História Especial de Natal (A Little Secret) - Capítulo 4 - Orgulho.

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— Qual é, Sofie, me dá uma ajudinha. — Zayn pediu baixinho tentando fazer com que Pylan não escutasse. — Eu só preciso que você estale seus dedinhos e me acorde. Pode ser? Eu preciso ir ver minha mulher. 

Ela apenas olhava para ele, com os dedinhos na boca. Parecia não entender uma palavra sequer que Zayn falava. 

Mas ela entendia.

Pylan continuava a cantar sem parar "Jingle Bells" enquanto dançava em frente as pessoas que não o enxergavam. Era uma cena engraçada de ser ver, porém, Malik não se atrevia a rir. O orgulho falava mais alto. E talvez, esse fosse o principal problema.

Orgulho. 

Se ele fosse menos arrogante conseguiria entender o real motivo de estar ali. Entenderia onde estava a porta de saída.

—  Como vocês pretendem que eu saia daqui? Hum? Adivinhando? —  ele alterou o tom de voz ao perguntar. —  Eu vou dar o fora daqui do meu jeito. 

Dito isso, tudo que ele fez foi caminhar em direção a rua coberta de neve. Seus pensamentos estavam bagunçados e tudo que ele queria era voltar para casa. Voltar para Every. Para sua filha que ainda não havia nascido. Ele queria comemorar com sua mulher. Acompanha-la em todas as consultas como havia feito na primeira gravidez dela. 

Ele só precisava sair dali. 

— É uma menina? Oh, meu Deus! 

Zayn escutava a voz de sua mulher, mas não conseguia ver imagens. Ele tentou focar no tom de voz, fechou os olhos tentando pensar somente nela. Pylan havia dito que era só pensar em uma pessoa em especial que ele veria o que precisava. 

Quando conseguiu escutar com nitidez a voz de sua Every, abriu os olhos. Encontrou-se no consultório que tanto conhecia. A Dra. Miller sorria para Holdings enquanto mostrava na pequena tela o sexo do bebê.

Zayn sorriu sem ao menos perceber quando ouviu o coração da sua filha bater. Aproximou-se devagar de sua mulher, ajoelhando-se ao lado. Ele sabia que ela não sentia seus toques e não ouvia sua voz, afinal ele era invisível para ela. E também aquela cena já havia ocorrido visto que minutos antes ele havia descoberto que estavam esperando por uma menina. 

— Seu marido vai ficar feliz ao descobrir que estão esperando uma garotinha. —  a Dra. disse cautelosamente. —  Não vai ligar para ele? 

Every soltou um suspiro em desagrado e não demorou para sua feição feliz se transformar em uma carranca. 

— Zayn não quer saber, acredite em mim. E você deveria parar de perguntar sobre ele. —  disse mal humorada, baixando o vestido e se preparando para levantar com a ajuda de Miller. —  O meu papel de avisar a ele que hoje eu tinha uma consulta, eu fiz. Se ele não quis vir, problema dele. 

Every ajeitou o vestido branco floral e logo seus cabelos. A Doutora apenas analisava cada passo dela, assim como Zayn. 

— Ele continua naquela bolha solitária dele... Quero dizer, nem tão solitária assim visto que ele já deve ter transado com a maioria daquelas garotas de fraternidade. Afinal, todo dia ele tem uma festa para ir. —  deu de ombros, analisando-se no espelho que havia naquela sala. —  Talvez, ele devesse aceitar de uma vez por todas que nosso primeiro filho não vai voltar. Não tem como voltarmos no tempo e evitarmos o acidente. Eu cai da escada e pronto, perdi meu filho. Sofri por quase um ano por isso. —  falou baixinho como se ainda sentisse dor ao falar sobre aquele assunto. —  Mas agora eu tenho outro bebê. Ela está bem. Zayn deveria enxergar isso. Parar de se culpar pelo que aconteceu, mas ele prefere se embebedar cada fez mais. Então, tudo o que eu desejo a ele é juízo para assim não engravidar outra pessoa e abandona-la depois. 

 — Eu não trai você. —  ele sussurrou baixinho. 

Não demorou um segundo para ele voltar a rua que antes estava. Agora, Sofie estava ao seu lado. Sentada na calçada coberta de neve. Ele se agachou somente para tira-la dali. Não queria que ela ficasse doente - se aquilo fosse possível. Limpou o casaco dela tirando o gelo que havia ficado. 

Tentou ao máximo ignorar os sentimentos que lhe atingiam. Ignorar as palavras que Every havia dito. Uma por uma. 

Porém, era impossível. Ele sentia aperto no peito cada vez que lembrava da forma amargurada que ela falava sobre ele. 

Ela já não o amava mais. Era só nisso que ele conseguia focar. 

—  Eu estraguei tudo, Sofie. —  falou derrotado. —  A Every precisava de mim e tudo que eu fiz foi ignora-lá. Quando perdermos o Enzo, eu não dei apoio a ela. Eu resolvi me culpar por tudo que tinha acontecido e ignorei toda vez que a via chorando. Ignorei os soluços baixos que ela dava pela madrugada... Eu não estive com ela quando ela mais precisou e agora ela vai embora. Ela vai me deixar. 

Ele resolveu sentar no banco ali presente. Baixou a cabeça e colocou as mãos em seus cabelos, puxando levemente. 

Lembrava com exatidão do momento em que havia recebido a ligação de sua mãe avisando que Every estava no hospital. No dia que o acidente havia ocorrido, ele tinha aceitado uma viagem para fechar um contrato com uma empresa de alto porte. Ele só queria o melhor para sua mulher e para seu filho. Entretanto, os planos para o dinheiro que iria entrar haviam mudado. 

Quando ele sentiu a mão de Sofie na sua, tudo ficou embaçado e ele se sentiu tonto. A imagem estava mudando aos poucos. 

Era ele ou Sofie que estava fazendo aquilo?

Aquela cor branca por toda parte e os aparelhos apitando já havia se tornado algo natural em sua vida. Tinha perdido as contas de quantas vezes se deparou em hospitais somente para receber notícias ruins. Aquela tinha sido mais uma. 

Zayn analisou com calma sua mãe deitada na cama. Ela estava quase que irreconhecível. Haviam aparelhos por toda parte do seu corpo. Ela estava em desacordada. Os médicos já haviam dito que eles não podiam fazer mais nada a não ser esperar. Chamou os familiares para poderem se despedir. 

E, mais uma vez, Zayn falhou. 

Ele não foi se despedir de Trisha. Ainda se culpava pela morte do seu primeiro filho. Ainda vivia na sua crise existencial.

Malik suspirou trêmulo e tentou ao máximo não chorar ao ver aquela cena se passando em sua frente. 

Sentou-se na poltrona ao lado da cama hospitalar e logo levou sua mão para os cabelos de sua mãe. Passou o palmo de forma delicada por seus fios. Seu coração estava a mil e tudo que ele queria naquela momento era não chorar. Não ser fraco. 

De nada adiantou. 

Sua visão ficou embaçada assim que os aparelhos começaram a apitar. O tumulto de médicos e enfermeiros entrando foi grande. Ele segurou na mão de Trisha e se deixou levar pela emoção que sentia. 

—  Me desculpe por ser assim. Eu te amo. 

E a cena acabou ali. 

Ele se viu ao lado de Sofie no parque. Ela sorriu de um jeito triste para ele, apertando sua mão. 

Pela primeira vez ali, Zayn deixou as lágrimas tomarem conta de seu rosto.

Quando ele havia se tornado um monstro?