Quando entrei embaixo do chuveiro consegui sentir a água quente desfazendo quase todos os nós da garganta. Os do coração que são difíceis de desfazer.
Sei que no momento desperdiçar tanta água é no mínimo egoísta, mas estou me dando ao luxo de ser assim pelo menos um pouquinho. Perco a noção do tempo sentindo a água queimar minha pele. A sensação é boa, um pouco incomoda, me faz sentir a pele e a vida correndo por ela.
Respiro fundo algumas vezes antes de finalmente me render a mais uma rodada de lágrimas. E por fim desligar o chuveiro.
Quando abro meu guarda roupa não consigo entender de quem são aquelas roupas. Milhares de camisas brancas, calças pretas, saias pretas e sapatilhas em verniz em tons escuros. Fecho as portas sem escolher nenhuma roupa. Scorpius esqueceu roupas espalhadas por meu quarto, resgato uma camiseta e uma calça de moletom, estou cansada.
— Calça de moletom? Camiseta do namorado?
— O quão clichê eu sou? – Abro meus olhos, mas não olho para o loiro parado em minha porta.
— Vejamos... – ele parece pensar. – Pegar o carro do namorado, sumir a noite inteira, crise de choro com o irmão, roupas largas do maravilhoso namorado que a procurava igual um louco.
Dou um longo suspiro. Sou o clichê. Aquele personagem ridículo do filme campeão de bilheteria. Aquela garota que tem tudo, mas acha que não tem nada. A deprimida. A donzela em perigo.
— Talvez um pouco clichê. – Scorpius fecha a porta senta-se no chão ao lado da cama.
Ele é tão clichê quanto eu.
— Sou muito clichê. E você também. – escorrego para o seu lado. Estamos os dois no chão gelado.
— Rose, o que está acontecendo?
Sei que ele está preocupado. Quando chegamos a pergunta é sinal de que não dá para fingir que está tudo bem.
— Eu não sei.
O que está acontecendo? Eu estou cansada. O tempo todo eu sinto uma cansaço dentro do meu corpo, me sinto paralisada, inquieta. Não consigo escrever uma simples redação. Odeio meu emprego. Não posso decepcionar meus pais. Quero gritar o tempo inteiro, mas não grito. Nunca grito.
— Será que está querendo mais espaço? – Meu namorado perfeito está achando que quero terminar. Eu sou uma péssima pessoa.
Olho finalmente para seu rosto. Ele parece tão cansado. Scorpius me procurou a noite inteira, fingiu que não sou uma louca e perturbada, e está triste pensando que quero terminar nosso relacionamento.
Eu o beijo. Beijo muito.
Não beijo só os lábios. Beijo seus olhos e ele sorri. Beijo suas bochechas e sua risada toma conta do quarto. Beijo suas orelhas e ele ofega meu nome. Beijo seu queixo e ele suspira. Beijo seus lábios como se não houvesse outros beijos. Porque realmente não há.
— Você é a única parte da minha vida que quero que continue a mesma. – Deito minha cabeça em seu ombro. – O resto poderia explodir que não ligaria. Mas quando estou com Scorpius Malfoy eu sou a Rose Weasley de verdade. Sem preto e branco. Sem regras. Só cor. Só vida.
— Ufa, porque eu realmente achei que você queria se livrar de mim. – Scorpius joga a cabeça para trás e respira fundo. – Eu estava preparado para chorar e implorar.
— Você não chora. – Respondo rindo.
— Mas estava preparado para ser o ator que sei que posso ser. – Ele me puxa para seu colo de um jeito desconfortável. Bato a cabeça em seu queixo.
Estamos rindo. Eu estou rindo depois de chorar praticamente a manhã inteira. Eu estou rindo enquanto minha cabeça dói e a ideia de romantismo acaba antes de começar. Estamos rindo porque era para ser um momento sensual e apaixonante. Estamos rindo porque nós somos duas crianças em corpos adultos.
— Eu estou triste, não me faça rir. – Falo tentando parecer brava.
— Eu queria te fazer outra coisa, mas sua cabeça é muito grande. – Scorpius bagunça meus cabelos e balança minha cabeça de um lado ao outro.
— Você não sabe fazer nada direito. – Resmungo tentando ajeita o cabelo.
Seus olhos acinzentados me enfeitiçam. Sempre foi assim, desde a escola quando ele sentava-se de lado para poder conversar comigo o tempo todo. Eles me capturam e fazem o que querem de mim.
Eu suspiro.
— Preciso da sua ajuda.
Me ergo do chão e abro as portas do guarda roupa. Será uma longa tarde.
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