História Escrevendo - Capítulo Vinte e Quatro

Em alguns momentos fico me questionando o motivo do tempo passar tão rápido. Em um dia estávamos todos sentados na cozinha vivendo um momento feliz em família. No momento seguinte estamos descabelados esperando pela resposta do resto da suas vidas.

            ― Pode parar de morder a almofada? Está me assustando. – Hugo diz me encarando como se eu fosse à única louca da família. O que sabemos não ser verdade.

            ―E você poderia me deixar em paz? – Pergunto irritada.

            ― Está muito nervosa, eles vão mandar a resposta em breve. – Ele puxa a almofada de minhas mãos. – Ainda tem tempo.

            ― E se não der certo? – Acabo falando em voz alta pela primeira vez, em quase um mês.

            ― Você recomeça de novo, já te vi fazer isso tantas vezes. Quando saiu da escola, quando saiu do trabalho, será mais um recomeço. – Meu irmãozinho cresceu tanto em tão pouco tempo. Um dia era o Hugo fechado e estranho e no outro era o universitário com banda de rock e namorada de cabelo colorido.

            ― Você também é muito bom em recomeços. – Sorriu enquanto o empurro com os ombros.

            ― Talvez esteja em nosso sangue. – Ele ri.

            Eu perdi minha pessoa arco íris, mas com isso comecei a enxergar meu melhor amigo que sempre esteve ao meu lado e que apesar de todas as brigas e implicâncias sempre vai continuar. Eu diria que o amo, mas não quero dar esse poder ao meu irmãozinho.

            Gosto de pensar que Nathan mudou, ou que Lily está muito feliz e ocupada para se lembrar que estamos com saudades. Porque raramente responde os emails ou qualquer outro meio de comunicação, e quando aparece é sempre rápida e usa ouças palavras. Gosto de pensar que ela largou Nathan e está apenas aproveitando a vida conhecendo pessoas novas e gastando tempo conhecendo perfumes, lugares e sabores. Gosto de pensar nela chegando antes do Natal e do Ano Novo.

            ― Você anda falando com Lily? – E como se lesse minha mente o ruivo me pergunta parecendo ansioso.

            ― Não muito. Apenas respostas rápidas para longas histórias de Rose. – Dou de ombros.

            ― Ela me mandou um email. – Ele diz enquanto morde o cantinho do dedão.

            ― O que ela disse? – Pergunto ansiosa. Tenho saudades constantes dela.

            ― Pode ler. – E ele me dá um papel todo amassado e a primeira coisa que vejo é a data de quatro dias atrás, o que provavelmente explica o estado do papel, mas não porque Hugo o imprimiu.

            Eu menti.

            Oi Hugo, tudo bem?

            Eu acho que menti. Lembra da nossa conversa? Quando eu disse que ia te esquecer? É eu menti. Obvio que não esqueci. Se existe mesmo isso de uma pessoa preferida do mundo acho que você é a minha. Não é possível esquecer a pessoa preferida. Me lembro de você todos os dias. E sinto falta das nossas conversas, das risadas e até das brigas.

            Caso esteja se perguntando, eu estou bem. Estou bem melhor do que quando viajei. Você sabe que não sou tão boa com palavras como Rose, ou como você sempre foi quando éramos só nós dói, mas vou tentar combinado?

            Não tenha pena de mim!

            Eu sei que fui embora com o Nathan e que nem mesmo me despedi direito. Que fui uma chata, tonta e egoísta. Mas não sinta pena de mim. É o que eu peço.

            No meio da viagem percebi que não está tudo bem continuar com o Nathan, e que na maior parte do tempo eu me cansava só de pensar em conversar com ele. Como puxar assunto. O que não iria o irritar. Como fazer com que o amor não se acabe. Era tão cansativo o tempo inteiro que resolvemos terminar.

            Por isso que te escrevi. Finalmente me libertei. Era disso que sua irmã queria me dizer. Um relacionamento precisa ser leve e não pesado. Leve como você e Íris. Você acertou. Meu primo, meu melhor amigo, minha pessoa preferida do mundo, você acertou.

            Resolvi que era a minha hora de acertar. Então estou apenas sendo a Lily Luna Potter e conhecendo diferentes países. E posso dizer que isso é maravilhoso. Não mandarei fotos, mostrarei a vocês todas reveladas. Esse se tornou meu passatempo preferido, revelar fotos.

            Diga a todos que estou bem. Quis escrever só pra você. Obrigada.

            PS: Me perdoa por ter sido tão teimosa. Eu ainda amo você!

            ― Ela terminou com o Nathan. – Digo sentindo as palavras em minha boca. Finalmente ela terminou com aquele cretino. – E ela está bem.

            ― Está voltando a ser a Lily. Não a mesma de antes, mas uma parte dela. – Hugo diz recolhendo a folha de mim.

            Observo seus olhos relendo as palavras. Quantas vezes ele deve ter relido tudo? Muitas. Sei que ele está feliz, mas também sei que ele está confuso. Lily sempre o deixou assim. Quando criança ela confundia a mente dele com histórias de fantasia. Na adolescência com declarações inesperadas. E agora com emails cheios de segredos e mudanças.

            ― Você? – Questiono lentamente.

            ― Estou aliviado. – Hugo suspira. E sorri.

            Escutamos vozes e vemos Íris se aproximando de nós. Seus cabelos estão mais coloridos que o normal, provavelmente ela retocou as tintas, e seus óculos de sol são grandes. Ela não os tira, mas percebo por seu sorriso o quanto ver Hugo a deixa mais iluminada.

            ― Tenho um presente. – Ela diz o abraçando pelo pescoço. – Você vai gostar.

            ― O que é? – Meu irmão parece super animado.

            ― Oi Rose. – Ela finalmente me enxerga.

            ― O que é o meu presente? – Hugo pergunta rindo.

            ― É particular. – Ela sorri. – Venha comigo.

            Meu irmão começa a segui-la, mas então volta e olha no fundo dos meus olhos.

            ― Toma. – Me entrega o email de Lily.

            ― Mas...

            ― Rose, eu sempre vou amar a Lily. Só que no momento eu amo mais a Íris. – Ele me beija no rosto e corre até a namorada.

            Eu fico com o papel amassado nas mãos. E penso o quanto mudamos com o passar do tempo. E o quanto isso pode ser bom. Sento-me em frente ao computador. Era hora de escrever. Outro capítulo.