História Era uma vez, o sapo e a garota que não era princesa - 8

Foi no jornal de domingo que a lista saiu.

Lilian Santos Maia. Quinta colocação na faculdade de Direito, numa das mais prestigiadas do país.

Era de manhã cedo e sua mãe a abraçou, forte e apertado. E ela também, ainda que a ficha não tivesse caído que sim, ela havia entrado na faculdade. Antecipadamente.

_minha querida, eu... eu mal posso acreditar_ e havia lágrimas nos olhos de sua mãe e Lili também se viu chorando. Afinal era o sonho da vida das duas. Sua mãe nunca pode terminar os estudos e Lili seria a primeira pessoa da família a entrar na faculdade

Como esse era o dia de folga da sua mãe, ambas passaram a manhã em casa, na cama especificamente. Telefonaram para seus avós dando a notícia e se empanturraram de torradas, achocolatados e biscoitos.

Já era quase pela tarde quando A sra. Hilme apareceu na casa para parabenizá-la.

_Olá, eu sei que vocês duas devem estar comemorando, mas não pude resistir em vir aqui e lhe dá um abraço minha querida_ ela disse quase timidamente.

Lili não sabia exatamente qual fora o conteúdo da conversa entre sua mãe e os pais de Oliver, mas dado o comportamento acanhado, quase envergonhado da sra. Hilme, ela podia concluir que não fora dos melhores.

As duas se abraçaram e Lili sentiu, naquele momento, a falta que o sr. e a sra. Hilme tinham lhe feito nos últimos meses em que ela se distanciou deles. O casal eram pessoas amorosas e carinhosas e Lili tinha a mãe de Oliver como uma amiga, por isso aquilo lhe entristecia.

_a gente sempre soube que você passaria Lili_ ela disse, a voz saindo abafado por traz dos cabelos dela. E para sua surpresa ela estava chorando, Lili constatou após se separar.

_sra. Hilme, qual o problema?_ perguntou assustada.

_não é nada_ respondeu sem jeito limpando os olhos lacrimejantes_ apenas estou tão feliz por você, é o nosso orgulho! _ ela completou emocionada_ Só acho que você poderia passar toda essa energia para Oliver, ele nunca é motivado para nada.

Lili e sua mãe ficaram sem graça após o comentário. Oliver, obviamente era um tabu e dado que a sra. Hilme corou um pouco mais depois disso, ela também ainda não estava confortável sobre o tema, aparentemente algumas feridas ainda não sararam.

E com o decorrer daquele maravilhoso dia, a ideia finalmente começou a fazer parte de seu futuro concretamente.

E sem saber realmente seus motivos, ela vai vê-lo naquela tarde. De alguma forma Lili sabia que o encontraria no jardim, no pequeno espaço entre as roseiras e as tulipas, onde costumava ir estudar enquanto Oliver ficava apenas de bobeira.

Hoje ele estava tentando quebrar mais algum recorde em mais algum jogo no seu celular, estirado em todo o seu cumprimento em uma das espreguiçadeiras do lugar.

_você sabe, ter passado antecipadamente nesse vestibular, vai tornar minha vida insuportável por aqui_ ele disse, mas sem levantar o rosto para ela.

Lili deu um pequeno sorriso enquanto se sentava próxima a ele, não realmente surpresa com seu comentário _ seria mais fácil dizer “parabéns Lilian, fico feliz por sua conquista”_ disse para ele.

_Nah, realmente não _ e então Oliver ergueu seu olhar verde- azulado para finalmente encontrá-la, um sorriso escondido surgindo nos cantos dos lábios_ minha mãe acha que vou virar um mendigo agora, caso eu não me espelhe em você, como se realmente! _ disse maneando a cabeça em negação exagerada.

E Lili riu. Oliver tinha esse efeito sobre ela, sobre qualquer situação ou contexto, ele poderia fazê-la rir.

Eles tinham se aproximado novamente, não da mesma forma como antes, ela poderia dizer. Apesar de ainda andarem juntos, irem para a escola e sentarem na mesma mesa na hora do intervalo, por traz da faixada que ambos construíram, a proximidade e intimidade não foram as mesmas. Oliver cumpriu o que prometeu e não mais voltou a tocar no assunto, enquanto Lili não sabia realmente se era isso que ela queria.

_mas claro, “parabéns pela sua conquista”_ disse por fim a encarando seriamente e um silencio se seguiu com apenas o som das folhas se movendo a brisa daquele fim de tarde.

Uma batida.

_E então, você vai ter que se mudar? Agora você é uma universitária _ falou, mas agora voltando sua atenção para o celular.

_Sim, provavelmente_ ela disse após um momento, não entendendo a onda de tristeza que a invadiu de repente _ quer dizer, vai sair bastante caro, claro, mas nós estamos nos planejando_ disse, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha_ já estamos até procurando os preços de apartamentos no local_ balbuciou diante do silencio.

Respirou fundo e encarou os próprios pés e Oliver apenas acenou como se entendendo. Logo escureceu e Lili voltou para sua própria casa.

_você merece Lili, e tenho certeza que você vai construir um grande futuro para si_ Oliver disse, finalmente se levantando do lugar. E então, recolhendo seu celular se virou para sair_ boa sorte Lili_ disse e saiu.

Ela ficou um bom tempo ainda, sentada olhando para o espaço que ele deixou vago.

E os meses então passaram voando e, se alguma vez ela pensou que seria mais tranquilo depois de passar no vestibular, descobriu que as coisas tornaram-se mais corridas e difíceis. Lili tinha que terminar suas notas na escola para conseguir se formar a tempo, além de fazer algum dinheiro para alugar ao menos um dormitório próximo a faculdade. Para isso começou a dá aulas particulares para crianças depois da escola e aos fins de semana. O dinheiro que recolhia valia a pena, mas consumia todo seu tempo.

No fim, conseguiu um dormitório pela própria faculdade em um sistema de bolsa de ajuda para alunos carentes. E então chegou o momento de finalmente se mudar para a cidade grande e começar as aulas na universidade. Ela deveria estar se sentindo animada e com grandes expectativas, mas ela só sentia ansiosa e nervosa.

Mas aconteceu.

De Oliver, o momento da separação, a qual ela temia, foi evitado, da pior maneira possível. Ele viajou para fora com a família, ao mesmo tempo em que ela organizava sua própria mudança. Não se viram e também não se despediram cara a cara.

Ela sentiu que, de alguma forma, aquilo não sairia da maneira que seu coração queria. Mas não havia mais como voltar para traz. Ela estava se tornando uma adulta, uma mulher independente e responsável. Sua mãe estava feliz e ela tinha feito aquilo pela qual tinha trabalhado tanto.

E assim, Lili começava um novo capítulo em sua vida.