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História Escarlate - Passagem


Escrita por: Capricornia

Notas do Autor


Oi gente, desculpa a demora...
Espero que gostem do capítulo
Boa leitura!

Capítulo 19 - Passagem


Me jogo sob o tatâmi sem nem conseguir respirar direito,  meu peito subia e descia com violência e meu coração estava acelerado. Já era nosso quinto dia de treino, treinávamos noite e dia sem pausas. Eu estava mais que cansada, mas não iria desistir tão fácil, afinal eu estava até melhorando. Aprendi alguns movimentos rápidos e ágeis, além de outros mais lentos e fortes.

_ Tudo bem, agora você pode ir comer algo. Eu preciso olhar como anda a investigação - George estava um pouco suado, mas não apresentava sinais de cansaço.  -  Continuamos em três horas - Disse saindo da sala.

Tiro as faixas da minha mão observando os ossos de meus punhos um pouco machucados e ensanguentados. Me levanto e vou na cozinha comer algo. Pego um pedaço de pizza do dia anterior e a como fria, parecia até um leão de tão esfomeada. Se Valentina me visse comendo dessa forma ela iria me dar uma bronca daquelas "coma devagar, se não vai engasgar". Ri sozinha com meu pensamento. Sentia uma falta dolorida daqueles olhos verdes se aprofundando nos meus. Sentia falta do cheiro de seus cabelos, de como eles ficavam engraçados quando ela acordava. Saudades de seu rosto fofo pela manhã e sua voz rouca ao acordar.

Em pouco tempo eu já chorava debruçada no balcão da cozinha. Precisava dar tudo de mim para salvá-la. Espero que ela esteja bem, espero que ela esteja viva...

P. O. V.  Valentina

Abro os olhos com a claridade em meu rosto, parecia ser uma luz vinda de uma fresta atrapalhando meu sono. Minhas pálpebras pesavam e minha cabeça doía como se tivesse levado uma coronhada.

Olho em volta, eu estava em um galpão sujo que cheirava peixe estragado. Sentia o cheiro do sangue seco em minha face, graças ao tapa que levei.

Me ajeitei na cadeira dura de madeira, meus braços doíam devido a forma como eles estavam presos por trás da cadeira. Minha garganta ardia de sede e minha barriga doía de fome. Eu devo estar desacordada a alguns dias devido a reação do meu corpo a isso tudo.

Um homem grande e careca entra na sala de parede descascada em que eu estava e dá meia volta um pouco apressado. Alguns minutos depois um velho de vestes caras e uma bengala com uma cabeça de cobra entra na sala, puxa uma cadeira que jazia no canto e se senta à minha frente.

De início ele apenas me encarou com os olhos apertados e um sorriso irônico nos lábios avermelhados. Ele ajeita seu topete para trás e lambe os lábios.

_ Você me parece muito seu pai - Bufo.  Estava cansada de ouvir aquilo, principalmente depois de ontem. Foi tudo tão de uma vez e tão chocante que ainda não conseguia organizar as idéias em minha cabeça.

_ Gostaria de dizer algumas coisinhas -  Disse o homem erguendo a sobrancelha pontuda e arrumada. - Primeiro: Seu pai tem duas semanas pra se resolver. Se não você morre.

Segundo: Nossa intenção não é machucar você, só se necessário. Sou famoso por fazer pequenas e dolorosas cicatrizes.

E por último: Desculpe-me por isso.

O homem de cabelos grisalhos se levantou e ergueu sua bengala como se estivesse segurando um bastão de basebol pronto para rebater a bola. Logo sinto uma dor forte na parte de trás da cabeça e tudo some de uma vez.

Sinto algo gelado batendo em meu rosto e uma falta de ar repentina me desespera.Haviam jogado água na minha cara que entrou pelas minhas narinas. Começo a tossir tentando tirar aquilo das minhas vias nasais antes que eu sufocasse.

O homem bem vestido entra novamente em meu campo de visão. Ele segurava uma tesoura grande e um chumaço de cabelos loiros entre os dedos. Os meus cabelos.

_ Me desculpe senhorita, se não se importar eu peguei um pedaço de suas madeixas para mandar de presente para o papai George. -  Ele ri sarcástico e  joga o cabelo em um plástico transparente.

Ouço um barulho de tiro, e outro.  Algo cai no chão e quebra. O homem se levanta as pressas e some do quartinho. Me sinto sufocada de medo e meu coração parece que a qualquer momento sairia do peito.

Ouço um grito abafado de um homem, depois outro, depois outro e vejo os primeiros rastros do conhecido cabelo ruivo ultrapassar a porta e então, em um lampejo, surge a pessoa que fez, naquele momento, minha respiração falhar. 

_ Ângela? - Tentei falar, mas não tinha forças suficiente para dizer algo alto, então apenas sussurrei.

Ela sorri se aproximando e me dá um pouco de água na boca, que tomei com grado, sentido todo meu corpo ser hidratado.

_ Você está bem? - Assenti e ela passa o dedão na ferida da minha bochecha, fechei os olhos pra conter a dor. - Vem, precisamos correr, antes que ele acorde.

_ Ele quem? - sussurrei e ela me olha preocupada. 

_ Vamos sair daqui primeiro, depois conversamos sobre isso. 

Ela vai para a parte de trás da cadeira e corta as cordas com uma espécie de faca e depois corta a corda que prendia meus pés. Passa meu braço esquerdo sobre seus ombros e me levanta. Andamos apressadamente pelo galpão escuro, cheio de caixas de madeira. Homens estavam desacordados, alguns sobre seu próprio sangue. Meu corpo doía a cada passo, mas a adrenalina de sair de lá era mais forte e me fazia ignorar as pontadas fortes na minha nuca.

Enquanto eu me esforçava para correr, Ângela tentava aguentar meu peso. Ela estava mancando, parecia estar machucada e fazia careta a todo minuto. Até não aguentar mais e me soltar, caindo de joelhos sob o chão acimentado e sujo. Eu me agachei a sua frente e ela segurava sua barriga, onde havia uma enorme mancha avermelhada sujando quase toda a camisa branca e suas mãos também estavam muito sujas de sangue. 

_ Fuja, vá logo. Eu não consigo aguentar mais, já perdi muito sangue. - Ela disse baixo e tossiu um pouco, espirrando sangue na minha roupa. 

_ Eu não vou te deixar aqui nesse estado. - Ela não conseguia falar, juntei todas as forças possíveis e a carreguei para fora daquele galpão. 

_ Aquela vã preta, a chave está no meu pescoço... - Ela desmaia e o desespero toma conta de todo o meu ser, pego a chave de seu pescoço e corro até a vã a colocando no banco da frente. 

Rasgo a parte inferior do meu vestido e amarro sobre a ferida tentando estancar o sangue. Aperto o sinto sobre seu corpo e subo no banco de motorista. Procuro um celular, que acho no posta-luvas. Dou partida no carro e digito o número de Mariana, manchando a tela do celular de sangue. 

" Aqui é a Mariana, não posso atende-lo no momento. Favor deixar sua mensagem após o bipe." - Droga Mariana, é a Valentina, me encontra no hospital por favor. É urgente! Eu... - A ligação corta e vejo que o celular estava com a tela desligada. Espero que tenha enviado a mensagem. Jogo o telefone de volta no porta malas e continuo a dirigir o mais rápido que posso. 

P.O.V Mari

Eu estava pela primeira vez com George sendo nocauteado em uma chave de braço, ele se vira e passa a perna por cima da minha cabeça e eu começo a sentir falta de ar. Bato no tatâmi me rendendo. Ele afrouxa o golpe e se levanta, estende o braço pra que eu possa me levantar e depois nós fazemos reverencia. 

_ Você não está tão ruim assim! - Ele diz bebendo água.

_ Sai dessa! Eu nunca vou conseguir salvar Valentina assim... - Digo abaixando a cabeça e limpando as gotas de suor que se acumularam na minha testa.

 Pego meu celular sob a cadeira e vejo que tem uma mensagem eletrônica. Estranho, nunca recebo esses tipos de mensagens. Aperto o play: um barulho de carro acelerando, uma respiração descompassada. Arregalo os olhos ao reconhecer o som daquela respiração. Uma gota de suor escorre da minha testa à ponta do nariz e pinga no meu colo. 

"Droga Mariana, é a Valentina, me encontra no hospital por favor. É urgente! Eu..." - Mensagem finalizada.

Fico encarando o chão e sinto uma vertigem, começa a surgir um nó na minha garganta. 

_ Você está bem Mariana, parece estar pálida... - George se aproxima e nada sai da minha boca, apesar de ter tentado falar. Então apenas o entrego o celular. Ele pega o aparelho e coloca na orelha. Seu rosto muda e ele me encara, deixando o celular cair. Sua mandíbula estava endurecida, George se levanta. - Vamos, precisamos ver o que está acontecendo.

Chegamos no hospital alguns minutos depois, George havia dirigido igual um louco pela estrada. Entro correndo e o homem vai na recepção perguntar sobre a filha e me pede para esperar ali. Vou para a sala de espero e vejo uma moça de vestidos rasgados e cabelos loiros e imundos encolhida no canto da sala. Corro e me agacho a sua frente.

_ Valentina? - Ela tira a mão do rosto, vermelho e molhado pelas lágrimas. Ela não fala nada, apenas me puxa para um abraço. 

Quando nos afastamos eu reparo que ela estava com um curativo no rosto e profundas olheiras. Passo o dedo sob o curativo e ela faz uma careta fofa de dor.

_ O que aconteceu, por que está aqui na sala de espera? - Ela me olha e eu sinto como se meu coração tivesse quebrado em milhões de pedaços. 

_ Ângela, tiro, muito sangue... - Sua voz estava tão fraca que não saia. Escutei pois estava muito próxima de seu rosto. E ela voltou a chorar inconsolavelmente escondendo o rosto na dobra do meu pescoço. 

George chegou na porta e eu pedi pra que fosse embora, pois ela já tinha coisa demais na cabeça para assimilar aquilo. Passamos aproximadamente 12 horas naquele hospital esperando alguma notícia, Valentina não quis ir embora até aquele momento. 

Valentina dormia com a cabeça apoiada em meu ombro quando o médico chegou, com uma prancheta sob mãos e ajeitando os óculos no rosto.

_ Valentina? - Ela abriu os olhos lentamente e assentiu. -Bom... A cirurgia não funcionou muito bem, seu estomago foi perfurado e ela perdeu muito sangue e liquido. Ângela ainda está consciente, mas não por muito tempo. Ela pediu pra falar com você antes... - Ele respira fundo. Aquilo parecia incrivelmente doloroso para ele, médicos podiam ser ótimos atores. - Antes de ela falecer...


Notas Finais


Espero que tenham gostado.
Beijinhos, até a próxima!


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