"Antigamente eu era eterno... Agora sou instante." -Helena Ferreira.
–Ela foi embora... -A voz embargada pelo choro saia como sussurros. –Levou tudo... -Os olhos claros iam perdendo o foco, e os diversos tons de azul se derramavam junto às lágrimas a deixando cinza. –tudo.
Quantos segundos cabem dentro de uma escolha?
Quantas escolhas antecedem uma partida?
Quantas horas cabem dentro de um minuto?
De um olhar?
De um momento?
Quantas?
–Os víneos sumiram da prateleira, e todas suas roupas do armário... -seu corpo, cansado, reencostou-se na pilastra e escorregou rumo ao chão gelado.
Quanto custa seguir sua própria jornada?
A perda de um amor?!
Uma família?!
Certezas?!
E não segui-la?
Os primeiros raios de sol invadiam o céu. Eram por volta dás 6:00am de uma quarta-feira, e todas as chances de que aquele dia fosse ser tão tranquilo como todos os outros, escorria pela pilastra junto à Zelena.
Seus braços envolveram o corpo da mais velha que soluçava. Uma fraqueza que ela jamais havia visto na irmã... uma franqueza sua, que doía na alma.
–Oh meu amor... -O que dizer? Nem todas as palavras desse mundo a consolaria. –Onde está o Theo? -Perguntou calma.
–No carro... -suas palavras não passavam de sussurros. –Eu não queria que ele me visse assim.
–Eu vou buscá-lo, vamos entrar e quando você estiver mais calma conversamos. Pode ser? -a mais velha concordou com um breve aceno. –Vem, levanta.
Haviam se passado duas semanas desde a conversa com Mary. Duas semanas desde a chegada de Theodoro. Duas semanas que
as coisas pareciam entrar em curso outra vez. De repente a vida não parecia correr por entre seus dedos. De repente ela não se sentia mais assustada, sentindo o tempo passar e a doce agonia de estar em desvantagem a atingir. De repente tudo ficaria bem no final do dia...
Ou não, e essa era a graça da vida.
O menino de longos cabelos loiros dormia abraçado a um urso de pelúcia, alheio ao tormento que acontecia ao lado de fora. Com toda delicadeza que possuía, Regina, tirou-lhe da cadeirinha e o ajeitou em seus braços, batendo a porta em seguida. Passos pequenos eram dados em direção à entrada enquanto ela se perdia naquele rosto de anjo. Theodoro lhe transmitia uma paz absurda, inexplicável.
A porta da frente bateu e a morena seguiu em direção ao andar superior, tudo permanecia no mais absoluto silêncio. Agradeceu mentalmente. Zelena precisava de toda sua atenção agora. O pequeno anjo foi colocado na cama de um dos inúmeros quartos de hóspedes, e assim saiu deixando a porta entre aberta. O caminho até a sala de estar parecia ter triplicado e sua mente a traia a cada novo segundo, talvez ela não pudesse lidar com o desespero da mais velha, ver Zelena assim doía mais do que era capaz de calcular. Seus passos diminuíram gradativamente e um longo suspiro saiu de sua boca antes de pisar no outro cômodo.
–Ele está dormindo como um anjo. -um breve sorriso surgiu no rosto da ruiva. –Quer me contar o que aconteceu? -Uma sombra de dúvida passou por seus olhos, mas logo desapareceu. Seus dedos se agarram ao copo de vidro e assim ela fechou os olhos se permitindo mergulhar nas últimas horas.
–Você sabe, mais que qualquer um, o que a minha decisão de adotar o Theodoro causou, não só no meu casamento, mas também com Mary, David e mais meia dúzia de pessoas. -Regina permanecia atenta a cada palavra. –Quando eu peguei esse menino pela primeira vez, não tive mais dúvidas, não poderia voltar atrás. Eu queria ser a mãe dele. Eu queria lhe dar uma segunda chance e ser a melhor das chances que ele poderia ter. Eu brigaria com a Mary de novo, eu correria atrás de Emma novamente. Eu não me arrependo por um só segundo, Re. Você sabe! -Sua voz não se misturava mais com as lágrimas, todas aquelas palavras vinham recheadas de certezas que nem ela sabia que possuía. –Mas assim que colocamos o pé em casa tudo desandou. Ruby mudou-se para o quarto de hóspedes...
–E ignorou o menino por dias seguidos, eu sei.
–Eu achei que tudo fosse melhorar, que ela percebesse que aquela não era uma disputa pela minha atenção, e que poderíamos ter milhares de filhos juntas, começando por Theodoro.
–Eu sei de tudo isso, meu amor. -seus dedos seguiram para o rosto de porcelana e assim percorreram o caminho deixado pelas lágrimas, as secando. –E então?
–E então as coisas ficaram piores na noite anterior, nos brigando igual aquele dia no café. -seus olhos se abriram, mas permaneciam sem foco.
–Você pediu o divórcio? -Ela negou.
–Eu fui embora. Eu virei as costas e deixei que ela gritasse sozinha, quebrasse os vasos e que me culpasse pelo fim do nosso casamento. -Aquele conjunto de frases a atingiu como um soco, mas ela apenas respirou fundo e permaneceu calada. –Me tranquei no quarto, e dormi abraçada ao meu anjinho.
–...
–Eu esperava acorda mais calma, colocar nossa jornada na mesa e tentar descobrir quantos caminhos ainda eram possíveis para nós...
–Mas ela tinha ido embora?!
–E levado tudo consigo.... As roupas, os cd's, as fotográficas, uma quinta chance...Tudo.
E então o silêncio veio. Atingiu o ambiente em cheio. Nem suas respirações eram ouvidas. Talvez aquele fosse o som do recomeço, do deixar ir. Um minuto para todas as coisas que precisavam ser enterradas ali, naquele instante. As mãos se encontraram no meio do caminho, elas não precisavam de palavras...
O minuto virou horas, mas ainda assim pareciam segundos. A dor se negava a ir embora. Suas mãos permaneciam entrelaçadas... E o selênio... esse havia se instalado ali.
O som de passos na escada fora ouvido de longe, mas nenhuma das duas se moveu. Robin adentrou o cômodo apressado procurando pela morena mas parou de imediato. E deixou-se levar pelo silêncio.... durante longos 5 minutos, mas o choro do pequeno príncipe no andar superior ganhará sua atenção e assim lembrou-se do que havia ido fazer ali.
Os tons de azul claro voltavam aos poucos aos seus olhos. O aperto entre as mãos ganhará mais força e não haviam mais lágrimas cobrindo seu rosto.
–Talvez ela não fosse...
–Sua salum...?
–É... talvez ela não...
–Definitivamente não, ela não era. -Zelena sorriu com a afirmação da mais nova, e se jogou em seus braços.
–Você é o lugar mais seguro pra mim... -Regina sorriu com a confissão. –Quando o amor não parece nada além de dor, você me estende seus braços e de repente eu estou no lugar mais seguro do mundo. Obrigada Siis.
–A gente se sente, sempre foi assim, sempre vai ser... -A conversa se perdeu quando ambas mulheres encararam a porta. Dois pares de olhos azuis as encarava. Benjamin, de mãos dadas com Theodoro o puxava em direção à sala, enquanto o menino tímido seguia em passos lentos.
–Mommy!!! -Gritou com todas as forças. –Tia Sel!!! -Zelena sorriu ao sentir o corpo do menino colidir com o seu.
–É Zel filho.
–Sel, Sel! -A prefeita revirou os olhos e seguiu em direção à outra criança parada a poucos metros dali, Theodoro olhava a cena intrigado e um pouco acanhado, só faziam duas semanas, e não era fácil para sua cabecinha processar ainda tudo que estava acontecendo.
–Bom dia Theo. -ela se abaixou em frente ao garoto, que lhe ofereceu um breve sorriso. –Você está com fome? -O menino concordou timidamente com a pergunta e ela lhe estendeu os braços em um pedido silencioso de que ele viesse para seu colo. –O que acha de cereais?
–Eu quelo! -respondeu Benjamin pulando nos braços da ruiva.
–Vamos todos tomar café então. -Regina se aproximou do filho. –Onde esta o seu pai, meu amor? -ele parou por alguns segundos e sorriu.
–Bano, mom, bano.
O dia na prefeitura havia sido cancelado, e todos os compromissos passados para a próxima semana. Robin ficaria muito bravo ao descobrir que a viagem para a inauguração do Café da Camila em Nova York ficaria para última hora, mas ela não podia evitar. Toda essa história com Zelena renderia por mais e mais dias, e a ruiva precisava de seu apoio.
–Eu estava aqui pensando -comentou vagamente. –Você deveria vir conosco para a inauguração do Cabello's Café, em New York. -Zelena revirou os olhos. –Vai ser ótimo para você, pro Theodoro, para Benjamin... por favor?!
–Eu não sei. Eu não gosto da Camila. E eu não estou a melhor das companhias. -A xícara em sua mão foi colocada na pia e ela olhou fundo nos olhos da morena. –Prometo pensar.
–Já é um começo.
O restante da manhã seguiu assim, banhada de silêncios e assuntos variados, sem grandes certezas ou respostas completas. Robin sairá cedo e as crianças se perderam em meio aos brinquedos.
–Você voltou a pintar? -a pergunta a pegou de surpresa e Regina largou a faca que estava em sua mão. –É que esse aqui eu nunca havia visto. -Apontou para a parede.
–Ah este é antigo, estava guardado entre muitos outros no ateliê e então eu resolvi pendurar alguns pela casa. -suas mãos voltaram a se concentrar na cebola que cortava. –E não, eu não voltei... fazem meses, eu ando sem tempo.
–Você prometeu que não deixaria que a prefeitura lhe sugasse como da última vez. -A prefeita sorriu.
–Eu ando prometendo tantas coisas, Zel... quem sabe um dia eu possa cumpri-las.
As horas voltaram a correr pelo relógio e, por aquela noite, o convite de Regina fora aceito. A ruiva ficaria por ali, com Theodoro, se permitindo mais alguns instantes de silêncio, deixando tudo ir.
Os últimos raios de sol anunciavam o fim daquele dia. E seus olhos fitavam o horizonte. Serena, como a noite que viria pela frente. Os perfeitos traços do rosto de boneca pareciam intactos, como uma obra muito bem desenhada, venerada pelo artista... mas, assim como toda obra de arte, sua explicação era sem fim. Por fora ela era calmaria, por dentro furacão. Só os castanhos, quase negros, eram capazes z de transmitir o tamanho da tempestade que passava por sua cabeça.
Tudo parecia em seu devido lugar, mas o relógio corria e corria contra eles a cada novo segundo.
E sentir isso era exaustivo. Porque nada a sua volta parecia mudar, tomar um novo curso. As coisas continuavam acontecendo na vida das pessoas a sua volta, tudo em um curto espaço de tempo, fazendo com que suas vidas se modificassem e tomassem cursos, que um mês antes não tomariam. E, Regina, se perguntava se talvez essa não fosse a graça de se estar vivendo. Mudando. Se permitindo. Se arriscando. Sentindo. Querendo mais e mais do que a vida podia lhes oferecer.
Quando por segundo tudo para, o caminho não parece mais fazer sentido, a esquerda lhe parece muito mais interessante que a direita e então tudo deixa de ser sobre outras pessoas e volta a ser sobre você.
Era exatamente aquilo que vinha acontecendo. Suas pessoas estavam vivendo, por si. Se permitindo. E deixando que todas as loucas mudanças invadissem suas rotinas e bagunçassem suas vidas.
E ela só havia se dado conta disso há duas semanas.
O telefone havia sido colocado no gancho a um pouco mais de cinco minutos. O silêncio havia se sentado na poltrona e pelo visto não iria embora tão cedo....
–Mil beijos pelos seus pensamentos. -A morena sorriu ao senti-lo tão perto de si. –Onde está Benjamin?
–No quarto com o Theo. -Um sorriso safado brotou nos lábios do loiro que desceu a boca para seu pescoço, arrepiando os pelinhos do lugar.
–Então quer dizer que eu posso abusar da mãe dele um pouquinho...
–Só um pouquinho. -Seus lábios se encontraram e Robin a puxou para os seus braços matando a saudade do longo dia.
–Que saudade do seu beijo. -divagou enquanto ainda a beijava.
–Que saudade de você. -Provocou o puxando um pouco mais para si.
–Você me parecia perdida quando cheguei, quer conversar sobre isso? - Ela negou.
–Um milhão de beijos primeiro, depois os meus pensamentos. -O loiro gargalhou alto e a puxou para mais perto, com a silenciosa promessa de a deixar sem fôlego.
Os minutos não passavam e a falta de ar fora deixada de lado, aquele momento era bom, bom demais para que possuísse um fim, e ali o tempo era o menor dos problemas.
–O que você faz comigo? -Ele sorriu com a pergunta.
–O mesmo que você faz comigo... -Seu nariz tocou-a no rosto e inspirou o cheiro do perfume em sua pele que se tornará único. –Como foi seu dia?
–Ah Zelena passou o dia aqui depois que... Ruby foi embora. -ele não parecia surpreso. –Camila me ligou poucos minutos atrás confirmando nossa presença na inauguração do café, e eu chamei a ruiva para ir conosco mas...
–E ela?
–Prometeu pensar.
–Já é um começo.
–Foi o que eu disse. -os lábios da morena se perderam no pescoço dele enquanto pensava nas mil e uma formas de o contar sobre as milhões de coisas que passavam por sua cabeça. –Eu quero mais Robin. Mais de nós. Mais da vida. Mais do tempo. Mais. -os olhos dele se fecharam.
–Você está...?
–Não, eu não estou tendo mais uma crise nervosa, ou surtando. Bom, não ainda. -seus olhos fitaram os azuis e ela continuou. –Eu só preciso de mais. Hoje minha irmã chegou aqui ás 6 da manhã porque sua esposa tinha sumido no momento mais importante da vida dela. Minha mãe anda tendo viagens secretas e eu nem sei se quero saber para onde ela está indo e o que está fazendo. A Ca está abrindo uma nova filial... E a gente tá seguindo... E seguindo.
–Regina...
–Você se quer aceita meus pedidos de casamento Robin! -ele segurou o riso. –Eu quero mais da vida agora que aprendi a vivê-la. Eu preciso sentir que estou vivendo. -O loiro a apertou mais em seus braços. –Esquece, esquece o que eu disse. -os castanhos se escureceram e ela fitou o nada. –Muitas coisas andam acontecendo e eu estou enlouquecendo junto com todas as outras pessoas... não leva a sério. -Ele selou seus lábios rapidamente.
–De tempo ao tempo morena, tempo ao tempo. –Ela respirou fundo. –Talvez eu já tenha aceitado o seu pedido e você só não tenha percebi isso ainda. -comentou vagamente se levantando. –Eu vim morar na sua casa Regina, eu quis construir uma família com você... papel é mais importante que isso? Que tudo isso? -Abriu os braços olhando em sua direção. – Nos fomos casados por anos,com pessoas não feitas para nós, e ambos casamentos fracassaram. Por falta de amor, respeito, cumplicidade, caráter... eu me sinto seu marido, Re. Dou 110% de mim, e eu achei que para nós era o suficiente.
–Talvez eu queira mais que o suficiente. -Ele voltou a caminhar. –Eu só tô te pedindo um papel, teu sobrenome, e mais nada.
–Isso para você é estar vivendo? -as palavras não vieram, e aquela discussão não chegaria a lugar algum. –Eu vou ver o Benjamin, e dormir. -Segundos depois os passos na escada já eram ouvidos, e mais uma vez naquele dia ela suspirou cansada, frustrada, derrotada.
Ela sabia o quão idiota aquilo era... e mais ainda como era inevitável se controlar diante do que sentia.
–Tudo bem? -Regina fitou à entrada ao escutar a voz da ruiva.
–Tudo indo.
–Foi inevitável escutar a conversa de vocês... -A morena se afundou um pouco mais no sofá e voltou a perder o foco.
–Eu perdi dois anos da minha vida. E eu não quero perder mais nenhum segundo, entende? -Zelena apenas concordou.
–Casamento não é vida, Re.
–Eu sei que não... mas me trás segurança, e você sabe o quão importante é isso para mim. -A ruiva sorriu e negou com a cabeça. –É um passo à mais dentro da minha felicidade, entende?
–Entendo. -Suas mais voltaram a se encontrar. –Entendo...
TRÊS DIAS DEPOIS
O sábado chegou ensolarado, como o resto daquela semana. A cidade permanecia calma, os dias cada vez mais curtos, e o tempo sempre fora de controle.
Eram por volta dás 11am, quando todas as cadeiras do local foram ocupadas. A casa dos Mills nunca estivera mais cheia. As crianças brincavam pela sala, enquanto todos os outros se concentravam pelo jardim esperando o almoço ser servido.
–Eu não deveria ter inventado nada disso. -suas palavras saíram num tom baixo para que apenas Regina escutasse. –Mary nem disfarça seu descontentamento, os outros me olham com pena por Ruby não estar mais aqui. -Regina tocou em seu rosto e a virou em sua direção.
–Mas nossos pais estão orgulhosíssimos de você, e eu também. E sinceramente eu faria a mesma coisa se fosse apresentar um filho meu para a família. Ele merece isso, ele está se tornando um verdadeiro Mills. -A ruiva sorriu e abraçou a irmã.
–Eu vou com você. -Regina não entendeu e o ponto de interrogação era visível em seu rosto. –Eu vou com você para New York no próximo fim de semana. -A morena sorriu largo e a abraçou com força. –E você deve me amar muito agora porquê eu mereço.
–Eu amo, acredite.
–E vocês, como estão?
–Indo... -ambas reviraram os olhos com a resposta. –Não tocamos mais no assunto, e é melhor assim. -Um choro alto chamou a atenção das mulheres que seguiram em direção a sala onde as crianças estavam. Henry e Benjamin choravam manhosamente e ambos estendiam os braços em direção à Regina. A morena se abaixou e pegou o filho nos braços, e logo em seguida foi em direção ao afilhado.
–Pode deixar, tia, eu pego ele. -A prefeita virou em direção a sobrinha e sorriu concordando.
Os pequenos logo se acalmaram, e o local ficará vazio. Theodoro havia saído com Zelena e Neal fora ao encontro dos pais. Deixando toda a brincadeira de lado.
–Você vai casar com ela, não vai? -O loiro assustou-se com a presença da ruiva e aos poucos virou em sua direção.
–Está tentando me matar? -Ela revirou os olhos.
–Você não respondeu a minha pergunta.
–Sim, eu vou pedi-la em casamento. Sim, eu vou me casar com ela.
–E por que raios toda essa enrolação? -A ruiva franzia a testa da mesma forma que Regina e ele não podia deixar de sorrir diante da constatação.
–Porque ainda não é o momento... tudo é sobre tempo, Zelena, e ainda não chegou o nosso...
–Você e essas suas cantadas filosóficas, não me convence em nada. - revirou os olhos rindo. –Tente da próxima vez, Robin.
A hora do almoço chegou e com ela o anúncio de que Zelena adotaria Theodoro. A conversa sobre o andamento da papelada entrou no meio e com ela toda a animação da família pelo mais novo membro que estava chegando.
Uma onda de amor, esperança e vida se instalou pelo local e era inegável o quão gratos estavam por aquele momento de paz, de alegria. Crianças carregavam isso consigo.
15:40 daquele mesmo dia.
A porta de entrada lhe parecia o melhor dos lugares naquele instante. A cena a sua frente era digna de recordação. Ela pintaria aquele momento, o tornaria eterno de todas as formas que pudesse. De todas as formas que sentisse.
Henry dormia nos braços da bisavó completamente agarrado ao seu pescoço. Theodoro e Neal brincavam com alguns dos inúmeros brinquedos espalhados pelo tapete e por fim Benjamin encontrava-se agarrado no avô, pulando em suas costas, querendo mais e mais daquela brincadeira. Todos jogados no tapete da sala. E os pais ao redor babavam com a cena. Não haviam relógios, celulares ou qualquer coisa que demarcasse o tempo que estavam ali. E não importava quantos minutos ou horas a mais ficariam.
Isso era estar vivendo.
Ou até mais que se estar vivendo, era estar sentindo a vida, estar a presenciando a olho nu, naquelas crianças, naquele momento.
–Eu quero uma casa cheia deles. -apontou para as crianças. –Um de cada idade correndo pela sala, subindo no balcão da cozinha- Os braços de Robin a envolvera pela cintura, e sua cabeça repousou no peito do loiro. Um sorriso bobo brincava em sua boca. –Quero no mínimo uns cinco te deixando louca. -Ela sorriu com a possibilidade, e secretamente queria aquilo tanto quanto ele. –Eu sei que nunca conversamos sobre aumentar a família, e eu também sei que isso é um assunto delicado para você. -Ele a girou em seus braços e fitou os lindos olhos que tanto amava. –Mas talvez eles não precisem ter seus lindos olhos castanhos ou sua pele de porcelana.
–...?
–Ou meus olhos azuis e cabelos loiros...
–Robin...
–Podemos dar uma família a inúmeras crianças, Re.–Um longo suspiro escapou de seus lábios. –Olha a grandeza do que Zelena fez, do que abriu mão... Eu quero viver também, me sentir vivo, sentir que estou fazendo algo pelo mundo, e dando uma chance a alguém. -seus olhos se fecharam e no mesmo instante encostou sua testa na dela. –Você quer ser a mãe dos inúmeros filhos que eu pretendo adotar? Quer dar esse passo comigo? -A resposta veio sem ao menos ser pensada, não havia "poréns" naquele instante.
–Tudo o que eu mais quero é ser a mãe dos seus filhos, dos nossos filhos. -Um sorriso iluminou o rosto dele. –E não me importa se eles tiverem os olhos puxados, os cabelos ruivos, pretos ou loiros. Se forem lisos ou cacheados. A pele negra como a noite, ou branca como a neve, não importa. Eu quero isso como eu nunca quis nada na minha vida. Eu quero isso tanto quanto eu quero você.
–Você já me tem...
–Então casa comigo. -Não era mais um pedido, e ele sentia isso. E assim sorriu negando com a cabeça.
–Caso... apenas de tempo ao tempo, meu amor.
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