História Escrevendo - Capítulo Vinte e Nove

Estou sentada no chão do quarto tentando escolher o que levar e o que deixar. Nunca pensei que me mudar fosse tão complicado, mas eis que a cada peça de roupa que dobro lembro-me de algo diferente que vivi dentro dessas paredes. De como eu mudei em tão pouco tempo. Passei da Rose com crise de identidade querendo se afogar em reclamações e pensando que a vida nunca seria como eu esperada, para a Rose que sabe que a vida realmente não é como queremos, mas que tem tantas oportunidades que depois das lágrimas consegue sorrir para aquela esperança boa de que ainda existe mais alguma coisa por vir.

Meu irmão tentou me convencer de continuar aqui. Dividindo a casa com gêmeos que mal vejo porque estão ocupados demais em seus quartos ou em suas vidas, com um irmão que passa mais tempo na casa da namorada do que em qualquer lugar da cidade. Eu preciso de algo pra mim. Então consegui um quarto minúsculo no alojamento da faculdade, onde cabe apenas uma cama e uma mesa para meu computador, mas que é meu. Pelo menos pelos próximos quatro anos. Scorpius pareceu feliz ao me dizer que tomaria meu lugar na casa e que ficaria com meu quarto, ou seja, posso deixar tudo que não precisar porque ele não se importa em ter lembranças minhas por todos os lados.

― Pensei que iríamos ficar mais próximo. – Eu disse quando ele contou a novidade.

― Eu vou adorar dormir na sua cama minúscula varias noites da semana, mas adoro esse quarto. – Ele me abraçou forte. – Já somos próximos, e temos boas lembranças aqui.

― Pelo menos nos fim de semana eu volto para meu espaço. – Resmungo com ciúmes do meu quarto que não é mais meu.

― Rose, isso é por pouco tempo. – Scorpius me cutuca. – Estou pensando em arrumar um emprego e conseguir um lugar só meu, sem precisar dividir espaço nenhum. Um lugar só pra nós dois.

― Com uma sacada? – Questiono sonhadora. Me aconchegando nele.

― Com um sofá antigo, e uma estante de livros. – Ele diz em meus ouvidos.

― E um cheiro de café no ar. – Sorrio de olhos fechados.

Quando abro os olhos ainda tenho as roupas em volta de mim, mas as escolho aleatoriamente, é apenas mais uma das muitas mudanças que vão acontecer na minha vida.

Pego a mala que mal fecha, a bolsa com o computador dentro. E alguns livros que não poderiam ficar longe de mim. Levo tudo para a sala. Esperando o momento de sair daquela que foi minha casa, meu abrigo, meu refugio por um bom tempo. A segunda casa que deixo em pouco tempo, mas que sempre vou levar comigo.

― Está pronta? – Minha mãe questiona.

― Quase. – Respiro fundo.

― Só vamos levar suas coisas e depois voltamos para seu jantar de comemoração. – Papai diz animado. – Não precisa se preocupar.

― Estou tão orgulhosa. – Dona Hermione não consegue disfarçar o quanto o fato de sua filha finalmente começar a estudar algo a deixa feliz e aliviada.

― Todos nós estamos. – Ronald Weasley diz sinceramente. – Eu já sabia que acabaria conquistando o mundo todo.

― Pai, estou apenas indo estudar literatura. – E vou para seus braços rindo. – Isso não é conquistar o mundo.

― Ainda. – Ele responde me abraçando.

― Os estudos são a porta para o futuro. – Mamãe diz sorridente.

― Sua mãe vai explodir de alegria. – Ele fala baixinho, só eu escuto. – Fico até com medo dela.

Nós dois rimos.

― Estou pronta. – Falo olhando em volta.

            ― Esse é o primeiro passo. – Minha mãe diz. – Para realmente conquistar o mundo.

            ― Esse é um dos muitos passos. – respondo e saio pela porta.

            Não é a saída definitiva. Vamos comemorar mais tarde. Combinei com todos e me recusei a aceitar desculpas. Lily vai usar a internet de qualquer lugar em que tenha disponível, ainda não sei direito em qual dos países ela está nesse momento. Então terei todos que amo, me desejando boa sorte.

            Todos me empurrando para o futuro, para a vida.

            E de todo o passado que carregarei comigo Scorpius é a melhor parte dele. Meu passado, presente, futuro, outro mundo. O veneno do escorpião sempre é fatal para a pobre rosa. Vicia. Alimenta. Transforma-se em vida.

            De dentro do carro vejo a casa se distanciando, e apesar de não ser a ultima vez a vela, é a ultima vez que a chamarei de minha. Sorrio para a porta azul que já começa a ficar borrada devido à distância. Agradeço os momentos. Olho para o retrovisor e encontro os olhos azuis que me compreendem tanto. Meu pai não precisa dizer nenhuma palavra, mas sei que ele está me acalmando, pelo olhar me passando a certeza de que tudo dará certo. Dizem que fisicamente Hugo é uma copia dele, mas as emoções foram praticamente jogadas em mim. E me orgulho de cada uma delas. Do apetite voraz, do drama, da explosão, de cada detalhe que me faça ter certeza de que tenho o melhor pai do mundo. Da mamãe herdei a inteligência e isso nem posso discutir, e apesar de todas as discussões nós nos amamos loucamente. Não somos a família perfeita, longe disso. Somos uma parte da família Weasley e tenho tanto orgulho disso.

            Mando uma mensagem.

            “Eu te amo, depois da comemoração com todos ficaremos só nós dois.”

            Scorpius responde.

            “Até o amanhecer.”

            “Eu também te amo.”

            É hora de seguir em frente. Respiro fundo. E sei que vou conseguir.