Notas do Autor
Não faltem na aula de gramática, crianças.
Capítulo 1 - Único, como você.
Uma de minhas amigas não gosta de viver.
Eu não entendo.
Ela sorri comigo, chora comigo, se abraça a mim, se encontra em mim, e, juntas, de forma imperfeita e desajeitada, nós nos completamos, sabe?
Ela sempre fala que acha tudo isso uma besteira.
Isso, no caso, é... a vida. Acho.
Ela diz que não concorda. É esforço, regras, planejamento demais para um fim tão óbvio e singelo.
A morte.
A gente cresce, estuda, trabalha e conquista.
E, mesmo assim, não levamos nada no final.
Ela diz que para ela seria mais fácil desistir logo. Tipo... morte. Sabe?
Eu, particularmente, discordo.
A vida não é nada disso, linda.
É tudo diferente.
A sua visão da vida é como se fosse o índice do seu livro favorito.
Nele, estão escritos todas as etapas, as fases, os títulos. É muito superficial.
A vida, de verdade, é igual à minha visão. Eu acho.
O que importa, mesmo, são as trilhas de possibilidades que encontramos ao passearmos por entre as linhas. O que importa são as pequenas frações de instantes únicos que achamos em sintagmas discretos. O que importa é o quão inocente foi o prólogo e o quão valioso será o epílogo. O que importa é o suspiro de alegria que sentimos ao passarmos por mais um capítulo e a ansiedade no virar de páginas.
Você entende, minha flor, o que eu quero dizer com essa metáfora articulada pela minha gramática falha?
Entenda, por favor! Não é a escola, a faculdade, o trabalho, e nem mesmo apenas a sua família.
Nada disso é a sua vida. Nada disso é... Você.
Você é aquele filme que você tanto ama e fala, e que eu nunca vi, mesmo que você insista. Você é aquela música que pra mim não tem tanta graça, mas que não troco a rádio porque me lembra você. Você é aquele casaco velho e desgastado, mas que tem seu nome em cada uma das linhas dele. Você é aquele baú que eu guardo no canto do guarda roupa, e onde confio meus maiores segredos.
E eu, ah, querida, eu sou tudo que te remete.
Eu sou quem vai saber a pessoa que você realmente é.
Eu sou quem descreve sua essência.
Eu sou a pessoa que você ilumina todos os dias.
Então, viva! Viva muito! Viva você! E não se esqueça de completar os seus capítulos, por favor, porque o seu índice está cheio de títulos pré definidos, mas quem os desenrola, escreve, completa e preenche é você, com a caligrafia caprichada que lhe pertence. E não se esqueça das vírgulas quando tudo estiver agitado demais e precisar de uma pausa, pontos finais para momentos que não te florescem, acentos para deixar tudo certinho e do seu jeito, exclamações quando a emoção gritar por uma, interrogações quando precisar de respostas, e pode deixar que te ajudo nessas.
Eu sei que posso não ser a melhor em gramática, redação ou literatura. Mas eu adoraria ser sua professora para ver nascer a obra da sua vida, porque você, bobona, é uma das protagonistas do meu livro.
Notas Finais
Por favor, vivam por si.