História Espumas - Capítulo único

O barulho de metal ressoou em meus ouvidos, e então o objeto caiu no mar.

Olhei desolada para o casal recém-casado. Tão bonitos, tão serenos, calmos...

Se eu amo, tenho que amar tudo, não é? E eu amo a felicidade dele, mesmo que isso me deixe mais triste que tudo.

Meus pés doem, mas não me importo. A dor de estar pisando constantemente em cacos de vidro já não me incomoda mais. O vazio dentro do peito é muito pior do que qualquer dor física seria capaz.

Não posso chorar, mas acredito que nesse momento eu teria inundado o convés com minhas lagrimas.

Deixei toda minha vida para trás. Meu pai, minhas irmãs, minha avó, meu mundo. Mas não me arrependo, pois o fiz consciente e tentando buscar meus objetivos. Quero o amor, mas não posso recebê-lo, outra já está o recebendo por mim. Quero uma alma, mas nunca terei.

Olhei uma última vez para acena, e uma última vez para o céu, que estava finalmente clareando. Uma última olhada para tudo.

Ao me jogar ao mar, não senti medo. Vivi a maior parte de minha vida entre as ondas. Mal podia esperar para voltar a fazer parte de sua beleza, voltar às origens. Mesmo que me tornando espuma.

Será que dói? Tornar-me espuma?

Realmente doeu quando ganhei minhas pernas. Parecia que estava morrendo. Uma faca atravessando por meu corpo.

Eu só poderia esperar agora. Flutuava sobre as águas calmas, o vestido nem fazia o peso que deveria.

Eu o amei tanto! Por que não posso ser amada igualmente? Se ele ao menos pudesse me ouvir, mas não tenho voz.

Amei seu sorriso. Amei seus gestos. Amei suas palavras. Amei sua voz. Amei seus passos, mesmo que bruscos. Amei seus cabelos. Amei tudo nele.

Ainda amo.

Mas o que é amor? Eu sei o que é?

O que acho que é amor me fazia sempre esperar pelo dia seguinte, tão ansiosa! Poder vê-lo novamente!

Agora, o mesmo sentimento me coroe. O mesmo sentimento está me matando. O mesmo sentimento me machuca, e me faz querer chorar.

Tenho alternativas? Sim. Minhas irmãs a criaram para mim. Me deram algo que poderia alterar minha sina, e me salvar da morte sem propósito. Mas se aceitasse a alternativa, ele teria de morrer. Não posso trocar sua vida pela minha.

Não posso mata-lo, pois se matasse estaria me matando, e me condenando aos dias vazios dos anos que deveria viver.

Só quero a felicidade dele. Mesmo que eu não faça parte dela. Quero que ele ame, pura e profundamente. Quero que a outra lhe ofereça os mesmo sentimentos, e sei que vai. Pude ver em seus olhos.

Abro meus olhos, os primeiro raios solares tocam minha pele. Sorrio uma última vez.

O que vai acontecer agora?