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História Estações - Melancolia


Escrita por: Dasf-chan

Notas do Autor


Olá, queridos!
Eu ia postar mais para frente, com a fic toda revisada, mas acho que podemos ir descobrindo juntos como essas estações com Hyoga vão ajudar nosso anjinho de olhos verdes Shun a superar a morte do irmão Ikki.
Então, quem for ler essa fic, não vai ficar perdido, mesmo sendo uma short fic, ou uma side story da fanfic Fragmentos de Cosmo.
Citei esta viagem no capítulo 19. Na época, rascunhei a fic inteira em uma madrugada de insônia...
Como chegaram as férias, eis que estou podendo retornar às memórias desta viagem e publicar tanto esta short fic quanto a fic FDC.

A fanart é de uma autora de codinome QueQue, que não posta há alguns anos. Obrigada pelas fanarts lindas que nos deixou!

Boa leitura!
Bjs! ;-)

*Edit* Se quiserem comentar, sempre respondo, em qualquer época. Adoro conversar sobre minhas fanfics! ;-)

Capítulo 1 - Melancolia


Fanfic / Fanfiction Estações - Melancolia

Prólogo

Já havia feito essa promessa na infância, quando Shun era o único que se aproximava dele, o único que compreendia seus silêncios, suas palavras não ditas, seu olhar distante e frio...

Ainda lembrava de quando ocorrera o padecer de Ikki no Vale da Morte, quando os quatro haviam recebido autorização de Saori para um período de descanso. Shiryu havia retornado aos Cinco Picos Antigos e Seiya havia retornado para seu apartamento próximo ao orfanato.

Hyoga já estava de saída quando encontrara Shun profundamente melancólico, em uma das varandas da mansão. Adiara sua volta à Sibéria para visitar a mãe e o pequeno Yakoff e fizera uma viagem de trem com o mais novo, apenas os dois.

Por mais que Shun tentasse não demonstrar quando se entristecia com o objetivo de não preocupar ninguém, era impossível que os amigos não percebessem, pois sempre fora muito transparente...

Sempre cuidara de todos, mas quando era sua vez de ser cuidado, ficava sem jeito, não gostava de parecer frágil ou ter a sensação de que precisava ser protegido.

Apesar do seu poder oculto ou sua capacidade de expansão do cosmo ser uma das maiores entre os amigos cavaleiros de bronze, não podia negar que possuía o corpo mais delicado, apesar dos intensos treinos. Essa fragilidade era característica de sua constituição física mais andrógino e o mais novo somente podia aprender a conviver, desenvolvendo outras características de maneira compensatória.

Naquela viagem, haviam conversado muito, talvez por estarem os dois sozinhos, em um ambiente propício, em uma época em que Hyoga estava tentando trazer alegria ao coração dolorido do amigo.

Todos estavam tristes pela morte do companheiro que havia finalmente acordado do pesadelo do ódio e estava ao lado deles novamente. Porém, Shun era o que havia ficado mais dolorido, por questões óbvias...

Além dos laços de sangue, o mais novo criara uma expectativa muito grande no retorno do irmão, e, quando pensara que podiam viver juntos e felizes como sempre sonharam, eis que uma tragédia se abatera sobre o grupo dos protetores de Athena, no vale com nome justificável pela fama de ser mortífero.

 

~~~~~*~~~~~

Capítulo 1 - Melancolia

 

Aquela pequena viagem havia sido realmente uma bela demonstração de carinho de jovem deusa. Os quatro jovens protetores de Athena ainda se recuperavam física e emocionalmente da dura batalha contra um companheiro de infância que havia sido dominado pelo espírito diabólico de seu mestre Guilty, e uma folga seria providencial para a renovação das forças vitais de cada um.

Hyoga e Shun fariam um passeio fora do habitual...

A própria jovem havia sugerido ao cavaleiro de Cisne, quando este foi comunicar-lhe que viajaria para a Sibéria, que auxiliasse Andrômeda, com o argumento de que nunca havia visto aquele olhar esmeraldino brilhante tão melancólico...

Contudo, o aquariano fizera que não havia entendido muito bem a sugestão da moça...

Ainda não simpatizava muito com aquela menina de semblante meigo. Por causa dela e da armadura de ouro de Sagitário, haviam perdido para a verdadeira morte um dos companheiros de infância. Se bem que o jovem Cisne não era de simpatizar muito com ninguém...

Simpatia era algo reservado apenas para aquele jovem de rosto andrógino que retornou da Ilha de Andrômeda ainda mais belo do que podia lembrar-se...

Tantos anos treinando na Sibéria com o mestre da água e do gelo, Camus de Aquário, que algo em sua alma parecia ter congelado igualmente...

Contudo, aquele menino franzino, que sempre o consolava em sua dor, havia retornado um rapaz feito, mais forte, com os músculos delicadamente esculpidos pelos treinamentos, trajando a armadura da princesa. A lendária armadura sobre a qual não havia registro de cavaleiros que foram capazes de sobreviver ao último e mortal teste de aptidão.

A pele ainda tão bela, sem nenhum machucado, parecia que não havia sido maculada por ninguém...

Se Hyoga não o visse com a urna de Andrômeda, poderia ter certeza que Shun nunca havia lutado realmente. Os treinamentos o esculpiram mas nenhuma cicatriz havia em sua pele, ainda tão alva como os flocos de neve que Cisne formava com seus golpes mais singelos...

O olhar de esmeralda continuava o mesmo. Brilhante e repleto de uma esperança que o aquariano parecia ter perdido há muitas estações...

Haviam retornado de seus lugares de treinamento com as urnas das armaduras de suas constelações guardiãs, e logo iniciaram o Torneio Galáctico. Hyoga desejava ter conversado mais um pouco com Shun, escutar sua voz doce mais uma vez... 

E apenas para si...

Entretanto, Ikki e cavaleiros trajando escuras armaduras haviam invadido o Coliseu Graad e roubado a armadura de Sagitário, deixando a urna dourada vazia. Uma confusão havia se formado e o torneio havia sido interrompido.

A intenção de Hyoga, a princípio, era compreender o porquê daquela exposição pública promovida por Saori. Recebera uma carta do Santuário convocando-o para que fosse ao Japão e destruísse os outros cavaleiros. O aquariano era um cara arrogante e se considerava acima de qualquer um dos cavaleiros de bronze por ter enfrentado o frio siberiano em seu treinamento e por ter conseguido sua armadura sagrada após destruir a Montanha do Gelo Eterno.

Entretanto, após rever os antigos amigos de infância, saber de suas motivações verdadeiras, e principalmente, após rever Shun, não poderia cumprir as ordens do Santuário.

Enfrentaria aqueles ladrões desordeiros junto de Seiya, Shiryu e Shun. O próprio mais novo havia explicado aos amigos sobre aqueles homens. Discorrera, com imensa tristeza, sobre o brilho que vira no olhar dos cinco cavaleiros negros.

– Ikki vendeu sua alma ao diabo... Ele se aliou aos cavaleiros negros. Dizem que utilizam as técnicas dos cavaleiros sagrados para servir ao mal e satisfazer seus desejos... No reino das sombras, eles matam até a última pessoa. A deusa Athena negou a existência deles... Mas aqui estão eles... os cavaleiros negros... E meu irmão se aliou a eles...  

Perseguiram os tais cavaleiros na tentativa de recuperar as peças roubadas, mas não tiveram sucesso em reaver toda a armadura dourada.

Depois de outro ataque frustrado dos cavaleiros negros à mansão Kido, estes lançaram um desafio aos quatro cavaleiros de bronze que estavam junto de Saori, exigindo que fossem à caverna dos ventos ao sudoeste de Aokigahara, ao pé do monte Fuji.

No Vale da Morte, a luta havia sido muito cruel para o mais novo entre os cavaleiros de bronze, que desejou sacrificar a própria vida se, com esse ato, pudesse aplacar o ódio que seu amado irmão demonstrava em suas palavras e atitudes.

Por mais que houvesse tentado impedir os amigos de atacarem Ikki, apenas Hyoga fora realmente capaz de livrar Fênix da ilusão fabricada por Guilty, fazendo o antigo irmão de orfandade reviver as lembranças de seu treinamento na Ilha da Rainha da Morte...

Um espelho de gelo, formado a partir do Pó de Diamante de Cisne contra as asas flamejantes, refletira o Golpe Fantasma, fazendo o leonino rever suas dolorosas e terríveis experiências. Os golpes recebidos de Seiya, em sequência, terminaram de acordar Ikki, que comoveu-se com pedido de perdão do irmão mais novo, Shun.

Tudo parecia encaminhar-se para uma missão de sucesso, um daqueles bons finais felizes, quando os rapazes de bronze foram atacados por um cavaleiro tão forte que provocou uma avalanche de lama e destroços que levou consigo a Fênix que havia retornado das cinzas de sua consciência.

Em um ato de auto-redenção, Ikki sacrificou-se para que os outros quatro pudessem sobreviver.

Se não fosse por Seiya segurar Shun, talvez estivessem os dois irmãos Amamiya sepultados no Vale da Morte.

Depois de organizado um simbólico enterro, uma simples cruz de madeira demonstrava que ali jazia um bravo soldado...

Em homenagem, Hyoga deixou pendurada, no madeiro improvisado, a jóia que lhe fora presente de sua mãe...

O jovem virginiano tentava não demonstrar o quando estava melancólico por quase ter o amor fraterno novamente próximo ao seu cálido coração.

Na mansão, enquanto se recuperavam daquela batalha tão dolorosa, Saori havia oferecido um pequeno período de descanso para que os quatro cavaleiros pudessem repor suas energias a fim de prepararem-se para o difícil enfrentamento que encontrariam posteriormente – o Grande Mestre do Santuário na Grécia.

Para reaver as energias, cada um fazia o que lhe era de melhor proveito para si.

Seiya divertia-se com as crianças do orfanato e aproveitava a companhia de Miho, que angustiava-se por ver seu amigo tão exposto ao risco de morrer por uma causa que ela mesma não compreendia bem. Desejava ardentemente que o rapaz permanecesse junto dela no Japão, mas Seiya insistia em desobedecer seus pedidos mais carinhosos. Miho acabava, então, por apelar para a discussão, e as tardes de descanso transformavam-se em plena diversão, pois parecia que o jovem Pégasus se agradava de irritar a moça.

O libriano Shiryu aproveitou-se do recesso para visitar a China, especialmente os Cinco Picos Antigos. Escutar os conselhos do velho mestre era fundamental para seu equilíbrio mental; e encontrar a bela flor de Rozan, Shunrei, era uma das tarefas mais importantes  para seu equilíbrio emocional.

Enquanto isso, o aquariano Hyoga preparava-se para sua viagem até a Sibéria oriental a fim de rever o pequeno Yakoff e levar as rosas que sua mãe tanto amava. Arrumava alguns objetos pessoais em uma mochila quando passou pela antessala que dava para a biblioteca, na procura de um livro qualquer, e percebeu a emanação de um suave cosmo extremamente familiar.

Deixou o que levava nas mãos em cima do confortável sofá do ambiente requintado, repleto de volumes antigos, e caminhou até a varanda, cujas portas envidraçadas estavam abertas.

Encontrou o amigo sentado em uma das cadeiras, deitado sobre os próprios braços apoiados na mesa. A mão posta sobre um porta-retratos antigo. 

Reparando bem, o aquariano não conhecia aquela foto desbotada e antiga...

Na fotografia, uma criança de no máximo três anos carregava um bebê todo embrulhadinho em uma manta confortável. Pelos cabelos e olhos escuros, e fisionomia de poucos amigos, logo percebeu ser Ikki a criança mais velha. Em seu colo um bebê sorria lindamente. Foi fácil reconher aquele olhar puro e meigo, brilhante e esverdeado como duas jóias de especial valor.

Por um tempo, ficou ali...

Parado...

Uma estátua de gelo...

A brisa amarfalhava seus cabelos dourados e espalhava o aroma de flores do campo dos cabelos castanhos cor de linho que esparramavam-se sobre a mesa. Debruçou-se ao lado do amigo, observando-o melhor.

Parecia adormecido...

Ve-lo assim derretia-lhe como o calor faz com o gelo...

O rosto vermelho e ainda úmido denunciava que estivera ali por um certo tempo, provavelmente chorara até exaurir sua energia e adormecera segurando a imagem emoldurada que, provavelmente, lhe trazia recordações daquele que se sacrificara para que os outros pudessem viver.

Sacrifício que representara a forma de Fênix redimir-se por, em um passado recente, ter utilizado seu cosmo contra o irmão, contra os amigos, contra Athena...

O coração do jovem Cisne estranhamente permitiu-se levar por aquela cena...

Tanto se assemelhava à sua própria condição...

Com a diferença de que ele, Hyoga, possuía um lugar para onde levar flores...

Um navio era o túmulo eterno daquela que oferecera a vida em holocausto para salvar o filho pequenino... 

Podia ver seu corpo jovem emoldurado pelas rosas que ele levava sempre, depois que conseguira poder suficiente para quebrar o gelo que cobria aquele pedaço de mar...

Podia visitar o corpo de sua falecida mãe sempre que a saudade apertasse...

Nem isso o mais novo, ali deitado sobre os próprios braços, possuía...

Um corpo para enterrar...

Um túmulo para velar...

Nem isso o pequeno possuía...

Tão pouco tempo livre tiveram juntos entre o torneio e as missões que se seguiram, que não tivera oportunidade de saber como Shun estava.

Olhar para o mais novo ali, adormecido, era como sentir o derreter do gelo sobre o solo Siberiano, fazendo brotar uma pequeníssima e branca flor de bunchberries.

Certa noite, quando ainda eram crianças, Shun o procurara aos prantos. Escalara as escadas dos beliche onde Hyoga dormia na cama de cima, enquanto Shiryu estava dormindo na cama de baixo. Dissera ao pequeno para que parasse de chorar e que o protegeria para sempre. O aroma floral que emanava dos cabelos ao vento do jovem Andrômeda adormecido parecia trazer à tona as remotas lembranças do jovem Cisne. Uma conversa entre duas crianças que não sabiam o que lhes guardava, no futuro.

– Você nunca ficará só. Estarei sempre ao seu lado. Sempre. Apenas se acalme e tente dormir... Quando seu irmão voltar, não vai gostar de ver seus olhos vermelhos de tanto chorar...

– Estou... com medo, Oga...

– Não precisa... Eu cuidarei de você para sempre, tá?

– Jura?

– Não posso jurar, você sabe... Mas eu prometo, cuidarei de você para todo e todo sempre. Agora, vamos dormir, meu sólnêchka [meu solzinho].

– Tá...

 

Quando foi que Hyoga ficara tão distante emocionalmente de Shun?

Quando foi que deixou de se preocupar com aquele amigo tão querido que prometera proteger?

Como enxurrada, lembranças de infância retornavam e brotavam do solo árido de suas memórias.

Em um dia chuvoso, havia saído do orfanato em busca de solidão. Estava na praia em frente ao pátio principal da instituição quando Shun o encontrou. Ainda não havia começado a chover e o pequeno fizera-lhe uma proposta que fazia-o sorrir sozinho enquanto se lembrava.

– Me deixa te fazer companhia, Oga?

– Prefiro que volte pro orfanato. Quero ficar sozinho.

– Eu também quero ficar sozinho. Podíamos ficar ‘sozinho juntos’.

– Não dá pra ficar ‘sozinho juntos’.

– Além disso, Oga, suas costas vão doer se continuar desse jeito.

– E o que sugere?

– Ah! Sentamos de costas um pro outro. Assim, a gente fica ‘sozinho juntos’ mas não se olha e as costas não vão doer.

 

Como Hyoga poderia esquecer o quanto aquele rapaz lhe era importante?

Se Ikki havia perecido naquela batalha pela armadura dourada, ele estava ali, ao lado de Shun. E cumpriria o que sempre havia dito na infância. 

Cuidaria do mais novo na ausência do irmão mais velho. Ou melhor, em qualquer circunstância, cuidaria dele. Afinal, haviam prometido que cuidariam um do outro.

Shun parecia estar cumprindo sua promessa... 

Sempre cumprira todas as promessas que já havia feito...

E Andrômeda quase sacrificou-se para que os amigos não tivessem que lutar contra Fênix...

Sim, cuidaria de Shun apesar da ausência de Ikki...

Então, como se tocasse um pequenino e alvo floco de neve que ao mínimo contato pudesse desfazer-se, postou a mão no ombro do amigo, que, apesar da suavidade do toque, despertou assustado, mirando o aquariano que estava ao seu lado.

– Hyoga!

– O que faz aqui sozinho, Shun?

– Eu... eu estava rezando. – Percebendo a fisionomia de surpresa do outro, continuou em uma explicação. – Ikki e eu morávamos em uma igreja católica antes de sermos transferimos para o orfanato...

– Estamos autorizados a viajar a fim de descansarmos. Para onde você vai?

– Vou ficar para proteger a senhorita Saori...

– Ora, Seiya mora bem perto daqui. Não se faz necessário que você fique.

– Além disso, eu... eu não tenho para onde ir... meu lar sempre foi onde estava meu irmão, mas tudo mudou...

– E a Ilha de Andrômeda?

– Não sei se eu seria uma boa companhia para o mestre Daidalos ou para June... não gostaria que me vissem assim. 

– June?! – Estranhava o outro, interrompendo. Não se lembrava daquele nome. Ou, talvez, sua mente fizera questão de esquecer.

– Treinamos juntos com mestre Daidalos de Cefeu... mas... agora que o Ikki... eu saí de lá para encontrar meu irmão, Hyoga, não para enterrá-lo...  – com um suspiro longo e profundo, interrompeu e olhou o jardim, segurando as lágrimas que ainda estavam prestes a brotar e cair novamente. – Ou fazer uma sepultura de nada... não tem nada lá...

Uma vez que o mais novo não continuou a explicação, fitando o jardim com o olhar marejado perdido nas dolorosas lembranças, o mais velho também não mais perguntou.

Ainda sentindo a mão do amigo em seu ombro, Shun apenas voltou a pousar a cabeça nos próprios braços dobrados em cima da mesa, enquanto soltava de seu peito um suspiro profundo, como se a tristeza pudesse sair junto com o ar expirado...

Hyoga ficou ali, de pé, por mais alguns minutos, meditando sobre o que poderia fazer, a voz de Saori ecoando em sua mente. 

Está autorizado a viajar para a Sibéria, Hyoga... Mas... Seria tão bom se você pudesse auxiliar Shun... Não me lembro de sentir o cosmo dele e seu olhar brilhante tão melancólicos como nestes últimos dias... – Dissera a moça, comovida com a recente tragédia.

Conhecia muito bem a sensação de perder alguém que se ama... 

Sentia repercutir em seu próprio cosmo a tristeza que o outro experimentava naquele momento...

Tantas vezes tentara ficar sozinho saboreando o gosto amargo daquela sensação, contudo, o pequeno virginiano sempre o procurava, mesmo que se escondesse em um lugar que somente ele conhecia.

Aqueles olhos verdes brilhantes o encontravam e o acompanhavam. Ao mesmo tempo que respeitavam sua dor, o consolavam da forma que fosse necessário, fosse com silêncio fosse com um assunto cálido.

Quem sabe ele não pudesse fazer o mesmo por Shun naquele momento de dor?

Entretanto, o que poderia fazer?

Não sabia como ajudar...

A questão é que sempre fora o mais novo que consolava os amigos sempre que precisavam... 

Quando Seiya estava chateado com saudades da irmã desaparecida ou aborrecido com a implicância de Tatsumi. Quando Shiryu falava de Shunrei ou do Mestre Ancião, da beleza eterna da bela cachoeira de Rozan. Quando Hyoga sumia e era encontrado por aquele cosmo calmo e amoroso. Até à jovem deusa, quando angustiada por assuntos diversos dos que estava acostumada como a super-protegida menina do velho Kido...  

Quando qualquer um precisava, sempre era Shun que os ajudava...

E, naquele instante, estava o mais novo ali...

Sentado com a cabeça apoiada nos braços buscando, sozinho, em suas orações, alguma força invisível para continuar sua tarefa como protetor de Athena...

Não sabia o que fazer...

Porém, alguma coisa precisava ser feita por aquele anjo de olhos verdes caído das estrelas...

O jovem Cisne lembrou-se de algo que ouvira o mais novo falando... 

Shun sempre arranjava algum assunto para entrete-lo de sua dor... 

Em um dia daqueles, de dor e isolamento, em que o mais novo lhe fizera companhia no esconderijo dos dois, conversaram sobre as cores da natureza que o pequeno tanto amava.

Os novos trens que eram inaugurados pareciam tirar a beleza das viagens, de tão rápidos que eram. O jovem virginiano desejava ter tido a oportunidade de viajar pelo Japão antes de desativarem os belos vagões antigos.

Eis que uma ideia surgiu na mente de Hyoga e logo a expôs, antes que perdesse a oportunidade momentânea, fugidia como uma brisa daquele dia de fim de primavera tão quente.

– Poderíamos fazer um passeio de trem. Tenho certeza que Saori não se oporia.

– Mas... você não ia visitar sua mãe?

– Tenho certeza que ela compreenderá. Não gosto de te ver tão melancólico, Shun.

– Eu não estou... é só...

– Conheço seu cosmo e conheço essa sensação. Confie em mim. Vai te fazer bem.

– Eu confio em você, mas...

– Sem mas. Vai arrumar uma mochila com roupas leves. Partiremos em uma hora.

O mais novo sorriu com o canto da boca, tentando ser o mais agradável que conseguia. Desde a infância, sempre escondera seus sentimentos quando estava triste.

Exceto de Hyoga e de Ikki...

Levantou-se, disfarçando enquanto enxugava o rosto úmido e abraçou o porta-retratos contra o peito, suspirando profundamente enquanto fitava o pequeno e bem cuidado jardim florido que adornava a frente da mansão Kido.

Sob o olhar atento do aquariano, caminhou na direção da biblioteca, em silêncio. Seguiria a proposta do amigo, nada podia fazer de melhor para aliviar a tristeza que sentia inundar seu coração. Talvez aquela fosse uma boa alternativa.

Para Hyoga adiar sua viagem até a Sibéria. Provavelmente o cosmo do virginiano havia denunciado sua extrema melancolia. Shun sabia o quanto o amigo poderia ser teimoso quando assim desejasse, e, naquele momento, o que menos queria era insistir em qualquer assunto.

Ao mesmo tempo que desejava ficar sozinho com sua dor, sabia que seu melhor e mais querido amigo só lhe faria aquela proposta se estivesse realmente preocupado. Então, achou por bem aceitar. Talvez mais por Hyoga que por si mesmo...

Enquanto caminhava em lentos e arrastados passos na direção do quarto de hóspedes que ocupava, ainda pôde escutar Hyoga lhe dizendo algo.

– Ei! Não se esqueça de levar o porta-retratos!

O rapaz ainda esboçou perguntar o porquê, contudo uma resposta, que em nada lhe esclareceu, veio antes que a voz saísse de seus lábios.

– Sabe, Shun... Não gosto muito da primavera... muitas flores, muito calor, muitos sorrisinhos por aí... mas... Tenho que admitir que é uma bela estação para repensarmos nossas prioridades. Precisamos conversar.

– Você nunca gostou de conversar, Hyoga... – Disse o mais novo, entre um suspiro e outro.

– Não é verdade. Sempre conversei contigo.

– Você voltou da Sibéria muito diferente...

– Você também voltou da Ilha de Andrômeda diferente, Shun.

– Não tanto quanto você... Conversávamos sobre tudo... ou quase tudo...

– Deixemos isso para a viagem. Teremos muito tempo para ficarmos sozinhos juntos.

Com aquela última expressão, o rapaz espantou-se, sem compreender a referência que o outro fazia. Sua mente estava por demais imersa em tristeza para lembrar daquela memória tão feliz.

– Vá arrumar sua mochila. Ande!

O mais velho virou-se a mirar o ambiente externo, ficando de costas para o mais novo, que apenas suspirou profundamente e abaixou o olhar, fitando o tapete grosso sob seus pés, depois daquela ordem...

Sabia o quanto Hyoga era teimoso...

Também ele o era, contudo...

No estado emocional que Shun se encontrava, talvez somente as estações daquela viagem pudessem aliviar aquela melancolia.

 

(continua...)


Notas Finais


Então?
Que tal aproveitarmos as férias para viajar junto de Hyoga e Shun, em uma oportunidade de rememorar promessas, cuidados e sentimentos?
Agradeço às queridas amigas que estimularam a postagem dessa fic o quanto antes... Um beijo para vcs!
E para quem chegou até aqui, um abraço especial e boa viagem!
Bjs! ;-)

Link da fic Fragmentos de Cosmo:
https://spiritfanfics.com/historia/fragmentos-de-cosmo-8285942

Link da capa do primeiro capítulo:
http://www.geocities.ws/shun_hyoga/fanarts/utatane.jpg

A imagem de capa da fic foi feita por mim, adaptando a figura citada acima. Bjs! ;-)

PS: Queridos e queridas, me dei conta ao escrever, que estou misturando o mangá de SS com o anime...
Percebi que preciso avisar isso...
Creio que a maioria sabe que há grandes diferenças entre os dois. A parte que estou usando, do capítulo 05 ao 13, isto é, dos cavaleiros negros até saída dos quatro junto com Saori e Tatsumi para o Santuário, é uma parte que difere bastante. Preciso usar um pouco do anime, pois no mangá o Ikki não morre... E eu ficaria sem o argumento principal desta fic...
Também vou usar muito do mangá, então, vai ficar meio misturado...
Mas prometo não perder a linha de raciocínio principal! rsrsrs
Obrigada pela compreensão...


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