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História Escarlate - Transeunte


Escrita por: mrs_hoshino

Notas do Autor


Desculpem a super demora!!! 😣😣😣
Tive problemas técnicos e aí as férias ainda emendaram... Enfim... Demorei bastante 😛
Mas aqui está um capítulo fresquinho pra vocês, espero que gostem ❤

Capítulo 11 - Transeunte


— Me solta! — a feiticeira rosnou enquanto debatia seu corpo em desespero, mas o guerreiro mantinha-se impassível.

 

Num descuido de Fataliz e graças ao incansável esforço instintivo para escapar, Luna sacudiu seu corpo o bastante para que o tecido da blusa que vestia, e que o moreno mantinha preso firmemente sob seus dedos, cedesse.

Sentiu seu corpo se chocar contra o chão de terra e, sem querer colocar sua vida em risco mais uma vez, ela rolou seu corpo para o lado, erguendo-se em um salto para encarar Fataliz de uma posição mais… segura. Mas a falta de firmeza nas pernas a fez vacilar e o movimento súbito deixou o moreno alerta.

 

— Nem pense nisso, mais um passo e eu mesmo mandarei sua cabeça de presente pros mercenários!

 

Luna tremeu com o rosnado violento de Fataliz, tinha conseguido se soltar das mãos dele, mas não podia fazer muito mais naquele estado. Era impensável considerar que tinha uma chance contra ele e, mesmo que tivesse, não conseguiria atacá-lo. Algo a impedia de considerar feri-lo para se salvar e ela sabia que aquilo era ridiculamente sentimental de sua parte.

 

— E-eu não tinha a intenção de atacá-lo, Fataliz, deixe-me explicar... — Ela mantinha as palmas erguidas para ele, um pedido silencioso para que se acalmasse.

 

— Claro... — A voz dele era sarcástica, quase zombeteira. Sua mente estava zunindo, aquela voz... ela o estava enlouquecendo... — Meu pescoço tem a mesma opinião... Por que não vem aqui logo e poupa nosso tempo?

 

— Quer parar e me ouvir?! — Apesar de estar tremendo, a voz dela foi forte o suficiente para calá-lo. Seu corpo tremia, as pernas fracas esforçando-se além do limite...

 

Os olhos do moreno deixaram transparecer sua surpresa, mas não durou muito e ele logo cruzou os braços na frente do corpo. Se ela lutava tanto pra falar, lhe daria esse privilégio antes de matá-la... Matá-la? Era isso que queria? Ele indagou a si mesmo. Era uma boa recompensa não é mesmo? A que ofereciam por ela. Seus pensamentos o confundiam ainda mais... Era conhecido por nunca hesitar e aqui estava ele, hesitando com uma presa tão frágil. A ouviu respirar aliviada enquanto baixava a guarda, os olhos cravados nos dele impedindo que qualquer um dos dois se movesse e quebrasse o contato.

 

— Ela... Era parte do que os mercenários fizeram comigo. — Como explicaria isso a ele? Era complexo demais até mesmo para ela que estava acostumada a ouvir sandices mágicas desde que se entendia por gente... — Uma espécie de ilusão.

 

— Ilusão? — Ele ergueu uma das sobrancelhas, questionando a si mesmo sobre o quão verdadeira podia ser tal informação. Era possível feiticeiras iludirem-se a si mesmas? Com qual intuito? Não deveriam ser imunes como as cobras são aos seus venenos?

 

Ela assentiu em silêncio, dando um passo pra trás e sentindo o tecido que revestia a tenda de Nabucodo logo atrás de si, escorregou até sentar-se no chão. Já estava cansada disso tudo. De ser perseguida e ter seu corpo e mente destruídos dessa forma... Dessa guerra sem sentido e de como todos a promoviam sem perceber... Algo no olhar do moreno retribuía aquele sentimento, ela não podia estar louca ao ponto de imaginar isso. Ela podia sentir o cansaço que ele emanava.

 

— Que tipo de feiticeira é atacada por si mesma? — Apesar de não ter tido a intenção, a voz dele era zombeteira, o que atraiu um olhar enraivecido dela.

 

— Não sou bem uma feiticeira, nenhum conhecimento comum se aplica a mim. Nessas horas até os deuses querem arrancar minha cabeça... Eu não sou exceção — Ela encolheu-se, apoiando a cabeça nos joelhos e escondendo-a entre os braços.

 

Fataliz bufou, agitando os cabelos, sentia que ia se arrepender, mas todo aquele mistério simplesmente não permitia que a abandonasse. Os mercenários a caçavam como lobos famintos, não fariam tanto estardalhaço só por uma traidora... Ela era importante, a grande questão era descobrir o porquê, só assim ele entenderia onde havia se metido e como poderia livrar-se do problema. Seu senso de honra e justiça era forte demais para apenas deixar tudo pra lá e largar a jovem novamente à própria sorte, a qual se provara não ser tão grande assim.

Seus passos eram decididos, a protegeria como se ainda fosse um guerreiro honrado que preza a vida dos injustiçados, nada mais. Concordou com seu próprio objetivo mais uma vez conforme se aproximava, finalmente estendendo a mão até a cabeça dela, afagando-lhe sem nenhuma gentileza.

 

— Te levarei até a Cidade das Feras, de lá terá de se virar. — Ele ficou em silêncio por um breve momento antes de prosseguir. — Mas antes vamos tratar disso. — Indicou as feridas dela com a cabeça.

 

Ambos levaram os olhos até as pernas nuas dela,  Luna estava apenas com sua blusa cobrindo-lhe até metade das coxas, os ferimentos bem evidentes. "É um belo par de pernas"...ótimo, este era o primeiro pensamento que lhe ocorria numa situação assim. Subiu o olhar para o rosto dela, tentando manter-se "frio" com aquela visão e com as ideias libidinosas que seu instinto repetia sem parar em sua cabeça.

 

— Espero não me arrepender — o guerreiro disse finalmente, atraindo a atenção dela.

 

As palavras camufladas naquela frase certamente eram uma sentença de morte, caso ela o enganasse ou algo do gênero. Luna não sabia bem o porquê de ele a estar ajudando, mas assentiu, sentia-se segura com ele, mesmo tendo visto o monstro que ele era capaz de se tornar. Podia facilmente partí-la ao meio se quisesse... Ela estava mesmo preparada para correr esse risco? Talvez fosse essa a ligação entre eles, os monstros nos quais se transformavam e sobre os quais não tinham controle algum...

Quando Luna voltou a si, ele tinha se afastado e entrado na sala onde costumava passar a maior parte do tempo, voltando pouco tempo depois com dois embrulhos em mãos e estendendo-lhe um deles. Enquanto ela abria seu embrulho, sentiu as mãos do moreno em suas pernas e o olhou surpresa, suas mãos firmes lhe causavam pequenos arrepios enquanto lhe tocavam suavemente.

Fataliz tinha aberto o outro embrulho, revelando um recipiente com água, algumas ataduras e uma espécie de cantil, e começava a lavar as feridas dela, que já começavam a secar num estado repugnante. O silencio se manteve cruel, o embrulho na mão dela se mantinha meio aberto enquanto ela observava atenta o trabalho do outro, que se mantinha concentrado sem dar atenção ao olhar que recebia.

 

— Isso vai doer um pouco. — Ele levantou o olhar por um segundo, apenas para vê-la assentir, e logo voltou sua atenção para o que fazia.

 

Num movimento rápido, virou o conteúdo do cantil nas pernas dela, ensopando as feridas com álcool. Teve de segurá-las com força quando ela as recolheu por reflexo. Ele podia sentir pela tensão em seu corpo o quanto aquilo estava doendo, mas mesmo assim ela apenas se contorceu, sem emitir nenhum som. Estava se fazendo de forte? Ele conteve uma risada, concentrando-se em envolver as feridas com as ataduras que pegara. Não pretendia, mas acabava se demorando ao máximo para prolongar aquela sensação quente que tocá-la lhe proporcionava, talvez fossem só efeitos da vida sem prazer que vinha tendo...

Bateu as mãos uma na outra, dando o trabalho por encerrado e abandonando qualquer pensamento estranho que pudesse vir a ter. Não era hora nem lugar pra isso. Quando se livrasse da feiticeira de uma vez ia providenciar uma boa prostituta para aliviar seus desejos animais, ia ser uma das primeiras coisas na sua lista de afazeres. A segunda seria entender o que se passara na mente de Nabucodo para fazer o que supostamente havia feito.

 

— Obrigada — ela murmurou, desviando o olhar do dele. Era a segunda vez desde que se conheceram que ele cuidava dela assim, não podia deixar isso se tornar um hábito.

 

— Consegue se levantar sozinha? — Ele já estava de pé e estendia-lhe a mão, que foi imediatamente recusada com um aceno de cabeça dela.

 

Luna observou-o se afastar e soltou um suspiro vazio, sabia que seus dias de paz tinham acabado... Isso se eles um dia existiram. Agora certamente a recompensa por sua cabeça seria maior e com isso o número de caçadores atrás dela seria ainda maior... Além dos alados, claro, que a tinham visto junto dos mercenários e não se preocupariam em procurar saber seu real envolvimento com eles antes de vir atrás dela com seus arcos e flechas afiadas.

Olhou para o embrulho em suas mãos e terminou de abri-lo com calma, seu nariz captou um cheiro um tanto desagradável pouco antes do conteúdo ser revelado, mas logo percebeu o porquê. O pedaço de carne meio assado parecia fresco, mas mesmo assim a aparência não era das melhores. Seu estômago protestou contra a demora em finalmente receber comida, pouco se lixando sobre que tipo de comida era, e ela olhou em volta constrangida antes de abocanhar a carne como se sua vida dependesse daquilo.

Mal teve tempo de sentir o prazer da carne descendo pela sua garganta antes de ouvir um cavalo se aproximar, não foi a única, percebeu, ao ver Fataliz aparecer e pegá-la nos braços.

 

— O-o quê?

 

— Calada. — Ele a encarou sério, os olhos fuzilando os dela quase como uma agressão.

 

Fataliz a carregou até sua tenda, pousando-a no chão apenas alguns segundos antes do cavalo chegar ao acampamento. Não era preciso ver para saber quem montava o animal, ambos sabiam que se tratava de Nabucodo e a garota agarrou-se aos braços do moreno como um instinto de proteção. Ela ainda não tinha certeza se ele estava do lado dela ou não, as coisas nunca são tão simples na guerra. Ela tinha sido tola o bastante para acreditar nisso uma vez, e as lembranças ainda a torturavam...

 

— Soldado!

 

— Sim, mestre? — A voz do moreno era alta, o que fez com que Luna se arrepiasse num primeiro momento.

 

— He he, está aproveitando as férias que te dei? — A voz sugestiva do loiro vinha bem da entrada da tenda e confundiu os dois. O que aquilo deveria significar?

 

— Senhor... — O moreno revirou os olhos, impaciente.

 

— Está certo, guerreiros precisam de um bom pedaço de carne pra se distrair... — Luna percebia o ar impaciente no olhar de Fataliz, sentia-se acuada e constrangida, mas ele parecia não perceber. — Bom, quando acabar aí, pegue suas coisas. Está liberado de suas funções.

 

Os dois se entreolharam e permaneceram em silêncio até que os passos de Nabucodo se distanciassem o bastante. Ela afrouxou o aperto no braço dele, mas Fataliz não se afastou. Sua cabeça estava distante, vagando nas palavras de seu superior... Eles tinham um acordo, um objetivo em comum, e agora tinha sido simplesmente descartado. Como se Nabucodo tivesse achado um modo de cumprir seu objetivo e não quisesse partilhá-lo com ele...

 

— Esteja preparada. — Ele começou seu caminho para fora da tenda, parando apenas para olhar para ela por sobre o ombro. — Partiremos ao anoitecer.

 

Ela assentiu, sem pensar muito no que estava concordando até ele sair da tenda. Apesar de não se sentir mal na companhia dele, ele exalava perigo e uma coisa que ela tinha aprendido era manter distância de pessoas perigosas e imprevisiveis. Ainda mais se elas tivessem o dobro do seu tamanho e pudessem parti-la ao meio com um espirro.

Bom, era verdade que ele a tinha acolhido e ajudado mais de uma vez... e ela se sentia segura como há muito não acontecia quando estava com ele... mas... algo no olhar de Fataliz era simplesmente mortal. Ele exalava morte.

Tocou os curativos em sua perna, surpreendentemente menos dolorida, e suspirou. Não podia vacilar agora. Agarrou o sobretudo de Fataliz que estava dobrado servindo-lhe de travesseiro e vestiu os "restos mortais" de sua calça, cuidando para que nenhuma atadura saísse do lugar no processo. Olhou em volta, sentia que não era justo deixá-lo sem sequer um aviso, mas precisava sobreviver sozinha como sempre fez. Não faria sentido ir para a Cidade das Feras, já que ele poderia alcançá-la no caminho, mas ao mesmo tempo não tinha muitas opções...

 

— Penso em algo no caminho — decidiu-se.


Abriu a tenda o suficiente para ver se tinha alguém em seu caminho, Fataliz estava parado na frente da tenda de Nabucodo, do outro lado do acampamento. Parecia decidido a esclarecer alguns pontos da decisão de seu superior, o que certamente acabaria numa discussão... Ela aproveitou-se da chance curiosamente conveniente e passou pela entrada da tenda, apressando-se para passar por cima da cerca na parte lateral. "Apressando-se" não era a palavra certa para se usar, considerando que ela mancava enquanto se arrastava pelo caminho.



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