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História Error - Exposto


Escrita por: Litalea_Draak

Capítulo 10 - Exposto


Fanfic / Fanfiction Error - Exposto

A primeira coisa que fiz ao acordar foi procurar por Yifan. Não estava no quarto, me levantei correndo e o procurei por todos os cômodos.

Ele não está em casa. Já são quase quatro da manhã.

— Yifan! — Disse alto, na esperança de que ele estivesse escondido em algum lugar.

Sai de casa em desespero, preciso encontrá-lo. Usei as escadas, olhando em todos os andares abaixo do meu e em todo o térreo. Avistei um vigia noturno próximo da saída do prédio, corri até ele.

— Senhor, você viu se algum garoto saiu do prédio durante a noite?

— Como é este garoto que procura? Muitos jovens saíram no fim da tarde. — Sorriu simpático.

— Ele é loiro, alto e deveria estar usando uma touca ou boné.

— Ah, sim. Ele saiu a algumas horas.

— Sabe para onde ele foi?

— Não.

— Certo, obrigado!

Me despedi com um aceno já deixando o local. Segui em direção a praça em que íamos juntos, estava completamente deserta. Passei por, literalmente, todos os locais em que costumávamos ir.

Eu já não aguentava mais correr, minhas pernas não se mexeram, fui ao chão. Há horas estava chorando — não entendia exatamente o porquê, talvez por medo de perde-lo ou de que algo acontecesse. Sentia meu coração batendo com desespero, minha garganta seca e o gosto de sangue em meus lábios. Meu corpo inteiro doía juntamente de minha mente e peito.

Tentei me levantar, o que foi completamente falho.

Ouvi risadas vinda em minha direção, vi um grupo de amigos próximos a esquina. Os chamei, pedi ajuda, não recebi resposta alguma. Eles passaram por mim como se eu não existisse.

— O que faz aqui?

Olhei ao redor, a procura do dono da voz.

— Por favor, responda.

— Onde você está? — Perguntei alto.

— Em todo o lugar. Você pode me ajudar? — Ouvi passos, a pessoa se distanciava.

— O que quer?

— O mesmo que você. — Uma baixa risada... — Você sabe por que ele não estava lá?

— Não.

— Então, o porquê de ele mentir para você?

— Não...

— Vamos, queremos a mesma coisa: encontrar Yifan. — Novamente passos, desta vez se aproximando rapidamente. — Deixe-me te ajudar primeiro.

Um homem parou a minha frente, sua mão direita foi estendida em minha direção. Hesitei por alguns segundos, mas acabei aceitando. Ele me ajudou a levantar e a ficar em pé.

— Diga-me onde mora, o levarei de volta.

— Eu não...

Não sei que aconteceu, minha energia pareceu ser drenada de meu corpo. Em menos de um minuto simplesmente apaguei.

 

✘ ✘ ✘ ✘ ✘

Despertei com uma forte dor de cabeça, abri meus olhos com calma. Estava em meu quarto, em minha cama.

— Que bom que acordou. — A voz de Yifan soou ao meu lado, olhei imediatamente em sua direção.

— Foi um sonho. — Disse abraçando-o forte.

— Não foi um sonho. — Seus braços me apertaram contra si. — Precisamos conversar.

 

✘ ✘ ✘ ✘ ✘

— Vai me dizer?

— Sim. — Suspirou derrotado. — Eu não quero que aquilo aconteça novamente.

— O que, exatamente, aconteceu?

— Você não se lembra de nada, mesmo? — Neguei com a cabeça. — Quando te encontrei estava com um homem, estavam conversando e você desmaiou.

— O que aconteceu depois?

— Eu não deixei que você continuasse com ele.

— Sei que não foi isso o que aconteceu.

— Eu tentei conversar com ele, mas acabamos brigando.

— Pedi para que não fizesse isso novamente.

— Me desculpe, mas foi necessário.

— Espero que tenha sido a última vez.

— Pode ficar tranquilo. — Ficou em silencio por alguns segundos. — O que está fazendo?

— Estou com fome e não vou deixar essa massa de panquecas que você fez de lado. Vai querer também? — Virei-me para si.

— Por favor. — Sorriu.

— Pode ir me contando tudo o que esconde, desde o início.

— Primeiramente, eu vim de um lugar muito longe daqui. — Separei as panquecas prontas em dois pratos e os coloquei sobre a mesa. — Esse lugar se chama Ehldrianlly. Lá não existem pessoas como você.

— E como são? Más? — Me sentei a sua frente, lhe empurrando um dos pratos.

— Alguns, mas.... Eles são como eu. Existem vários tipos de pessoas em Ehldrianlly. Eu faço parte dos Felans, nós conseguimos nos transformar parcialmente ou completamente em felinos.

— Eu juro que estou tentando acreditar. — Enrolei e mordi uma das panquecas.

— Eu posso provar.

— Você consegue se transformar completamente em um gato? Não é brincadeira nem nada, só fiquei curioso...

— Tao, poderia fechar os olhos por alguns segundos? Não estou acostumado a fazer isso na frente de alguém. — Suas bochechas estavam vermelhas.

— Tudo bem... — Fechei os olhos.

Não demorou muito para que eu sentisse algo em meus pés. Olhei embaixo na mesa, havia um pequeno gato de pelos loiros ali. O peguei maravilhado, sem acreditar no que estava vendo.

— Isso não é nenhuma brincadeira, certo?

O pequeno gato assentiu com a cabeça, como se entendesse tudo o que digo.

— É surreal. Como se agora eu estivesse sonhando... — Acariciei as orelhas do felino em meu colo. — Volte ao normal, por favor. — Ri baixo. — Eu não vou fechar os olhos dessa vez.

O gato saltou de meu colo para o chão, fiquei atento a cada movimento seu. Ele se sentou e logo foi envolvido por um fraco brilho, seus pelos foram se alongando e se juntando, formando o que chamamos de pele. Cobri os olhos um pouco assustado com o que poderia vir a seguir.

— Não precisa se preocupar, estou vestido. — Disse após alguns segundos.

Voltei minhas mãos à mesa, abri meus olhos com calma. Ele estava do mesmo jeito que antes, as roupas sequem estavam amassadas.

— Como isso é possível? — Questionei boquiaberto.

— Após anos tendo que nos transformar e voltarmos nus, evoluímos. Felans não são a única espécie capaz de fazer isso. — Voltou ao seu lugar a mesa, comendo com certa vontade.

— Existem outros como você por aqui?

— Aquele garoto que veio aqui, desconfio de que também tenha vindo de Ehldrianlly. Você conhecia aquele homem com quem estava ontem? — Encarou-me sério.

— Não, eu ao menos consegui ver seu rosto.

— Sobre o que conversavam?

— Ele disse que também estava a sua procura, que iria me ajudar.

— Por favor Tao, não saia de casa durante a noite ou até mesmo sozinho.

— Onde estava ontem?

— Eu precisava de ajuda, mas não encontrei ninguém com o conhecimento necessário.

— Que tipo de ajuda?

— Como um médico, mas que entenda sobre o lugar onde vim.

— Você é saudável, até demais. Por que procurava por um médico assim?

— Não era para mim. É para você.

— Por que?

— Você ficou mal desde que se encontrou com aquele garoto, eu tenho quase certeza de que ele fez algo.

— Yifan, eu posso pedir algo? — Perguntei baixo.

— O que é?

— Fique sempre por perto, por favor.

— Por que está me pedindo isso? — Encarou-me confuso.

— Estou com medo de que algo aconteça.

— Não precisa se preocupar, eu estou aqui. — Levantou-se e recolheu os pratos vazios, ao menos notei quando comemos tudo.

— Obrigado. — Liberei um pequeno sorriso.

— Também tenho direito a um pedido.

— Certo, o que quer? — Me levantei, ficando parado a sua frente.

— Isso.

Ele segurou me rosto e colou nossos lábios. Acreditei que seria apenas um selinho, mas acabou se tornando um beijo. Meus olhos permaneceram fechados por poucos segundos, apenas apreciando o toque de suas mãos em meu rosto e o beijo de língua que aquilo havia se tornado.

Simplesmente não consigo descrevê-lo. Como meu primeiro beijo, ele superou todas as expectativas e medos que eu tinha. Me sentia leve, meu peito aquecido e a típica queimação nas bochechas.

Eu ainda tinha dúvidas sobre gostar dele, mas, após isso, elas desapareceram como sombras à luz.

 

✘ Pov. Yifan ✘

Hoje é quinta-feira, Tao voltará as aulas normalmente.

Segui com ele e Choa até a escola, o caminho foi calmo, mas eu não queria me despedir.

— Yifan, são apenas algumas horas. — Disse calmo.

— Quando será liberado para ir embora?

— Perto do meio dia.

— Virei lhe buscar.

— Certo! — Abraçou-me.

— Eu estarei por perto, não se preocupe. — Lembrei baixo.

— Obrigado.

Desfiz o abraço e Tao correu em direção a Choa, que estava alguns metros de nós.

Vaguei pela cidade a procura de algum curandeiro ou médico que entendesse sobre Ehldrianlly. Não haviam muitos locais para ir, quando me dei conta estava em frente a biblioteca da cidade. Entrei com certas esperanças, indo diretamente falar com uma recepcionista. Ela marcava algo em um computador, uma pilha de livros permanecia ao seu lado. Assim que notou que eu estava ali desculpou-se e perguntou o que eu precisava.

— Existe algum livro sobre Ehldrianlly? — Perguntei calmo.

— Ehldrianlly?

— Sim.

— Creio que não temos nada sobre aqui.

— Você tem certeza? É um pouco urgente.

— Bom, na biblioteca não temos nada., mas já conheço uma pessoa que entende bem sobre o assunto. Todos o chamam de Enya. Ele deve estar no hospital neste momento. — Olhou para um relógio acima de nós.

— Aconteceu algo com ele?

— Não. — Riu baixo. — Ele visita as crianças que estão lá.

— Obrigado. — Suspirei aliviado.

— Espero que ele possa te ajudar em sua pesquisa sobre Ehldrianlly. — Sorriu.

Agradeci novamente e sai do local, caminhando até o hospital. Ele fica próximo a escola onde Tao estuda, apenas alguns quarteirões de distância.

Levei cerca de dez minutos para chegar ao centro hospitalar, mais cinco até encontrar a área certa.

Não é muito diferente do restante do hospital, apenas com algumas decorações e pinturas infantis nas pareces. Ouvi risadas, segui até elas.

Várias crianças estavam brincando com um homem, aparenta ter uns vinte anos. Apoiei-me no batente da porta daquele enorme quarto, sorrindo involuntariamente com a cena. Uma garotinha chamou atenção do homem com quem brincava, ela apontou em minha direção. Ele sussurrou algo em seu ouvido e depois se levantou. Veio com calma em minha direção. Sua estatura baixa e rosto infantil lhe deixava com aspecto fofo, o sorriso que exibia não era muito diferente.

— Olá. — Cumprimentou baixo. — Posso ajudá-lo em algo?

— Eu espero que sim. — Fiz uma breve pausa. — O que sabe sobre Ehldrianlly?

— O suficiente.

— O que você é? Faz parte de qual clã?

— Você já ouviu falar nos guardiões da Deusa?

— Celesker?

— Não.

— Você teve a chance de escolher entre mais de um clã sem ser exilado. — Disse baixo, surpreso. — Não é um hibrido.

— Correto. Mas, em alguns momentos, devemos abrir mão de nossos dons.

— O que você fez?

— Podemos conversar sobre isso em outro local? As crianças precisam descansar.

— Como quiser.

Enya se despediu antes de seguirmos para fora do hospital, caminhamos até a escola.

— Por que estamos aqui? — Perguntei ao paramos em frente ao portão.

— Alguém aqui precisa de ajuda. — Ele entrou sem qualquer dificuldade, o segui com calma.

— Como sabe? — Já estávamos próximos dos corredores das salas.

— Esse era um de meus dons: ver a verdade. Infelizmente isso já está fraco.

— Pode me dizer agora o que fez para que perdesse tudo?

— Claro, desculpe-me. Eu fazia parte de três clãs.

— Quais?

— Hunat (N\A: Criaturas que vivem em total harmonia com a natureza. Utilizam ervas para criação de remédios e poções, se alimentam somente do que a natureza lhes proporciona), Liwat (N\A: Vivem nas águas. É como uma sociedade separada vivendo somente embaixo d’água, também podem caminhar em terra, mas por tempo limitado e com certa proteção) e Wildren (N\A: Filhos do Vento. Eles têm o poder de controlar os ventos, podem até voar por conta disso).

— Incrível!

— Sim. — Riu baixo. — É uma dadiva você ser de mais de um clã ser sofrer exilio em Ehldrianlly.

— Enya, existem mais de nós por aqui?

— Ouvi sobre um hibrido, ao que parece ele estava na Coréia do Sul há alguns anos.

— Sabe seu nome?

— Não... — Parou em frente a uma das salas.

Enya empalideceu. A porta da sala estava aberta, não hesitei em olhar seu interior.

Tao estava ali, em pé enquanto escrevia algo no quadro. Sua mão se movia rapidamente, seus olhos não piscavam uma única vez. O giz que usava se partiu, ele não parou. O foco de sua atenção não mudou por um segundo sequer.

— Enya... — Chamei baixo, pasmo.

— Tire ele dali.

Segui com pressa até Tao, o puxando para longe do quadro. Ele desmaiou em meus braços, como se estivesse saído de um forte transe. Enya correu até mim.

— Você o conhece? — Perguntou surpreso.

— É por ele que eu estava a sua procura. Eu preciso de sua ajuda, Enya.

— Este garoto sabe sobre você?

— Eu já lhe contei algumas coisas, confio nele.

— Desculpe.... Eu... — Deu alguns passos para trás. — Eu acho que não poderei te ajudar...

— Como? Por que?!

— Existe alguém mais forte por perto...

— Por favor Enya, eu imploro para que me ajude a salvá-lo!

 

✘ Pov. Tao ✘

Eu não me lembro de voltar para casa, mas quando despertei estava aqui. O quarto estava um pouco bagunçado, Yifan está com outra pessoa perto da porta.

— Quem é? — Perguntei me sentando na cama.

— Enya.

— Enya?

— É um amigo meu.

— Certo... — Senti fracas pontadas em minhas mãos, as encarei confuso. — Por que minhas mãos estão tão arranhadas assim? — Levantei o olhar para Yifan.

— Você não se lembra do que fez? — Caminhou até mim, Enya veio logo atrás de si.

— Não. O que aconteceu? Eu deveria estar na escola...

— Lá não era seguro. — Enya disse firme.

— Tao, qual é a última coisa da qual se lembra? — Perguntou me abraçando de lado.

— Estávamos na aula de Educação Física, eu pedi ao professor para ir ao banheiro...

— Havia alguém com você?

— Não. O que aconteceu? — Repeti a pergunta feita a minutos atrás.

— Nós te encontramos na sala de aula. Você estava escrevendo a mesma frase diversas vezes, estava em transe.

— O que eu escrevi?

— Estava em outra língua. — Enya.

— “Desculpe, me ajude”. Essa é a tradução.

— Não pense muito nisso, certo? Você precisa descansar.

— Não estou cansado.

— Tao, por favor.

— Eu estou bem! Não precisa se preocupar Yifan.

— Por que ele te chama de “Yifan”?

— É o nome dele!

— Se lembra que eu disse que te contaria tudo aos poucos? — Parecia um pouco irritado. Concordei com a cabeça. — Posso te explicar o restante depois?

— Por que não me diz agora?

— Você precisa de tempo!

— Para quê? — Virei-me para Enya. — Descobrir que está morando uma pessoa que veio de um mundo completamente diferente do seu e que ela pode se transformar em felinos já não é o suficiente para minha cabeça entrar em colapso?! O que mais pode me deixar louco?!

— Saber que pode morrer por saber essas coisas! — Yifan disse alto, nos assustando. — Enya está aqui para te ajudar, não para que fiquem brigando!

— Me ajudar em que?

— Existe alguém mais forte te usando.

— “Usando” como?

— É o que precisamos descobrir. Talvez seja um antigo rival de Yifan ou seu, essa pessoa fez com que você adoecesse.

— Enya irá me ajudar a encontrar uma forma de reverter isso.

 

✘ ✘ ✘ ✘ ✘

— Yifan? Está acordado? — Perguntei baixo.

— Agora estou. O que quer? — Virou-se para mim.

— Eu pedi desculpas ao Enya...

— Fez o certo. — Sorriu sonolento.

— Você vai me contar sobre seu nome? Eu você acabou de conhecer Enya e ele parece saber mais de você do que eu...

— Wu Yifan é o nome por fui registrado aqui, mas o meu verdadeiro nome é Kalen.

— O que significa?

— “O que tem os códigos”.

— O que seria “os códigos”?

— Não sei, até hoje não descobri.

— Você sabe que as vezes um código é o próprio erro?

— Sim, no seu caderno com teclas é “404” o código que aparece na tela. — Riu baixo.

— Sabe o que significa?

— Não, o que é?

— Aquilo que você procura não foi encontrado. E o nome é “Notebook”, não “caderno com teclas”. — Foi a minha vez de rir.

— Vou me lembrar disso. — Sorriu.

— Yi... Kalen. O que aconteceu com seus pais?

— Minha mãe morreu quando eu ainda era um bebê, meu pai desapareceu quando completei dez anos.

— Nossa.... Desculpe por te perguntar sobre....

— Não se preocupe, não sou tão fraco assim.

— Mas eu sou!

— Você é bem forte, apenas não sabe.

— Sabe... Já existiu algo sobre alguém de Ehldrianlly se apaixonar por alguém da Terra?

— Eu nunca ouvi sobre, mas estou passando por isso.

— Está apaixonado por alguém?

— Não estou apenas apaixonado, estou amando essa pessoa.

— É o Enya, não é?

— Não. É você.

Minhas bochechas queimaram, as palavras desapareceram de minha mente. Permaneci em silencio por alguns segundos, reuni toda a coragem que restava em mim e dei início as minhas últimas perguntas.

— Qual sua idade?

— Dezenove anos, aqui.

— E em Ehldrianlly? É muito diferente?

— Perdi a conta. — Riu.

— Você não parece ser tão velho.

— Enya é mais velho que eu.

— Não acredito.

— Pode acreditar, ele tem vinte e dois anos aqui.

— Impossível!

— Do mesmo jeito que é impossível crer que tudo isso é real.

— Ainda tenho minhas dúvidas sobre isso ser um sonho.

— E isso? — Aproximou nossos rostos, selando nossos lábios rapidamente. — Tem certeza de que é real?

— Ainda estou em dúvida. Poderia me dar mais um para que eu tenha certeza?

— Como desejar.

Ele me deu mais um selinho, mas fiz questão de transforma-lo em um beijo. Algo simples, mas que significou muito para nós dois. Não demorou muito para que nos separássemos.

— Tao, existe algum problema em ficarmos juntos?

— Eu não vejo problema algum.

— Então, você também...

— Já fazem algumas semanas que descobri que te amo. Você está um pouco atrasado, gato idiota.

— Por que não me disse antes, criança medrosa?

— Estava com vergonha, não havia encontrado o momento certo ainda.

— Ainda sente medo?

— Um pouco, me sinto bem quando estou ao seu lado.

— Quero que continue assim. Irei livra-lo de todo o medo que sente.

— Obrigado por estar comigo, Kalen.

— Obrigado por me permitir estar com você.

 

✘ Pov. Kalen (Yifan) ✘

 

✘ ✘ ✘ ✘ ✘

Eu não iria deixar que Tao continuasse sozinho na escola, sem qualquer pessoa para protege-lo se algo acontecesse. Eu me encontrava na forma de um simples gato doméstico, seguindo-o pelos corredores e salas. Foi a oportunidade perfeita para descobrir mais sobre sua rotina.

Não, ele não sabe que estou aqui.

Encarei o relógio acima do quadro negro, mais alguns segundos e todos seriam liberados para o intervalo. Adentrei aquela sala de aula sem me importar com os olhares caindo sobre mim. Segui diretamente até o lugar de Tao, me deitando próximo aos seus pés.

O sinal ecoou alto, me causando grande incomodo. Miei baixo, Tao levantou-se com cuidado e abaixou-se ao lado da carteira.

— O que está fazendo aqui? — Disse pegando-me colo. Uma de suas mãos me mantinham perto de si enquanto a outra acariciava minhas orelhas. — É perigoso.

Ele caminhou para fora da sala, subiu um lance de escadas que havia ali perto, o que o levou a outro corredor.

Miei novamente, um pouco confuso. Ele entendeu aquilo que eu queria lhe perguntar.

— Estamos indo até o telhado, uma parte dele é liberada aos alunos. Poucas pessoas vão até lá.

Ele parou ao estar próximo de uma pequena sala, abriu a porta usando certa força e entrou calmamente. Mais alguns lances de escadas e eu já podia ver a porta do terraço completamente aberta. Tao parou de andar somente quando encontrou um pilar velho, com um pouco de sombra. Ele se sentou ali, me deixando no chão ao seu lado.

— Pronto, não tem ninguém aqui.

Me deitei, sem importar-me com o que falava.

— Não é você, Yifan, certo?

Um baixo miado fez com que ele suspirasse derrotado. Jogando sua cabeça contra o pilar de concreto em que se apoiava.

— O que estou pensando? Ele tem mais coisas para fazer. Sabe, você se parece com ele.

Acariciou minhas costas, fechei os olhos apreciando o carinho.

— Eu prefiro chama-lo de Kalen agora. Apesar de ser seu nome verdadeiro, ele tem um significado mais forte.

Riu bobo e me levantou, aproximando meu rosto de seu peito. Um abraço desajeitado.

— “O que tem os códigos”, não acha um significado legal? — Levei uma de suas patas até seu lábio inferior, brincando. Ele sorriu, tive a certeza de que ele não desconfiaria que sou um gato comum. — Me sinto um pouco idiota por estar conversando com você.

Ouvi o sinal para que voltassem a sala soar ao longe, Tao não se mexeu. Arranhei levemente sua mão direita, chamando sua atenção.

— Não, eu não quero ir. — Pendi a cabeça para o lado. — Não estou preparado para uma aula de artes.

Senti alguém se aproximar, uma estranha presença. Paralisei, vasculhando o lugar com os olhos e dando pequenos passos para a frente.

— Hey, o que foi? Não tem nada ali. — Puxou-me para perto novamente. — Se acalme...

— Me desculpe, não sabia que tinha companhia. — O mesmo garoto que esteve em casa surgiu logo a nossa frente. Ao menos pude perceber quando ele se aproximou.

— O que você quer? — A pergunta de Tao soou mais fria do que eu esperava.

— Apenas conversar. Você está bem?

— Não é da sua conta.

— Ora, vamos! Não estou aqui para lhe fazer mal algum.

— Pouco me importa. Vá embora.

— Só depois de me disse sobre Yifan. Ele ainda está em casa?

— Não.

— Aonde foi?

— Não é da sua conta! — Se levantou, ainda comigo em seus braços.

— Olha só, não vi você aqui. — Pegou-me com certo nojo e superioridade. — Que pena, odeio gatos.

Ele fez menção de jogar-me longe, mas Tao segurou seu braço. O olhar que trocaram demonstrava total ódio um pelo outro.

— Me devolve o gato. — Pediu firme.

— Claro.

Ele abriu a única mão que me segurava, foi de encontro com o chão rapidamente. Quase que instantaneamente desferiu um soco no estomago de Tao, ele não pode ao menos perceber seus movimentos.

— Você vai me ajudar, Tao. Não se preocupe.

O garoto passou a caminhar na direção da saída do terraço, Tao não se moveu por alguns segundos. Não estava conseguindo me mexer, pedi por ajuda.

— Ele te machucou muito? — Ignorou a dor que sentia e sorriu para mim. Senti uma lágrima caindo por meu rosto. — Vamos, eu vou te levar até a enfermaria.

Ele fez como havia dito, carregou-me até chegar na calma sala dedicada a enfermaria da escola. Havia um jovem homem lá, Tao mentiu para si dizendo que havia me encontrado pela escola e que apenas estava com dores no corpo.

O jovem homem disse que eu estava bem após alguns minutos de analise, Tao tomou um remédio para ajudá-lo em relação a dor que sentia.

— Ele só precisa descansar um pouco, logo estará como novo. — Disse entregando-me à Tao.

— Obrigado.

— Você tem um bom coração garoto, cuide bem dele.

— Pode deixar. — Sorriu.

Saímos da sala sem muita pressa. A escola estava calma demais, os corredores silenciosos.

— Eu preciso voltar para aula, vou te deixar aqui no jardim.

Passamos pela cantina com pressa, logo parando em frente a uma bela árvore.

— Descanse, eu volto para te buscar assim que sair.

Fez-me um último carinho antes de correr de volta aos corredores.



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