História Eros - Prólogo

Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Calorosa. Alegre. Viva. A cidade de Deus fazia jus perfeitamente ao seu apelido: a oitava maravilha do mundo. Mesmo com as desgraças rotineiras e os incontáveis defeitos, o Rio de Janeiro erguia-se sob o olhar do Cristo Redentor, esbanjando o conhecido espírito brasileiro. E, posso dizer, naquele dia não havia uma pessoa qualquer que não se deixasse seduzir e contagiar pela beleza da praia de Ipanema.

Era lá onde ela mais gostava de estar. Entre as ondas, com seus cabelos molhados e o corpo curvilíneo coberto apenas por um biquíni. Alice Montenegro era a típica garota que esbanja sorrisos de confortar corações, sempre distribuindo-os a não só conhecidos como também desconhecidos. Aos dezenove anos, estudava medicina e sonhava com um futuro brilhante pela frente: iria pendurar seus diplomas em seu consultório e decorá-lo com todo seu capricho, encher seu apartamento de cachorros e ter dois filhos. Eram ideias convencionais e perfeitas demais para a realidade. 

Talvez seu perfeccionismo seja um reflexo do quanto deseja que algumas coisas sejam diferentes. Podemos começar com o exemplo da sua relação com o pai, que não classifica como menos do que desastrosa. Na verdade, ela nunca foi diferente e Alice sempre associou o pai à frieza e à distância. Ele devia ter lá seus motivos, certo? Mas que culpa ela tinha por ter causado a morte da mãe ao nascer? Seriam seus olhos, então, por serem tão azuis quanto os da falecida? Nada disso importava no final das contas. 

Fora do âmbito familiar, tudo corria bem. Até o fim de um relacionamento de dois anos ela conseguiu superar ao menos parcialmente, e a lembrança do que um dia foi um amor jurado eterno tornou-se mais uma cicatriz que Lice — como gosta de ser chamada — insiste em esquecer e fingir que não existe. Não é para menos, aliás, já que o namoro acabou desastrosamente depois de uma falsa suspeita de gravidez e uma traição.

Foi mais ou menos seis meses depois do término que Rafael entrou de supetão em sua vida como quem não quer nada. Era a calourada da UFRJ e, entre vários copos de cerveja, o trote dos calouros e conversas jogadas fora os dois acabaram se esbarrando, e o que só devia durar uma noite acabou durando uma semana, um mês, um ano... Não que eles tenham algo entre si perto de um relacionamento; não, longe disso. É algo mais como um ''acordo de uso mútuo'', onde os dois admitem que não querem nada mais do que sexo entre si e ninguém sai magoado por criar expectativas demais.

Expectativas. É exatamente nesse ponto que tudo dá errado, mas funcionava perfeitamente entre Alice e Rafael.

Não funcionava?