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História Era uma vez, o sapo e a garota que não era princesa - 9


Escrita por: JaneDi

Capítulo 9 - 9


 

_querida, venha comer, já estamos esperando_ era a voz de sua avó, de novo, depois de quinze minutos. Ela não estava com apetite, mas Lili já permanecia no quarto todo o final de semana e sabia, a voz suave no fundo da sua mente a alertando, que vir passar o feriado da independência com a família significaria isso, passar com a família.

Então, levantando dos documentos que estavam em sua mente ela forçou um sorriso educado e foi até os demais seres humanos que ainda a amavam. Mas céus, como ela estava cansada e exausta, e fatigada, e sua cabeça doía como se constantemente pressionada por uma marreta. Tudo o que ela queria era tomar uma aspirina e correr para algum lugar onde ela pudesse descansar.

Mais uma vez, era o que ela deveria está fazendo. Em tese.

_aqui está, já está frio, mas eu esquentei no microondas_ Sua mãe então lhe passou um prato recheado de todas as maravilhas que ela cozinhava. Ela tinha a voz fria e Lili sabia que ela estava brava por estar tanto tempo no quarto trancada _ estávamos apenas lhe esperando_ ela fez questão de apontar.

_obrigada_ ela respondeu seca, mesmo sem a mínima vontade de comer recebeu o prato. A questão é que tinha muito trabalho a fazer. Era uma pilha de documentos para serem lidos e processados e oh, ela nem ousava pensar que ainda tinha que fazer um trabalho para suas aulas do 4º período, valendo a nota final!

_você deveria descansar um pouco querida_ sua vó interrompeu o momento tenso em sua doce voz_ sabe, a cabeça precisa de “férias” também.

Lili apenas acenou e enfiou uma colher de purê de batatas antes que dissesse algo rude e impróprio. Férias? Seu chefe no estágio não sabia o que era férias, fim de semanas, feriados... ela duvidava mesmo se ele sabia o que significava descanso. Não, ela tinha batalhado por quase dois meses para ser contratada como estagiaria júnior nesse escritório, o salário era bom e tinha a promessa que ela poderia crescer dentro do escritório e, quem sabe um dia, poderia ser associada como advogada.

Isso se ela sacrificasse a alma ao diabo como estava fazendo agora.

Ah não, ela estava reclamando? De novo? Lili sabia que não deveria fazer isso, afinal, aquele estágio seria bom para o seu currículo e dava para ela pagar seu pequeno quartinho perto da faculdade.

Mas ainda assim... ela imaginou que a vida seria um pouco mais fácil quando ela entrasse no curso superior. O primeiro ano tinha sido terrível, mesmo com o dinheiro que pode acumular antes, descobriu que viver em uma grande cidade por conta própria era muito caro: alimentação, transporte, aluguel, os livros que tinha que comprar, a internet para seus estudos, os quilos de xerox que tirava toda semana. As despesas eram muitas. Não era atoa que os demais alunos que tinham vindo do interior como ela, aqueles que não tinham uma família que os mantivesse, tiveram que abandonar o curso logo no primeiro semestre.

Mas Lili estava determinada!

Trabalhou em uma lanchonete e fazia faxinas nos finais de semana. Estudava dentro dos coletivos, metrôs, pela madrugada.

Tudo isso fez esse ano sair extremamente desgastante. Isso e também a ausência de....

Não!

Ela não pensaria.

Não mencionaria.

Ela era alguém determinada.

Fazia dois anos agora. Ela tinha superado tudo, por quer, de verdade, nunca houve nada...

Oliver tinha ido embora. Quando soube notícias suas, ele já tinha ido para o exterior. A princípio era apenas um intercâmbio que o pai dele tinha obrigado ele a fazer, mas depois ele fugiu. Literalmente.

Mas, como as coisas com ele nunca são obvias, Oliver tinha partido para ser voluntário em uma organização não governamental no Haiti, ajudando na educação de crianças carentes.

Haiti! E tinha pego malária lá. Mas, mas ao invés de vir para casa como sua mãe tinha ordenado, ele partiu para o Quênia e, até onde Lili ficara sabendo, ele ajudava a construir poços nas áreas rurais mais afetadas pela seca naquele país.

Mas tudo isso eram informações soltas e espessas. Hoje, ela não sabia de seu paradeiro.

E mesmo que uma dor aguda a atingisse, ela dizia para si mesma que não se importava. Lili tinha seus próprios problemas. Problemas reais, concretos.

E agora, ela finalmente conseguira alguma estabilidade com esse estágio, mas ele consumia todo o seu tempo, cada ínfima parte dele. Até mesmo às aulas ela tinha que falta para dá contar da sua carga de trabalho, era contra a lei, mas oh o paradoxo, seus chefes não estavam nem ai para isso.

Mas isso não era coisa para os ouvidos de sua família. Na simplicidade daquela reunião, que ela quase não iria, mas foi, depois de muita insistência da sua mãe, sabia que eles não entenderiam. Para eles, passar na faculdade era está com o futuro garantido. Não os culpava, nem por um momento, afinal, só queriam sua filha e neta juntos, passando um feriado divertido.

Lili suspirou e forçou um pouco mais de comida garganta a baixo. Sabia que estava abaixo do peso e deus sabe que nem tempo para comer tinha, então aproveitou o momento, afastando uma sensação que a tempos vinha lhe sondando. Que ela era miserável.

Que ela estava sozinha.

Não tinha amigos.

E nem mesmo sua mãe estava perto dela agora.

O que sobrará dela quando tudo isso terminar? E quando irá terminar?

 

Após o almoço, ela tentou voltar ao trabalho, chegou até a abrir o notebook e os arquivos que estava analisando antes de ser interrompida, mas não conseguiu. Ficou por alguns instantes apenas olhando o brilho da tela do computador, sem realmente ver o que havia lá.

Sabia que a súbita vontade de enterrar a cabeça nas mãos e chorar era devido ao desgaste mental. Mas saber disso não ajudava em nada. De repente, sentindo-se claustrofóbica no quarto que dividia com a mãe (que era mesmo maior do que ela alugava na capital), decidiu ir para fora, dentro, o restante da família conversa sobre coisas banais que para ela não fazia sentido algum. Então sentou-se na varanda de casa que dava para rua.

Nessa hora do dia não havia alma viva passando e não a assustaria se passasse aquela nuvem de poeira rodando pela pista como acontecia nos velhos filmes de faroeste americanos. Só havia uma leve brisa.

Sentada no chão, ela trouxe os joelhos para cima e os abraçou, apoiando a cabeça. Lili olhava apenas para rua, não tinha nenhum objetivo ali, mas sabia que não conseguiria voltar para o quarto e para o que a aguardava.

Com a mente em branco, decidiu contar.

Um... dois.... três... quatro...

Quando chegasse em cem, ela se levantaria, tiraria a sujeira do bumbum e voltaria para o seu trabalho.

cinco.... seis.... sete.....

ela tinha que voltar e trabalhar.... oito....

Ela podia dá conta.... ela TINHA que fazê-lo.... nove....

Dez....

Onze...

Doze....

Distante, ela podia ouvir um carro se aproximando.

Treze....

Era um táxi branco que parou bem na frente de sua casa. Ela apertou os olhos para tentar enxergar além do fumê que cobria o vidro, mas não fora preciso, logo aportava aberta e então ele saiu.

Levou apenas um segundo para ela o reconhecer e seu cérebro processar a informação a tempo dela perder o folego.

Oliver!


Notas Finais


Olá a todos O/, alguns apontamentos:
1) Apesar dessa história ser ficcional, os fatos narrados por Lili em seu estágio SÃO COMPLETAMENTE VERDADEIROS, baseados em fatos vividos pela própria pessoa que vós escreve. É um verdadeiro abuso! É desumano e degradante viver nos escritórios de advocacia desse país.

2)Na minha cidade os táxis são brancos... então espero que alguém tenha notado a referencia do príncipe que sempre chega no cavalo branco para resgatar a heroína... notou?... não!? Tudo bem, próxima....

Obrigada mais uma vez por todos que acompanham esse pequenino caso. O próximo capítulo será o último.
Beijos, abraços e afagos.


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