História Erupção - Finalmente Londres

“Estou indo para casa, Noel”. Essa era a mensagem de texto que Sara havia me mandado. Uma frase. Após ter mentido, fazendo-me ter uma desagradável surpresa e ficar preocupado, uma única frase. E pior: como se nada tivesse acontecido. Talvez ela só tivesse ido até a padaria e ficado presa por causa da tempestade, e se assim fosse, realmente nada teria acontecido, mas custava ligar? Não respondi nada.

 Fitei a janela, água escorria do vidro. Mordi o lábio inferior torcendo para que ela estivesse bem. Teria ido de táxi? Ou estaria encharcada? Ficaria resfriada ou...

—Pai! Pai! —Um Donovan afobado entrou correndo no quarto, enquanto gritava altíssimo, cortando meu raciocínio— Sonny pegou meu ursinho! Ele vai jogar na rua! Ele ‘tá lá fora!

—Calma, para de gritar Donovan. —Pedi, virando-me para ele ligeiramente assustado—  O que aconteceu?

—Rápido, pai! —E o menino fugiu em direção à cozinha, comigo a ir atrás— Sonny disse que ia jogá-lo lá fora!

 Quando cheguei no jardinzinho, que mais era uma espécie de quintal, estava preparando alguma bronca levemente moralista para usar contra Patrick. Entretanto, chegando lá não havia ninguém. Só um ursinho de pelúcia no meio da chuva, provavelmente arremessado pelo portão não muito alto.

—Meu ursinho! —Revirei os olhos—Meu ursinho! Eu vou matar o Sonny.

 Deixei escapar um sorriso indiscreto, depois abri o portão e busquei o bicho. Quando olhei para trás, no entanto, não havia nenhum Gallagher. Imaginei se ele havia saído para se vingar do irmão. Ignorei e prossegui, recolhendo o brinquedo, trancando a porta e procurando o secador de cabelo de minha esposa. Deveria secar a pelúcia rapidamente.

 Foi um erro ter ignorado. Ouvi alguns gritinhos confusos, passos fortes, uma briga. Também tinha latidos, o que indicava que meu cachorro, Tommy, estava perto das crianças. Então suspirei, passando a mão pelos olhos pesadamente.

—Sonny e Donovan, não me façam ir até aí! Vou bater... —Hesitei— Vou deixar os dois de castigo! Desçam já aqui!

 Imaginei se Anaïs ainda estava no banho e o que os demais estariam fazendo que não puderam impedir a briguinha infantil dos caçulas. De qualquer forma, talvez a responsabilidade fosse realmente só minha. Não importa, a primeira coisa que vi, quando decidi ir apaziguá-los, foi Donovan sendo empurrado da escada pelo menorzinho, talvez por acidente durante a troca de empurrões e pontapés.

—Sonny, o que você fez? —Vociferei— Você é louco?

—Ele... Ele rasgou o Damas!

 Quando tornei a olhar, porém, foi assustador e aliviante ao mesmo tempo. Don tinha sido empurrado, mas quem tinha sofrido o impacto era Tom. A escada não era muito grande e o cachorro estava logo abaixo. Quando Patrick empurrou o irmão, Rory acabou caindo em cima do animalzinho, que se encontrava praticamente esmagado. Não sei de onde Jack surgiu, todavia lá estava ele, gritando insanamente.

***

 Amber havia esperado pacientemente até que a porta da casa do Gallagher fosse aberta. De súbito, levou um susto. O rosto do vocalista estava um pouco inchado e os olhos marejados.

—O que você quer...? —Indagou de prontidão, antes de perceber quem era—Ah... Amber.

 Passou as mãos pela face, na tentativa falha de esconder que estava... Chorando? Liam Gallagher? Derramando lágrimas deprimido e solitário? A mulher engoliu em seco, observando-o momentaneamente, com dificuldade de assimilar as coisas. Depois buscou adentrar.

—O que houve? —Ponderou sobre o assunto— Por que estava...

—Não. —William interrompeu bruscamente, respirando fundo— Er... Esqueça isso. E-eu v-vou ao banheiro. Limpar o rosto. Espere um pouco.

 A modelo segurou-lhe o braço, contudo não foi forte o suficiente para impedi-lo. Derramou-se no sofá, pensando sobre o que poderia ter acontecido enquanto estivera fora e chegou a culpar-se mentalmente por ter demorado tanto na casa de Nicole, todavia precisava esperar a chuva cessar para voltar a casa. Arfou uma única vez, refletindo se valera a pena perder um acontecimento daquele nível (a ponto de deixar Liam choramingando!) para não se molhar.

 No entanto, quando o Gallagher chegou perto, já estava de pé, fitando-o com os olhos arregalados e curiosos. Esboçou um sorriso ansioso, que se desfez ao ouvir a voz falha do homem:

—Vou deitar-me. Estou cansado. Amanhã a gente conversa sobre Johnny.

—Não vai! —Protestou— Diga-me o que houve. Separou de Debbie? —Ele negou revirando os olhos— Brigou muito feio com Gene? E ele fugiu de casa ou preferiu o Noel, como fez Lennon?

—Basicamente isso, briguei com Gene. —Estremeceu ao mencionar o nome do filho— E penso que ele foi para casa de Noel. Não é tudo que houve, nem o principal, mas... É o resumo. Apesar disso não se preocupe, estou bem. Concentre-se em você, okay? —O cantor rascunhou um sorriso rebuscado, porém compassivo, com esforço visível. Ia se retirando, no entanto foi praticamente arremessado no sofá por Heard.

—Senta aí. E pode confiar em mim, eu confio em você. —Então sentou-se ao lado, aninhando-se nos braços do vocalista— Somos amigos. E o pior que pode acontecer é eu contar todos os seus segredos em um jogo de verdade ou desafio. —Satirizou, arrancando pequenas gargalhadas do outro.

—Já disse que estou bem, Amber. —Deitou a cabeça da mulher em seu colo, acariciando os cabelos enquanto suspirava— Porém, não acho seguro você dizer que somos amigos. Ser meu amigo não tem se mostrado muito vantajoso.

—Para mim, tem. —Sorriu sem que ela pudesse ver.

—Estou fazendo o meu melhor e mesmo que não seja suficiente, não me vejo no direito de me arrepender. —William emendou rapidamente.

***

 Não fazia muito tempo que o jatinho tinha pousado, mas os garotos já estavam tirando selfies e mexendo no celular animados. Suspirei, balançando a cabeça negativamente. Era para ser uma surpresa. Era.

 Olhei para Ali que estava saindo do avião com duas malas, as quais peguei para levar. Não estavam muito pesadas, pois eu havia solicitado que ninguém trouxesse muita coisa. Vamos passar poucos dias em Londres.

—Ainda bem que chegamos vivos. —Ela ironizou— Com essa tempestade pensei que não conseguiríamos.

—E assim que chegamos a chuva parou. Ironia? —Rimos juntos, depois depositei um selinho em seus lábios.

—Onde vamos ficar?

—Um hotel. Vamos pagar a estádia, guardar as crianças e descansar.

—Guardar? —Ela gracejou, depois fez um bico com a boca e soltou com a voz manhosa— E onde entra a parte de namorar um pouco? —Me fez sorrir maliciosamente.

—Entre guarda-los e descansar. Mas espero que não seja só um pouco. —Tentei roubar um beijo, no entanto ela se afastou libidinosamente. Tornamos a gracejar. Amo essa irlandesa.

—Também pretendo beber bastante. —Comentei molhando os lábios— Liguei para o Noel e ele pareceu animado com a ideia de fazermos uma competição, como nos velhos tempos.

—Pensei que "era para ser uma surpresa". —Me imitou com a voz, fazendo-me revirar o olhar.

—Sim, sim, mas eu precisava saber se ele estava de turnê ou não. E afins. —Observei Elijah dar uma espécie de soco no braço do irmão e protestei a longa distância— Meninos, direito!

—Estão só brincando, deixa eles. —Alison pediu serenamente, buscando seu celular nos bolsos.

—Estão brincando como se fossem Gallaghers, não como se fosse Hewsons.

 A ativista fez uma pose para foto. Eu sorri, deixei as malas no chão e a abracei por trás, sussurrando:

—Então agora você quer que eu chegue perto, não é?

 E ela tirou a foto no exato momento em que mordisquei sua orelha. Ainda pude observa-la postando em qualquer lugar com os dizeres "Eu+Bono em Londres".