História Escrevendo Minha Vida - Capítulo 3

Peguei minha mala e segui meu pai até a garagem do prédio, entramos no carro com a Winnie- nossa cachorra- e fomos até a casa da Tia Tracy e do Tio Christian.
Chegamos no prédio e eles já estavam nos esperando na portaria.
Papai abriu a porta do carro e eu fui cumprimenta-los com beijinhos, mamãe os abraçou com um sorriso de orelha à orelha, e eu percebi que meu pai lançou um olhar mortal para o meu tio, eu sei bem o porquê e já estava cansada de saber aquela história, adivinhem, melosa!
A Winnie fez a festa: saiu correndo e latindo e pulou em cima da minha tia lambendo-a. Notei um certo ciúmes nos olhos do meu tio, que logo disfarçou e acariciou a cabeça da cadela.
–X-
Conseguimos fazer o embarque em menos de 10 minutos, então ficamos por vota de 40 minutos no tédio, e eu pude ouvir o playlist dos Beatles disponível no avião: "Abbey road" e ler metade d livro que eu estava lendo: "Sherlock Holmes- The Valley of Fear".
Aterrissamos em 12horas e 40 minutos, ou seja, 5horas e 40minutos pelo horário de Brasília, por isso, pegamos um taxi e fomos para o prédio da minha avó materna, e eu caí no sofá assim que abrimos a porta, não sei o que aconteceu depois, só sei que acordei às 10horas, com a minha avó passando a mão no meu cabelo. A principio, me assustei, mas logo reconheci a sala do apartamento e dei um abraço apertado nela: não a via desde o verão (nos EUA) e estava MORRENDO de saudades.
"Querida! A quanto tempo!? Você cresceu ou é impressão minha?"
"Cresci, sim, vovó, mas você já deve estar acostumada, afinal, eu estou maior a cada dia!" nem acredito que falei isso! Que infantil!
"Está, sim!" concordou e me deu um beijo estalado na testa. "Papai e mamãe saíram, foram na padaria com o vovô e depois a mamãe vai coma Tia Nat, a Tia Gabi, a Tia Aninha e a Tia Pri no BH Shopping e o papai vai com o Tio Rodrigo e o Tio Danilo num bar, então só vão voltar lá pelas 16horas. Você deve estar com fome!" concordei com a cabeça.
Duas coisas que eu não entendia na minha avó: ela chamar MEU pai de "papai" e MINHA mãe de "mamãe", afinal eu já sou "grandinha" -como dizem os adultos- o suficiente para entender que "papai" e "mamãe" são só MEUS "papai" e "mamãe". E para que chamar todo mundo de "Tia" ou "Tio"? Dos que ela citou, só a Nat é minha tia! Mas eu não gosto de falar isso para ninguém, só a Dilah sabe desse meu incômodo, de uma vez que eu apresentei as duas, por Skype, pois eu NUNCA pude levar a Dilah para o Brasil, já que, se ela for, a Lilian, sua irmã mais velha, vai também, se ela for, a Nicolle- sua melhor amiga, vai também, a Ni vai levar a irmã mais nova -da minha idade-, a Camille. A Cami vai fazer questão de levar o namorado, que vai levar uma galera, além de estimular a Li e a Ni a levar os seus, segundo os meus cálculos, vão dar mais ou menos 21 pessoas, além de mim, do meu pai e da minha mãe, então meus pais acharam melhor negar de cara.
"O que você acha de tomar café da manhã?" minha avó me perguntou, provavelmente pela segunda vez, me tirando de meus devaneios.
"O que tem?" adoro responder perguntas com outras perguntas, mas naquele caso, minha vontade era de correr para a cozinha e "fazer" um prato daqueles cereais que são mais gostosos no Brasil.
Minha avó me conhece muito bem, ou lê mentes, pois falou: "Vovô vai comprar aquele cereal daqui a pouco, mas acho bom você comer um pão ou uma fruta agora." eu também achava, na verdade, achava que eu tinha que comer, sem zoeira, TUDO, naquela casa...
"Tem quais frutas?" louca para chupar uma laranja e tomar um café!
"Banana, maçã..." começou a enumerar pensativa ",abacate, laranja..."
Opa!
"Laranja!" praticamente gritei, fazendo a vovó abrir o maior sorriso. acho que ela percebeu que eu queria algo bem brasileiro, por que falou: "Pão de queijo? Café? Cana de açúcar?"
"Tudo!" respondi
"Garapa ou Cana?"
"Ambos!"
"Ta bom, Magali..." percebi a referencia dela com Turma da Mônica, ela sempre me enviava algumas revistinhas por correio... ", pão na chapa?"
"Não, obrigada." eu tinha trauma de pão na chapa desde que o Martín, meu primo, disse que uma vez encontrou uma barata morta no pão dele.
"Fica à vontade... Pode ver TV se quiser..." agradeci e coloquei no Disney Channel e comecei a assistir.
Depois de 20 minutos, o telefone tocou.
"Clarinha, atente pra mim, flor, por favor!"
"Claro!" respondi pegando o telefone e apertando o botão "atender" e disse "alô!?"
"Clarinha! Tudo bem?" a voz da Nat disse do outro lado.
"Sim, Tia Nat, e você?"
"Bem!" a voz dela estava preocupada "Posso falar com a Cristiana?" pelo menos a Nat não falava "vovó"
"Vou passar pra ela!" falei "Vovó! Tia Nat no telefone e quer falar com você!" a mais velha falou pra eu colocar no viva-voz e eu o fiz.
Saí da cozinha, mas fiquei muito atenta na conversa.
"Cristiana," a voz da minha tia tomou conta do ambiente "o problema é a Fani!"
"O que ela tem?" eu e a vovó gritamos, mas como não houve resposta, minha avó completou: "Natália, o que aconteceu com a Estefânia? Onde está minha filha?"
"Calma!" a Nat disse depois de um tempo "A Fani viu um filme na vitrine de uma loja fechada, e acho que fez muita pressão, pois o vidro espatifou na mão dela, já está no hospital e pelo que a Gabi disse, o Leo está com ela."
"Natália, me explica isso melhor!"
"Desculpa, tenho que desligar, um beijo tchau!"
"Natália!" minha avó tentou chamar, mas já era tarde de mais: ela havia desligado.
"Clarinha," ela falou, seria "me passa o celular do seu pai, por favor." não pense que eu não notei ela ter dito "seu pai" ao invés de "papai", mas eu nem liguei.
"Pode ligar daqui!" respondi, mostrando o contato do meu pai na tela.
Ela agradeceu e pegou o celular e eu fiquei só assistindo. Depois de um tempo, ela falou: "Fora de área! Merda! O pão de queijo está no forno, o café na pia, a cana na mesa, a garapa na geladeira e a laranja na fruteira. Fica bem, já volto!"
"Você ficou louca?" gritei. Sei que ela merecia respeito, mas aquilo estava MUUUUITO tenso! Peguei minha comida- nem lembrava que estava com fome até ela comentar-, enfiei tudo rápido na boca e disse: "Vamos!"
Ela assentiu, pegou a bolsa e abriu a porta, eu peguei meu celular e saí do apartamento...