História Escolhas e Consequências (Romance Lésbico) - Capitulo 08

A mulher virou-se para Natalie, a encarou profundamente. – Você contou sobre mim ao Sir Lucas?

Natalie ficou pensativa em como explicar a Diana exatamente sobre Sir Lucas. Deveria ser cautelosa, pois Diana poderia perceber se ela mentisse descaradamente.

- Sir Lucas e eu conversamos a pouco sobre o tema.

- Ainda assim não explica por que falou de mim para ele? - Diana questiono.

- Te chateia o fato de falar sobre você? Tem receio que diga o que há entre nós?

- Natalie você possui interesse em homens também? - A morena de olhos azuis franziu cenho, o que seria todo aquele interrogatório, ciúmes ou vergonha dele achar que elas tiveram algo mais que lições de leitura?

- Eu não gosto de determinar pessoas por seu sexo e sim por sua personalidade.

- Então a resposta é sim. - Diana estava se sentindo um pouco incomodada, Natalie disse que compartilhava muita coisa com Sir Lucas, coisas que provavelmente não iria compartilhar com ela.

- Você está querendo insinuar que Lucas e eu...

- Eu não quero insinuar nada. - Diana saiu da cama numa tentativa de não levar o assunto para um lado onde Natalie certamente brigaria com ela e diria que elas não tinham nada, por isso não havia motivo para que a mais nova fizesse tantos questionamentos.

- Diana, preciso que seja sincera comigo. Você está chateada pelo o que exatamente? - Natalie levantou-se e foi até ela.

- Não é nada demais, eu realmente não sei se me chateei por ter me exposto ou se por Sir Lucas saber que sou uma prostituta, uma mulher vulgar.

Natalie se sentiu um pouco decepcionada, se fosse por ciúmes, mesmo sabendo ser impossível, já que ela sabia da grande admiração que Diana sentia pelo o homem, talvez seu coração fosse um pouco consolado.

- Eu não tenho nenhum relacionamento amoroso com Sir Lucas, então não há com que se preocupar.

Ouvir aquilo deu um alívio enorme para Diana, que abraçou Natalie docemente e permaneceu nos braços dela por um tempo. Os braços não eram fortes como os masculinos, não eram musculoso, mas eram suaves, macios e passavam segurança. Diana se sentia em casa, uma breve sensação de lar, coisa que nunca imaginou que pudesse acontecer.

- Venha, vamos nos deitar.

Passaram a noite inteira abraçadas, Natalie não dormiu, apenas velou o sono de Diana. Quando o dia amanheceu, se arrumou para sair do quarto e sentiu no bolso interno do paletó a caixa com o que daria a Diana. Ela se virou lentamente e observou a mulher dormir, era a primeira vez que não acordava antes dela sair. Retirou o presente do bolso, colocou sobre a escrivaninha e escreveu um rápido bilhete e colocou embaixo da caixa.

"Em agradecimento aos ótimos momentos e a paciência."

Dessa vez não esperou Victória, pagou pela noite a Madame Clark, alugou uma carruagem e partiu para casa. Entrou pelos fundos, seu Valete já lhe esperava. Ela tirou o paletó, entregou ao homem, de altura mediana, vestindo trajes formais, aparência dura e um olhar penetrante, de longe um de seus maiores confidente e bastante fiel. Harold Bryant vinha de uma família a qual servia a famílias nobres há anos.

- Devo pedir para alguma das criadas vir ajudar a se trocar?

- Não, por hoje vou permanecer no meu quarto, quando sentir fome tocarei o sino.

- Sim, Milady.

Natalie se jogou na cama e tampou o rosto com as mãos. As coisas estavam se encaminhando para o mesmo final, só que agora a personagem era diferente. Não queria, mas foi transportada ao passado e lembrou-se de Janet, não era prostituta, nem de classe inferior, pelo contrário, sua família tinha brasão e renome. Uma mulher bela, com opinião forte, ambas se conhecerem um baile formal da alta sociedade Londrina, Victória foi a ponte. A mulher era como Diana, idolatrava Sir Lucas, perdidamente apaixonada pelos ideais do homem, isso inflava o ego da morena, afinal ela estava perdidamente apaixonada. Quando revelou a verdade, Janet se mostrou receptiva e feliz com isso, o que deixou Natalie extremamente extasiada, mas aquela sensação passou quando o pai de Janet, Lorde Wilson, um homem afogado em dívidas chegou a sua porta lhe chantageando, pedindo dinheiro em troca de ficar de boca calada. Quando Natalie chegou ao seu limite contou ao seu pai. O pior que Janet não foi um caso isolado, foi apenas o primeiro. A segunda foi Marie Dumont, francesa como ela, as duas passaram momentos maravilhosos, mas Marie nunca seria apenas dela, a mulher escondeu um noivo e um futuro casamento, Natalie só veio a descobrir a verdade no dia do casamento e da mesma forma que o pai de Janet fez, Marie ameaçou contar a todos que ela era Sir Lucas se ela falasse algo a seu tão amado noivo ou a qualquer pessoa sobre o envolvimento das duas. Com isso obrigou Natalie a manter um caso com ela, no qual a morena deveria se manter fiel, passando por momentos abusivos e opressores de Marie, que dizia amar Natalie, mas por conta da sociedade jamais poderia viver com ela. Meses depois Marie Dumont armou um plano para ambas fugirem das garras de seu marido, o que deu errado. O homem as encontrou e descontou sua fúria em Natalie, pois sua mulher deveria estar impecável para os bailes, foram longos meses de recuperação e nenhuma visita de Marie, até o primeiro dia em que pisou no bordel. Na manhã seguinte Marie apareceu em sua casa furiosa, gritando aos quatro ventos que contaria a todos sobre sua identidade, pois Natalie havia sido infiel com ela. Foi a primeira vez que ela confrontou a mulher, as duas tiveram mais dois embates, o relacionamento era literalmente entre tapas e beijos, até que por fim, Lady Natalie decidiu que não se submeteria mais as ordens e aos chamados da mulher. As chances para que algo desse errado entre Diana e ela após a mulher saber sobre Sir Lucas era enorme, sem contar que ficavam ainda piores quando envolvia sentimentos. Seria aquela hora de se afastar? Hora de pensar sobre tudo e se era correto manter algo com Diana sem ser apenas prazer carnal?

Começou a sentir dor de cabeça, aquelas não eram boas lembranças e estava gerando pensamentos ruins, coisas que não deveria estar pensando. Então virou-se na cama e caiu num sono profundo. Como de costume quando pensava nessas situações ou começava a viver coisas parecidas ela tinha pesadelos e eles envolviam basicamente seus medos, tais quais como exposição pública e traição.

- Milady. - Natalie sentiu alguém lhe sacudir, quando acordo era Harry, seu Valete.

- O que houve Harry? - Respondeu sonolenta.

- Já passa das quatro e o Sir Stevens enviou um mensageiro. - Ele entregou a mensagem a Natalie. - Devo preparar o chá da tarde?

- Apenas traga algo para que eu possa comer no quarto, tenho algumas coisas para fazer. - Ao ler a mensagem Natalie sabia que estava pisando em terrenos perigosos. Daniel Stevens era amigo da família Bordeaux, assim como seu pai era, o homem criou uma amizade mais forte por Natalie. Quando o pai morreu ele herdou o jornal Londrino chamado "The Time", pouco depois aceitou publicar uma carta aberta de Natalie, que se passou como Sir Lucas criticando a forma que o governo estava negligenciando as minorias e tratando mulheres como simples bonecas parideiras. A repercussão foi enorme, mas ainda assim Natalie teve um retorno satisfatório, tendo de seu lado algumas Ladys mais velhas que sabiam do perigo de ter filhos e de como seus maridos negligenciavam isso, as tratando como um buraco para enfiar seus pênis. Agora lá havia tocado em outro ponto perigoso, prostituição e tráfico de pessoas, coisa que era proibida por lei é punível com enforcamento. Sabia que a justiça poderia vir atrás dela e exigir provas, então o que ela deveria fazer, se calar?

Ela girava a caneta entre seus dedos, estava num grande impasse.

- Ser ou não ser, eis a questão. - Recitou Shakespeare olhando para o espelho. - Ser! - Era um caminho sem volta, mas ainda assim o caminho certo. Natalie estava entrando em um assunto perigoso, mas sabia que iria evitar que outras Diana Maria Portillo fossem tiradas do seio de suas famílias.