História Essence - Lullaby

"Ela gostava de tulipas, mas era alérgica a elas. E por mais que houvessem tantas outras flores em seu jardim, não adiantava, ela sempre se pegava observando e tocando naquele mal que a fazia tão bem." Marcos Felipe.

Quanta vezes você já pensou em jogar tudo fora? Fazer as malas e sumir... Sumir de sí, dos problemas e da falta de um todo. Se reencontrar em outra história, trilhar um novo caminho, viver uma nova vida onde suas feridas não sangrassem mais. Quantas vezes?  

Se a pergunta fosse para Regina, a resposta seria milhares de vezes, tantas vezes quantas seu coração bateu no ultimo minuto. Tantas vezes quantas se olhou no espelho e pediu, em silencio, socorro. Ainda assim foram mais vezes que essas, muitas mais.  

E em todas elas falhou.  

Falhou pois já não era mais sobre fugir das coisas ao seu redor, do mundo que a olhava com pena, da família que sofria. Disso era fácil fugir. Mas Regina queria fugir de sua sombra, seu eu machucado, suas marcas permanentes e suas escolhas erradas.  

Mas quem consegue se enganar por muito tempo? O coração grita, o espelho escancara a sombra fica. E é sempre uma tentativa falha.  

Aquele choro era um grito, um grito da realidade lhe chamando e lhe  mostrando que é sim muito mais fácil fugir, virar as costas e se afogar em sentimentos. Aquela copia de seu antigo passado lhe esfregava na face o quão fraca havia sido e que deveria  ter lutado, mesmo quando a guerra parecia estar perdida.  

O peso em seu coração se apertou e como veio foi-se, o anjo de olhos verdes a encarava, a pureza escorrendo por cada veia e transbordando no pequeno coração. O choro finalmente havia parado. E ele apenas a encarava. E por mais machucados não cicatrizados que a morena ainda tivesse, das vezes que os sentiu sangrar, aquela fora a única que enxergava, em curiosos verdes, um caminho de volta para casa.  

-Eu tô com tanto medo. -Seus olhos se voltaram para  onde o loiro estava. -Eu se quer sei trocar uma frauda, eu... eu nunca peguei um bebê nos braços antes. 

-A pratica leva a perfeição... -Divagou voltando-se para o pequenino.  

-Frase feita, Regina? Serio... 

-Você sabe o quão difícil é isso para mim? -Sua voz não passava de sussurros. -Minhas feridas estão sangrando, e teu filho permanece nos meus braços, não me pede mais que isso. -respirou fundo. - Não hoje.  

-Regi... 

Lentamente a mulher sentou-se no sofá e ajeitou o pequeno em seus braços, voltou-se para  Robin e entrelaçou suas mãos.  

-Eu sei que não estávamos juntos e que eu não posso. -olhou para suas mãos. -Que não posso te cobrar nada, muito menos te fazer escolher. Mas se coloca na minha situação, por um segundo olha do meu ponto de vista e tenta me entender.  

-Eu entendo, e eu me odeio por estar te fazendo sofrer. -Uma lagrima solitária desceu dos olhos da morena que se aproximou do loiro roçando seu nariz na bochecha dele.  

-Eu gosto muito de você, Robin, eu amo o que você faz comigo e como você me da vida, mas eu tenho muito medo de todos os sentimentos que me rodeiam. -As lagrimas voltaram para seus olhos. -Quando você me diz que quer ficar do meu lado, e ajudar com que a bomba não exploda,  isso mata os monstros que ameaçam renascer dentro de mim, e isso por um momento me faz querer ficar também. Ficar do seu lado, ficar com seu filho. Ficar...  

Os olhos castanhos procuraram pelos olhos azuis e ela sentiu seu peito doer ao ver que sua calmaria não estava lá.  

-Eu não vou pedir que você fique. -As mãos entrelaçadas voltaram a se apertar. -Mas eu queria muito que você ficasse. -A respiração pesou. -Não por pena, gratidão ou qualquer coisa do tipo. Não quero que você fique porque eu fiquei, mas sim porque você acredita na gente e quer ficar.  

O contato foi perdido quando o pequeno anjo se mexeu, ajeitando-se nos braços de Regina, fechando os olhos. Naquele segundo de pura explosão de fofura a morena se perguntou se não valia a pena se permitir ser feliz.  

O pequeno foi delicadamente colocado na enorme cama de Regina.  

-Você ainda não me disse o nome dele... 

-Benjamin. -O sorriso surgiu nos lábios da morena. -Minha mãe que escolheu.  

-Filho da felicidade... é um belo nome. -Aos poucos o cansaço dominava o rosto da morena. -Começamos a namorar faz poucas semanas e quem diria que pularíamos tantas etapas. - e riu sozinha de seu próprio humor negro. -Desculpa eu não resisti. -Robin negou com a cabeça e se aproximou da amada.  

-Eu acho que precisamos esclarecer algumas coisas. -Ela concordou com a cabeça.  

-Me conte tudo... 

E pela primeira vez, naquele dia, Robin parou para analisar e colocar para fora tudo que soube nas ultimas horas. A conversa começou com a noticia da morte da ex-mulher, evoluiu paras N burocracias em que se encontravam o registro do menino, passando pelo teste de DNA que a Sra. Lucksley havia feito... 

-Ela descobriu assim que eu fui embora de Boston, mas achou que estava gravida do amante e resolveram manter tudo em segredo para não dar mais motivos para agilizar o divorcio.  

A morena escutava tudo atenta e se indignava vez ou outra com tudo que Robin falava, era insano pensar que a própria mãe do namorado, queria força-lo a voltar para casa em troca dos cuidados do pequeno.  

-Ela então deixou o Ben no meu quarto e saiu quando eu estava no banheiro... -A respiração pesou. -E bom viemos te pedir socorro. -Antes a morena tentava disfarçar o cansaço e a tristeza que a rondava, mas naquele momento não fazia questão alguma de deixar transparecer o quão indignada estava.  

-Isso é um completo absurdo. -falou mais para si do que para ele. -Você vai voltar para Boston? -Novamente os olhos se procuraram, e Robin abriu brevemente um sorriso ao decifrar aquele olhar.  

-Eu tenho tudo aqui, não há motivos para voltar. -Regina sorriu e pegou em sua mão. -Eu vou alugar uma casa, arrumar alguém para cuidar dele e assistir vídeo aulas no youtube, vou me virar o máximo que eu puder para continuar aqui... com você.  

-Você não precisa alugar um casa, pode vir... -Ele negou com a cabeça. -Robin pensa no seu filho.  

-Eu estou pensando, mas estou pensando em você também. -Em seu rosto surgiu um grande ponto de interrogação. -Eu não quero apressar as coisas mais do que a vida já esta apressando, temos tanto com o que lidar agora, não quero desgastar mais o nosso relacionamento.  

-Isso é um absurdo.  

-Não pequena, isso sou eu respeitando seu espaço. -os rostos foram se aproximando e ele colocou os lábios na bochecha dela. -Não pense que escapou da conversa sobre o Lupus, eu quero muito ir no medico com você.  

-Robin is... isso não é necessário, eu voltei com os remédios e vou ficar bem. -Ele revirou os olhos.  

-Vai refazer todos os exames, fazer tratamentos e tudo mais que o medico mandar. -A morena ergueu a sobrancelha. -Você vai ficar bem sim, mas vamos fazer isso direito.  

Ainda eram por volta das 14:00 daquele dia. Robin sairá atrás de coisas para o bebê e de uma nova casa para morar, enquanto a morena permanecia em casa com a criança.  

Por minutos incontáveis ela o ficou admirando, talvez aquilo não fosse um castigo, talvez fosse a vida a dando uma segunda chance com nome e jeito de felicidade.  

A campainha tocou a tirando de seus pensamentos. E o mais rápido possível a porta foi aberta, não queria que o barulho acordasse o pequeno.. Na porta Regina a encarava com alguns pacotes do café.  

-Hey Siis. -Falou a ruiva adentrando o ambiente. -Como seu namoradinho não foi trabalhar hoje, eu vim aqui trazer comida para você e saber se houve uma reconciliação... 

-Você não presta Zelena! 

-Eu nunca disse que prestava. -Ambas gargalharam e sentaram-se no balcão da cozinha.  

-E então, onde está meu funcionário? 

-Foi providenciar algumas coisas para filho... -Os olhos de Zelena se arregalaram e Regina fechou e abriu a boca diversas vezes ao notar que havia falado muito.  

-Você esta gravida? -Gritou.  

-Não... -suspirou. 

-Ele te deu um cachorro? 

-O que? Não Zelena! 

-Então vocês resolveram adotar uma coisinha pequena e catarrenta?  

-Você quer parar de tentar adivinhar o que está acontecendo e me ouvir? -A ruiva balançou a cabeça e deixou que a morena respirasse fundo antes de começar. -A mãe dele chegou a cidade hoje, eu acho. -seus olhos se desviaram para o teto. -Ela vinha ligando dias seguidos e eu até tentei fazer com que o Robin me falasse o que era mas não...não sei porque ela não atendia, e fazia questão de ignorar as chamadas.  

-Eu não estou entendendo... 

-Hoje cedo fomos para a casa do Killian, e lá estava ela com uma criança falando ser filha do meu namorado. -Aos poucos a boca da ruiva foi se abrindo formando um perfeito "O" . -Eu acho que fiz a mesma cara.  

-Ele tem um filho? -Regina confirmou enfiando os dedos nos cabelos o bagunçando. -E como você reagiu? Quanto tempo tem essa criança?  

-Acho que semanas, eu surtei e vim embora... Mas diferente de todos os homens que eu conheço, o Robin sempre ta querendo um meio termo para tudo, então se vamos sofrer, que soframos juntos. Se vamos amar que amemos juntos. Se ele vai ter um filho, bom eu vou ser... 

-"mamãe" 

-Eu ia dizer madrasta. -riu. -Não acho que terei espaço para ocupar qualquer outro lugar, e eu não sei se estou preparada para isso. -Novamente o tremor em sua voz era visivel. -Aquela criança me machuca e me desgoverna de uma forma surreal, ter ele em meus braços é, eu não sei o céu e o inferno juntos, entende? 

-Não, eu não entendo. -O choro invadiu aos poucos os ambientes da casa, e Regina correu para o andar de cima e logo o pequeno já estava em seus braços. Logo atrás Zelena vinha junto, ainda sem entender. Quando a ruiva entrou no quarto e se deparou com tal cena sorriu. -Eu só entendo que talvez esse bebê te faça muito bem.  

-Eu temo que ele faça bem demais, e seja arrancado de mim como Henry foi. -seus braços se fecharam mais sobre o pequeno. -Eu não quero aprender a amar um filho que não é meu, transformar  essa criança na realização do meu sonho e perde-la. Como eu já disse meu céu e meu inferno, em um pequeno e lindo anjinho. 

Um turbilhão de sensações a invadia, desde a primeira vez que ouvirá seu choro, até aquele instante onde Benjamin só parava de chorar embalado em seus braços ouvindo a morena cantar um canção de ninar.  

A conversa com Zelena sobre a criança ainda se estendeu por alguns instantes, Regina nunca fora boa em demonstrar seus sentimentos e os colocar a mesa para averiguação. E aquele não era um bom momento para faze-lo. Ela sabia que as lagrimas viriam, que os questionamentos viriam, e que odiaria o mundo e quem fosse possível por estar cedendo a um bebê que não é seu. Mas isso poderia ficar para mais tarde, quando estivesse só.  

-Eu vim aqui também para conversarmos sobre o lúpus. -A mais nova ergueu a sobrancelha e sentou-se na cama ao lado da irmã. -Eu marquei medico para você... 

-O que? -Gritou, mas logo se arrependeu ao olhar para Ben. -Quem mandou você fazer isso? 

-Não sei, talvez o seu desmaio sem explicação na noite passada?  

-Zelena isso... olha eu não quero tá, eu estou bem e não vou me sujeitar a tratamentos e mais tratamentos e qualquer coisa do tipo. -A ruiva revirou os olhos se levantando.  

-Eu não vim aqui te comunicar, eu estou afirmando que você vai. Regina olha quantas coisas a vida resolveu te dar de uma hora para outra, um namorado lindo que ama você, que escolheu ficar do teu lado independente de qualquer coisa, que conhece suas fraquezas e as aceitou mesmo assim 

--... -A morena até tentou, mas Zelena continuou.  

-Um bebê que por mais que seja um baque no seu atual relacionamento, ainda assim é um presente. -os olhos da morena caíram sobre os verdes que ainda a encarava -Ele perdeu a mãe, e olha a vida ai colocando você no caminho dele... É uma estrada de dois lados, você precisa disso e ele precisa de você. -Regina concordou brevemente com a cabeça. -Eu sei que você tem muito o que pensar morena, uma criança é uma bomba que geralmente se prepara nove meses para receber, mas quando não se há tempo adaptasse ao que temos...  

-Eu sei... 

-Então pensa, mas pensa com calma, vê se é isso que você quer. E se a resposta for sim, apenas se cuide para que o pequeno não perca mais uma pessoa.  

As palavras da irmã ficaram presas na sua mente o resto do dia... Robin não havia demorado mais do que 40 minutos fora e assim que chegou percebeu que novamente a morena se encontrava em completa confusão consigo mesma e com aquela situação. O loiro então arrumou as coisas do filho o pegou e brevemente se despediu dela saindo porta a fora.  

Não haviam certezas sobre o amanhã, e eles sabiam disso. 

Robin olhou para o céu e agradeceu todos os Deuses que acreditava por não ter cogitado aceitar a proposta da namorada, as coisas tinham sim que se resolver, mas aos poucos.  

Graças a Deus Emma passaria aquela noite no apartamento, e poderia ajudar com Benjamin. Por sorte a Sra. Lucksley não ligara. E por azar, Regina também não.

Seu corpo caiu sobre a cama  e fechou os olhos por poucos segundos, nunca havia se sentido tão exausto em toda sua vida. Os minutos ali parado, porem, não duraram muito, e o choro logo invadiu o ambiente. Ele apenas suspirou alto antes de levantar.

É aquela seria uma longa semana.  

Qualquer distância entre nós

Virou um abismo sem fim
Quando estranhei sua voz
Eu te procurei em mim
Ninguém vai resolver
Problemas de nós dois...

Se tá tão difícil agora
Se um minuto á mais demora
Nem olhando assim mais perto
Consigo ver porque tá tudo tão incerto.

Será que foi alguma coisa que eu falei ?
Ou algo que fiz que te roubou de mim ?
Sempre que eu encontro uma saída
Você muda de sonho e mexe na minha vida.

O meu amor conhece cada gesto seu
Palavras que o seu olhar só diz pro meu
Se pra você a guerra está perdida
Olha que eu mudo os meus sonhos
Pra ficar na sua vida!

Se tá tão difícil agora
Se um minuto á mais demora
Nem olhando assim mais perto
Consigo ver porque tá tudo tão incerto.

Será que foi alguma coisa que eu falei ?
Ou algo que fiz que te roubou de mim ?
Sempre que eu encontro uma saída
Você muda de sonho e mexe na minha vida.

O meu amor conhece cada gesto seu
Palavras que o seu olhar só diz pro meu
Se pra você a guerra está perdida
Olha que eu mudo os meus sonhos
Pra ficar na sua vida!