lhe uma última chance esperando que, no fim, ele não me deixasse ir, mesmo sabendo que ele tinha dado início a tudo aquilo. Nunca estive tão vulnerável a esse ponto, porque nunca esperei por ninguém. Para tudo há uma primeira vez e eu estava me saindo de mal a pior. Ele apenas aceitou o que fez não me dando outra opção a não ser aceitar também. David me deu um beijo na testa sem que eu tivesse tempo de me desvencilhar quando me aproximei de novo. Tentou colocar Nina no chão, mas ela não queria. Eu tive que puxá-la e esse instante foi o mais doloroso para nós três.
Tirar Nina do que parecia ser seu maior abrigo e seu melhor amigo foi uma das piores sensações que já tive, mas, olhando e repensando no presente e no futuro, eu prefiro pensar que foi o melhor a ser feito e que o problema em manter um longe do outro é uma questão de costume e não de ausência de afeto.

Enquanto eu aguardo sentada em uma das tantas cadeiras espalhadas pelo grande aeroporto, depois de terminar o chá, observo pessoas aleatórias chegando e indo embora. São duas e meia da tarde e Charlie não me dá sinal de vida desde as duas horas. Confio na minha britânica favorita, ela disse que chegaria até as duas e trinta e cinco e a pontualidade dos ingleses é uma excelência.

- Sofia? - ouvi uma voz conhecida.

- Charlotte! - levanto-me para abraçá-la.

- Oh, como senti sua falta! - ela diz empolgada.

- E eu senti saudades. - pronuncio a frase em português e ela sorri. Charlotte adora o significado que ela tem.

- Little Princess! - chama a atenção de Nina, que pula em seus braços depois de nos soltarmos.

- Titia Chali! - a pequena fala em português e percebo que Charlotte se derrete toda.

- Que menina mais fou... Fou... Como é que vocês falam mesmo? - ela se atrapalha e mistura os dois idiomas.

- Fofa? - questiono.

- Yes, "fofaaa"! Fofa demais! - abraça Nina, que retribui.

- Dá um beijo em mim - ela arrisca falar em português de novo e eu não posso deixar de rir do seu forte sotaque. Nina prontamente a beija na bochecha e mais uma vez vejo Charlie se encantar com a minha filha. Modéstia à parte, ela é uma criança linda e adorável, realmente.

- Desde quando você fala português tão fluente?

- Desde que o seu amigo cismou de me ensinar de novo. Lembra de como foi um desastre? Acabei até aceitando um pedido de namoro com falas brasileiras só depois de você e o Dudu traduzirem! - eu não conseguia parar de rir - E para de rir! Eu decorei essas frases o caminho inteiro só pra receber vocês de uma forma mais familiar. Aprendi com o loiro por alguns áudios do WhatsApp.

- Cadê ele, falando nisso?

- Eu não sei! Aquele homem é doido. Desisto de tentar entender. Ele saiu de casa falando que arrumou um lugar pra morar e foi. Simplesmente foi! Sem me dar a menor satisfação; apenas foi. Eu não quero mais saber dele, no way! Se precisar morar em algum lugar, que vá morar no meio do parque fazendo truques com cartas para se sustentar. - Charlie parece enfadonha ao falar e eu já sabia o motivo.

 - Se isso não se chama amor, eu não sei o nome certo. - rio e ela me entrega Nina, que ponho no chão.

- Shut up, sweetie. Isso não é verdade. Vamos embora?

- Mamãe, quelo meu tabet. - Nina nos interrompe.

- Já estamos indo pra casa, espera.

- Eu quelo agola, mamãe.

- Tá bom, pinguinho. Mas só enquanto a mamãe vai ali rapidinho.

- Aonde você vai? - a ruiva perguntou.

- Eu preciso ir ao banheiro. Fica aqui por causa das malas, a Nina fica quietinha com o tablet. Eu não demoro.

- Okay.

 

Chego ao banheiro e me deparo com mais um sangramento no instante em que me tranco para urinar. Tento não entrar em pânico, isso é absolutamente normal no meu caso e deve ser pelos exageros das últimas horas. Preciso deitar e descansar. Charlie ainda não sabe que vai ter outro sobrinho ou sobrinha, esse é um assunto complicado demais para contar por telefone ou mensagem.

Tento me manter calma, mas estou nervosa. Antes de sair, pinto os lábios com o primeiro batom que vejo dentro da minha bolsa - onde geralmente tem três de cores diferentes -, passo o blush e disfarço o melhor que consigo, seguindo para o lado externo do toalete.

- Você demorou. O que aconteceu? - a inglesa indagou curiosa.

- Nada demais, estava retocando a maquiagem. Vamos? - dou o meu melhor sorriso.

- Hell yeah! - comemora com um gritinho.

- Você não muda, parece ter vinte anos eternamente. - comento.

- Aprendi a ter alma brasileira e parei no tempo porque gostei demais. - ela ri e eu apenas nego com a cabeça, sorrindo com a maluquice de Charlotte e reparando como a convivência com Rodrigo os tornaram mais parecidos.

***

            Nina dormiu rapidamente em meu colo quando entramos no carro de Charlie, que estacionou em frente a uma casa cerca de trinta minutos depois. Eu não conhecia sua nova residência, ela tinha se mudado havia pouquíssimo tempo.

Charlie me ajuda com as malas e depois que deixo Nina dormindo no quarto que será nosso, ela me apresenta todos os cômodos disponíveis no espaço - menos um, que eu deduzi ser um quarto.

- Home sweet home! - se joga em sua cama com um pacote de biscoitos em mãos.

- Eu amei a sua casa! Combina muito com você.

- Sua casa também - me corrige - eu ainda vou te convencer a ficar. Mas, sim, eu mudei tudo o que não me agradava. Agora tudo me agrada. Quer? - me oferece o que está comendo e eu aceito.

- É temporário, já te falei. Rodrigo veio te visitar aqui? – falo de boca cheia e me atrapalho, fazendo Charlie rir.

- Vai morrer engasgada, gulosa. Não me lembro de ver você comendo tanto assim...

- Não muda de assunto, Charlotte! Me responde o que perguntei.

- Sobre aquele ingrato? Já. Dormiu no meu sofá branco maravilhoso e deixou um rastro horroroso nele. – revira os olhos e eu não consigo segurar uma gargalhada escandalosa.

- Vocês vão casar e eu quero ser a madrinha.

- Nem pense! Mas falando em casamento... Senta aqui e me conta tudo o que houve. Você acha que me engana? Sei que está triste porque sei o quanto ama aquele jogador de merda! O que ele te fez? Já vi que não tem perdão! Tenho vontade de arrancar as bolas dele e... - ela se sentou e começou a gesticular com as mãos.

- Charlie, por favor, falaremos disso em outra hora. Esqueça o David por agora. Preciso descansar. - fechei os olhos e deitei na cama onde antes ela estava deitada.

- Você deveria estar falando isso para si mesma, não para mim.

- Eu estou tentando me convencer disso há mais tempo do que você imagina. Mas o destino não me ajuda...

- Por quê?

- Não dá pra fugir. Vou falar de uma vez. - falo mais para mim do que para ela, que parece confusa - Preciso te contar uma coisa que vai ser o nosso segredo a partir de hoje.

- Okay, Soph, você está me deixando curiosa e preocupada. - me fitou com os olhos azuis arregalados.

- Eu vim embora porque... David tem outra pessoa e a Nina vai ter um irmão ou uma irmã.

- O quê? David te traiu e a outra mulher engravidou? Eu vou matar aquele cara! Como ele pôde fazer isso? É mal de homem brasileiro ser ridículo? Todos os que conheci são babacas.

- Charlie, você entendeu errado, embora não esteja totalmente errada.

- Eu não estou entendendo mais nada, só entendi que eu vou mesmo arrancar as bolas e os cabelos daquele homem!

- Presta atenção em mim. Fica calada e me deixa concluir, okay? Eu estou grávida, mas o David não sabe. Sim, ele me traiu e agora quer ficar com a amante. É por isso que voltei para cá.

- Oh. My. God. Eu não sei o que te dizer...

- Não precisa dizer. Só fique do meu lado que você vai me ajudar bastante.

- Não tenha dúvidas disso, Sofia. Somos amigas de verdade. Conte comigo! Nem acredito que vou ser tia de novo! Vou comprar mil roupinhas e presentes hoje mesmo! - Charlie começa a tagarelar e bater palminhas, totalmente animada, e eu sei que é a sua forma de me colocar para cima. Eu assinto com todas as suas ideias malucas e, no fim, nos abraçamos como se fôssemos duas adolescentes prestes a realizar um sonho - o sonho da ruiva é ser mãe e ter uma família. Espero que Rodrigo se declare... Antes tarde do que nunca é uma frase de efeito que faz todo o sentido no caso desses dois.

 

Vou para o meu quarto depois de tomar um banho, visto uma roupa mais leve e me deito ao lado de Nina, me rendendo ao sono. Tenho um pesadelo ruim onde vejo David sumindo no meio de uma multidão de pessoas sem rostos deinidos. Nina segura a sua mão e eu estou sozinha segurando uma criança que também não tinha rosto, mas sua manta era rosa. Acordo assustada e me deparo com a falta de minha filha na cama. Olho o relógio e ainda são cinco e quarenta e seis da tarde. Levanto num pulo e saio do cômodo, chegando até a sala. Não a chamo por não saber em que situação ela se encontra. Se Nina, por exemplo, se encontra em cima de uma cadeira, ela pode cair ao se assustar com meus gritos. Só me acalmo quando vejo que ela está sentada no chão brincando com alguém que julguei ser Charlie, mas não era. De relance não dava pra identificar porque eu só conseguia ver Nina. Ando mais dois passos quando o vejo e ouço. Ele está de costas e para de conversar com a criança ao me ouvir se aproximar:

- Eu achei que assistir a vitória do Arsenal contra o Chelsea dentro do Stamford Bridge fosse ser a melhor surpresa do dia, mas me enganei. Não tem melhor surpresa do que te encontrar de novo, ainda mais sendo mãe dessa menina linda. - ele termina sua fala já de pé, vindo em minha direção com o seu sorriso sempre bonito.

Coloco a mão sobre a boca e me sinto tímida pela situação. Há quantos anos não nos víamos? Talvez uns três ou quatro? Não sei. Meu rosto deve estar inchado e eu nem escovei os dentes. Meu Deus, que vergonha! Aja naturalmente, Sofia. É só o Daniel, aquele cara lindo que você acha engraçado, inteligente, fofo e que é o irmão da sua melhor amiga e ela nem te avisou que ele estava na cidade, muito menos na casa aonde você veio morar.

- Daniel, que bom te ver! - forcei o melhor sorriso que podia e nos abraçamos.

- Talvez eu saiba como é bom te rever, mais do que você imagina. - nós nos soltamos e eu me senti estranhamente confortável para conversar com ele e me desfazer de um tipo de saudade que, até então, eu desconhecia e que havia acabado de descobrir.


Notas Finais


Oi, eu apareci!
Odeio ficar em falta com as pessoas e quebrei o acordo. Mas não tive culpa, de verdade. Ensaiei escrever várias vezes e sempre ficava de um jeito que eu sentia faltar algo importante. Até mesmo esse capítulo poderia ter ficado melhor, mas foi o que consegui expressar.

Vamos agora às observações:
1 - a operadora Orange (francesa) tem funcionalidade em outros países da Europa, até onde eu pesquisei; então, sim, dá para fazer ligações e conexões mesmo fora da França;
2 - quero dar um rosto ao Daniel, quem quiser me ajudar com sugestões, eu agradeço;
3 - vou tentar voltar no final de semana e regularizar o que combinei, torçamos para minha cabecinha ter bons fluídos, rs.

Erros devem ser apontados caso sejam muito graves, opiniões são bem vindas sempre.
Muito obrigada a quem lê e comenta e a quem lê e não comenta. A quem favoritou além do botão e discute a história comigo através de comentários, eu devo dizer que me sinto grata e satisfeita em criar algo tão real a ponto de gerar "debates" e sensações. Vocês são todas incríveis! Beijos!!!

agradecimentos especiais para a best friend @geezerlakeney que vive na bad com as coisas da vida e me ajudou bastante a desenvolver o capítulo MIGA VC TÁ NO MEU CORE SUA LYNDA <3


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