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História Era uma vez amor - Capítulo IX - A vida sempre continua.


Escrita por: dluizfan e misswusck

Notas do Autor


*Errata*
No último capítulo, eu mencionei que o David permaneceu cinco anos e meio no Chelsea, porque eu fiz a contagem a partir de 2011. Mas, na minha história, ele vai para o Chelsea em 2010, permanecendo por lá até meados de 2016. Sim, a história se passa no início de 2017.

Esclarecimento feito.

Olá, como estamos? Bem? De mal com a escritora sumida? Foi sem querer. Sempre é, podem acreditar. :(
Um aviso: David amolecerá e endurecerá o coração de vocês ao mesmo tempo nesse capítulo. Vixe...

Espero que gostem e boa leitura!

Capítulo 9 - Capítulo IX - A vida sempre continua.


Fanfic / Fanfiction Era uma vez amor - Capítulo IX - A vida sempre continua.

Paris.

Como eu já imaginava, David me encontrou pouco depois de eu chegar em casa. Seu rosto expressava dor e sua voz era rouca e cansada, como de quem prendia algo em sua garganta. Eu não podia virar as minhas costas para ele quando ele já havia me ajudado tanto. Eu não conseguiria ser insensível a esse ponto. Além de toda e qualquer razão, eu o amo, não importa qual seja o tipo de amor.

Abri a minha porta e o abracei fortemente. A saudade que eu sentia também deu sinais de sua força no instante em que ele se permitiu chorar ainda com nossos corpos abraçados. O convidei a entrar e o puxei pela mão, deixando-o sentado em uma poltrona.
Me encontro na cozinha para pegar um copo de água enquanto ele está à espera em outro cômodo. Eu não sei o que fazer ou falar. Demoro uns minutos tentando processar o "boom" que acabo de receber. David é uma bomba-relógio prestes a explodir no meio da minha sala e eu não tenho noção de como reagir ou desfazer o estrago. Ele realmente abriu mão de tudo e eu estou me sentindo interminavelmente mal, só que ele não precisa de mais esse peso. Nem eu precisaria senão fosse pela sua necessidade ser maior do que a minha. Sua filha tão linda e tão inocente está longe do pai nesse momento e, provavelmente, eu tenho uma infinita parcela de culpa nesse resultado. Minha vontade de chorar é engolida no momento que ele aparece de surpresa atrás de mim, que estou de frente para a geladeira aberta e o copo de vidro em mãos. Levo um breve susto ao ouvir sua voz trêmula dizer:
- Daphne, não me deixa sozinho. Por favor, eu não quero ficar sozinho.
- David, eu... - esboço uma frase que não se conclui e ele me interrompe:
- Eu não quero nada além de conversar. - põe a mão sobre o meu ombro e eu o encaro rapidamente, voltando minha atenção para o que eu pretendia fazer.
Pego a jarra de água e encho o copo, entregando-o, guardando o recipiente e fechando a porta do grande eletrodoméstico. Ele mal toca no objeto de vidro e o coloca sobre o balcão.
- Eu não tenho cabeça pra pensar em nada que não seja a Nina agora. Você sabe... Você sabe o quanto eu a amo, você sabe... Eu fiz tudo errado e agora ela está longe de mim. - ele suspira e alisa uma das mãos em sua testa, fechando os olhos. Sua mão em meu ombro fora parar espalmada em seu próprio peito. Ele está inconsolável.
- Nós fizemos. Não assuma essa culpa sozinho. E eu lamento muito por ter feito tudo chegar onde chegou. Eu deveria ter lhe dito não. Eu deveria ter nos impedido. – confesso com muito pesar.
- Você não tem nada a ver com o que aconteceu. Eu que deveria ter sido honesto com as duas. Eu que fiz as coisas se tornarem mais difíceis do que já eram só porque eu não queria ficar sem uma ou outra. Eu que fui estúpido. Eu que usei vocês, eu que... - ele desata a falar sem filtrar as próprias palavras e eu o interrompo:
- David, não vamos falar disso, por favor. Eu não quero, eu não posso e você também não precisa se desgastar mais. - peço e ele me fita com os olhos exprimidos e o maxilar travado.
- Me desculpe por estar te fazendo passar por isso. Me desculpe por gostar de você além do que eu poderia permitir. Eu não posso controlar o que eu sinto. - suas palavras me pegam de surpresa e tento não me afetar. Em vão.
- Não se desculpe por nada que tenhamos feito com o meu consentimento também. - me recomponho rapidamente - Eu que gostaria de reverter a situação, mas, infelizmente, não posso. Eu só posso ser uma boa amiga agora, porque você foi um bom amigo sempre que eu precisei. - concluo.
- Muito obrigado. - ele me abraça novamente e eu, de fato, não esperava, mas retribuo. Em seguida, caminhamos para a sala a fim de tratar o assunto que tanto o incomodava.
- Me conte como começou a história da separação e da ida da Sofia para a Inglaterra. - falo, mesmo sentindo um terrível incômodo. Ele precisa de mim e sou extremamente grata pelas coisas boas que nossa amizade nos trouxe. É a minha vez de ser seu divã. Só imploro aos céus, em um pensamento mudo, que eu consiga segurar as minhas lágrimas. Sei que vai doer por vários motivos, só não posso deixá-lo se consumir. Ele nunca deixou que isso me acometesse. Respiro fundo e espero, mas David, parecendo preocupado, pergunta:
- Tem certeza?
- Sim.
Ele ainda me olha desconfiado enquanto me mantenho firme. Se certificando da dificuldade do assunto, hesitante, David começa:
- Foi no Brasil. Eu disse a ela que gostava de outra pessoa e ela surtou. Ela saiu da casa dos meus pais e foi pra casa dos nossos amigos, mas em outra cidade, outro estado. Pediu o divórcio assim que chegamos aqui. Eu não queria que tudo se acabasse dessa forma, Daphne, eu nem sei o que eu queria,porque...
- Porque...? - insisto no instante em que ele para a frase e me olha com os orbes arregalados
- Porque eu gosto dela. - David não me olha mais e solta o ar lentamente - Mas não é como eu gosto de você. - e volta seu olhar para mim ao dizer a última frase, como se estivesse se corrigindo por ter dito algo errado - Eu gosto dela por ela ser uma pessoa incrível, a mãe da minha filha, a pessoa com quem construí uma família e fui muito feliz. - ele funga e eu desvio meu olhar. Me sinto ferida por vê-lo falar assim. Sofia deve ter ficado arrasada, pois eu, em seu lugar, ficaria.
- Você não deveria ter dito que gostava de outra pessoa. - digo como forma de tentar amenizar seu sentimento sobre o que ele causara.
- Você sabe que eu deveria, uma hora ou outra. Eu não aguentava mais ficar sem você. - David diz sem pensar e uma parte de mim se quebra com a declaração. Fecho os olhos, como quem busca forças, e os abro para encará-lo de novo. Ele mantém sua atenção voltada para mim.
- Não vamos falar disso, lembra? - respondo.
- Não vamos. Me desculpe. - abaixa o olhar e encara as próprias mãos sobre as pernas.
- E a Nina, como ficou diante de tudo? - chego no ponto crucial de toda a conversa. Ele continua encarando as próprias mãos e seu choro se torna mais evidente.
- Ela ficou muito assustada. - funga novamente - Pedia para curar o dodói que a mãe tinha. Eu fiquei completamente destruído ao saber que ela adoecia quando eu passava muito tempo fora, a Sofia só me contou isso porque a minha pequena se ressente muito com a saudade. Eu jamais a deixaria se eu pudesse, e eu não sabia que fazia tanto mal assim. - com as mãos agora sobre o rosto, David não se contém e chora sem vergonha alguma.
- Oh, meu Deus... - meus sentimentos me traem e evê-lo tão corroído me corrói igualmente. Me aproximo e o abraço de lado. Às vezes, só um abraço é capaz de transmitir o que a gente quer dizer.David retribui fortemente e fala ao pé do meu ouvido:
- E agora vai ser tão pior pra nós dois... - eu não entendi se ele falava de mim e dele ou dele e da filha, mas ignorei minha dúvida - Eu só vou poder vê-la de vez em quando. - ele continua depois de se soltar do abraço, com uma das mãos sobre os olhos -Eu não quero imaginar como ela está nesse momento, mal consigo pegar em meu celular e olhar nossas fotos ou responder a mensagem que ela me mandou. Está doendo demais. - e ele me abraça de novo como se eu fosse uma esponja e pudesse sugar o seu sofrimento, o que não é uma meia verdade. É exatamente o que eu estou tentando fazer.
- Como era a mensagem? - pergunto.
- Pedindo para eu buscá-la. - fala próximo ao meu ouvido novamente.
- Eu não sei como te ajudar diante de algo tão triste pra você, pra ela e também pra mim. - despejo e o sinto suspirar. Nos soltamos pela quarta ou quinta vez. Já perdi as contas.
- A última imagem que eu tive foi dos seus bracinhos esticados para mim. Ela chorava tanto quanto eu. Foi tão doloroso... Eu não consigo aceitar. O que foi que eu fiz, Daphne? É errado se apaixonar por alguém? É errado não querer perder uma família? Eu queria conciliar tudo, eu queria entender por que eu fui tão covarde. Nada faz o menor sentido agora. - ele admite o que sente com o fardo sobre suas próprias escolhas e ações.
- Nada disso é errado, exceto quando se quer tudo ao mesmo tempo. Não se pode ter tudo, David. Eu disse que não entraria no assunto, porém é inevitável. Nós dois sempre fomos sinceros um com o outro, eu te disse que não teria como terminar bem pelo jeito que começou. Você só precisava ser sincero com quem mais merecia. Será que, mesmo assim, estaríamos juntos se o preço fosse esse? Será que, mesmo assim, você me escolheria? - enfatizo o meu próprio ressentimento pelo que fizemos com Sofia, Nina e com nossas vidas.
- Eu não sei te responder... - ele solta aleatoriamente.
- Confesso que não faria nada do que fiz se eu pudesse voltar atrás, embora você saiba e eu também sei o motivo que me fez ir além. Talvez você ainda tivesse a sua família. Talvez você descobrisse a tempo que sua família é tudo o que você mais ama.
- Não é bem assim, Daphne. Eu amo a minha filha mais do que tudo, sim, mas, já que estamos falando disso, eu não nego que quero ficar com você. A minha decisão depende da sua. - com suas últimas palavras, David dá sua cartada final. Eu sabia que ele não iria desistir de tentar me convencer.
- Não desvia o foco totalmente. – o repreendo com severidade.
- Tudo bem, me desculpe... Eu errei com a Sofia, eu sei, só não me sinto errado por não gostar mais dela como antes. - seu tom se torna sério.
- Mas não vem ao caso agora. – o corto e suspiro - Acho que eu não deveríamos ter falado tantas coisas sobre isso, pelo menos não nesse momento. - ele assente - Vamos falar sobre quem interessa: a Nina. Eu posso imaginar como é para a sua criança. Eu perdi o meu pai e nossa relação era forte como a sua e da sua filha. Sei que ela é muito pequena e não vai entender o que sente, mas também sei que ela vai continuar te amando muito, porque você é um pai maravilhoso e nenhuma distância é capaz de mudar isso. Você vai encontrar tempo para estar com ela o máximo que puder, porque o amor faz isso com a gente. O tempo parece se dobrar quando se trata de quem a gente ama. - finalizo e sorrio, vendo os olhos de David brilharem de forma mais serena.
- Você me parece surreal de vez em quando. Eu não entendia como confiei tão rápido em alguém. Demoro tanto a ter intimidade com uma pessoa, mas você consegue me fazer refletir até no meu pior momento. Sabia que te procurar me faria ver uma solução, porque você tem a capacidade de me mostrar o que eu não consigo ver sozinho.
- Eu sou só humana e tão real quanto você. De dor e de lidar com a dor, eu entendo, tenho estudos e experiências de uma vida inteira. - rimos - Somos amigos acima de qualquer intempérie, se lembre disso sempre.
- Eu te amo. - ele solta e meu coração acelera.
- Não vamos falar... - começo a dizer, mas ele me interrompe.
- ... Disso, blá-blá-blá, já entendi. - David brinca me caçoando, seu rosto se ilumina e eu sorrio.
- Que tal ligar para a Nina? Ela deve estar morrendo de saudades de você. - proponho.
- Eu não sei se consigo. - ele mira o teto com seus orbes ainda vermelhos. 
- Eu sei que você consegue, e é por isso que você não pode adiar enfrentar essa distância. Se acha que não consegue falar muito, grava alguma coisa simples. Você precisa respondê-la, vai fazer bem a você e a ela, que ainda espera uma resposta sua. Além do mais, Londres é logo ali. Vocês vão se ver mais vezes do que você pensa.
- Tudo bem... - ele saca o celular do bolso e demora uns segundos até abrir a janela de conversa da sua ex-mulher. Antes de qualquer ação, David me olha como se eu pudesse encorajá-lo. Eu vejo o seu medo de falhar ao massagear a traquéia com a mão livre. Ele não consegue evitar, mesmo que esteja tentando mandar uma simples mensagem para a pessoa que mais ama e que chama por ele, porque precisa dele. Eu sei o que ele sente.

Pode não parecer, porém dói ao extremo. É difícil abrir o peito e se deixar sangrar com algo tão corriqueiro, porque muita gente acha comum sofrer de saudade por uma pessoa que é parte sua e tem que ir embora ou tem que ficar enquanto você vai. Afinal, não é o fim. Só para a morte não há solução, é o que sempre dizem - essa é uma das coisas que eu também sei, por sinal.

Quantos pais se distanciam de seus filhos por tantos motivos? Quantos pais mal podem vê-los ou, até mesmo, criá-los por tantas outras razões? Não é algo raro, e todos acreditam ser questão de tempo para a falta se tornar costume. Só se esquecem do principal detalhe: sempre é doloroso. Sempre. Para David está sendo pior, ele tem que carregar outras dores junto a essa a partir do momento que suas atitudes desencadearam essa situação, que se tornou a única resolução dos problemas criados pelas circunstâncias nas quais nós quatro estamos.

Me lembro exatamente de como reagi quando vi meu pai indo fazer uma longa viagem sem mim. A sensação de não tê-lo por perto era assustadora, principalmente porque o rosto dele me transparecia o mesmo medo que eu tinha - o medo que vejo em David agora. Ele era meu maior protetor e eu era a sua maior protegida. Meu pai, mesmo muito ocupado, jamais me deixou sozinha. Em todo momento livre, ele me queria por perto, tanto quanto eu o queria. Nunca nos separamos por muito tempo, e quando fui obrigada a me despedir absolutamente, eu sabia que não seria mais a mesma pessoa.
É desse jeito que David e Nina são. Muito além de pai e filha, são amigos e almas que prezam e necessitam estar unidas. Por tudo o que ouvi e vi sobre eles, é como se minha relação com meu pai estivesse refletida nos dois. Esse foi um ponto importante na nutrição do meu sentimento por esse homem, aliás. Sua sensibilidade, quando não está em atrito com seus desejos e seu ego, pode ser grande aliada em conquistar corações cansados da frieza mundana.

David pigarreia para desfazer o nó que se concentra preso em sua garganta para, então, começar a gravar. 
- Princesa linda do papai, que saudade de você... (Pausa de dois segundos) Eu... (respira com dificuldade), eu vou te buscar em breve. É... (Pausa rápida) cuida da sua mamãe como a gente combinou, tá bem? É... Amanhã vou ligar pra você (suspira cansado). Durma bem, meu pinguinho lindo... (A voz tremula) O papai te ama muito, muito mesmo, do chão até o céu. (Pausa novamente e respira fundo) Um beijo bem grandão. (emite o som de quem envia um beijo e finaliza).
Depois que termina de falar, David se vira, larga o aparelho em cima do sofá e demora um tempo em silêncio assimilando tudo. Ele tem suas costas curvadas enquanto seus cotovelos são apoiados sobre os joelhos. Suas mãos são friccionadas pelos cachos com impaciência e ele bufa variadas vezes.
- Como se sente? - questiono preocupada.
- Me sinto um pouco aliviado. - responde meio aéreo, se recostando e jogando a cabeça para trás. 
- Isso é bom? - me ajeito com o incômodo que sinto ao se manter na mesma posição: minha perna esquerda está cruzada por baixo do meu corpo porque estou sentada defronte ao perfil de David Luiz.
- Sim. É bom saber que tenho você, apesar de todas as minhas burrices, e que você me entende como ninguém. - ele se vira e estamos de frente novamente.
- Eu tento, pelo menos. Às vezes, você é mais complicado do que uma adolescente com crise existencial. - rio e o faço rir sinceramente.
- Muito obrigado, de verdade.
- Não há de quê. - bato continência e ele apenas assente, me deixando com a sensação de remorso transferido com sucesso ao mesmo tempo em que ver seu alívio me traz uma paz indescritível... A paz que ele mesmo me roubou meses atrás.

 

No dia em que David abriu-se para desabafar sobre suas questões profissionais, sobre a sua constante insegurança, sobre o seu receio de decepcionar quem o supervalorizou, eu não sabia o que dizê-lo sem usar esses clichês tão conhecidos de que tudo ficaria bem. Ele me contou detalhe por detalhe do sonho de fazer parte de uma Copa do Mundo em seu país e de como doeu ver seu plano ir por água abaixo quando uma severa lesão em seu joelho o impediu de participar do campeonato mundial. 
Eu não sei como era a relação de David e Sofia, tampouco posso dizer exatamente o que o fez gostar e confiar tanto em mim, mas nossa empatia era muito grande e não havia uma pessoa que pudesse dizer o contrário, nem mesmo quem não concordaria com nossos erros ou acertos. Aliás, ninguém deveria advogar a favor ou contra nossas escolhas, porque somente nós arcamos com o que vem junto a elas - envolvendo terceiros, quartos, quintos, ou ninguém mais.

Porém, a melhor - hoje pior - recordação que tenho foi a nossa declaração e o nosso primeiro beijo. Eu estava conhecendo uma pessoa e David enlouqueceu assim que soube... 

Novembro de 2016.

- Daphne, sobre aquele cara com quem você saiu ontem...
- O Jean?
- É, esse aí. Eu não sei, ele não me passa confiança. - o cabeludo parecia extremamente incomodado por eu ter lhe contado que estava curtindo sair com Jean, um colega de trabalho que, por infeliz coincidência, o jogador só soube da existência e conheceu no dia anterior enquanto vinha me fazer uma visita surpresa e o médico deixava meu apartamento após ter me levado pra almoçar e me trazer em casa. 
- Por quê? O que você acha que o Jean tem de errado? Você nem o conhece. - ri. Ele e seu instinto protetor. Ou eu poderia dizer ciúmes?
- De errado? Tudo. Absolutamente tudo. Eu só não gostei dele. Eu tenho uma boa percepção para as pessoas. Você também não o conhece direito.
- David! - ri mais ainda. - Eu o conheço há um tempo, só não falei nada porque não vi necessidade. Ele é um cara legal e eu gosto dele. Estamos nos conhecendo cada vez mais.
- Você não gosta dele. Você acha que gosta dele. - afirmou.
- Cara, o que tá acontecendo com você? Primeiro, você implica com o Jean por motivo nenhum e agora você vem me dizer de quem eu gosto ou não gosto? - falei totalmente irritada com as mãos em minha cintura.
- É simples: você gosta de mim. - ele disse em seu tom mais convencido.
- Mas é claro que gosto de você também, você é meu ami... - eu teria terminado de falar se David não fosse mais rápido.
- Não é como seu amigo. - me cortou e jogou a frase no ar. 
- Você tá doido? - meu nervosismo deu claros sinais sobre as palmas das minhas mãos, que soavam frio.
- E eu gosto de você. - disse com a facilidade de quem havia acabado de cumprimentar um conhecido e eu fiquei atônita, pensando se havia entendido certo - Sim, do jeito que você entendeu. - e, como se lesse meus pensamentos, finalizou a sentença.
- E a sua esposa? - perguntei e ele franziu a testa - É dela que você gosta. - ele não esperava por essa.
- Agora você vem me dizer de quem eu gosto ou não gosto? - repetiu a minha frase apenas para me contradizer e sair por cima. Respirei fundo, ignorei e continuei:
- O que eu entendi é que você deve estar confundindo as coisas porque nos damos muito bem e assim tem medo do Jean me decepcionar. É só isso. - tento convencê-lo a desistir da ideia maluca de gostar de mim, mas ele parecia muito seguro do que falava.
- Daphne, me escuta. - ele pediu - Eu... - pausou - Eu descobri que não aguento te ver com outra pessoa. Quando vi o Jean saindo daqui, fui embora com muita raiva só de pensar que ele pode ter quem eu quero há muito tempo. Não percebe como eu tenho que me conter todas as vezes em que nos olhamos e chegamos muito perto? - indagou e eu ri, mas ri de nervoso e ele não entendeu minha reação.
- Isso é coisa da sua cabeça. - enfatizei. - Não existe nada entre a gente além de amizade.
- Você também sente o mesmo, eu vejo na forma com que você se comporta. - ele foi chegando mais próximo e eu dava passos involuntários para trás.
- Está com medo de mim? Ou medo do que você sente? - David me envolvia cada vez mais em sua conversa e eu não encontrava mais maneiras de recuar e me livrar daquela situação.
- Não é que... É que... - gaguejei e nada saiu.
- É que...? - ele insistiu.
- Eu não queria gostar de você, isso não tem como dar certo. - finalmente compartilhei a verdade do que eu sentia. Se estávamos na chuva, que nos molhássemos de uma vez por todas. - Eu não quero estragar nossa amizade e não quero me arrepender de nada.
- Nada vai se estragar, eu te prometo. Me deixa ficar com você, por favor, nem que seja uma única vez. Eu já me sinto tão estranho por conviver com a Sofia e te querer... - suspirou longamente como se tomasse coragem - O tempo todo. - me atingindo de novo.
- Nós não podemos ficar juntos, você sabe que não. Além da Sofia, tem o Jean também. Eu estou me envolvendo seriamente com ele. - eu tentava relutar me justificando com a razão.
- É só você dizer que sim. Você quer ficar comigo e não com o Jean. O resto não importa agora, só nós dois é o que deve importar.
- Não é desse jeito que as coisas funcionam. Pelo amor de Deus, David! Pensa na sua família, pensa em como ficam as outras pessoas... 
- E se eu te beijasse, você conseguiria recusar? - ele me ignorou completamente e se aproximou demais, trazendo o perigo junto de si.
- Eu acho que você não faria isso... - falhei tentando me manter firme, mas ele sabia exatamente o que fazer para me envolver. 
- Só se você permitir. - David tocou seu nariz no meu e eu já não sabia mais como tentar evitá-lo, talvez porque ele estivesse certo: nós queríamos aquilo. Não sei qual era o motivo pelo qual ele nutria algum sentimento por mim, mas o meu motivo era óbvio: eu estava apaixonada.
- Isso não pode estar acontecendo. - sussurrei enquanto continuávamos de olhos fechados sentindo a nossa presença e ele segurava meu rosto com as duas mãos.
- Ainda bem que isso está acontecendo. Não sabe o quanto esperei. - sorriu, me fazendo esquecer, por um breve momento, que estávamos sendo traídos por nós mesmos.
- Isso é errado - repito e não convenço mais ninguém.
- Nada que envolve um sentimento bom pode ser errado. - me deu um selinho inesperado - Eu gosto de você. - abriu os olhos e se declarou antes de me beijar - Eu gosto muito de você, de verdade. 

(...)

Aconteceu tal como minha mãe disse que seria, inclusive dona Aimée seria verdadeira entusiasta de nós dois se ele não fosse casado. Ela dizia que homem casado é dor de cabeça, que o amor por quem já é de outra pessoa não pode terminar em algo saudável. Por que mãe sempre sabe de tudo? O único e grande problema era, justamente, esse: David era casado. Era. E ele não ser mais casado também acabou sendo um problema que me coube e me cabe inteiramente agora.

***

Londres.

Daniel e Sofia soltam risadas aleatórias sobre as lembranças de momentos que passaram juntos quando Charlie chega os assustando:
- Ah, então quer dizer que vocês já se reencontraram?! - a inglesa grita e dá um pulo, fazendo os dois, que estão virados de costas, a encararem com olhos arregalados.
- Pois é, Charlotte! Eu jurava que você estava aqui sozinha, mas me enganei. - Sofia responde com ironia.
- Eu queria fazer uma surpresa. - ela rebate.
- Pois conseguiu. - Daniel se manifesta.
- Nem tanto, Big brother... Você já sabia que ela viria.
- Então você sabia? - Sofia pergunta. 
- Tecnicamente, sim. Só não sabia que você estaria sozinha e que sua filha estava tão grande e tão linda quanto à mãe.
 As bochechas de Sofia coram e ela sorri sem graça.
- Ah, para com isso! A garota é a cara do pai dela. Tudo bem, ele é um ridículo, mas até que é bonitinho. - Charlie joga a sua  opinião no ar, constrangendo Daniel e Sofia.
- Charlie! - a brasileira a repreende.
- O quê? Sou sincera, vocês sabem. Olha que coisa mais linda da tia essa criança bochechuda, com esses cachos dourados e esses olhos tão clarinhos! - ela vai até Nina, que se encontra sentada no carpete brincando com sua boneca, e aperta suas bochechas carinhosamente. - Puxou ou não puxou o traste do papai David?
- Daddy. My daddy David. - a criança desperta a atenção dos três adultos. Nina tem seus olhos curiosos bastante abertos e atentos, levanta e corre até Sofia.
- Mamãe, cadê meu papai? Eu quelo o meu papai, mamãe. - sua voz se torna triste - Pu que o papai num veio me buscar? Eu quelo o meu papai. To com soudade. Muita. - o biquinho que se forma em seus pequenos e finos lábios tensiona o mais ainda o que ela e sua mãe vivem.
- Nina, meu amor. - a tradutora se senta numa das poltronas presentes no espaço e coloca a menina sentada sobre suas pernas - o papai não vem hoje. O papai agora mora lá longe, mas ele virá visitar você e a mamãe vai te levar lá na casa dele, tá bem?
- Eu não quelo molar longe do papai, mamãe. - Sofia suspira ao ver os olhinhos da filha se encherem de lágrimas. - Eu quelo o meu papai lindo. - então, Nina começa a chorar copiosamente e repetir que quer o pai. Daniel e Charlie se entreolham e não sabem o que fazer, eles não entendem muito o que elas falam e somente imaginam que se trata de David. 
- Calma, meu bem, calma. Shhh, shhh. - A mulher balança a filha sobre seus braços - Vamos dormir e amanhã a gente fala com o seu papai. Para de chorar, por favor, a mamãe fica muito triste assim.
- Mas (soluça) eu quelo o meu (soluça) pa-pai, ma-mãe. - boceja ao findar a frase.
- Eu te prometo que ele vem te ver se você me prometer parar de chorar.
- Eu po-pometo.
- Cadê o sorriso da mamãe? - assim que Sofia disse, Nina mostrou-lhe os dentinhos. - muito bem, minha garota. Você é a mais linda de todo o mundo! - e Nina permanece soluçando.
Um celular apita. Charlie tem o seu em mãos, mas não recebeu nada. Daniel checa o seu, que está em cima do balcão da copa - que é acoplada entre a sala e a cozinha -, e também não recebeu.
- É o seu celular que está apitando, Sofia. - ele diz e ela se lembra que acabou esquecendo de mandar mensagem à Belle e à sua mãe. A porta do seu quarto está aberta, o que torna o som audível o suficiente, pois permanece apitando.
- Gente, com licença. Eu vou levá-la para o quarto e vou aproveitar para checar as notificações, parece que são pra mim. - ela sorri, mas está incomodada com a situação da pequena. Sabe o quanto Nina se afeta e vai sofrer dobrado nas primeiras semanas. Ela deixa o cômodo com a filha entrelaçando as pequenas pernas em sua cintura e a cabeça encostada em seu peito.
- Sincera até demais, Charlotte. Olha o que você fez. - Daniel chama a atenção da irmã assim que se certifica de que estão sozinhos. 
- Mas eu não falei nada... - Charlie se defende.
- Só fez a menina chorar por causa do pai dela. - ele parece chateado.
- Foi sem querer. - ela se sente culpada.
- Charlie, seja mais cuidadosa. Tenta se segurar um pouco. Você vai acabar ferindo as duas dessa forma. - Daniel aconselha em um tom mais calmo e compreensivo.
- Sorry, bro, eu não consigo evitar certos comentários. E eu não quero que elas vão embora! Eu estou tão feliz em tê-las aqui, sabe? Jamais vou querer magoá-las.
- Eu te conheço, sei que não fez por mal. Só pensa antes de falar, ok? 
- Tudo bem. Para mim, Sofia é a irmã que nunca tivemos. - confessa. 
- Ela não é como minha irmã. É uma mulher interessante e adorável. - ele fala como quem pensa alto. Charlotte entende o recado e comenta eufórica: 
- Daniel, você só pode estar doido! Ela acabou de sair de um casamento, nem pensar. Nada disso! Quer dizer, claro que eu gostaria de ver vocês dois juntos, mas tá tudo muito recente. Conheço a Sofia e ela não vai se envolver tão fácil e tão rápido. Você pode afastá-la se insistir.
- Ela ama o David. Ainda. Nós dois conversamos sobre o passado e eu vi como ele é importante para ela, apesar de terem se separado. É natural, tanto tempo juntos, uma história, uma filha e uma vida construída não devem ser jogados fora. David deve ter errado muito com ela, realmente. Sofia não me parece o tipo de pessoa que desiste de tudo por causa de uma simples briga. - conclui.
- Ele errou, bro... Você não sabe o quanto. - Daniel fica intrigado, embora não comente nada - Mas um dia eles se entendem, ainda mais por causa da Nina. David sempre vai estar na vida dela. Não vê eu e Rodrigo? Já nos separamos há muito tempo e ele ainda é um pouco, só um pouco - enfatizou - presente.
- Um pouco? - Daniel solta uma sonora gargalhada - Você é apaixonada por ele, Charlotte. Para de tentar me enganar, te conheço desde sempre. Ele deve vir aqui todos os dias.
- Você não sabe falar sério? Eu não sou apaixonada por ele, caramba!
- Claro que não! Eu é que sou.
- Cala a boca, Daniel.
- Quanto carinho por seu irmão.
- Tá, tá. O que a gente estava falando mesmo?
- Sobre a Sofia...
- Ah, é, acho difícil você conseguir alguma coisa com ela.
- Eu não quero conseguir alguma coisa com ela.
- Não? - ela arqueia as sobrancelhas.
- Eu quero ser alguma coisa importante para ela. Acho que essa é uma boa oportunidade para conhecê-la de verdade.
- Você sempre gostou dela. Eu me lembro de como vocês ficavam conversando animados por um longo tempo quando se viam. - Charlie comenta.
- Não posso dizer que fui ou sou apaixonado por ela, nós dois nunca fomos muito próximos ou mantivemos contato, e o David já estava por perto. Mas eu gosto do jeito dela, não tenho por que negar. Ela me parece uma caixinha de surpresas agradáveis.
- Hmmm! Olha esse meu irmão todo romântico!
- Sempre fui. Você sabe, sou um verdadeiro lorde.
- Só se for o Voldermort!
- Lá vem você com essa saga de bruxos. - bufa.
- Leave me alone, you mudblood! Expelliarmus!* - Charlie encena com uma varinha invisível em mãos e Daniel somente a encara com uma expressão curiosa.
- Eu vou tomar banho que é a melhor coisa que eu faço. 
- Go wash this dirty body with dirty bloooood!** - ela grita enlouquecida se achando a própria aluna de Hogwarts. - Oh, I am a proud Slytherin, hell yeah!***  - e começa a falar sozinha enquanto Daniel segue para o outro cômodo dando risadas da infantilidade da irmã.

 

Já são quase nove da noite e os ingleses assistem um filme aleatório na sala de estar quando a campainha toca e os interrompe. Daniel caminha e chega à porta.
- Quem é? - Charlie pergunta depois que ele visualiza a visita através do olho mágico.
- Adivinha quem?
- Rodrigo?
- Quem mais seria?
- Abre essa porta de uma vez. Quer dizer... Ele não pode ficar aí esperando a noite toda.
- I miss you, oh I miss you. I'm gonna need youmore and more each day... - ele cantarola e Charlotte se enfurece.
- Você é chato demais! Vai lá pra dentro que eu atendo. Não quero ver vocês dois me irritando falando gracinhas. Vai, Dan!
- Eu vou ter que quebrar a porta pra entrar? Não costumo agir violentamente, mas se não houver opção... - Galego resmunga ouvindo os dois discutirem.
- Quebra a minha porta que eu quebro a sua cara! - a inglesa responde alto o suficiente e os dois homens riem.
- Essa é a Charlotte que eu conheço! - ele  retruca enquanto Daniel ignora o pedido da irmã e abre a porta.
- E aí, cara?! Quanto tempo! - Galego abraça Daniel assim que se veem. - Tá de passagem?
- E aí, Mister White! Você tá até mais bonito. Será que é porque faz tempo que não te vejo ou porque eu estou ficando cego? - ele se solta de Rodrigo e ri.
- Os dois. - o brasileiro responde.
- Olha quem está ali te esperando. - aponta para Charlie, que tem uma expressão irritada. - Boa sorte, eu deixei ela uma fera e agora você aguenta. - os dois sorriem e o inglês segue para o corredor, entrando em seu quarto logo depois.
- Charlie, como senti sua falta! - O loiro a abraça com força, balançando-os de um lado para o outro.
- A gente se viu tem três dias, cara.
- Qualquer segundo longe de você é como uma eternidade! - e ele mantém-se abraçando-a.
- Me solta, você tá me sufocando! - a inglesa o estapeia. 
- Eu senti sua falta, meu amor! Você também sentiu a minha que eu sei.
- Oh, sim. Sempre. - ironiza.
- Cadê minha sobrinha e a mãe dela? 
- Estão no quarto delas. Aproveita e briga com a Sofia, ela não quer comer de jeito algum.
- Por quê?
- Deve estar enjoada.
- Enjoada? - pergunta curioso.
- Da viagem e tal. Essas coisas. - Charlie disfarça.
- Ah, entendi. Você sabe que eu vim visitar as duas, não sabe?
- Sei. A gente combinou isso, não se lembra?
- Sim, então tchau. - ele deixa Charlotte sozinha e caminha pelo corredor.
- Ei, espera aí! - ela vai atrás.
 

***

Depois de ter chorado junto com Nina até ela adormecer, respondi Belle e minha mãe no aplicativo de mensagens. Tomei um banho rápido e já tentei dormir, mas não consigo. O sonho de mais cedo se desenvolve em minha cabeça em repetidas cenas e eu sinto algo estranho. Recebo outra notificação nesse momento e vejo o nome de David na tela. Temo pelo que virá, mas enfrento. É horrível ficar longe dele, principalmente porque ele quis assim. Recebi uma mensagem de voz que eu ouço sem demora.

Limpo as minhas insistentes e silenciosas lágrimas, que voltam a molhar meu rosto, enquanto absorvo o que David mandara direcionado à nossa filha. Permaneço deitada em minha cama e observo o sono pesado e agitado de Nina, acariciando sua cabeça. Ela se movimenta várias vezes, desperta assustada e volta a dormir.

Nina é meu anjo. Ela é uma criança altamente amorosa, comunicativa e inteligente. Mesmo sem saber definir o que sente, se preocupa mais comigo do que eu poderia imaginar. Ela, sem ter qualquer envolvimento direto com toda a história, é quem mais está me ajudando a suportar o inferno no qual fomos enfiadas. 

Noto que não como há horas e meu apetite sumiu. Charlie até tentou me convencer, mas eu disse que comeria depois. Ela parece ter respeitado a decisão, pois nem insistiu. O sangramento deu uma trégua ao menos - o que me lembra de marcar uma consulta médica para os próximos dias.
A sensibilidade de uma mulher grávida é extrema. Qualquer coisa mínima me faz chorar. Eu me fio nessa ideia para justificar meus exageros sentimentais, ou para me permitir sentir o que for. Perdida em minhas reflexões, reconheço uma voz um pouco abafada e Rodrigo se anuncia:
- Tem alguma falsa inglesa por aqui? - pergunta baixinho ainda do lado de fora do quarto. Como Nina dorme e custou muito a pegar no sono, eu decido sair para o corredor.
- Galego! - pulo em seus braços, o abraçando fortemente.
- Saudade da minha parceira de jogos favorita! - ele retribui o ato.
- Quanto tempo! - exclamo sorridente.
- Faz meses que eu não te vejo, você sumiu, me largou. - reclama após nos soltarmos. 
- Não sumi, só tivemos desencontros - rebati.
Charlie finge uma tosse.
- Eu ainda estou aqui, ouviram? Podem socializar comigo também. Em inglês, por favor. Obrigada.
- Olha o ciúme dela, Sofia. - ele diz em português e Charlie bufa.
- Eu sei o que é "ci-iú-mes", baby. Eu entendi o que você falou. 
- Congratulations. - ele diz com ironia e eu rio. Galego sempre me faz rir por qualquer motivo.
- Ok, eu desisto. Vou pro meu quarto porque vocês estão fazendo bullying comigo. Depois que eu morrer, os dois vão sentir a minha falta e vão falar "ai, meu Deus, por que eu ignorei a Charlie quando ela estava viva? Oh, como eu queria conversar com ela agora!". Mas, aí, vai ser tarde demais. Pensem nisso. Tchau. - ela sai pisando firme e nós começamos a rir de sua teatralidade. 
- Até que ela é mais esperta do que eu pensei. - ele comenta.
- Galego, foi tu que ensinou palavras em português para ela, incluindo essa. - o recordo.
- Eu sei, mas era divertido quando a gente namorava. Eu gostava de irritar. Ela fica uma graça quando está irritada. - admite.
- Eu não sei nem por que vocês terminaram. Tu tinha que olhar tua cara de trouxa falando dela agora - sorrio e ele dá um meio sorriso - Vocês deveriam estar juntos.
- Até você? - me encara como quem está decepcionado.
- Até eu o quê?
- Querendo decretar minha morte prematura? Porque a Charlie ainda me mata antes da minha velhice chegar.
- Só se for de amor, né?
- Sofia, não faz piada assim. Aproveita que eu ainda te amo e não estraga esse amor, que, sim, existe.
- É só a mim que você ama?
- Não.
- Sabia! 
- Amo a sua filha também.
- Ah, seu babaca! Que saudade eu estava de você! - o estapeio de leve.
- Você e sua maneira peculiar de demonstrar amor pelas pessoas. - refere-se aos tapas, provavelmente. - Eu já tenho que ir, passei rapidinho só para te ver. Quero conversar com você, saber como andam as coisas.
- Claro que vamos conversar muito! Arranja um tempo para mim nessa sua agenda apertada, por favor. - peço.
- Eu passo aqui e te busco pra gente tomar um café amanhã de tarde, topa?
- Café não, eca! - faço uma careta de repúdio.
- Um chá, Sofia. Um chá. 
- Agora sim! - ele revirou os olhos falsamente irritado. - Branquelo, você é melhor irmão que eu nunca tive. Owww moleque sangue bom! - bagunço seu cabelo.
- Vai ser legal te ter por perto de novo, owww boleirona! - ele aperta meu nariz rapidamente. 
- Eu também sinto que ter voltado vai me fazer muito bem.
- Espero que faça. Você tá mais pálida do que eu me lembro. Tá tudo bem com sua saúde?
- Você, como sempre, tão observador. Eu estou bem dentro do meu estado. 
- Charlie me disse que você não quis comer.
- Ah, essa fofoqueira... Não quis comer porque estou sem fome. Daqui a pouco eu belisco alguma coisa.
- Mas como assim "dentro do meu estado"? Eu só estou sabendo que você e o... - ele hesita. - Desculpa.
- David. - pronuncio. - Não tem problema falar o nome dele. Eu nem tenho como esquecer.
- Eu nunca te vi tão triste. Você tá sorrindo e não é aquele sorriso bonito que eu sempre vejo. - analisa.
- Eu nunca estive tão triste. - suspiro - Mas eu te conto tudo amanhã.
- Ahhh, não! Sabe que eu não me aguento de curiosidade.
- Você que tá querendo ir embora, eu não estou te mandando ir.
- E essa simpatia? Tinha até me esquecido de como você é fofa quando quer. - ele aperta minhas bochechas e eu reviro os olhos. - E minha cachinhos dourados? Tá bem?
- Sim. Ela só não pode lembrar do David que acaba chamando pelo pai o tempo todo, chora e me desmonta. Eu não sei o que vou fazer.
- Está muito recente, mas tudo vai se acertar. - afaga meu braço.
- Assim quero e espero.
- Eu, a Charlie, mesmo sendo maluca, e o Daniel vamos te ajudar.
- Prevejo minha ida para o hospício então. - ele gargalha e eu faço uma careta.
- Vai acordar a minha filha. Ri baixo! - o advirto.
- Foi mal. - se desculpa e eu lhe mostro a língua.
- Agora deixa eu ir, Sosso. Só não pense que você pode fugir de mim. Me dá outro abraço aqui. - nos abraçamos e, em seguida, seguimos abraçados de lado até a porta.
- Obrigada por ter vindo. Eu adorei te ver.
- Até amanhã. - ele dá um beijo em meu cabelo.
- Até amanhã. - assinto.
Antes de eu fechar a porta, Rodrigo anda dois passos, volta e diz:
- Me esqueci de uma coisa.
- O quê?
- Owww nerdzinha - faz cócegas em minha barriga; eu rio.
- Owww perna de pau! - faço referência a uma brincadeira nossa onde ele era muito zoado.
- Pegou pesado. - resmunga seriamente, depois sorri.
- Vai embora logo, porra!
- Tô indo, caralho! Tchau. - ele se vira.
- Tchau. - encerro e tranco a casa, pretendendo voltar ao meu quarto.

Porém, só pretendendo... Porque há um Daniel - bem no meio do caminho - me encarando assim que me viro novamente.


Notas Finais


*Me deixe em paz, seu sangue ruim! Expelliarmus! [feitiço da saga Harry Potter que faz a varinha do oponente ser lançada para longe]
**Vá lavar esse corpo sujo com sangue sujo. ***Oh, eu sou uma Sonserina orgulhosa, isso aí!

Opa! Olha lá quem apareceu... O bonitinho que faltava! Curtiram o Galego? Eu adoooro o Rodrigo!
E o Daniel, gente? Maravilhoso toda vida!!! Já quero um par com a Sofia. Hehehe

Ah, sim, eu postei pelo celular e é horrível demais para editar. Por isso, erros e sugestões podem ser apontados, viu?!

*Comentários não são obrigatórios.*

Uma notícia: estamos quase no meio da história. Pois é! É provável que não passe dos vinte e dois capítulos - com capítulos maiores em conteúdo, inclusive.

Eu não sei quando volto e já me desculpo, antecipadamente, por isso. Mas talvez, se eu nunca tivesse postado, eu não teria continuado a escrever, então aqui vai o meu "muito obrigada" a quem não me abandona, me incentiva, comenta, me procura ou simplesmente me espera.
Vocês são foda demais só por "viajarem" comigo!!!

Beijinhos,
Até a próxima!


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