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História Esse é só o nosso começo - 3


Escrita por: DMGregorio

Capítulo 3 - 3


Enquanto eu caminhava pelos longos corredores de pedras do colégio eu me perguntava pelo que me zoariam primeiro.

Meu cabelo longo e claro? Ele não é loiro como o da Taylor Swift, mas é um tanto claro demais pra ser castanho. Normalmente começavam por aí.

Depois eram minhas roupas, eu adoro usar moletom, por isso simplesmente os uso. Não costumo dar bola pra isso. Hoje estou usando uma calça preta e folgada e um all-star azul escuro. E meu casaco tem estampa de Fullmetal Alchemeist. Talvez comecem por aí, na verdade. Na antiga escola as pessoas me zoavam por usar roupas com estampa de Pokemon e outros animes.

Talvez fosse meus olhos. Não sei, já estou acostumado com essas coisas e talvez isso tenha me anestesiado.

Paro de pensar nessas coisas porque tenho consciência de que estou atrasado. Procuro pela sala do segundo ano e saio vasculhando cada lugar até ver uma pequena placa acima da porta indicando que é ali. Minha primeira aula é de literatura. Eu entro na sala e logo todos se viram para me encarar. Tenho quase certeza de que estou vermelho. Meu cabelo soltou do coque e está caído sob meus ombros.

-Bom dia. - eu digo meio sem jeito. - Sou Sean. Sean Baker. - algumas pessoas arregalam os olhos e começam a cochichar baixinho. A professora sorri e diz.

-Já acabamos com as apresentações há 15 minutos. Amanhã tente chegar no horário Sean Baker. - ela diz apontando pra uma cadeira nos fundos. Eu sigo até lá com a cabeça baixa.

Sento e lembro das palavras da minha mãe.

“Se você não se mostrar afetado, eles não vão saber que está. “

Por isso tento manter meu rosto sério e de alguma forma, transformo minha expressão em algo que beira a confiança.

Permaneço em silêncio absoluto até o fim da aula e penso seriamente em não sair dela pelo resto do dia, mas meu estômago ronca e a fome me faz sair em busca do refeitório.

Os corredores e salas parecem todos iguais, feitos de pedra cinza e de aparência fria. Eu continuo caminhando até sair em um gramado verde e extenso, mas esse não na entrada da escola e sim no fundo dela, ele acaba na entrada de uma floresta com árvores altas. Tem um garoto deitado na grama. Ele parece estar dormindo. Considero a possibilidade de ir lá perguntar onde fica o refeitório, mas acabo desistindo da ideia estúpida. Depois de muito procurar eu encontro. O refeitório é no segundo andar. Em que tipo de lugar o refeitório fica no segundo andar? Tem várias mesas e alunos espalhados conversando e brincando, sorrindo e brigando. Quase como um colégio normal, eu diria.

Vou até a entrada na loja e peço por um pão recheado de aparência gostosa. Ele está quente em minhas mãos e o cheiro faz meu estômago protestar bem alto. Me pergunto se a mulher do outro lado ouviu. Eu enfio as mãos no bolso e tiro uma nota de 50 dólares e só aí eu percebo a minha burrice. Eu olho pra mulher do outro lado que encara a nota com uma sobrancelha erguida.

-Merda. - eu resmungo.

Estou prestes a devolver o pão quando um rapaz enfia algumas notas pelo pequeno buraco na janela de vidro por onde a mulher recebe o dinheiro.

Eu me assusto e olho pra ele.

-Você fica me devendo uma, cara. - ele diz.

Ele compra seu próprio lanche e depois faz com a cabeça o mesmo sinal que Joffrey fez pra mim ontem a noite, pedindo que eu o siga.

-Obrigado, cara. Eu esqueci completamente de trocar o dinheiro. - digo enquanto descemos as escadas.

-Tudo bem. Você parece bem perdido aqui Sean Baker. -

Eu olho pra ele me perguntando como ele sabe o meu nome.

-Estamos na mesma aula de história. - ele responde uma pergunta que eu não fiz e depois estende a mão pra mim. - Jesper Auden. -

Eu aperto sua mão e lhe devolvo o sorriso que ele me dá. Ele me leva até a frente da escola onde há um banco debaixo de uma enorme árvore. Todos os outros lugares estão ocupados por outros alunos.

-Você vai se acostumar bem rápido. - ele diz.

Desejo que seja verdade.

-Bem, vou fazer a pergunta que todos querem fazer, mas você só me responde se quiser. - ele me olha com um ar divertido. - De onde você veio? Porque um herdeiro das empresas Baker apareceu assim do nada. ?-

Eu o encaro. Não sei porque eu deveria contar algo pra ele, ele foi gentil comigo, mas não o conheço. Seus olhos castanhos claro me fitam curiosamente. Sua pele é escura e seus cabelos são como fios de cobre em sua cabeça, bem enroladinhos. Ele é muito bonito.

Solto o ar pesadamente e limpo os restos do pão da minha roupa.

-Eu vivia com minha mãe em Nova York. Tive que me mudar pra cá depois que ela morreu porque não tinha mais ninguém para ter minha custódia.- não sei porque conto a verdade pra ele.

-Sinto muito, cara. Essas coisas são uma merda. - ele diz honestamente.

Eu normalmente odeio o olhar de pena que me lançam quando ficam sabendo disso. Odeio os “sinto muito” que são ditos apenas por convenções sociais.

Mas só consigo dizer:

-Sim. Uma merda. - para Jesper.

O sinal toca e nós vamos para a aula, essa não fazemos juntos, fico meio triste por isso, seria bom ter sempre alguém pra conversar por perto.

Ao invés do Jesper tem aquele brutamontes que me acertou uma bola mais cedo. Ele olha pra mim é ri o tempo todo. Faz gestos idiotas como se estivesse balançando seu cabelo inexistente e me chama de Rapunzel.

Eu apenas continuo prestando atenção na aula de cálculo e tento fingir que ele não existe. Eu realmente já estou acostumado com toda essa merda, usando as palavras do Jesper. Mas não significa que eu seja imune a elas.

Entre o intervalo entre uma aula e outra eu vejo Sam. Ele está junto de vários outros garotos e seus braços estão ao redor de uma menina morena de cabelos cacheados. Ele está vestido todo de preto, como se fizesse parte de uma tribo qualquer.

Quando ele me vê, finge que não me viu e eu, é claro, faço o mesmo. Mas alguém me empurra com força e grita.

-Hey Sam, gostei da sua irmã. -

Sam ignora completamente tanto eu quanto o rapaz.

Eu vou para o gramado lá fora, onde o rapaz estava deitado, mas agora está chovendo e ele não está mais lá.

Fico sentado entre duas máquinas de refrigerante que estão perto demais do banheiro masculino para serem frequentemente usadas. O dia passa lentamente, carregado de nuvens grossas e de uma neblina espessa. Mas eu continuo. Respiro fundo e continuo.

Na saída da aula eu me encontro com Jesper, mas ele não está sozinho dessa vez. Há uma garota com ele. Ela é asiática e tem cabelos curtos e mechas violetas nele. E parece bastante irritada.

-Oi, Sean. - diz Jesper.

Eu respondo seu cumprimento e encaro a garota, que encara o mundo inteiro.

-Ah sim. - ele diz, como se só agora notasse o clima estranho e o silêncio constrangedor. -Yuuki, esse é o Sean Baker. Sean essa é a Yuuki, minha amiga. -

Eu estendo a mão e tento dar meu melhor sorriso.

-Prazer em conhecer. - digo.

Ela aperta a minha mão e diz:

-Seu irmão é um babaca.

Eu dou risada mesmo sem querer.

-Concordo plenamente.

E assim, do nada, estamos no meio de uma conversa que vai de trabalhos escolares até vida em outros planetas. É estranho, eu não costumo fazer amizades facilmente. Vivi em Nova York minha vida toda e o único amigo que fiz foi o Lian, e o Lukas é claro, mas paramos de conversar depois de nos beijarmos em uma festa da escola e os garotos do time nos pegarem no ato. Começaram a chamar ele de bicha e ele disse que eu o havia agarrado. Suponho que seja um ótimo motivo pra socar alguém e terminar uma amizade.

O caso é; eu estou meio ansioso, feliz e com medo. É muito bem ter feito amizades mas estou com um pouco de medo de acabar fazendo alguma idiotice.

Nós três ficamos um tempo conversando debaixo da árvore, no banco onde ninguém senta.

Eu ia perguntar o porquê disso, mas entendo assim que um vento um pouco mais forte passa pelo lugar.

As folhas balançam violentamente e o resultado disso é uma chuva em quem está embaixo dela. Yuuki, Jesper e eu ficamos ensopados e nossa única reação é rir sem parar.

É estranho, mas é muito bom.

Nós despedimos quando começa a ficar um pouco tarde e eu ligo para Marcus logo depois de Yuuki entrar no carro com Jesper.

-Alô? - ouço a voz dele do outro lado.

-Sou eu, Sean. Você pode vir me buscar por favor? - tento ser o mais educado possível. - eu voltaria a pé, mas não sei qual o caminho. -

Ele ri do outro lado e conversa com alguém.

Ouço um rapaz dizer. -Você já não terminou seu expediente?- e minha vergonha só aumenta.

-Oh meu Deus. Me desculpe, eu fiquei conversando e perdi o horário. Eu vou pegar um ônibus, não se preocupe. - mas eu não posso pegar um ônibus porque não faço ideia de qual ônibus pegar.

-Não se preocupe Sean. Fique aí, eu vou buscar você. - ele diz e então desliga.

Eu sento no banco. O céu agora está mais escuro. Tudo está mais escuro.

Fico esperando Marcus e pensando que talvez não seja ruim ficar nessa escola. Mas a ideia de voltar pra casa do George não me agrada em nada. Espero que ele fique na empresa até tarde.

Quando Marcus chega, eu entro no carro já pedindo mil desculpas, mas ele diz que não tem problema nenhum e ele realmente não parece irritado, então presumo que esteja tudo bem.

-Foi o meu irmão no celular. - ele diz enquanto dirige. - Ele estuda no mesmo colégio que você, mas está no terceiro ano. -

Não sei porque ele está dizendo isso. Talvez esteja querendo me confortar de alguma forma. Penso em algo pra dizer, mas não consigo achar então apenas aceno com a cabeça.

-Talvez vocês possam ser amigos. Ele vai bastante a casa do Sr. Baker. Ele ajuda limpando a piscina. -

-Claro, seria bom ter um amigo lá. - eu digo. Mas só por educação. Ele está parecendo um daqueles adultos que acham que todos os problemas dos adolescentes se resolvem com uma conversa e um abraço.

Quando chegamos a mansão eu o agradeço mais uma vez e entro em casa. Nenhum sinal de George ou de Sam. Joffrey está na cozinha e eu sigo para lá.

-Sean, como foi o seu primeiro dia de aula? - ele pergunta.

-Foi normal. - respondo.

-Qual é o normal, Sean?

Ele vai usar meu nome em todas as frases?

-Foi cansativo, mas acho que fiz alguns amigos. - eu digo. Porque como adulto, isso é o que ele provavelmente quer saber.

Ele sorri.

-Isso é muito bom. -

Tem algo cheirando muito bem em uma bandeja e eu me arrasto até lá, porque só comi um pão recheado durante todo o dia e não faço ideia do que vou fazer pra conseguir o dinheiro desse país, pois não vou pedir nada a George ou a Sam.

-Pode se servir. - diz uma senhora que está entrando na cozinha.

Ela é pequena e parece frágil, tem cabelos brancos por toda a cabeça e um rosto de avó. Eu nunca tive uma avó, mas suponho que o seu rosto seria parecido com o dessa senhora.

Eu pego um pedaço da torta e está simplesmente uma maravilha.

-Está muito gostoso. - eu digo com a boca ainda meio cheia. Joffrey lança um olhar de repreensão pra mim e eu engulo tudo de uma vez.

-Martha! - a voz ecoa pela cozinha.

Sam aparece, agora ele está vestindo uma camisa de uma banda de rock que eu não conheço, uma calça jeans e está descalço. Ele sempre esquece de vestir alguma coisa?

Ele vai até a mesa e estende a mão pra pegar um pedaço da torta, mas a senhora, cujo o nome agora eu acredito que seja Martha, dá um tapa na mão dele.

-Vá lavar as mãos. - ela o repreende. - e essa não é a sua. Tem nozes nessa aqui. - ela diz.

Sam faz cara de ofendido, mas ri logo depois e vai até a pia lavar as mãos.

-Por quê você colocou nozes? Sabe que sou alérgico. - ele pergunta.

-Porque ela é mais gostosa assim. E eu queria deixar o menino Sean provar a receita completa. - ela diz.

Sam olha pra mim, como se só agora me visse no lugar. Seus olhos me examinam mas ele não diz nada. Eu fico feliz por isso, não sei como funciona essas coisas de irmão, e com certeza ele não está afim de descobrir também.

Sam vai até o microondas e tira uma torta diferente de lá. Ele serve três pedaços num prato. Dá uma mordida em uma. Soca o braço de Joffrey, dá um beijo na bochecha de Martha e depois desaparece.

-Ele é sempre assim apressado. Você vai se acostumando. -

Todo mundo tem usado essa palavra ultimamente. Acostumar. Acostumar.

Eu sorrio para ela, pego mais um pedaço da torta e subo pro meu quarto. Está tudo perfeitamente arrumado agora. Desde as roupas até meus livros. Tudo organizado. Eu não sei quem fez isso mas está de parabéns, apesar de eu gostar de arrumar meus livros.

Eu vou até a estante e pego um livro aleatório.

“As vezes a mudança precisa começar dentro de você. “

Coloco o livro de volta no lugar um tanto assustado. Eu ainda estou com meu coração em Nova York. Não sei se isso vai mudar tão cedo. Não sei se eu quero que isso mude.

 



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