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História Estações - Aceitação


Escrita por: Dasf-chan

Notas do Autor


Olá, queridos.
Eu ia postar dia 25/08, mas esse clima frio e chuvoso no Rio de Janeiro me causa uma melancolia...
Este é o último capítulo.
E é muito significativo para mim. Pessoalmente, passei por algo assim e creio que nos ajuda colocar por escrito nossos sentimentos.
No luto por uma significante perda, comumente passamos por cinco estações.
Essas foram as que imaginei que meu virginiano favorito passaria...
Espero que tenham gostado.
Beijos no coração de cada um.

Capítulo 5 - Aceitação


Fanfic / Fanfiction Estações - Aceitação

Novamente, ignorou os olhares e fitou Shun, que relaxava ao vento frio das montanhas, como se aquele ar puro pudesse limpar sua alma e renovar suas forças. Talvez, esse fosse mesmo o objetivo do mais novo...

Renovar-se e inspirar-se.

Precisava encontrar novos objetivos.

Sempre Shun esteve ao seu lado... 

Agora, era a vez de Hyoga sair de seu casulo de gelo e aventurar-se nos vôos plenos que as asas de Cisne poderiam oferecer-lhe.

E quem sabe, levar o melhor amigo a planar sobre as tristezas, transformando-as em esperança.

 

~~~~~*~~~~~

 

O trem de vagões antigos diminuía sua velocidade, e os passageiros mais ansiosos preparavam-se para desembarcar em Kameoka. Alguns conversavam sobre quais lugares iriam visitar, outros sobre almoçarem e pegarem o mesmo trem em retorno à Arashiyama, pois aquela cidade onde era o destino final do Romantic train não possuía tantos atrativos turísticos quando a cidade de origem.

Quase todos haviam desembarcado, levando consigo folhetos e guias, máquinas e  rolinhos de filme fotográficos, alguns comentando ao longe que deveriam ter levado mais alguns rolinhos...

Quantas belas paisagens haviam visto e não haviam conseguido registrar pelo número restrito de fotos que cada filme possuía...

Quantas imagens ficariam apenas na memória...

E quantas outras passaram desapercebidas, ante a empolgação da pequena viagem de pouco mais de trinta minutos...

O vagão estava quase vazio quando Shun atreveu-se a sentar no banco. Passara praticamente a viagem toda com o corpo para fora da janela, sendo segurado pela cintura por Hyoga, chamando a atenção de alguns passageiros mais conservadores, se assim poderia ser dito.

O aquariano abria sua própria mochila a fim de guardar o livro-guia que trouxera. Dali para frente, não seria necessário, era o que imaginava. E estava certo. Antes que pudesse fitar o amigo, o mais novo adiantou-se.

– Acho que já estamos próximos do lugar onde você programou para irmos, Hyoga...

– Como você percebeu, Shun?

– Ah, Oga... O chalé da senhorita Saori fica no distrito próximo daqui. Me lembro de vir com ela, certa vez...

– Pensei que seria novidade!

– Mas é novidade! Naquele dia, viemos de helicóptero, eu estava preocupado em cuidar da segurança dela... Queríamos investigar se seria um lugar seguro... Mas você me trouxe para que eu pudesse... enfim... aproveitar o descanso naquele chalé vai ser ótimo... a natureza é exuberante, lá... Poderemos descansar longe de tudo e de todos, como você gosta! Um isolamento saudável.

– Pelo jeito, você está melhor. Pensei que nunca mais sairia daquele estado de luto. – Fitava, com suas íris azuis penetrantes, o mais novo, que desviou o rosto na direção da paisagem externa ao escutar o tom sério daquelas palavras.

– Existem momentos em que a vida nos surpreende com a perda de algo ou de alguém que consideramos importante, Hyoga... É natural que passemos por um período de adaptação mental e emocional de forma a metabolizarmos essa perda. – Concluiu, volvendo o olhar marejado de volta ao amigo que escutava com atenção.

– Todos sofremos muitas perdas ao longo de nossa vida, Shun...

Logo uma brisa mais forte levou os cabelos castanhos a balançarem-se, por causa de uma porta que se abria no final do vagão. Um senhor procurava por passageiros perdidos.

– Acho que está na hora de irmos. – Chamou Shun, levantando-se e pegando sua mochila dos braços de Hyoga. – Ainda temos um bom caminho até o chalé. Você não está com fome?

O loiro apenas sorriu, concordando. Parecia que havia conseguido resgatar seu amigo daquela melancolia, o que lhe trazia uma alegria inesperada ao coração aparentemente frio.

Os rapazes passaram pelo agente do trem, e desculparam-se pela demora em deixar o vagão, ao que o senhor curvou-se, aceitando e desejando boa viagem.

Caminharam por entre o pequeno tumulto de pessoas que se formava na saída da estação. A maioria estava conversando, tirando fotos, comprando brindes e pequenos presentes. Porém, aqueles dois amigos desejavam apenas uma coisa: sair do meio da multidão.

Logo deixaram o lugar e permitiram que os sons da natureza falassem por eles...

Estar ali era um refrigério merecido para aquelas almas tão antigas quanto os deuses...

Continuaram sem dizer uma só palavra, caminhando com as mochilas nas costas, por entre as ruas estreitas e antigas, com as pequenas casas cada vez mais escassas até chegarem a um caminho mais ermo, uma rua feita de rochas cuidadosamente dispostas, com musgos e pequenos tufos de um fino capim entre elas. Aquele pavimento parecia datar de mais de quinhentos anos...

Entre aquelas altas e frondosas árvores, os dois rapazes percorriam o trajeto em silêncio. Mais de duas horas passaram-se e continuavam em silêncio. Apenas o ruído da brisa esgueirando-se entre os velhos troncos podia ser ouvido.

Até os pássaros pareciam silenciar, em respeito à necessidade refazimento do mais jovem entre os protetores de Athena. Talvez, imaginassem que poderiam incomodar com seus cantos alegres aquele que ainda se recuperava de uma profunda tristeza...

Vez por outra, Hyoga mirava o amigo, que tinha os olhos voltados para o chão, como se analisasse cada uma das pedras sobre as quais pisavam.

Cada uma tinha seu lugar e sua função. Se uma daquelas pedras possuía seu lugar e sua função naquela estrada, também eles, jovens cavaleiros da esperança, existiam por alguma razão além de proteger a deusa.

O aquariano pensou diversas vezes em puxar algum assunto, mas acabara agindo como os pássaros...

Respeitava o silêncio de Shun tanto quanto a natureza ao redor dos dois.

Além disso, sempre fora o menor que o tirava do ostracismo, que entoava sua voz doce aos ouvidos lamuriosos do mais velho, arrancando-o amorosamente de sua solidão.

Naquele momento, Hyoga não sabia o que fazer, a não ser caminhar ao lado do amigo, e respeitar seu espaço.

Em um ponto mais íngreme da subida, o vento tornou-se mais forte e soou alto entre as copas de algumas árvores, causando uma revoada de pássaros que, até então, se mantinham calmos, respeitando o cosmo do ser mais puro e bondoso que pisara por aquelas terras.

Em meio às aves, a mais sagrada demonstrou seu esplendor...

Sua plumagem clara, chegando ao branco, com extremos contrastes fascinantes de degradê vermelho, era encantadora.

Como se estivesse sendo guiada pelo pensamento de um ser superior, o tsuru planou por cima dos rapazes, fazendo Shun elevar o olhar esmeraldino, e pousou elegantemente no meio da estrada de pedras, um pouco à frente dos dois, como se algo desejasse deles.

Tamanha beleza fez o rapaz de coração condoído interromper sua caminhada, ao que o loiro acompanhou, estancando igualmente seus passos.

Uma ave rara e bela como aquela, ali, bem à frente, tão próxima, não haveria de ser coincidência. A mitologia japonesa considerava aquele o pássaro mais velho do planeta, com expectativa de vida de cerca de mil anos...

Por que haveria de interromper seu vôo e colocar-se ali na frente deles?

A ave da longevidade e da fidelidade...

O aquariano quase interrompeu a respiração junto com os passos. Depois de duas horas fitando o calçamento de pedras, Shun havia elevado o olhar, finalmente, e fitava aquela ave como se fosse um ser mítico à sua frente...

O rosto cálido marcado pelas olheiras causadas pelo incessante pranto de alguns dias atrás, parecia relaxar. E o olhar brilhante, como o que havia despertado ao contemplar as montanhas pela janela do trem antigo, parecia retornar, mesmo marejado ante aquela visão.

O virginiano largou as alças da mochila, deixando-a cair no solo aos seus pés, e caminhou hipnotizado, em passos lentos na direção daquele ser que pousara à sua frente, interrompendo seu caminho. 

O aquariano a seu lado fitava o acontecimento, sem movimentar-se com receio de espantar a ave... 

Ou de espantar o amigo.

Ambos eram tão raros...

Quando já estava bem próximo do tsuru, que movia o bico suavemente como a limpar as penas tão alvas como as brancas nuvens que andavam lentamente naquele céu azul sobre eles, Shun ajoelhou-se e sentou sobre os próprios pés. Tinha receio de tocar o pássaro e ele desaparecer, assim como houvera acontecido com Ikki.

No momento que teve de volta do irmão, desperto do transe diabólico do mestre da Ilha da Rainha da Morte, perdera-o...

Não fui capaz de salvá-lo, minhas correntes foram inúteis...  – pensava o rapaz.

Entretanto, outra ave tão rara quanto a Fênix, parecia pertencer-lhe por alguns instantes, ali à sua frente... 

Talvez estivesse tendo uma visão...

Talvez a história que Hyoga contou-lhe de ter visto um tsuru durante o passeio de trem tivesse impressionado seus sentidos...

De qualquer forma, ali estava, no meio da estrada, aquele belo pássaro, do qual poucos haviam tido a chance de se aproximar...

Desejava tocá-lo, acariciar sua plumagem sedosa...

Quem sabe, se pudesse tocar aquela ave rara apenas uma vez, pudesse sentir-se novamente vivo por dentro, como se tocasse uma Fênix...

Como se pudesse tocar os cabelos escuros e revoltos do irmão apenas mais uma vez... 

Talvez, fosse um presente...

Um capricho delicado dos deuses por algo que de bom que pudesse ter feito em algum passado...

Imaginando o próprio irmão, a própria Fênix transmutada naquele pássaro milenar e sagrado, intencionou tocá-lo.

Ajoelhou-se e sentou em cima dos próprios calcanhares, pondo-se em postura de devoção plena.

Suavemente, moveu a mão na direção daquele ente sublime...

Estava tão perto que podia jurar que sentia na ponta dos dedos a plumagem suave e quente...

Entretanto, o vento mudou de direção e a ave tão delicadamente abriu suas amplas asas e guiou-se com a brisa por cima da copa das árvores, sumindo da vista dos dois rapazes.

Dessa forma, deixou o jovem com braço direito estendido no ar e o olhar inundado por um pranto que lhe escorria silencioso pelo rosto e gotejava de seu queixo bem desenhado.

De onde estava, Hyoga podia perceber que lágrimas percorriam a face de seu doce amigo, de braço estendido para o nada, como se desejasse tocar o que havia desaparecido, ainda ajoelhado no meio daquela estrada de pedras antigas.

Conseguia perceber o corpo do mais novo tremendo, o pranto convulsionando as fibras do ser mais puro que ele já havia conhecido, além de sua própria mãe que jazia nas profundezas do mar siberiano. 

A mão estendida ao ar igualmente tremia, como se ainda tentasse alcançar a ave...

O tsuru ou a fênix... 

Tentaria o quanto fosse possível...

Após uma respiração profunda, o aquariano tomou a mochila caída do amigo e caminhou devagar até Shun. Sentou-se ao lado do mais novo, ainda em silêncio.

Tocou-lhe a mão estendida no ar e trouxe-a para si, fazendo com que tocasse seu rosto, dando-lhe algo materializado para aterrar a alma no momento presente.

O rapaz, até então imerso em sua visão do irmão morto transmutando-se naquela ave bela e etérea, parecia despertar daquele inusitado encontro, piscando as pálpebras molhadas, enquanto sentia o calor do rosto de Hyoga bronzeado pelo frio siberiano.

Respirou fundo...

A respiração ainda entrecortada por suaves soluços, que ficavam cada vez mais esparsos...

Somente o vento balançando as folhas e os suspiros molhados de pranto do jovem podiam ser ouvidos...

Quantos minutos se passaram até que somente a brisa pudesse ser escutada, nenhum dos dois podia mensurar...

Porém, Hyoga sabia que seu melhor amigo precisava daquele tempo e daqueles silêncios, da mesma forma que tantas vezes ele mesmo precisara...

Quando alguém ou algo importante na nossa vida se afasta, é comum que se vivencie um período de adaptação para elaborar essa distância até que o interesse pela própria vida retorne...

Quando o olhar brilhante do mais novo mirou-o com afeto, como a agradecer pela compreensão da importância de estar naquele local e naquele momento, o aquariano sentiu-se à vontade para falar ao virginiano algo que desejava dizer desde o fatídico momento em que viram Ikki ser tragado pela terra no Vale da Morte. 

– Lamento por sua perda, Shun... – Falava o loiro em tom baixo, com aquela voz rouca que tanto consolava o castanho em seus momentos de dor.

– Hyoga, eu não queria aceitar. O meu irmão, o meu niisan.. Não se pode viver achando que as pessoas são nossas posses, então não ganhamos ou perdemos. Sabe... Acho que eu não posso perder algo que não me pertence... – Concluía Shun, em um longo e libertador suspiro.

Depois de viver aqueles momentos tão difíceis, o virginiano finalmente parecia alcançar alguma paz.

Ainda podia sentir tristeza ou saudade, mas começava a pensar novamente no futuro e passava a sentir que algo novo iria aparecer em sua alma.

A morte continuaria sendo um grande mistério, uma grande dor na despedida, contudo quem morre perde o corpo mas nunca perde a luz da vida.

Realmente, da mesma forma que as estações de trem haviam ficado para trás, grande parte da dor da perda também havia ficado, permitindo que se estabelecesse no coração doce, antes soterrado pelo inverno, uma nova estação de luz.

 

~~~~~ Fim ~~~~~


Notas Finais


Agradeço muito a todos que acompanharam essa curta fanfic, escrita de coração e com muito carinho.
Beijos e até a próxima estação.


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