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História A Rainha dos Espinhos - Pós-vida.


Escrita por: ElewenKarnil

Notas do Autor


Gente obrigada por todo apoio todos esses meses! <3
Teremos agora um capítulo com uma nova reviravolta acontecendo e alguns feelings ;__;
Espero que gostem, amem e se emocionem!

Capítulo 17 - Pós-vida.


Os estalos do carro de frutas pela cidade de Akumachi se misturavam ao barulho das vozes e passos das pessoas atentas aos seus afazeres e diversões, o vendedor daquele carro parecia apressado e tentava encontrar seu caminho pelo meio da rua lotada de gente, mas havia uma preocupação maior vinda daquele homem, que tentava a todo custo manter seu rosto escondido debaixo do chapéu de palha velho e puído deixando a mostra somente sua boca para quem fizesse uma rápida observação.

- Senhor?

Uma moça havia chamado pelo vendedor, ele parou seu carro nervoso enquanto se virava para ver o que ela desejava, era uma mulher com cerca de 40 anos carregada com alguns sacos de panos que continham pequenos vegetais.

- Sim? – o vendedor limpou a garganta, mas continuou com a cabeça abaixada – como posso ajuda-la?

- Gostaria de algumas maçãs, e gengibre se você tiver consigo.

- Claro.

O vendedor apanhou tudo que a moça pediu e ensacou apressado, a mulher ergueu a sobrancelha vendo a forma como ele fazia aquilo, depois de lhe entregar a mercadoria, a mulher deu-lhe as poucas moedas que tinha e desejou-lhe bom dia, o vendedor respondeu o cumprimento sem jamais mostrar-lhe o rosto e seguiu seu caminho.

O misterioso homem seguiu pelas ruas com sua mercadoria, após várias casas ele entrou num beco que separava uma delas de um grande galpão, abandonando o carro de frutas na rua tomando cuidado para não ser visto e levantar suspeitas, finalmente sozinho, ele tirou de dentro do casaco um mapa da cidade, com um pequeno pedaço de giz preto ele fez pequenos rabiscos marcando localidades específicas, porém, enquanto estava atento ao que fazia, o homem ouviu passos atrás de si. Ele armou-se da adaga que havia presa em seu cinto e esperou calmamente por quem quer que estivesse vindo, eram passos lentos e calmos, como de uma serpente silenciosa esperando o bote para sua presa, em uma contagem regressiva ele esperou...

 Até ser finalmente atacado por trás, com um movimento habilidoso e rápido ele jogou a pessoa por cima de suas costas, derrubando seu chapéu no chão enquanto posicionava a adaga contra o pescoço e pôde finalmente ver olhos acinzentados e um cabelo laranja-fogo, cujo ar infantil combinava com a baixa estatura da moça.

Katsuo e Aika agora se entreolhavam, ele tomou um susto ao ver que era ela quem Katsuo estava imobilizando no chão, enquanto Aika pode apenas rir cinicamente do que parecia ter sido uma atitude típica do certinho e bem-treinado soldado de guerra, filho do sensei.

- Parece alerta demais Katsuo-san – ela falou provocativamente – em uma cidade cheia de humanos, quem você esperava que viesse te atacar?

- É você quem fica distraída demais, espiã – Katsuo largou Aika e saiu de cima dela – não se esqueça de quem é que vive naquele palácio.

Antes que Katsuo recuasse totalmente, Aika acabou por empurrá-lo grosseiramente para longe, ela se levantou dando leves tapas em suas roupas e pegando seu capuz que havia caído durante a defesa de Katsuo, ele fez o mesmo com o seu chapéu de palha, ambos estavam buscando manter os rostos cobertos, eles sabiam que as marcas demoníacas e suas aparências chamariam atenção.

- Alguém te reconheceu? – Aika perguntou

- Por hora tudo parece bem, e você? Foi seguida?

- Sem chance, só usei o telhado como caminho, andar em cidades é fácil pra mim.

- Como evitou ser ouvida?

- Eu rastejei.

- Como? – Katsuo ergueu a sobrancelha.

- Eu me transformei, não fiquei com aquele corpo enorme como quando eu assumo a forma demoníaca completa, então foi simples ir pelo telhado.

Katsuo ficou furioso.

- Você se transformou? Numa cidade humana? Perdeu a cabeça Aika-san? O que eu ia fazer se alguém tivesse te visto?

- Nada por que minhas facas iriam silenciar a pessoa.

- Não se mata a torto e direito dessa forma.

- Eles são humanos, o que acha que iriam fazer com a gente se nos vissem?

- São pessoas que apenas não conhecem a natureza da nossa raça, seu único pecado é a ignorância.

- Diga o que quiser, mas um menino certinho que nasceu em meio à um povoado de youkais jamais iria entender pelo o que eu e outros nascidos no império passamos.

- Nem todos os humanos são cruéis como você afirma que eles sejam Aika-san.

Aika ignorou o que ele havia dito em seguida e olhou pela outra saída do beco, no lado contrário ao que Katsuo havia entrado para se esconder, diferente da rua vazia do outro lado, a outra estava bem cheia de pessoas que conversavam e tocavam alegres músicas, Katsuo se posicionou com sua cabeça bem acima a de Aika para observar também.

- O que temos aqui? – Aika perguntou.

- Aparentemente uma homenagem aos soldados voltando para o palácio, o Imperador agora está tomando pequenas porções dos reinos vizinhos para expandir o território.

- Declaração de guerra aberta á algum deles?

- Até agora nada, ninguém parece muito interessado em um conflito.

- É, ainda não estão interessados.

- De qualquer forma, o sensei disse que era pra gente ver se sentia a energia daqueles três que nos atacaram no forte, aqueles trigêmeos macabros, mas eles ainda não apareceram.

- Mas... Katsuo-san você já não acha que tem algo errado aqui?

- Como assim?

No mesmo instante, alguma coisa lhes chamou a atenção interrompendo sua conversa, uma grande e luxuosa carruagem havia chegado e o desfile começara, conforme a música ia aumentando seu volume e as pessoas dançavam mais e mais, uma estranha atmosfera tomou conta do lugar assim como a expressão das pessoas, que pareciam melancólicas e com expressões forçadas, a imagem daquela cidade parecia cada vez mais monocromática. De cara Katsuo pensava ser apenas coisa de sua cabeça e ignorou o clima esquisito, Aika tentava fazer o mesmo, mas ela parecia cada vez mais mal-humorada e irritada, desconcentrando-se de seu serviço, era como se uma onda de sentimentos ruins invadisse ambos.

Katsuo sentia-se pressionado e frustrado, como se fosse incapaz de seguir com as ordens de seu pai e pudesse decepcioná-lo, um medo e ansiedade constante pelo futuro de seu povo e sua terra. Enquanto a raiva dominava Aika, trazendo-lhes imagens de seu passado... Havia sangue nas mãos dela, uma mulher agonizava e chorava, havia mais alguém no quarto, uma garotinha, quem era aquela garotinha? Ela não conseguia se lembrar, mas o choro daquela menina partia seu coração...

- Mas que droga, pare! – Aika começou a se encolher contra parede com as mãos em sua cabeça.

- Aika-san se acalme! – Katsuo havia feito um esforço enorme para conseguir dizer ao menos aquilo para Aika, mas ele também sentia sua sanidade e sua força física se esvair naquele misto de sentimentos ruins.

Katsuo levou a mão ao peito como se não conseguisse respirar, o que fora sua salvação antes de ele perder os sentidos, sob sua roupa ele pôde sentir o medalhão de bronze dado por Nakami para ele, um antigo amuleto de proteção que ela carregava consigo, ao sentir o toque do objeto sob sua mão ele apertou-o ligeiramente, o que o fez lembrar-se das palavras de fé e carinho de seus pais quando o nomearam para a guarda. Uma imagem que lhe deus alguns segundo de consciência, até ele entender o que de fato estava acontecendo ali.

- Aika!

Ele a segurou pelos ombros, até ver que ela chorava, Aika continuava encolhida no chão na mesma posição, agarrando fortemente seu cabelo tentando tirar a visão daquelas imagens horríveis de sua cabeça.

 - Aika olhe pra mim!

Aika continuou sem reagir e lentamente começou a perder os sentidos, Katsuo se recusou a perdê-la. Num ato desesperado ele a carregou para mais adentro do beco, colocando-se sentado contra a parede com Aika á sua frente entre suas pernas, Katsuo a abraçou com a cabeça dela pousada contra seu ombro, em sua mão ele segurava firme o amuleto para manter sua consciência, não iria se entregar.

“Isso vai passar quando aquela carruagem desaparecer no palácio” Katsuo pensou lutando contra a tentação do desmaio “vamos lá, não se entregue!”.

Ele abraçou Aika mais firmemente, Katsuo precisava ser forte naquele momento, por eles dois...

 

Aquela manhã estava ainda gélida e Youre sentia seus pés doloridos pelo frio e pela caminhada da noite, fazia horas que ela perseguia o corvo e sem sucesso ela fora parar num local que não conhecia do Império. Tudo que ela sabia, é que estava muito próxima das montanhas, mas sem um mapa jamais conseguiria se orientar, estava próxima ao vilarejo que ela e Natsuke deveriam ir? Ou havia tomado uma direção contrária? Mas o que realmente lhe incomodava era o fato de ela não conseguir encontrar o corvo. Durante meses Youre se esqueceu de sua existência e do fato de ele ter lhe atacado durante a prova do sensei, mas após a descoberta que aquela sombria figura lhe perseguia desde a infância, não poderia ignorar a oportunidade de finalmente ter alguma resposta sobre seu passado. Porém Youre não iria muito longe se continuasse sem entender onde estava e como faria para encontrar seu alvo, o tempo estava passando e ela podia sentir enfraquecida pelo cansaço.

- Por que diabos eu vim sozinha...? – Ela se perguntou enquanto caminhava.

“Mas... A única pessoa de confiança para vir comigo seria o Natsuke-san e ele jamais concordaria em eu desviar da minha tarefa”.

- E provavelmente me diria alguma idiotice que fosse me fazer ficar no acampamento...

Aqueles pensamentos encheram os verdes olhos de Youre com melancolia, ela sabia que Natsuke certamente faria tudo aquilo, era típico dele colocar as prioridades dos youkais acima de tudo, contudo, por que no fundo ela desejava que Natsuke estivesse ali com ela?

“Não posso depender dele agora... Natsuke-san já me salvou muitas outras vezes, mas ele também me repreende quando preciso buscar algo relativo ao meu passado, não o culpo por que até agora só o fiz clandestinamente, porém é a única saída que tenho já que o sensei e os outros não me deixariam”.

Youre decidiu descansar e deitou-se ao pé de uma árvore, ela refez as amarrações de seus braços e pernas, desde sempre ela usava as faixas em seus membros e mesmo depois de se tornar uma youkai não havia sido diferente, ela procurou em sua sacola pelas pequenas porções de comida que trazia consigo, entre elas alguns pedaços de pão que comeu com um pouco de água, ela havia repousado o cinto com suas armas ao seu lado enquanto recuperava as forças, pouco mais de meia hora ali, Youre decidiu continuar com medo que Natsuke aparecesse a qualquer momento “ele está furioso á essa hora com certeza” ela bateu a poeira das roupas e levantou, apanhou o cinto com sua espada e o prendeu de volta, porém sua adaga não estava lá.

Confusa, Youre olhou em volta procurando o objeto preocupou-se se ele não havia caído no meio do caminho e deveria retornar. Quando ela contornou a árvore em que havia se apoiado para descansar, seu coração congelou quando ela viu a fumaça negra em forma de corvo, segurando com uma das garras sua adaga. Youre se manteve imóvel por segundos, e então lentamente ela deu um passo para trás, desembainhando sua espada.

- Eu não sei quem você é ou o que quer de mim – ela falou – mas acho melhor me devolver isso se quiser viver.

O corvo apenas continuou encarando-a com seus olhos vermelho-sangue, indiferente ao que ela dizia, Youre deu um passo a esquerda sem deixar de apontar sua espada um único segundo para a criatura. Quando de repente, o corvo partiu para cima de Youre alçando vôo, ela tentou acertá-lo sem sucesso e poucos segundos depois, o corvo não era nada mais que uma sombria figura no céu.

- Ah, mas não mesmo!

Youre começou a correr cada vez mais depressa sem desviar o olhar do céu, mas ela não conseguia mais enxergar onde seu adversário estava, sem orientação alguma, ela começava a ficar sem saber para onde ir. Porém conforme ela corria, podia sentir uma força crescendo em suas pernas, sentiu não apenas que acelerava, mas que estava sendo tomada por um impulso fantástico que ela jamais havia sentido antes...

Como se fosse um movimento involuntário, Youre apenas contraiu a perna direita fortemente e se impulsou para o ar, o salto a fez chegar acima das árvores, embora aquilo a tivesse assustado, a sensação era incrível para Youre, quase como se ela estivesse voando e naquela altura ela pôde ver perfeitamente onde o corvo estava, não muito longe de si embora ela em breve pudesse perde-lo, indo ao solo, Youre se levantou e correu novamente. A perseguição se manteve neste ritmo por cerca de uma hora com Youre sempre repetindo o processo de saltar e correr, chegando á encosta íngreme de uma montanha a qual ela não poderia escalar, infelizmente ela também havia perdido o corvo de vista.

Furiosa Youre correu de um lado para o outro tentando encontrar o corvo, mas não havia rastro dele em lugar algum, nem no céu nem nas árvores. Durante um tempo ela ficou estática olhando para o alto se perguntando onde a criatura estava, sentindo-se num beco sem saída, Youre cravou a espada no chão enraivecida.

- Cadê você seu maldito! – o grito dela ecoou pela floresta – vamos apareça!

- Vá com calma bela moça, os animais ficam nervosos com a gritaria...

Youre se virou na direção da voz que havia lhe respondido, na encosta da montanha uma caverna havia aparecido magicamente, e dentro dela havia um homem... Que acariciava o corvo pousado ao seu lado.

- Quem é você? – ela apontou a espada.

- Não existe apenas uma resposta para esta pergunta, já fui muitas coisas e já recebi muitos nomes, dentre todos eles, restou-me apenas Goru – a voz dele era fina e parecia exalar insanidade – ás suas ordens, donzela Youre.

Youre deu um passo para trás.

- Como sabe meu nome?

- Meus bichinhos descobrem muitas coisas... – Goru pegou a adaga com o corvo – creio que o perseguiu atrás disso estou certo?

Youre não respondeu.

- Venha pegue, não irei lhe fazer mal, gostaria de conversar com você.

Mas Youre continuou parada exatamente onde estava, sem saber o que faria em seguida, ela podia confiar em Goru?

- Se acha que sou um youkai procure algum sinal de energia vindo de mim, se eu for um humano comum não lhe represento qualquer risco.

E de fato Youre não conseguia sentir qualquer energia vindo dele e não havia marcas de youkai em seu rosto, apesar de estar assustada, Goru não parecia ser forte suficiente para desafiar ela, era um homem de aproximadamente 35 anos, com longos cabelos negros que iam até o chão e lhe cobriam o olho esquerdo, a pele era pálida e acinzentada como se ele estivesse morto, os olhos negros, o nariz afilado que parecia combinar com os lábios também finos e cheios de feridas com a pele descamando, ele usava um folgado quimono marrom que exibia o peitoral magricelo. Com um mínimo de suspeita, Youre embainhou a espada e entrou na caverna que fedia a umidade e comida estragada, insetos e aranhas andavam por todo fundo do local causando ainda mais repulsa em Youre, sentando-se à frente de Goru ela se preparava para conseguir mais respostas.

- Aqui está – ele lhe entregou a adaga, Youre guardou-a junto com suas armas, mas ainda cheia de raiva lhe perguntou.

- Por quê?

- Por que o que senhorita?

- Por que está me perseguindo?

- Não sei do que está falando...

- Esses malditos corvos vivem atrás de mim desde que eu era um bebê, e piorou muito desde que eu descobri que era uma youkai! Você estava me espionando é isso?

Goru riu, aquela risada assustava Youre.

- Estou lhe observando a muitos anos querida... Interessado no trajeto que você tem tomado esses anos.

- Por quê?

- Sinto que sua existência definirá o destino desta guerra silenciosa entre os humanos e os youkais.

- Minha existência?

- Sim... Mas você não conseguir fazer isso sozinha.

Youre ergueu uma sobrancelha.

- Os espíritos me contam muitas coisas Youre-san, eles também sabem sobre coisas que você jamais saberá, sobre seu destino... Eles me contam tudo. Agora mesmo estão falando comigo, shhh... – Goru fez um sinal para Youre ficar em silêncio enquanto ele levava a mão à orelha tentando escutar algo – sim, sim, eu entendi apenas me permita continuar conversando com a moça ora... – ele olhava para o lado como se alguém estivesse ali falando com ele.

- Você é louco sabia?

- Não acredita que as almas nos rondam? Existem várias delas conosco agora mesmo.

- O que está morto, está morto – Youre falou aborrecida – que sentido existe em continuar rondando por essa terra quando a vida acaba?

- Existem as almas que escolhem cuidar dos entes queridos ainda vivos... Ichiru por exemplo não consegue sair do lado da garotinha dele, ele até tem ciúmes daquele seu amigo pálido que vive brigando com você.

Paralisada, Youre arregalou os olhos com o que tinha acabado de ouvir.

- Como sabe do meu pai?

- Já disse... Ele me contou isso.

- Mentiroso! Você está inventando essas coisas! – Youre levou a mão ao cabo da espada.

- O que eu ganharia inventando esse tipo de coisa Youre-san? – Goru sorria calmamente exibindo os dentes amarelados.

- Mas que inferno! O que você quer de mim afinal?

Goru jogou seus braços para trás se apoiando neles enquanto exibia seu cínico sorriso parecendo se divertir com a reação dela, que também estava gerando um pico de energia...

- Quero que você assuma seu destino Youre-san, quero lhe ajudar a continuar seguindo seu caminho, mas você precisa aceitar minha ajuda.

- Por que eu deveria confiar em você?

- Por que eu tenho algo valioso o qual lhe interessa muitíssimo...

Youre não conseguia entender do que ele estava falando, porém, Goru agarrou o braço dela num movimento tão veloz que Youre ficou abismada, ele parecia um homem sem qualquer tipo de habilidades e extremamente debilitado, mas o contrário acabara de ser provado. Goru tirou uma lâmina tortuosa de dentro das roupas e fez um corte no braço de Youre deixando cair sangue em uma cuia de madeira, Youre tentava se debater pelo que ele fazia, mas Goru era extremamente forte, enquanto ela lutava a imagem de Natsuke lhe veio à mente como um silencioso “socorro”.

- O que diabos você pensa que está fazendo?

- Relaxe bela moça, isto é necessário.

- Necessário para o que? – Youre puxava o braço com todas as forças, mas aquilo só causava uma força extra no aperto de Goru que fazia escorrer mais sangue.

Goru não respondeu e largou Youre, que se arrastou para trás com medo.

- Me dê um único motivo para eu não te matar agora! – ela esbravejou, a energia continuou a subir...

- Tenho algo a lhe oferecer... E sei que será incapaz de recusar.

- Por deus, diga logo o que diabos você planeja seu feiticeiro de merda!

Goru pegou algumas plantas e o que parecia ser uma aranha morta e socou na tigela, fazendo uma fétida pasta com tudo aquilo.

- Gostaria de rever alguém a quem ama Youre-san?

- O quê?

- Você perdeu muitas pessoas com quem se importava isso é fato, mas duas em especial estão constantemente em seus pensamentos principalmente por que você só soube quem eles foram de fato agora. Naomi e Ichiru também desejam lhe dizer muitas coisas e eu posso fazer com que vocês se encontrem, se desejar...

Era surreal, ao mesmo tempo tentador demais, Youre jamais fora o tipo de pessoa que acreditava no sobrenatural, mas depois de ter despertado ela não podia negar a existência de criaturas além da existência humana, especialmente depois de ter conhecido Yuki que era um espírito da montanha, por que não acreditar em fantasmas também? Contudo, ela ainda estava apreensiva, Goru era uma figura estranha e assustadora demais para se confiar, especialmente depois de ele ter demonstrado ter mais força física e agilidade que a própria Youre quando agarrou seu braço, um humano comum não faria aquilo.

- Digamos que eu acredite em você... Como exatamente eu iria ver meus pais?

- Eu farei um ritual com o seu sangue que já coletei e necessito também de um objeto que tenha uma ligação com seus pais, com o feitiço pronto, seu corpo adormecerá e sua alma irá para o plano espiritual em que eles habitam agora.

- Quanto tempo eu vou ficar lá?

- Essa pergunta não tem resposta, pois dependerá de sua força espiritual e de quem mais posso estar com eles...

- Como assim?

- Acha mesmo que no plano das almas só existem espíritos bons? Não tenho certeza de quem mais posso lhe esperar do outro lado?

- Significa então que eu posso ser atacada?

- Não somente atacada... Se vagar sem cuidado ou falar com a entidade errada, eu talvez perca sua alma de vista e não possa fazer nada para lhe trazer de volta.

- Ou seja, eu vou morrer.

- Precisamente... Chega a ser poético morrer procurando quem você amava não? – Goru riu.

- Me parece mais perturbador...

Goru juntou as mãos e sorriu maliciosamente.

- Diga-me... Aceita minha oferta? – ele estendeu a mão para Youre.

Youre não era ingênua, sabia que estaria assumindo um risco grande demais, o maior até agora de sua vida, contudo, a oportunidade de falar com seus pais também lhe renderia respostas não apenas sobre seu passado, como também sobre a ameaça silenciosa no império, afinal os ataques começaram quando ela ainda era um bebê.

“É arriscado demais, esse homem tem cara de quem sabe mais do que diz, me pergunto se o sensei e a Nakami-sama sabem ao menos que ele está vivendo aqui... Mas, se eu fizer isso posso conseguir algo valioso para todos, Natsuke-san já está furioso comigo a essa altura por eu ter fugido, preciso ao menos fazer essa jornada render alguma coisa... E também posso procurar uma forma de fazê-lo falar mais também se ele confiar em mim”.

- E então? Minha oferta não ficará aberta por muito tempo – Goru sacudiu a mão querendo uma resposta de Youre.

Relutante, porém decidida, Youre apertou a mão de Goru.

- Se você fizer algo comigo, juro que mesmo morta, eu arranjo uma forma de te levar junto pro mundo dos mortos.

- Conheço bem demais o meio espiritual para saber os riscos de uma alma enfurecida minha cara... Não duvido de uma palavra do que você diz.

Ele estava sendo cínico, porém algo dentro de Youre parecia saber que Goru não estava mentindo.

- E então, qual o próximo passo?

- Preciso do objeto que tenha ligação com seus pais. Tanto faz se for somente Naomi ou somente Ichiru.

Youre puxou o colar de dentro de suas roupas, da onde tirou o medalhão de seu pai.

- Isso era de meu pai.

- Perfeito.

Goru colocou diante da fogueira o medalhão e despejou parte da mistura com o sangue de Youre em cima, com sua faca desenhou um círculo em volta.

- Estou delimitando um círculo de proteção para você, haja o que houver não saia dele quando estiver do outro lado entendeu?

Youre acenou com a cabeça. Goru apanhou um saco de pano da onde tirou um pó esquisito que jogou no fogo e as chamas subiram até o teto da caverna descendo logo depois, Youre teve que jogar o rosto para trás e não ser atingida pelo fogo. Depois, Goru grosseiramente puxou o rosto de Youre para próximo do seu, ela pôde sentir melhor o odor que vinha dele de podridão e suor, Goru colocou dois dedos dentro da mistura em sua tigela e passou a mistura de sangue no rosto de Youre, um fino traço em sua testa, bochechas e queixo.

- Podia ter me avisado que iria passar essa coisa nojenta em mim.

- Relaxe agora moça, abra sua mente, respire fundo...

Youre inspirou e expirou profundamente, conforme as instruções de Goru.

- Olhe para o fogo criança... Olhe bem as chamas.

Youre virou o rosto para a fogueira, porém alguns minutos sem nada acontecer bastaram para ela se sentir impaciente com tudo aquilo e começar a pensar que Goru era apenas um louco sozinho na floresta.

- Olhe direito criança, olhe com mais atenção...

Youre piscou um pouco os olhos e voltou a encarar as chamas, porém, Goru havia começado a recitar alguma espécie de oração ou feitiço que por qualquer motivo que fosse, começou a fazê-la sentir-se desorientada e perturbada. E então, finalmente ela começou a ver algo nas chamas...

Era um casal correndo com uma criança no colo, mas havia aparecido também um outro casal jovem que lhe era muito familiar, as formas apareciam e sumiam junto com ligeiros e distantes sons de vozes que pareciam emanar do fogo, hipnotizada Youre foi sentindo seu corpo cada vez mais pesado além de uma terrível tontura e dor de cabeça, Goru estava recitando cada vez mais depressa e mais alto, mas a voz dele estava ficando distante e fantasmagórica, sua visão foi ficando cada vez mais turva...

Como uma boneca de pano, Youre caiu ao lado do fogo profundamente adormecida, Goru tocou-lhe a lateral do rosto, abrindo um enorme sorriso de satisfação.

- Boa jornada senhorita, você será de grande valia na minha diversão...

Dito isso, Goru riu, cada vez mais alto, sem ligar se alguém na floresta lhe ouviria.

 

A sensação gelada cobria o corpo de Youre, que ainda não havia conseguido abrir seus olhos, ela estava deitada sobre um local cujo chão era gelado como a superfície de um lago congelado, piscando devagar, ela acordou viu á sua frente apenas uma densa neblina, sem poder distinguir mais nada no ambiente além daquilo, não havia um único sinal de vegetação, apenas o chão e a névoa. Se apoiando sobre seus braços ela arranjou forças para se levantar, Youre sentiu uma forte tontura e dor de cabeça, batendo a poeira de suas roupas ela viu que não estava com seus trajes de combate comuns, no lugar deles ela vestia apenas um simples quimono branco, sem qualquer enfeite ou bordado, seu cabelo que constantemente estava amarrado, agora caía sobre seus ombros livremente.

- Onde estou? – ela olhou em volta.

“Que maldito lugar que eu vim parar? Será que eu estou mesmo no tal plano espiritual que aquele feiticeiro esquisito falou?”.

Com isso em mente, Youre caminhou um pouco, procurando por mais alguém naquele lugar desolado, estava muito frio e ela não gostava disso, aquele lugar lhe causava sentimentos ruins.

- Olá! Tem alguém aí? – ela gritou.

Não houve resposta.

- Ichiru! Naomi! Sou eu! Youre!

O silêncio persistia.

- Mãe! Pai! Sou eu! Vocês estão aí?

Em vão... Youre parou de caminhar e olhou para a paisagem deserta decepcionada “Onde eu vim parar?” as lágrimas insistiram em sair, com um nó na garganta Youre tentava ser forte para não chorar, mas ela estava atrás de respostas, e parecia que jamais iria conseguir alguma naquele lugar, o pior de tudo era, como ela iria voltar?

- Sou eu... – ela murmurou entre lágrimas – sua garotinha...

Vendo que ainda estava sozinha, Youre se sentou no chão e abraçou as pernas, esperando que algo acontecesse para que ela saísse dali, o choro escapou e com o rosto enterrado em seus joelhos ela chorou, nunca havia se sentido tão solitária e burra como agora, a primeira pessoa em quem conseguiu pensar fora Natsuke.

- Eu fiz outra besteira não fiz, Natsuke-san?

- Errar nos faz humanos, meu anjo...

Sobressaltada, Youre ergueu os olhos e viu duas figuras á sua frente, procurando a origem da voz, conforme elas se aproximavam o coração dela acelerava cada vez mais junto com mais lágrimas de emoção que escorriam de seu rosto.

Á frente dela estava um belo homem de cabelos negros e olhos verde-esmeralda, vestindo uma forte armadura com duas katanas em suas costas, ao lado dele, uma linda mulher de cabelos castanhos e olhos azuis em cujo ombro ele repousava o braço em sinal de proteção e de que aquela era sua esposa. Maravilhada e tomada por milhões de sentimentos diferentes de incredulidade e alegria, Youre não sabia nem mesmo o que falar, mas eles estavam ali! Naomi e Ichiru, seus pais.

- Olá minha princesa – Naomi falou, uma voz doce e materna.

- Faz muito tempo, minha pequena guerreira – Ichiru falou também, a voz dele lembrava muito a de Mitsuo, forte e protetora.

Nenhuma palavra conseguia sair da boca de Youre, no entanto como se ela não tivesse mais qualquer controle de seu corpo ela se levantou e correu para seus pais, se atirando em seus braços...


Notas Finais


Preview capítulo 18:

Naomi e Ichiru dão um aviso a Youre sobre o que o imperador trama e também que ela deve correr para a capital, pois seus amigos correm um risco sério. Aika e Katsuo se vêem na pior das situação em que finalmente o orgulho deverá ser deixado de lado e eles precisam trabalhar juntos. Num encontro inesperado na jornada para salvar seus amigos, Youre fica cara-a-cara com Yahiko, junto dele, o Imperador....


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