História Escrevendo - Capítulo Cinco

Respiro fundo.

            Abro os olhos lentamente.

            Eu ainda estou olhando para o sinal vermelho. Nunca conseguiria acelerar mesmo que fosse meu desejo. Na maior parte do tempo me sinto aprisionada por mim. Não faça isso Rose. Mas eu quero tanto fazer. Mas você não deve fazer. Tudo bem, eu não irei fazer. Meu cérebro parece uma constante bomba prestes a explodir, mas que nunca explode. Nunca.

            Quando o sinal muda para verde finalmente volto a me mover. Eu deveria chegar a casa em poucos minutos, mas desvio o caminho e apenas dirijo. Dirijo entre as ruas da cidade como se fosse muito seguro, ou como se entre as ruas pudesse ter um clique e descobrir quem sou, o que estou fazendo, e onde estarei daqui há 10 anos.

            O sol está começando a clarear as ruas e meu telefone começa a tocar insistentemente. Uma vez. Duas vezes. Três vezes. Na quarta vez coloco no silencioso e volto ao caminho comum. Guio de volta para minha vida, que realmente não sei se é minha, sei apenas que a estou vivendo.

            — Rose? O que pensa que está fazendo? – Meu irmão não parece nem um pouco contente em me ver.

            — Eu só... – Sinto que estou chorando. – só...

            — Você está chorando. – Ele parece assustado agora.

            — Eu só...

            Não sei o que estou fazendo.

            — Rose...

            Hugo me abraça enquanto solta suspiros cansados. Talvez ele saiba. Talvez sempre soubesse que um dia eu iria acabar sendo soterrada. Ele me abraça como se fosse o irmão mais velho e não o contrario. Como se ele tivesse mil anos e eu apenas cem. Então decido deixar as lágrimas caírem. Simplesmente desisto.

            — Eu desisto. – Digo entre soluços. – Eu estou desistindo. Não consigo. Nunca irei conseguir.

            Meu irmão não diz nada. Ele não me obriga a voltar ao normal, ou a calar a boca, ele simplesmente me abraça. Enquanto eu repito a palavra. Desisto. Desisto. Desisto.

            Hei destino, eu estou desistindo. Fique contente por finalmente ter conseguido.

Sou uma desistente.

Sou uma julgadora.

Sou fraca.

Não sou perfeita.

Não sou a mais inteligente, nem a mais bonita, ou mais talentosa.

Eu sou uma garota que prefere ficar chorando nos braços do irmão mais novo, que dirige a noite toda sem caminho certo, que não consegue nem avançar o sinal de transito. Que tem um namorado que não merece. Que vive a mentira da garota perfeita.

É disso que desisto. Desisto dessa ilusão de garota incrível que não pode chorar, que é decidida, que consegue seguir em frente, que não se importa com que os outros pensam, que é uma mulher maravilha.

Estou tão cansada.

Continuo chorando. Desistindo das ultimas amarras que me seguram aqui.

— Scorpius está procurando por você. – Hugo finalmente fala algo. – Faz horas.

— Me desculpe. – Suspiro quase sem voz.

— Não se desculpe, apenas me deixe ligar dizendo que você está aqui. – Ele me avalia pensativo.

Sento-me no sofá velho que temos na casa. Escuto as palavras abafadas vindo da cozinha. “Abalada”, “Chorando”, “Preocupado”, “Crise”, “Cuidarei dela”, ”Obrigado”. Nenhuma frase grande o suficiente para entender o medo dele por sua irmã ter enlouquecido.

— Você gosta de café, mas que tal um chá?

— Obrigada... – Pego a caneca de meu irmão e molho os lábios. – Hugo,muito obrigada.

Ele não diz nada, mas senta-se ao meu lado.

O silencio é reconfortante.

Tenho certeza que logo estará cheio de barulho.

Scorpius. Lily. Gêmeos. Vida.