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História Escarlate - Pretérito Quase Perfeito


Escrita por: mrs_hoshino

Notas do Autor


Demorei? Demais x.x
Mas trouxe um cap fresquinho pra vocês!
Espero realmente que gostem... Depois de todo esse tempo espero que a espera valha a pela! ;)

(Essa frase ficou um pouco confusa, eu sei ;u;)

Capítulo 9 - Pretérito Quase Perfeito


Fanfic / Fanfiction Escarlate - Pretérito Quase Perfeito

Após alguns dias trancafiada na cela tendo acesso apenas aos poucos pedaços de pão que Salovar conseguia levar para ela, Luna estava suja da terra que encobria as pedras do chão e sentia-se fraca e cansada. Mas aparentemente, depois de torturá-la um pouco com esse castigo seu antigo mestre achou que ela era digna de estar em sua presença e ordenou que a levassem até seu encontro.

A retiraram da cela sem nenhum cuidado durante a noite, a feiticeira já estava sonolenta, mas despertou rapidamente ao ter os braços agarrados por mãos fortes e ser obrigada a ficar de pé com um solavanco. Assim que saiu daquela “prisão”, piscou algumas vezes para seus olhos se acostumarem com a escuridão, conseguindo destinguir algumas árvores altas que eram iluminadas suavemente pelo fraco brilho da lua. Sob elas, alguns postes improvisados com largas vigas de madeira e lampiões de querosene iluminavam o local, revelando diversas tendas alinhadas lado a lado.

Foi arrastada aos tropeços para uma tenda um pouco maior que as demais, localizada ao lado de todas as outras fileiras. Ainda assustada, a feiticeira captou com sua audição aguçada o som de um pássaro atravessando o céu com poucas estrelas, ele camuflou-se na escuridão até assumir seu lugar no ombro do homem, exibindo suas penas negras e longas, que estava sentado num trono improvisado feito de ossos e peles de animais bem no centro da tenda. Seu rosto estava coberto com um capuz, mas mesmo assim Luna pôde ver sua boca contrair-se em um sorriso quando foi jogada a seus pés sem nenhum cuidado.

Os cabelos da jovem, antes brancos, estavam tingidos com a terra molhada que cercava o lugar e se espalhava por suas roupas também. Ela ergueu o olhar, mesmo de um ângulo mais baixo era impossível enxergar os olhos do homem à sua frente, mas Luna conseguia sentir o olhar dele queimando o seu. Era uma sensação difícil de esquecer.

— M-mestre... — A voz dela era baixa e trêmula, como se cada sílaba fosse marcada à ferro em sua lingua.

Ele se levantou, caminhando até ela e se ajoelhando à sua frente. Levantou seu queixo para que o encarasse, as mãos firmes apertando-o com um pouco mais de força que o necessário.

— Não precisamos de tanta formalidade, minha princesa... — Seu sorriso era lascivo e fazia com que Luna tremesse, lembrando-a de qual era seu lugar naquela “sociedade”. — Bem-vinda de volta. Agora me diga... — Ele escorregou a mão pelo pescoço dela, acariciando sua clavícula e entrando em sua blusa. Parou subitamente ao mesmo tempo que seu sorriso desaparecia. — Onde está?

Foi a vez de Luna sorrir. Ele esperava que ela só apanhasse em silêncio e ficasse em sua cela esperando este encontro onde finalmente entregaria de bom grado o colar que roubara da última vez que se viram. Mas o homem não gostara nenhum pouco da surpresa que a feiticeira fizera, voltando a mão para o pescoço dela e apertando-o com força.

Enquanto uma onda de medo tomava conta de cada nervo do seu corpo, ela reuniu coragem suficiente para acertar o peito dele com sua mão. Sussurrara palavras discretas desde que chegara naquela sala e, com toda a atenção voltada para seu pescoço, ela conseguira conjurar um ultimo feitiço, envolvendo sua mão numa névoa rubra que se tornou sólida como uma pedra ao entrar em contato com o corpo do homem.

A mão dela não chegou a atravessar o corpo dele, mas o impacto havia sido forte o suficiente para deixá-lo sem ar por um segundo. Ele tossiu sangue, o corpo demorou alguns segundos até responder ao ataque inesperado, segundos estes que foram recuperados quando três soldados avançaram na sua direção, afastando-o da feiticeira.

— Tirem-na daqui! — um dos soldados gritou para os demais, apoiando o seu superior em um dos ombros

— Não! — o homem rosnou em meio ao sangue que escorria de sua boca, seu capuz havia caído revelando longos cabelos negros que cobriam ligeiramente um par de olhos dourados enraivecidos. — Eu vou cuidar dela...

Ele empurrou o soldado que o segurava, desequilibrando-se um pouco, mas logo se recompondo. Seu peito movia-se de forma rápida, demonstrando a dificuldade de respirar ainda presente. Apertava o local atingido com uma das mãos e usou a outra para segurar Luna pelos cabelos, puxando sua cabeça para trás. Manteve o olhar fixo no dela, como se procurasse algo, e sorriu, um sorriso sádico e cruel, jogando-a no chão em seguida.

— Não quer falar é? — Ele puxou a capa com força, descobrindo seu corpo, e a jogando no chão. Puxando um cantil do cinto, se abaixou para que ficasse a poucos centímetros da garota. — Vamos brincar então, como nos velhos tempos... O que me diz?

— Vai... pro inferno. — ela riu, quanto mais o atiçasse mais rápido ele cometeria um erro no plano no qual, se ela ainda o conhecesse tão bem, passara dias pensando minuciosamente.

— Ora... Mas que menininha irritada você se tornou... — Ele levantou, fazendo com que ela o acompanhasse segurando-a firmemente pelos cabelos.

Ele arrastou-a ao seu lado até saírem da sala onde estavam e mergulharem de cabeça no vazio da noite. Alguns soldados caminhavam ao redor, os olhos atentos nos arredores de seu território enquanto as mãos firmes mantinham os arcos preparados para atirar. Além deles, um ou outro guerreiro estava sentado polindo as espadas ou jogando conversa fora, Luna reconheceu o homem que a visitara dias antes na cela no meio deles, Fry ria enquanto dava tapas nas costas do companheiro.

Dez, onze... doze homens no total. Sem contar os que podiam muito bem estar fora de vista, ela calculou mentalmente quantas possibilidades tinha de escapar. Dizer que tinha uma chance cem por cento segura de sair dali seria mentira... mas também não tinha uma que fosse sequer cinco por cento segura então... não fazia diferença.

— Sabe, depois de um tempo os subordinados começam a duvidar da capacidade de liderança do seu chefe... E nós temos que reafirmar essa certeza na mente deles.

Ele admirava seus homens à distância, como que se orgulhando do pequeno exército que reunira numa base tão recente. Voltou o olhar para Luna repentinamente, sorrindo, e sacou sua espada da bainha em suas costas, erguendo-a na frente de ambos e fazendo com que algumas estrelas tímidas se refletissem na lâmina marcada pelos anos de uso.

A garota tremeu com a proximidade do objeto, encolhendo-se um pouco, mas um puxão de cabelo a fez retomar a postura. Os olhos do homem estavam vazios, pareciam hipnotizados pelo brilho da lâmina à sua frente e entorpecidos pelas ideias de como poderia usá-la...

— Eu vou entregá-la... — ela disse por fim, num suspiro temeroso imerso em um tom de cautela. O homem pareceu despertar de seu transe no mesmo segundo, os olhos retomando o brilho ganancioso ao qual ela estava acostumada. — Digo onde ela está se puder usá-la como passagem de volta.

Ele a encarou atentamente por alguns segundos, que mais pareceram uma eternidade, erguendo uma das sobrancelhas. Ela sentia a dúvida e o orgulho pairando entre seus olhares como uma nuvem espessa, tentou parecer sincera, mas certamente ele não sabia mais decifrar tal expressão...

— Não diria que você está em posição de negociar.

— Assim como você não está em posição de recusar uma proposta como essa. — Ela assumira um tom mais confiante, a insegurança momentânea dele a alimentara e agora ela queria mais. — Sabemos quantos anos você desperdiçou atrás daquela pedra... E quero ser eu a lhe entregar a coroa de Pan Gu.

— Para depois roubá-la.

Não se comete o mesmo erro duas vezes, mestre. — Ela sorriu e, a julgar pelas mãos que começavam a afrouxar seu cabelo, ainda conseguia    seduzir alguém mesmo estando suja e machucada como estava. Quem precisa de magia?

Ele manteve o olhar fixo no dela, buscando qualquer sinal, por menor que fosse, de que aquilo não passava de outra mentira. Quando finalmente abaixou a espada, Luna teve que se esforçar para não soltar um suspiro de alívio e se manter firme. Seu antigo mestre podia estar mais forte, mas ainda cometia o erro de subestimá-la demais. Um benefício de ser somente meia feiticeira era não ser considerada uma grande ameaça, nem mesmo para o homem que já a vira banhar-se em sangue tantas vezes...

— Johan! — A garota tremeu com o grito repentino do homem ao seu lado, no segundo seguinte um guerreiro se aproximava, magricela demais para ser um veterano. — Traga um pouco de água para nossa prisioneira.

— S-sim, mestre! — Ele atrapalhou-se um pouco ao dar meia volta em direção a onde os outros guerreiros estavam. Com certeza não era um veterano. O que um líder poderia estar pensando ao colocar um homem assim em sua equipe?

— Poupe os fortes e os fracos não terão morrido em vão. — Ele olhava o horizonte, mas sua mente estava além dele. Demorou alguns segundos até Luna perceber que ele havia respondido à pergunta que ela sequer chegara a fazer. — É um bom ditado...

— A-ah... é sim...

— E então, onde está? — Ele mantinha o olhar distante, sequer se dava ao trabalho de conferir o quão deslavadamente ela poderia mentir.

— Na vila dos serafins.

— Território dos alados? — Ele finalmente a encarou, erguendo uma das grossas sobrancelhas. Tão logo ela assentiu ele bufou, coçando a barba, enquanto seus lábios se contorciam num sorriso frio. — Te ensinei bem, pelo visto... Bem demais...

Mercenários e alados tinham se tornado inimigos mortais por conta da guerra territorial. Ambos eram capazes de tudo para manter seus territórios e conquistar mais terras, embora os limites dos mercenários fossem bem além quando se tratava de violência e falta de escrúpulos. Pelo estado do que restara de seu vizinho de cela, ela sabia que as coisas tinham piorado entre os dois clãs...

Era arriscado invadir o território dos alados, eles podiam se lembrar dela e atacá-la assim que desse o primeiro passo lá dentro... E invadir o território deles acompanhada do líder dos mercenários não ajudava em nada, e estava longe de tranquilizá-la, mas ao menos ela teria chance de fugir em meio ao caos que certamente se formaria. E com um pouco mais de sorte ainda teria o prazer de ver o homem que torturou tantas pessoas por tantos anos finalmente cair com uma flecha atravessando sua cabeça...

Mas isso seria abusar da pouca sorte que tinha.

Johan voltou com um cantil ainda pingando, estendendo-o à Luna enquanto tentava se manter afastado. Ela praticamente arrancou o cantil das mãos dele, entornando a água ligeiramente terrosa garganta à baixo, só então percebeu como sua boca estava seca. Dois dias sem água naquele buraco abafado tinham feito muito mais do que só deixar seus lábios rachados...

— Avise a todos que se preparem para a guerra, invadiremos terras aladas antes do amanhecer... — O líder ignorava a ação primitiva da garota, focando seu olhar nas poucas estrelas que se dividiam pelo céu.

— Mas s-senhor, estamos com poucos hom-

— Agora. — Sua voz saiu como um urro contido, baixo e imperioso, mal camuflando a urgência de tais ações. — E você... — Agora ele se dirigia à garota, que segurava o cantil entre as mãos, ainda um pouco ofegante... — Peça aos deuses para que tenham pena da sua alma caso esteja mentindo... Porque eu não terei.

Luna engoliu em seco, percebendo o quão arriscado era seu plano, e assentiu em silêncio, sentindo-o puxar suas mãos para trás e apertá-las com uma corda forte o bastante para dificultar a circulação e deixá-las dormentes em poucos segundos.

Permitiu-se ser guiada por entre os homens, sentia o olhar de nojo de alguns que certamente tinham ouvido sua história e o olhar de cobiça de outros que simplesmente não conseguiam ignorar seu colo nu por conta da blusa rasgada. Manteve sua postura até finalmente se sentar em um tronco de árvore caído que servia de banco.

Observou alguns soldados que vinham apressados trazer as peças de cobre que o líder prendia em seu corpo com cuidado, a menor brecha poderia ser fatal para qualquer guerreiro, principalmente para os mercenários por conta de todo o ódio que seus inimigos nutriam.

O único pensamento que passou na mente da feiticeira naquele momento foi o de que estava assinando a sentença de morte de todos ali… Ela passou a mão pelos cabelos cheios de nós e sujeira, suspirando com pesar. Tinha prometido que não se envolveria em nenhum banho de sangue nunca mais, mas... tinha que estar viva para cumprir tal promessa.

Só então lembrou-se do fato de que provavelmente Salovar estaria entre todos os mortos no fim de tudo o que vinha pela frente. Não conseguiu impedir a si mesma de arregalar os olhos com a surpresa e sentiu suas pernas bambearem por um momento por conta de sua falta de atenção, havia agido por impulso e de forma egoísta quando viu uma chance, mesmo que mínima, de sair dali, esquecendo-se de seu único amigo.

— M-mestre… — A voz dela saiu mais trêmula do que o ideal para o que ela pretendia, que era não chamar nenhuma atenção negativa para si. Observou o homem lhe encarar por sobre o ombro enquanto ele recebia as peças de sua armadura. — S-salovar…

— Ah, mas que gentil de sua parte me lembrar disso… — ele riu irônico, interrompendo-a e voltando sua atenção para a contagem das peças que se acumulavam à sua frente. — Terei certeza de manter vocês dois bem longe um do outro até que sua lealdade seja testada novamente.

Apesar do tom arrogante presente nas palavras de seu antigo mestre, Luna sentiu um peso sair de seus ombros e sua respiração faltar por um momento enquanto tentava reservar um espaço em seu desejo egoísta, e natural, pela vida para ficar feliz pela possibilidade de seu companheiro não estar incluído no exército que seguiria para a guerra.

— Vai me deixar amarrada? — ela perguntou por fim, quando percebeu o número reduzido de cavalos que os soldados reuniam próximos deles.

— Não é nada pessoal... — Ele deu de ombros, olhando-a de canto enquanto prendia as placas pesadas em seu braço esquerdo. Não se viam muitos guerreiros usando armaduras de cobre mas com certeza ele tinha um motivo para isso, Luna só não tinha decifrado qual ainda... — Mas já tenho preocupações o suficiente e não pretendo que você seja mais uma delas.

— Justo. — Ela deu de ombros, mais preocupada em pensar num plano B do que contestar algo que não daria em nada.

No segundo seguinte o homem a envolveu com um dos braços, forte demais para que ela conseguisse reunir ar suficiente para protestar, e a colocou de bruços sobre o cavalo, ficando cara a cara com ela e sorrindo para demonstrar o quanto aquela situação estava sendo prazerosa para ele.

A garota, por outro lado, estava dividida entre se concentrar em equilibrar-se para ficar longe dos adornos pontiagudos que cobriam o cavalo e podiam facilmente rasgar sua pele ao meio, e se concentrar na dor que sentia em seu abdômen, colocado sobre uma das fivelas da sela de forma nada delicada.

O cavalo se agitou um pouco quando o homem o montou, acariciando sua crina e encarando a garota "pendurada" à sua frente, logo acariciando seus cabelos como os de um animal de estimação, o que a fez revirar os olhos com os punhos cerrados para conter um xingamento que queimava a ponta de sua língua.

Com um sinal de seu líder, todos partiram para o Norte, rumo a uma guerra que, antes mesmo de começar, já sabiam que haveria poucas chances de retornar com vida ou vitoriosos. Mas um mercenário tem que acreditar na própria vitória, então os soldados entoaram a canção da morte que sempre cantavam quando rumavam a qualquer luta ou missão.

Luna ouviu a canção com atenção, sentindo-se nauseada pela marcha fúnebre que invadia seus ouvidos durante todo o caminho.


Notas Finais


O que acharam do novo personagem? Fico ansiosa a cada novo personagem :')
Luna só está se afundando mais e mais na desgraça... Será o fim da nossa heroína ? ;-;


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