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História A Rainha dos Espinhos - Ecos do Passado


Escrita por: ElewenKarnil

Notas do Autor


A LOLA VOLTOOOOOOU!!

Gente sério, MIL PERDÕES por tantos meses de ausência, vocês não tem nem ideia da CAGADA que aconteceu esse ano (2016 seu ano doidinho!), mas eu voltei e com fôlego e inspiração pra continuar! \o/

Capítulo 18 - Ecos do Passado


Aika sentia sua cabeça latejar conforme ela recobrava a consciência, ela não conseguia se lembrar direito do que havia acontecido nas últimas horas, á sua frente só via uma parede e um beco escuro, já estava anoitecendo, conforme ela reorganizava seus pensamentos começou a olhar em volta tentando ver onde estava, logo abaixo de seu queixo ela sentiu um braço masculino a abraçando com força e moveu seu rosto para trás, encontrando o rosto de Katsuo desacordado.

- Hum... Katsuo-san?

Aika puxou delicadamente o braço de Katsuo que lhe envolvia no abraço e se pôs de frente para ele, o rapaz permanecia desacordado e a fita que mantinha seus cabelos presos havia se partido. Entrando em desespero, Aika começou a sacolejar o rapaz, ainda assim ele não acordava.

- Ei, Ei! Vamos lá Katsuo-san, você não é derrubado tão fácil assim!

Mas ele não reagia, Aika encostou a cabeça contra o peitoral de Katsuo e tentou ouvir as batidas de seu coração, que para seu desespero estavam assustadoramente lentas e a sua respiração pesada e fraca.

“Não, não, não, não, não... Nesse ritmo ele vai colapsar em poucos minutos, o que eu faço?!!”

- Vamos lá Aika, pense garota, pense! – ela exclamava com as mãos na cabeça.

Não havia tempo suficiente, Aika só pensava que precisava de uma forma de acelerar o coração dele novamente, se o sangue parasse de fluir para o cérebro ele certamente teria um choque e morreria, ela instintivamente começou a mexer em sua sacola, mas tudo o que Aika tinha eram venenos e mais venenos, tudo o que ela usava em combate, um supremo sentimento de incapacidade tomou conta dela conforme Aika se via sem opções para ajudar Katsuo. Então a poucos minutos de ele dar seu ultimo suspiro ela teve uma ideia que poderia salvá-lo... Como também poderia acabar instantaneamente com o sofrimento dele ali mesmo.

Um veneno específico que ela tinha, causava morte por um infarto fulminante, com a aceleração do pulso até o ponto que ele parasse de funcionar, como também poderia gerar uma descarga de adrenalina forte o suficiente para reanimar Katsuo, porém se Aika errase a dose em uma gota que fosse, condenaria ele.

“Quantas gotas eram? Ai meu deus eu não me lembro, vamos lá Aika não é hora de perder a cabeça garota”.

Espalhando uma quantidade mínima da substância em uma agulha, Aika abriu o kimono de Katsuo posicionou-a contra o peito dele, ela olhou para o rosto do rapaz antes de continuar, com uma grande tristeza.

- Não faça eu me arrepender disso, por favor...

Com um único golpe, Aika cravou o objeto no peito de Katsuo e aguardou, esperando qualquer reação dele, os segundos pareciam horas para ela, a espera aumentava e a ansiedade dela também. Poucos minutos se foram, e a respiração de Katsuo pareceu parar, Aika tocou em seu rosto o examinando, desesperada, um nó se fez em sua garganta com uma suprema dor de culpa e tristeza “não se vá, por favor” ela pensava.

E ele não foi

Subitamente Katsuo começou a respirar muito depressa e seus olhos arregalaram, o barulho do rapaz acordando assustou Aika, mas ele estava atordoado e contorceu o corpo conforme despertava, como se tivesse acordado de um terrível pesadelo.

- Ei, ei, ei – Aika começou a acalmá-lo – Katsuo-san, olhe pra mim!

Aika pôs uma mão ao lado do rosto dele e o fez olhar diretamente pra ela, Katsuo ainda respirava pesadamente e parecia terrivelmente confuso, mas quando seu olhar encontrou o rosto de Aika ele começou a coletar seus pensamentos.

- Estou aqui, calma, respire...

- O que aconteceu? – A voz de Katsuo estava baixa e rouca.

- Você vai ter que me explicar primeiro, eu desmaiei e acordei com você quase morto.

- O quê?

- Sim, eu tive que usar um dos meus venenos pra te trazer de volta.

Katsuo olhou em volta e pôs a mão na cabeça, ele não parecia se lembrar dos últimos minutos, Aika percebeu que precisava dar um tempo para ele raciocinar, devagar ele regulava seu pulso e sua respiração, a tontura pela reanimação se esvaia aos poucos embora ele se sentisse muito fraco.

- Como você me trouxe de volta?

Aika pareceu ficar triste com a pergunta dele.

- Minha mãe... – Aika segurou forte sua bolsa com vários frascos de substâncias diferentes – ela me ensinou tudo que sei sobre venenos, mas ela não era uma assassina... Ela era médica do vilarejo onde morávamos, me ensinou tudo.

Katsuo encarou a pequena ruiva, ainda confuso.

- Eu sei como tirar uma vida Katsuo-san, por que sei que nas doses distintas, o que mata pode curar.

Katsuo não respondeu, apenas agarrou a mão da moça, Aika levantou seu rosto e fez seus olhos se encontrarem com os dele. O rapaz olhou logo em seguida para a saída do corredor onde estavam, pensativo.

- Aquela carroça... – Katsuo murmurou.

- Hum? – Aika ergueu a sobrancelha.

- Não foi por acaso que perdemos a consciência, havia algo esquisito naquela carruagem.

- Consegue se lembrar de alguma coisa?

Katsuo ainda estava apático, mas conseguia recordar as últimas horas com ligeira clareza, uma aura negra havia sido a razão de ele e Aika perderem os sentidos, uma magia similar a que sua mãe costumava fazer, porém sua agressividade era maior... Katsuo encarou sua pequena companheira que lhe encarava confusa com seus olhos de ar infantil e ao mesmo tempo agressivos, ele estava vivo graças a Aika, como ela também não teria sobrevivido aquele sem ele “as coisas estão ficando mais perigosas do que eu pensei que eram, um inimigo que detém esse tipo de poder pode subjugar qualquer um de nós facilmente e muitos ao mesmo tempo, viemos numa ação preventiva, mas invadir o castelo é puramente suicídio nesse momento”.

- Temos que voltar – Katsuo falou.

- O quê? Sem chance, quero saber o que causou isso na gente agora.

- Preciso dizer ao sensei o que aconteceu aqui, é arriscado demais continuarmos com a missão, veja o que o inimigo pôde fazer conosco.

- Seu medroso.

- Não é sobre ser medroso, estou pensando na sua segurança também, acabei de ser designado para a guarda e você sequer é uma guerreira Aika-san.

- Eu posso cuidar de mim mesma!

- Eu sei que pode, mas estamos numa situação totalmente alarmante agora, veja o que quase aconteceu com nós dois, você está viva por que eu protegi enquanto você perdia a consciência.

Aika abriu a boca para tentar argumentar, mas não conseguiu dizer nada, porém antes mesmo de eles poderem seguir com a discussão, Katsuo sentiu novas energias vitais se aproximando, porém sombrias e com uma força maior do que a dele próprio, instintivamente sua mão foi para o cabo de sua espada, Aika percebeu o gesto defensivo dele e ficou em silêncio tentando escutar o que quer que estivesse vindo, três finas lâminas de atirar já estavam entre seus dedos.

- Está vindo...

Os dois esperaram pacientemente, preparados para atacar, porém longos minutos se foram sem que o inimigo aparecesse, mas ambos sabiam que poderia ser um truque já que tanto Aika quanto Katsuo percebiam a presença de alguém, a energia presente ali lhe era familiar, como a de qualquer outro youkai, porém havia algo de errado nela, a presença tinha uma aura sombria inquietantemente estranha.

- Você percebeu isso também Aika-san?

- Sim... É como a aura daqueles trigêmeos.

- O que diabos está acontecendo nessa cidade...?

Uma sombra se aproximava e eles podiam enxergá-la na entrada do beco Aika se levantou preparada para atirar as lâminas, Katsuo no entanto não conseguia se mover direito e estava sem forças para levantar, se houvesse luta, tudo estaria dependendo de Aika apenas.

Mas Aika e Katsuo não imaginavam que tipo de inimigo era aquele...

Antes mesmo da sombra se revelar da onde vinha, uma mão invisível atirou Aika contra a parede que logo em seguida caiu no chão com dor.

- Aika-san! – Katsuo tentou socorrê-la, porém ele não conseguia sair devido à fraqueza.

- Fique abaixado! – Aika gritou.

Katuso jogou o resto do corpo no chão liberando o campo de visão de Aika, que atirou suas lâminas contra a figura encapuzada que surgiu na entrada do beco que facilmente desviou delas.

- Aika-san, acima de você!

Outro encapuzado descia dos céus e tentou aterrissar por cima de Aika que desviou jogando-se para o lado de Katsuo, agora os dois se viram cercados pelos dois lados e com as opções limitadas. Katsuo sabia que precisava reagir de alguma forma, pois Aika sozinha não daria conta de ambos inimigos e pelo que ele pressentia da energia deles, nem mesmo os dois guerreiros em suas totais condições físicas dariam.

- Fique deitada ao meu lado! – Katsuo gritou.

Aika entendeu o que ele iria fazer.

A ruiva se jogou no chão e colocou as mãos sobre a cabeça enquanto Katsuo concentrava toda sua energia para fora de seu corpo. Um círculo de fogo se fez em volta deles, mas o controle de Katsuo sobre as chamas fazia com que o calor apenas se emanasse para fora, as chamas cresciam cada vez mais altas, logo, Katsuo e Aika estavam protegidos por uma enorme barreira de fogo, ele puxou a companheira para perto e a abraçou.

Num ataque desesperado, Katsuo encolheu-se abraçando firmemente Aika e transformou a barreira numa enorme tempestade de fogo queimando tudo que haveria em volta deles, na esperança de matar de vez os inimigos encapuzados ou mesmo afastá-los.

Só que Katsuo não tinha ideia de quem apareceria.

Uma luz negra se fez em meio as chamas, crescendo e engolindo-as, deixando apenas uma cortina de fumaça onde antes estava o fogo conjurado por Katsuo. Aika se levantou e começou a atirar suas facas, pois ela havia sentido alguém se aproximar, as lâminas desapareceram no meio da fumaça e logo em seguida foram atiradas de volta na direção de Aika, abrindo um corte em seu braço que ela tapou com a mão.

- Já chega de brincar com eles crianças... – Aquela voz era familiar para Aika e Katsuo, porém tinha alguma coisa assustadoramente diferente no tom dela.

A atenção de Aika foi chamada para Katsuo que estava extremamente fraco devido a descarga de energia que ele havia tido, ela se ajoelhou ao seu lado num gesto de tentar protegê-lo. Conforme a fumaça se dissipava Aika pode ver finalmente quem havia lhes atacado.

E ela não gostou da resposta.

Ela se lembrava bem do cabelo loiro, porém o mesmo que antes tinha um tom dourado, agora se tornava muito mais pálido, quase branco, combinando com a pele igualmente branca, os olhos eram azuis escuros, profundos como um abismo e pareciam querer sugar quem olhasse fundo neles, o rosto bem desenhado de belas feições combinavam com o físico forte. Da última vez que Aika havia visto Yahiko ele vestia um kimono refinado digno de um senhor feudal, ele agora usava uma magnífica armadura preta, porém seu coração quase parou quando ela percebeu o que havia em seu rosto... Duas listras na cor cinza-escuro em cada bochecha, as marcas que somente um youkai possuía.

“Isso não está acontecendo, não pode estar acontecendo” Aika pensou tentando encontrar qualquer forma de escape para ela e Katsuo dali.

- Já faz um tempo... – Yahiko falou, até mesmo sua voz estava diferente, mais profunda e assustadora – vocês dois e seus amigos deram trabalho pra mim e meus garotos, posso dizer que vê-los nessa situação agora é extremamente satisfatória.

- Vá pro inferno! – Katsuo resmungou ainda fraco.

- Que falta de educação com o capitão das tropas imperiais.

Yahiko deu alguns passos em direção aos dois youkais, Aika se colocou numa posição defensiva protegendo Katsuo que ainda estava deitado no chão.

- Agora vocês vão me responder... Onde ela está? – Yahiko ergueu o queixo de Aika com a ponta de sua espada.

- Não sei de quem está falando – Aika mentiu.

- Claro que sabe, minha noiva, Youre, onde ela está?

Katsuo e Aika ficaram em silêncio, ela apertou firme a mão de Katsuo sinalizando que jamais falaria.

- Certo... Vocês não vão falar, um traidor morto já foi o suficiente para o sensei de você não é verdade? – Yahiko ergueu um pouco mais a lâmina sob o queixo de Aika e se aproximou do rosto dela – Espero menos que quem diga alguma coisa seja ele – Yahiko apontou com o olhar para Katsuo – mas você minha cara... Tsuneo me falou muito bem de você, a espiã do grupo, a youkai serpente cujo coração pertence ao seu comandante... Uma pena que ele tenha sido fisgado pela Youre, isso te destrói por dentro não destrói?

O olhar de Aika era de suprema tristeza, ela podia sentir seu peito apertar com as lembranças de ver Youre sendo tão bem tratada e protegida por Natsuke.

- Não dê ouvidos a ele Aika-san! – Katsuo gritou, mas um dos trigêmeos colocou o pé em suas costas e o fez gritar de dor, Aika, no entanto arregalou os olhos como se tivesse sido tirada de um transe.

Yahiko suspirou de insatisfação.

- Já pensou se aquela garota nunca tivesse aparecido Aika minha querida? – Yahiko estava ainda mais próximo do rosto de Aika e olhava fundo em seus olhos – seria o caminho livre para você estar nos braços de seu comandante, você sonha todas as noites com isso não sonha?

Aika ficou em silêncio durante alguns segundos, encarando firmemente os olhos profundos e escuros de Yahiko, uma lágrima escorreu por sua bochecha, ela se sentiu presa naquele olhar e desejava demais falar o que ele queria ouvir, mas a mão de Katsuo ainda estava apertando a dela, como o sentimento dividido e tomada pela fúria ela só conseguiu responder.

- Vai... Se foder.

Yahiko baixou a espada, surpreso e insatisfeito, contudo ele colocou uma mão na cintura e encarou-os sorrindo.

- Se é assim...

Kageyama deu uma forte pancada na cabeça de Aika e a desmaiou, Katsuo tentou reagir para defendê-la, mas ele também recebeu uma pancada, desta vez foi de Tanaka. Inconscientes, ambos foram carregados dali pelos trigêmeos, Yahiko apanhou a sacola de Katsuo a procura de algo que pudesse lhe dizer a localização atual de Youre, felizmente, ele era prevenido e sabia que isso poderia acontecer, então jamais andava com documentos, apenas provisões.

- Tudo bem... Se não consigo encontrar ela, vamos deixar que venha buscar os amigos...

 

Youre sonhou em abraçar os pais durante anos, imaginando como seria sentir a proteção dos braços deles, o amor, o carinho, tudo que lhe foi negado durante toda sua vida, talvez aquele momento finalmente preenchesse o vazio do que ela desejou sentir durante 15 anos. Só que infelizmente, esse sonho estava limitado ao mundo material, o mundo dos mortais.

E não era onde Youre estava agora.

Ela demorou alguns segundos para perceber que Ichiru e Naomi não tinham mais um corpo de carne e osso, os braços de Youre estavam envoltos em nada além de uma projeção fantasmagórica de sua mãe, ligeiramente transparente e sem cor, aquilo a assustou e ela recuou do abraço, assim que Youre estava afastada, a figura de Naomi se tornou mais nítida e clara.

- Sinto muito meu anjo... – Naomi arrastou as costas da mão no rosto de Youre, sua voz era distante e fantasmagórica, como se ela estivesse falando de uma distância muito longe de Youre, os lábios de moviam lentamente como se mal pudessem acompanhar o que ela dizia – mas infelizmente neste mundo existem apenas nossas almas, nossos corpos humanos se foram há muito tempo.

Ainda sem acreditar, Youre observava melhor a figura dos pais, eles pareciam mais pálidos que o normal, mais do ela mesma e Natsuke, uma espécie de aura luminosa, extremamente discreta e quase imperceptível os envolvia. Naomi vestia um simples kimono cor-de-rosa com fitas lilás, a armadura de Ichiru era acinzentada por cima de um kimono verde escuro, mas a maior dúvida de Youre havia sido confirmada naquele exato momento... Seus pais não eram youkais, nem Naomi e nem Ichiru tinha qualquer sinal no rosto ou no corpo do poder de um youkai, eram simples almas humanas, apenas.

- O que aconteceu? Com vocês dois? Me digam por favor!

- Filha... – Ichiru falou colocando a mão no ombro de Youre, era fria e sem pulso, sua voz tinha a mesma entonação distante e fantasmagórica de Naomi – essa é uma pergunta a qual você já sabe a resposta.

Youre se manteve em silêncio um pouco e retrucou.

- Foi o desgraçado do Takashi, não foi?

Naomi abriu uma expressão de tristeza.

- Há muito nós dois já pressentíamos que havia algo errado... Visitas esquisitas vinham em nosso vilarejo, pessoas se hospedavam por apenas alguns dias e sumiam, diversas vezes me levantei durante a noite ouvindo passos em nosso jardim, cheguei até mesmo a dormir com uma adaga ao lado – Ichiru contou.

- Como...? – Youre perguntou hesitante – como vocês...?

- Como morremos? – Naomi respondeu com um sorriso frio no rosto.

Youre apenas acenou com a cabeça. Naomi se manteve serena e começou a contar-lhe.

- Vivemos a alegria da construção de nossa família durante quase três anos, nossa casa era nosso refúgio de todo o passado terrível nas mãos das famílias nobres, de meu casamento tóxico com seu tio, da traição que ele cometeu contra seu pai...

Ao redor de Youre, ela percebeu que a paisagem estava mudando, a névoa pálida se dissipou aos poucos, dando lugar a um pequeno e aconchegante vilarejo protegido por uma densa floresta, pessoas simples andavam pelas ruas puxando carroças, carregando sacos com alimentos, vendedores espalhados pelas ruas vendendo os mais diversos tipos de coisas, roupas, adornos, comidas, incensos, bonecas... A visão de um vilarejo humano trouxe a desconfortável lembrança do vilarejo de Takashi para Youre que já se sentia tão habituada entre os youkais.

Uma casa em especial chamou a atenção de Youre, uma projeção de Ichiru surgiu no cenário indo em direção á entrada da casa, a projeção era diferente da imagem que falava com ela ainda pouco, era mais colorida e nítida, quase como a imagem de um ser de carne e osso.

- Onde estamos? – Youre perguntou.

- Estamos revendo as lembranças minhas e de sua mãe – Ichiru respondeu ­– este lugar não é real, você está apenas vendo o que nós vimos há muitos anos.

Uma criança saiu correndo da porta da porta da casa em direção ao abraço de Ichiru, sua pele era alva e tinha cabelos negros. Youre não pode conter o espanto em ver a si mesma quando criança, ao seu lado, Naomi aparecia.

- Foi aqui que você nasceu meu amor... – Naomi falou – durante dois anos este foi o berço de nossa felicidade.

Entre lágrimas, Youre perguntou.

- Me mostrem... O que aconteceu naquela noite.

Ichiru e Naomi a encararam em silêncio, no entanto, Youre começou a sentir-se estranha, sua visão estava ligeiramente turva e sentia seu corpo ser levemente puxado por alguma força invisível.

- O que está acontecendo? – Youre indagou curvando-se incomodada por aquela sensação.

- Não temos muito tempo – Naomi falou – se você passar mais algumas horas aqui pode acabar fazendo parte desse mundo para sempre.

- Me mostrem primeiro – Youre falou – me mostrem como vocês morreram.

Ichiru e Naomi a olharam sérios e preocupados, pouco depois a paisagem mudava novamente.

Não estavam mais no vilarejo, agora uma imagem mais nítida de Naomi e Ichiru estava à frente deles, eles estavam correndo através da floresta, Ichiru segurava firme a mão da esposa enquanto corria, em seu outro braço, ele segurava uma criança coberta com uma manta, Youre.

- Naquela noite sabíamos que seu tio havia nos achado – Ichiru falava – era uma questão de tempo até ele chegar a nossa casa, por isso fugimos antes para ganhar tempo e despistá-lo.

O casal correu durante cerca de meia hora pela mata, porém, o furioso cavalgar dos homens de Takashi podia ser ouvido logo atrás, buscando uma saída, Ichiru avistou uma pequena caverna de rochas pra onde empurrou Naomi e Youre, por algum milagre a criança não havia começado a chorar, em silêncio e com sua espada na mão, Ichiru vigiava a movimentação com o canto do olho, enquanto Naomi mantinha a filha calma.

“Nós três sempre fugimos não foi?” Youre pensava enquanto assistia a cena “nunca fomos inteiramente livres”.

As galopadas desapareceram, após longos minutos, nenhum ruído foi ouvido na mata, Ichiru continuava na vigia, tentando descobrir se era seguro sair e buscar abrigo em outro local, por mais escondidos que estivessem, aquela região era muito arriscada para ficarem, pois era repleta de fauna selvagem, não era seguro para andarilhos.

- Devemos passar a noite aqui? – Naomi perguntou.

- Tenho minhas dúvidas... – Ichiru falou – quem sabe o que podemos encontrar daqui pra frente, mas não estou seguro do quão longe meu irmão está.

- O que faremos então?

Ichiru ficou quieto e pensativo.

- Eu irei, fique aqui com Youre.

- Nem pensar! – Naomi ergueu a voz – sem você estamos totalmente sem defesas.

- Não vou demorar, preciso achar uma rota segura pra nos tirar daqui, se esperarmos pode ser pior, não apenas pelo meu irmão.

Naomi não conseguiu dizer nada, Ichiru puxou uma adaga e colocou na mão de sua esposa, fechando firmemente sua mão envolta do objeto. Num gesto de despedida, Ichiru segurou sua esposa pela nuca e a beijou.

- Eu não vou deixar nada acontecer com vocês, prometo – ele sussurrou recuando.

- Já não deixou acontecer suficiente... Irmãozinho?

Ichiru olhou para trás e se deparou com Takashi encarando a ele e Naomi.

- Irmão... – Ichiru não conseguia falar nada, com medo por sua esposa e filha.

- Esse jogo já durou tempo demais Ichiru – Takashi desembainhou e espada – se quiser que eu poupe sua vida, deixe Naomi voltar comigo, lhe darei apenas exílio como punição.

- Ela não irá a lugar nenhum sem mim!

Takashi encarou o irmão mais novo com uma risada cínica.

- Seu tolo...

O general sinalizou para seus guardas que começaram a atacar Ichiru, quando o imobilizaram, tomaram sua espada e seu arco e amarraram suas mãos. Takashi não havia percebido a presença de Youre, pois a pequena observava a cena por uma abertura entre os mantos que sua mãe usava para cobri-la.

- Papai! – a criança gritou.

Os soldados e Takashi interromperam o que estavam fazendo e se voltaram para Naomi que abraçava firme a filha tentando escondê-la, Ichiru que estava imobilizado no chão sem ter como reagir virou seu rosto para a esposa com desespero no olhar. Sério e cruel, Takashi embainhou a espada caminhando na direção de Naomi, a moça ainda tentava esconder a criança, porém o general tomou-lhe furiosamente os mantos, revelando Youre, pequena e pálida, com os mesmos olhos e cabelos de Ichiru, porém feições similares a da mãe.

Diante da imagem da filha de seu irmão, Takashi não conseguiu dizer absolutamente nada, mas Naomi sabia exatamente o que ele estava pensando em fazer, Ichiru começou a se debater querendo se libertar e salvar sua família, Naomi estava com a adaga do marido em punho temerosa pela filha.

- Certo... – Takashi falou – muito bem, matem ele.

- Não! – Naomi gritou.

Ichiru foi levantado grosseiramente pelos soldados de Takashi e levado para uma pedra onde serviria de apoio para o decapitarem, enquanto Naomi tentava correr para ajudar o marido, porém, o general estava a segurando pelo braço enquanto ela tentava manter a filha perto. Takashi agarrou Naomi apertando-a em um abraço forçado.

- Esse seu conto de fadas acabou – ele lhe disse ao pé do ouvido – você pertence a mim e a corte real, meu título não será manchado pelo meu irmão estúpido e nem você será mais enganada pelos devaneios dele.

- Não sou sua! – Naomi gritou se debatendo – pro inferno com você e suas palavras!

- Quieta meu amor...

- Eu não amo você! Meu marido está bem ali!

Takashi a apertou mais ainda em seu abraço.

- Tudo vai acabar agora... Ficaremos juntos para sempre.

No esforço para tentar se soltar de Takashi, Naomi sentiu a mão da filha escorregar, a pequena Youre correu desesperada até o pai com lágrimas nos olhos, a cena agora parecia satisfatória para Takashi, pois seus soldados mirava suas flechas para a criança. Naomi começou a gritar mais ainda querendo se soltar seu marido e sua filha iriam morrer diante de seus olhos.

- Youre não vá! – Naomi gritava.

- Papai! – a pequena corria.

- Volte pra sua mãe, tudo vai ficar bem filha! Fique com sua mãe!

Mas a pequena não iria parar, as flechas já estavam apontadas para ela, tirando forças de seu desespero, Ichiru se debateu com os soldados até conseguir se libertar, por algum milagre ele também afrouxou as cordas dos pulsos e soltou-se. Quando as primeiras flechas foram lançadas, Ichiru correu e abraçou a pequena Youre para protegê-la, enquanto três flechas eram cravadas em suas costas.

- Ichiru!!!

Naomi se soltou de Takashi que a largou por crueldade para que ela visse o marido morto, Ichiru estava deitado no chão em posição fetal abraçando a pequena Youre que não se mexia também. Diante da visão do marido e da filha mortos, Naomi curvou-se sobre os dois e chorou copiosamente.

- Isso não pode estar acontecendo! – Naomi gritou – você é um maldito assassino!

Takashi não disse nada, apenas se aproximou da mulher.

- É hora de irmos – ele disse estendendo sua mão.

Naomi deu um tapa não de Takashi e abraçou ainda mais forte o corpo de Ichiru, o general apenas encarou com reprovação no olhar.

- Naomi... Já chega.

- Esta é minha família! Este é o lugar que eu pertenço!

- Você pertence a mim Naomi! – Takashi ergueu a voz.

- Vá pro inferno! Você tirou tudo de mim, alimentando um amor que existe somente na sua cabeça! Eu jamais voltarei pra aquele castelo.

Takashi deu um passo em direção à Naomi.

- Naomi... Eu prefiro a morte a ter você longe de mim.

Naomi olhou para o general com fogo nos olhos, depois olhou para Ichiru, na manga de seu kimono, ela ainda escondia a adaga dada por seu marido “não vou me entregar assim”.

- Pois eu prefiro também a estar longe de Ichiru e Youre.

Sem que Takashi percebesse, Naomi sacou a adaga do kimono, e cravou firmemente dentro de seu próprio peito.


Notas Finais


Até mais galera! Nos vemos no Cap 19.

Beijos da Ruiva <3


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