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História Esse é só o nosso começo - 2


Escrita por: DMGregorio

Capítulo 2 - 2


Aquela noite, eu sonhei com minha casa.

Era uma casa pequena e de aparência velha, mas acho que era considerada aconchegante.

Tinha paredes beges e meio descascadas, havia um pequeno portão de ferro a frente, você poderia entrar pela pequena trilha de pedras marrons e a sua esquerda e direita, havia flores que minha mãe cultivava. Ao entrar, logo na sala, você seria bombardeado por inúmeras fotografias minhas e da minha mãe. Bem, não só nossas, lembro-me de uma foto de quando eu tinha 10 anos. Nela eu estava sorrindo, um curativo na testa, os cabelos curtos na época. Ao meu lado Lian sorria também com um carrinho azul nas mãos e minha mãe atrás de nós com seus cabelos loiros brilhantes.

É a minha foto favorita, mas ficou empacotada junto com tantas outras coisas. Haviam só 5 cômodos na minha casa antiga. A sala com os sofás já gastos e uma TV pequena numa estante cheia de arranhões. Meu quarto de frente para o da minha mãe no pequeno corredor e então a cozinha e depois o banheiro.

Não havia quintal. Talvez por isso ela nunca me deixou ter um cachorro.

Quando abro os olhos, fcto o teto branco de gesso muito acima de mim. Essa casa é absurdamente alta.

Sento na cama, dormi ainda com as roupas de ontem. Não arrumei absolutamente nada e estou suado demais. Verifico a hora.

Está quase na hora de ir pra escola e eu duvido que Sam Baker use ônibus pra ir até lá, então provavelmente irá de carro. Não sei se vou me acostumar com isso.

Levanto da cama e procuro uma roupa pra vestir nas minhas malas, eu me pergunto onde fica o banheiro nessa casa gigante.

Abro as portas do armário exageradamente grande, como tudo nesse lugar, e fico surpreso ao ver que uma das portas na verdade dá para o banheiro.

Eu tenho um banheiro no meu próprio quarto. Não sei se acho isso bom ou ridiculamente mesquinho. Decido pensar nisso depois e entro no banheiro.

A água é quente e relaxar os ombros doloridos. Tento não me manter para baixo, mas não faz nem mesmo 24 horas que estou aqui e eu quero ir embora. Estou com saudades de casa, da minha mãe, de Lian e até da bola de pelos que ele chama de cachorro.

Meus olhos ardem, mas eu não vou chorar. Eu prometi a mim mesmo que não iria e não vou. Depois de vestir uma roupa que eu considerava “aceitável” eu desci as escadas por onde havia subido.

Encontrei Joffrey na sala vasculhando algumas gavetas.

-Bom dia. - eu disse.

Ele quase pulou de susto, derrubando os papéis que estava em suas mãos.

-Desculpe. - murmurei sem jeito.

-Não tem problema. Bom dia, Sr…- ele parou um pouco e depois sorriu. - Sean. - ele pronunciou meu nome de um jeito estranho. Mais como Shawnnn.

- Bem…- eu provavelmente devo parecer um filhote que se perdeu da mãe. -Eu não faço ideia do que devo fazer. -

Ele sorri levemente.

-Você deve tomar café da manhã com seu pai. Ele já está à sua espera. -

Ouvir aquilo me faz querer voltar pro quarto. Não sei posso comer algo agora, meu estômago está se revirando.

-Tudo bem. - eu digo. Mas não sei porque disse isso. Não está tudo bem, não está nada bem.

Meu estômago se embrulha e revira.

Eu sigo Joffrey quando ele faz um sinal com a cabeça.

Andamos por um corredor cheio de quadros estranhos até finalmente chegarmos na cozinha.

A cozinha é basicamente branca. Tudo é branco. Desde a parede aos móveis e até mesmo os talheres sobre a mesa são brancos nos cabos.

Sentado na mesa e elegantemente arrumado está George Wallace Baker.

Seu cabelo negro está penteado para trás, sua roupa é impecavelmente lisa e ele está ereto na cadeira, como um soldado. Alerta. Ele se vira assim que me vê, seus olhos tem um brilho estranho. Um verde e outro azul. Sua expressão é de…. Medo? Fico confuso ao ver aquilo. Eu me aproximo e ele se levanta.

-Olá, Sean. - ele pronuncia meu nome corretamente, sem nenhum sotaque ou acento. Estende a mão pra mim. - É um prazer conhecer você. - ele diz.

Eu encaro sua mão estendida. Seu relógio caro. Fico feliz por ele não tentar me abraçar.Aperto sua mão e olho sem expressão pro seu rosto. Não está na minha política mentir, então não digo que foi um prazer conhecer ele. Ele se senta parecendo desconfortável e eu faço o mesmo.

-Bem, é o seu primeiro dia de aula, espero que se saia bem. E que faça amigos. -

Eu apenas encaro a louça branca. As paredes são de vidro mais a frente e por elas dá pra ver o rio lá embaixo, além das árvores e montanhas, desvio meu olhar para elas. Então é isso?

Nós vamos simplesmente fingir que nada disso é muito escroto?

-Você tem os cabelos iguais ao da sua mãe. - ouço-o dizer. Aquilo atrai a minha atenção.

Ele está me encarando como se visse a minha mãe em mim.

-Tem o mesmo brilho. Foi a primeira coisa que notei nela. - aquilo me irrita. Demais.

-Bem, você não iria gostar de como ela terminou. - eu digo. Aquilo dói em mim. Mas quero olhar para ele e saber que ele sente a dor também.

Ele entende o que eu quero dizer e olha para a mesa. Eu me sinto mal por me sentir bem vendo que aquilo o afetou.

-Ela era linda de qualquer jeito. -

Eu não entendo porque ele está agindo como se gostasse dela. Como se a amasse. Não entendo o que está acontecendo aqui. Porque estou na casa desse homem que supostamente deveria ser meu pai, mas nunca agiu como tal.

-Você me odeia não é? - ele pergunta sem olhar para mim.

Eu penso sobre isso. Eu o odeio?

-Não. - Respondo. Ele olha para mim, tem alguns fios grisalhos em seus cabelos, eu vejo agora. Os olhos são nossa única semelhança. Ele tem pequenas rugas nos cantos dos olhos. Mas percebo que apesar disso tudo, ele é mais jovem do que pensei que fosse. - Não odeio você. Não sinto nada  por você. Não o conheço. -

Ele finalmente levanta os olhos e me encara.

-Nós podemos nos conhecer. Eu você e o Sam. Podemos ser uma família. - ele parece ansioso agora. Não era essa a reação que eu esperava.

-Eu duvido muito. - digo olhando em seus olhos.

Eu sei que estou aqui porque não tenho nenhum outro lugar pra ir. Ele é o único parente que tenho. Mas não é minha família.

-Podemos tentar. -

Ele está realmente disposto a isso? Nós dois viramos o rosto na direção da entrada da casa quando um carro é ligado e o som dos pneus derrapando se faz alto e claro.

-Droga, Sam. Eu disse pra ele levar você pra escola. - ele se levanta. -Queria que vocês fossem juntos. -

Ele sai da cozinha.Eu olho pra toda a comida. Meu estômago se revira, dá um nó e o desfaz só para fazê-lo novamente. Respiro fundo. Tento me manter calmo. Levanto e vou pro meu quarto pegar a mochila. Não estou animado para ir a escola, mas quero sair dessa casa o mais rápido possível.

Quando desço com a mochila nas costas, George está na sala.

-Não consegui alcançar ele. Desculpe por isso. Ele é difícil as vezes. - ele aponta para um homem na entrada da casa. -Marcus pode levar você. Ele é o motorista. Eu mesmo iria mas estou atrasado para uma reunião. -

Eu não digo nada. Apenas o olho saio de casa o deixando para trás.

Sigo o motorista e entro no carro sentando no banco detrás.

Ele é jovem e tem uma barba rala no rosto. Seus cabelos são cacheados e são uma confusão.

Ele me encara pelo retrovisor e não sei o que ele quer.

-Ponha o cinto. - ele diz.

Eu o encaro. Fico esperando o irritante “senhor” que parece acompanhar toda frase nesse lugar, mas ele não vem.

Coloco o cinto.

O céu está nublado e com nuvens grossas de chuva, não estou acostumado com frio essa época do ano, mas dizem que é sempre inverno em Londres.

-Então você é o filho perdido? - pergunta Marcus.

Ele mantém um olho na estrada e outro em mim, pelo retrovisor.

-Mais pra abandonado. - respondo.

Ele ri meio sem jeito.

-Bem, ele está se esforçando. Desmarcou uma reunião importante só pra tomar café com você. -

Eu olho para ele, seus cabelos estão balançando levemente pela brisa que entra pela pequena fresta que ele deixou no vidro.

-Tempo perdido. - eu me ajeito no banco. - Ele poderia ter tentado passar um tempo comigo 16 anos atrás. -

Marcus ri devagar no banco da frente e não diz mais nada o resto do caminho e quando chegamos no colégio, que mais parece um castelo, ele me dá um pequeno cartão e diz pra eu lhe ligar quando quiser ir pra casa.

Eu agradeço a ele e fico parado na frente do lugar.

É alto e é literalmente um castelo, com torres e tudo mais.

Não consigo não pensar em Hogwarts.

Sorrio brevemente com esse pensamento. Meus cabelos balançam com o vento e chicoteiam o meu rosto, por isso os prendo num coque bagunçado.

Estou caminhando pra entrada do lugar, passando pelo imenso gramado verde quando alguém grita.

-Sai da frente, Taylor Swift. - um segundo depois eu recebo a bola na minha cabeça e vou ao chão.

Taylor Swift. É… Já chamaram assim na escola antiga e eu também já fui jogado no chão desse mesmo jeito. Infelizmente algumas coisas não mudam. Ou talvez mudem mas apenas existam pessoas babacas em todos os lugares.

Respiro fundo, ainda no chão.

Como eu disse, isso tudo vai muito provavelmente ser uma grande merda.

 



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