História Era uma vez... Um Vampiro?! - Epilogo

Um novo dia acabava, quando finalmente tomei coragem para sair da cama. Caminhei pesadamente até a janela, vendo o pôr-do-sol sofregamente. Hoje faz cinco anos que ela partiu, deixando apenas para trás o seu perfume e a falta que me faz a sua presença. Daria qualquer coisa para a ter de volta e para me sentir novamente vivo em seus braços. Mas o tempo não volta para trás e comigo sempre carregarei essa dor.

                Todos os dias eu a visito, onde delicadamente enterrei o seu corpo, falando-lhe tudo aquilo que não consegui enquanto ela estava viva. Não queria pensar nesta data como um aniversário, afinal esta data não era feliz. Mas era inevitável. Lentamente fui descendo as escadas da mansão, tendo o Pantufa a correr na minha frente. O guizinho no seu pescoço ecoava pela casa, apenas trazendo a minha memória, aquelas doces e torturantes recordações.

                No jardim atrás da mansão, uma lápide repousava em silêncio, marcando o local onde ela agora descansava pela eternidade. Olhei o túmulo e permiti-me chorar, mais uma vez. Sobre ele, várias flores de baunilha e um ramo de rosas brancas jaziam em concordância com as orquídeas azuis, que todos os anos ali apareciam. Sinceramente, até hoje não consegui descobrir quem deixava aquelas flores ali, contudo também era algo que não me importava muito saber.

- Olá princesa. Olha quem te veio visitar hoje… - Sentei-me no chão, passando a mão no pêlo do Pantufa, que subira para o meu colo. – O dia de hoje é triste, então não tenho grande coisa para te contar…

                Calei-me assim que me apercebi da presença de alguém ali. Aquele cheiro era inconfundível, fazendo-me fechar o cenho.

- O que queres aqui, Laito? – O gato saiu do meu colo e foi até ele, roçando-se nas pernas dele, como se desse as boas vindas.

- Redimir-me, eu acho… - Ao vê-lo aproximar-se, notei que em suas mãos estava uma orquídea azul viva. O ruivo simplesmente ajoelhou-se diante do túmulo, levando as suas mãos a terra humedecida pela chuva e lá começou a fazer um pequeno buraco. - Ela morreu por minha causa, porque eu a roubei da segurança dos teus braços. Ela amava-te, sabias? Acho que fui unicamente movido pela inveja naquela noite…

                Eu permaneci em silêncio, apenas ouvindo o que ele falava. Suas mãos ficavam sujas de terra, enquanto algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto. Estaria eu a ver bem?

- Naomi foi a única que me mostrou o que era carinho, apesar de ser rigorosa nas suas aulas. – Vejo-o retirar a planta do vaso e coloca-la naquele pequeno buraco, que lentamente ele começou a tapar, sujando ainda mais as mãos e a roupa. – Esta é a minha forma de lhe pedir desculpa, mesmo que isso não a vá trazer de volta…

- Nenhuma desculpa a trará de volta e imagino que nem ela quer abandonar a paz que finalmente encontrou… - Deixo aquelas palavras saírem pesadamente da minha boca, vendo-o olhar para mim. – Nós devíamos de a ter protegido… Infelizmente, quem a devia proteger era a sua maior ameaça.

- Tiveste a sorte de experimentar aquilo que nenhum de nós jamais conhecerá… Mas ao mesmo tempo, ficaste com a maldição de carregar a dor da perda pela eternidade.

- Carregarei tal fardo com gosto. – Fechei o cenho e levantei-me, olhando-o de cima. – Cada segundo que passei com ela, valerá por uma vida inteira…

                Seu olhar sobre era triste e sinceramente, era possível ver o seu arrependimento. Mas agora era tarde demais para chorar, era tarde demais para pedir desculpa ou redimir-se. Dei costas ao ruivo, deixando-o sozinho diante do túmulo. Pantufa seguiu na minha frente, saltitando freneticamente, brincando com tudo o que lhe aparecia. Sorri ao olhar para ele, vendo a mesma energia da dona fluir naquele felino, que de certa forma, havia sido a única coisa que havia restado. Nossa história podia ter sido a mais bela e improvável história de amor, infelizmente morreu e tal como uma flor que não volta a florescer quando murcha, também ela não voltaria mais para mim.

                Contudo, no meu coração Naomi existiria para todo sempre, fazendo-me lembrar de que a podia arrepender-me de muita coisa, mas jamais de a ter conhecido. Apesar daquele vazio, todos os meus sorrisos eu devia-os a ela, bem como todas as boas lembranças que carregaria comigo até a morte.

Fim