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História Estou Aqui - Capítulo 1


Escrita por: B_Ballas

Notas do Autor


Olá, pessoas!

Obrigada por terem se interessado por minha história, espero que goste de lê-la.

Alguns comunicados:
- Eu não sei editar capas, então terá que ser essa mesmo;
- Eu não sei muito sobre as escolas na Coréia, então me baseei em escolas que já vi em São Paulo;
- Por favor, me perdoem se eu errar algum pronome de tratamento. Eu pesquisei, mas ainda não sei todos direito;
- Essa fanfic não será muito longa, terá 5 capítulos no máximo.
- Não tenho data certa para atualizar, mas vou tentar não passar de um mês hahahah

Boa leitura!

Capítulo 1 - Capítulo 1



    "We are friends for life
Hold that deep inside
Let this be your drive
To survive"
Always be Together - Little Mix

 

 Eu nunca tive dificuldade em compreender as pessoas. Entendia seus sentimentos e suas ações mesmo nunca tendo passado por situação parecida. Sentia suas dúvidas e inquietações como se fossem minhas. Acho que sou aquilo que chamam de extremamente sensível aos sentimentos alheios.Talvez seja por esse motivo que sempre fui incapaz de julgar os outros.


        Quando vejo alguém passando por uma situação indesejável, não preciso fazer esforço nenhum para me colocar em seu lugar e captar o que essa pessoa está sentindo. Do mesmo modo, não consigo odiar aquele que, aparentemente sem motivo algum, atormenta a vida de um inocente, porque eu sei que há, sim, um motivo. Eu posso vê-lo através de seus atos desagradáveis - a dor que o leva a machucar outra pessoa, por mais que ele tente esconder. 


       Eu consigo ver, por mais que poucas pessoas também o consigam. Não estou me vangloriando, veja bem. É que, quando o resto do mundo está sempre ocupado demais para realmente prestar atenção nas pessoas à sua volta, se divertindo e fazendo coisas que pessoas normais fazem, eu fico apenas as observando. Dou os méritos à minha timidez. Quem fala pouco vê muito, é o que dizem. Eu acabei aprendendo a ver o que as pessoas não querem mostrar, a entender a verdade por trás de suas ações e palavras. E é por isso que, apesar de ver o que elas fazem de errado, eu também enxergo o que há de bom nelas. É por isso que não consigo julga-las.


        Taehyung diz que eu apenas sou bom demais para pensar mal de alguém - como se ele fosse uma má pessoa. A verdade é que, pelo menos ao meu ver, não existem pessoas realmente más. Seja lá o que ela estiver fazendo, indubitavelmente existe um motivo por trás desse comportamento, por mais que a própria pessoa não o saiba. E elas também sofrem. Porque machucar alguém pode trazer um certo prazer momentâneo, e talvez seja exatamente isso que elas estejam procurando - esse efêmero momento de satisfação, uma satisfação que não conseguem encontrar de outra forma em suas vidas. Mas, passado esse momento, quando o prazer vai embora, o que resta é apenas um vazio. (Sim, talvez eu tenha me inspirado um pouco em "O jogo da imitação", ok? O filme é bom, o que posso fazer?). Alguns simplesmente ignoram esse sentimento e continuam agindo como se não houvesse nada de errado em sua vida. Outros percebem, e continuam repetindo o ato de violência para, penso eu, cobrir esse vazio formado. Vocês devem imaginar como isso não costuma funcionar.


       O fato é que as pessoas, em sua essência, são boas. E eu realmente acreditava nisso. Às vezes, no entanto, elas me faziam duvidar disso.


        E era nisso que eu pensava enquanto assistia o capitão do time de basquete da escola e sua gangue tirarem sarro de um garoto baixinho de cabelos negros que eu definitivamente nunca tinha visto antes. Não que eu pudesse falar algo sobre a altura de alguém, dado minha baixa estatura. Mesmo à distância era perceptível que o tal garoto era mais alto do que eu - no entanto, a diferença de altura com o terceiranista à sua frente era gritante. 


       Três garotos fortões e uma garota rodeavam o aluno que eu deduzia ser novo. O capitão estava mais próximo, provocando o outro enquanto seus colegas de time o acompanhavam em sua "brincadeira". Menos a garota. Ela encarava os amigos com reprovação, mas sem realmente fazer algo para impedi-los. Eu não podia critica-la: também observava a cena sem intervir. O menino os olhava com tédio, no entanto. Como se o que estivessem fazendo não o afetasse de forma alguma. "Por que fui obrigado a acordar tão cedo para ter que lidar com gente imatura?" era o que parecia dizer. E eu quase acreditei em sua total indiferença com a situação, se não fosse pelo leve tremor em suas mãos, quase imperceptível. Parecia estar tentando se conter.

- Aah, qual é, Yoongi! - Kwang, o capitão, arrastou o nome, que eu deduzi ser do rapaz à sua frente. Ele fazia uma cara de descontentamento, como se estivesse decepcionado com algo que o tal Yoongi tinha feito. Contudo, era evidente que estava, na verdade, apenas debochando dele. - Não seja tão sério! Vamos, abra um sorriso!

Kwang sorriu, como se quisesse mostrar ao mais novo como se fazia. Vendo que o outro não esboçava nenhum tipo de reação, levou a mão à sua bochecha para fazê-lo sorrir à força. Yoongi reagiu ao toque, afastando o braço do terceiranista com o seu próprio. Kwang pareceu se divertir com a reação.

- Oh, é melhor eu tomar cuidado com ele! - O capitão do time se afastou, esboçando uma falsa expressão surpresa que logo se transformou em um sorriso zombeteiro. - O menino Yoongi cresceu bastante, não é mesmo?

A fala chamou minha atenção imediata. Kwang já conhecia o estranho de cabelos negros? Mas eu tinha certeza de nunca o ter visto na escola antes, e eu definitivamente me lembrava de todos os alunos que estudavam ali - aquela escola era mais minha casa do que minha própria casa, eu praticamente fora criado ali.

Qualquer que fosse o real significado daquela sentença, eu podia perceber o desconforto de Yoongi com a situação em que se encontrava. Queria poder fazer algo para impedir que aquilo se prolongasse por mais tempo. Conhecendo Kwang do jeito que eu conhecia, eu sabia que ele não iria se contentar apenas com algumas palavras provocativas, principalmente quando demonstrava tanto divertimento ao constranger o outro garoto. Entretanto, eu era um covarde. Um covarde que se escondia atrás de sua timidez, e, portanto, incapaz de ajudar Yoongi. Tive que ficar me lembrando dessa minha total falta de atitude para não xingar mentalmente Kwang e companhia por sua atitude tão infantil. Afinal, se eu permitia que eles fizessem aquilo eu não era muito melhor do que eles.

Também tentava me lembrar de que aquelas pessoas tinham motivos para estarem fazendo aquilo, de que no fundo elas deviam ser boas. Kwang sempre implicava com os outros alunos, seja por serem diferentes dele ou por simplesmente ter vontade de fazê-lo. TaeTae era um deles. Pensar nisso me deixava irritado, mas, ao mesmo tempo, me levava a imaginar como deveria ser a vida daquele capitão fora da escola para ele precisar tão desesperadamente machucar os outros.

Às vezes eu me pergunto por que eu me importo tanto. Seria muito mais fácil simplesmente odiá-lo... Mais fácil, porém, inaceitável. Pelo menos para mim.


        Kwang decidiu, então, que roubar a mochila do garoto de cabelo escuro seria ainda mais engraçado, confirmando minhas pressuposições. Yoongi mal teve tempo de reagir quando o maior puxou a alça de seu ombro, trazendo o objeto de pano para si. Ele abriu o zíper e começou a tirar as coisas lá de dentro. A feição do menino passou de desconfortável para profundamente irritada, por mais que ele parecesse ainda tentar esconder. É claro que Kwang viu nisso motivação para continuar, e ele o fez. Até que sua mão trouxe à vista um certo caderno preto.

Ah, sim, aquele caderno. Eu me lembro bem dele. Prestem muita atenção nesse objeto de capa de couro escuro, pois ele assumirá um papel de grande importância na história que pretendo contar.

Yoongi não gostou nada daquilo. Sua expressão fechou-se de vez, encarando o rapaz mais velho com um olhar grave. Eu diria até que havia uma certa preocupação em seus olhos. O capitão não deixou de reparar nisso.

- O que foi? - Provocou. - O que tem nesse caderno, Yoongie?

O moreno tentava se manter calmo, mas era uma tarefa difícil quando Kwang balançava o dito caderno a alguns centímetros de seu rosto, um sorriso nada amigável adornando a face. 

- Devolve, Kwang. - Yoongi estava, obviamente, perdendo a paciência com tudo aquilo. Os comparsas do capitão do time apenas observavam, rindo. Jiae os encarava com uma expressão que eu não conseguia identificar direito - zangada, talvez? Esperava que ela logo tomasse uma atitude para encerrar aquilo, ela sempre o fazia. - Acho que você já se divertiu bastante, não?

Nunca vi uma das "vítimas" de Kwang enfrentá-lo dessa forma, de modo que me surpreendi. Era como se Yoongi dissesse que, apesar de não gostar da situação, o outro não o intimidava. Eu realmente esperava que essa cena toda não fosse ter um final trágico para o novato.

- É assim que você fala com seu hyung? - Kwang fingiu um tom ofendido, mas logo aquele sorriso perverso voltou aos seus lábios. Ele abriu o caderno em suas mãos e começou a folhea-lo, lendo em voz alta algumas frases aparentemente aleatórias.

Yoongi avançou para pegar o caderno das mãos do terceiranista, mas este foi mais rápido e desviou, ainda lendo o que quer que estivesse escrito naquelas folhas. Antes que Yoongi pudesse tentar se aproximar novamente, um dos outros garotos se colocou na sua frente, impedindo a sua passagem. O baixinho o encarou com um olhar mortal, mas o outro não recuou.

Foi quando Jiae decidiu que aquilo estava indo longe demais.

- Kwang, já chega. - Disse a garota, aproximando-se do namorado. - Devolve isso para ele, não tem por que você fazer isso.

- Jiae, não seja uma desmancha prazeres. - Kwang parou de ler o caderno para encara-la. - Não vê que estamos nos divertindo aqui?

Eu não podia ver o rosto de Jiae agora, mas tinha certeza de que ela não havia gostado do que tinha acabado de ouvir.
- Quando foi que você ficou tão babaca?

Ao ouvir isso, o capitão ficou sério pela primeira vez naqueles últimos minutos.

- Não vai me dizer que está brava de verdade? - O capitão parecia descrente de que tal coisa seria possível. - É só uma brincadeira, amor.

- Devolve o caderno para ele, Kwang.

Vendo que a garota falava sério, Kwang devolveu o objeto ao seu dono, assim como a mochila. Como se esperando sua deixa, o sinal tocou, anunciando o início de mais um cansativo dia de intermináveis aulas. O grupo mal-intencionado se virou e foi embora, deixando um Yoongi bem irritado para trás - não sem antes o capitão gritar um "Até mais tarde, menino Yoongi". Eu queria me aproximar e dizer ao menino Yoongi que nem todo mundo naquela escola agia daquela forma, entretanto, minha timidez falou mais alto e eu acabei fazendo o oposto, me voltando para o meu armário o mais rápido possível, antes que o moreno no outro lado do corredor percebesse que eu o observava. 

Para minha surpresa, dei de cara com um par de olhos cor de amêndoa que me encarava com intensidade.

- Tae! - Quase saltei do chão ao me deparar com a figura de meu melhor amigo. - Você me assustou. 

- Desculpa. - Por favor, aprendam com Kim Taehyung como ser educado barra fofo. - O que foi aquilo?

Tae apontou com sua mão direita para algo atrás de mim, o que me fez virar inconscientemente mesmo eu sabendo ao que ele se referia. Soltei um suspiro.

- Kwang estava provocando um aluno novo. - Resumi. Sabia o quanto essa atitude do mais velho incomodava o castanho à minha frente, principalmente por ele às vezes ser um dos alvos também.

- Aquele cara não cansa de ser um otário. - Bufou Tae, fazendo uma careta em seu momento de desgosto. Apenas balancei a cabeça, não queria ir contra meu regulamento de não xingar as pessoas. - Eu sei que você também pensa que ele é um otário, Jimin, pode falar isso em voz alta, faz bem para a alma!

- As pessoas simplesmente não entendem o peso que suas ações têm sobre os outros, Tae. - Peguei meu último livro que faltava e fechei meu armário, logo me virando para seguir o caminho até nossa sala de aula. Estávamos na mesma turma naquele ano, o que era uma bênção. No ano anterior, ficamos em salas diferentes, eu nunca me senti tão solitário em toda minha vida. Por mais que eu gostasse dos outros alunos, eu não conseguia conversar com eles. Apenas nos intervalos eu era agraciado pela presença de meu melhor amigo e salvador, Kim Taehyung. Esse ano, pelo menos, não teria que passar por isso.

- Verdade. - Concordou o castanho. - Mas não vejo como isso muda o fato de que ele é um otário. Jimin, se recusar a afirmar algo não vai mudar a realidade: mesmo que você não o diga, ele é um otário. Talvez ele tenha um vilão no lugar de um pai, que bate nele com frequência, o que faz com que ele desconte sua raiva em aluninhos indefesos, mas isso não muda o fato de que ele é um otário. Ele tem uma razão para o ser, mas continua sendo. No caso, o pai dele também seria um otário. Ambos otários. Uma família de otários. Entendeu?

- Acho que você atingiu seu limite diário de "otário". - O garoto ao meu lado me encarou com seu olhar penetrante, sério. Tae era um brincalhão, mas quando ele falava sério ele realmente falava sério, e aquela era uma das ocasiões. Não admitiria uma piada como resposta. Deixei um suspiro escapar, vencido. - Sim, Tae, entendi.

- Ótimo! - Exclamou o rapaz, seu sorriso costumeiro preenchendo seu rosto pela primeira vez naquela manhã. - Espero que isso entre nessa sua cabecinha dura.

- Há! Eu sou cabeça-dura? - Encarei meu amigo, meus lábios também se abrindo num sorriso com a ironia em sua fala. - Sabe o quão irônico isso é vindo de você?

Tae não me respondeu, apenas revirou os olhos. Acabamos ambos rindo.

Nesse mesmo instante, alcançamos a porta de nossa sala. O professor ainda não havia chegado e os demais alunos conversavam, divididos em seus grupinhos. Tomamos nossas carteiras, que ficavam uma do lado da outra, e eu já estava começando a tirar meu material da mochila quando o castanho chamou minha atenção novamente.

- Ei! - Chamou, ao que levantei minha cabeça para encará-lo. - Mudando de assunto... Você vai hoje, né? Ao clube de dança.

Com toda aquela agitação no corredor apenas alguns minutos antes, eu havia me esquecido completamente daquele detalhe. Uma coisa que eu preciso contar: eu amo dançar. É como se fosse minha terapia, entende? Quando danço, eu não penso em mais nada. Apenas me permito ser guiado pela música, entrando em perfeita sincronia com a melodia que invade meus ouvidos. Contudo, há um pequeno probleminha: eu não consigo dançar na frente de outras pessoas. Apenas três pessoas tiveram a oportunidade de me ver dançando, e essas eram meu pai, minha mãe e meu melhor amigo. Mesmo assim, foi muito difícil. Eu prometi para mim mesmo que, quando entrasse para o primeiro colegial, iria vencer essa timidez e entrar para o clube de dança da escola, de um jeito ou de outro. Eu até cheguei fazer a inscrição para poder me juntar ao clube. Todavia, lá estava eu, quase um mês depois que as aulas haviam voltado e ainda sem ter tomado coragem para aparecer na sala de dança.

Taehyung já estava perdendo a paciência comigo. Na semana anterior, ele me fizera prometer que iria parar de postergar isso e que, segunda-feira (vulgo aquele dia), iria de uma vez me apresentar ao representante do clube para poder finalmente começar a participar das aulas. Afinal, era o que eu mais queria. E eu estava realmente animado, mas, vendo a hora em que eu precisaria dançar para outros alunos se aproximar, eu começava a ficar inseguro de novo. Não havia jeito de eu conseguir fazer aquilo. De forma alguma! Entretanto, eu não queria decepcionar Tae, o qual, aliás, ainda esperava por minha resposta.

Percebendo minha hesitação, o castanho inclinou sua cabeça e estreitou os olhos.

- Jimin, você vai né? - Era uma pergunta, ou pelo menos era para ser, porque ele proferiu aquela frase com tanta firmeza e convicção que não poderia ser outra coisa além de uma certeza. Desviei meu olhar, não querendo responder. - Jimin, você não pode ficar fugindo assim! Você ama dançar, tem que enfrentar esse medo! - Continuei sem responder. - Você me prometeu que iria.

Ah, o ponto fraco! Sim, Kim Taehyung sabia medir bem suas palavras. Voltei a fitar seu rosto, tentando ganhar a coragem para fazer aquilo que eu já devia ter feito há muito tempo. Balancei positivamente minha cabeça várias vezes.

- Tudo bem, tudo bem! Eu vou, não se preocupe.

Ao ouvir aquilo, Tae tirou de seu rosto aquela expressão séria e me lançou seu típico sorriso retangular que eu tanto amava. Sorri de volta. Eu só esperava que não fosse me arrepender mais tarde.

 

***

 

 

A manhã não tardou a passar. Eu gostava de poder exibir um boletim perfeito e pretendia continuar assim, de modo que me mantinha concentrado em todas as aulas. Acredite, quando você participa da aula ela não parece tão chata. Além do mais, tínhamos alguns excelentes professores, que conseguiam fazer até mesmo geografia ser interessante.

Sinceramente, eu gostaria que o período da tarde tivesse demorado um pouquinho mais para chegar. Eu estava demasiadamente nervoso para a aula de dança, duvidava que fosse conseguir fazer alguma coisa com desconhecidos - ainda por cima mais velhos - me encarando e me julgando. De modo que, cinco minutos antes do horário marcado, eu me encontrava de frente para aquela porta de madeira, fitando-a como se ela possuísse a resposta para todas as questões da vida, do universo e tudo o mais.

Tae não estava comigo. O mais novo fazia parte do clube de teatro de nossa escola e, mesmo as aulas de dança e de teatro não sendo no mesmo horário, o castanho precisara ir mais cedo naquele dia, já que começariam as discussões sobre a nova peça que apresentariam. Não querendo soar como um puxa-saco, mas TaeTae é realmente incrível atuando. De qualquer forma, embora não pudesse me acompanhar, ainda me lembrava do sorriso sincero e das palavras de apoio que me lançara ao nos despedirmos alguns minutos antes. Ele confiava que eu conseguiria, e eu estava me esforçando para ter a mesma confiança em mim mesmo.

Podia ouvir vozes vindas lá de dentro, então era óbvio que alguns alunos já haviam chegado. O que só me deixou mais nervoso. 

"Qual é, Jimin", pensei. "É só girar a maçaneta, você sabe fazer isso".

Deixei um suspiro escapar de meus lábios enquanto tentava juntar coragem para adentrar a sala. Não entendia por que era tão difícil assim para mim fazer coisas tão simples como abrir a droga de uma porta. Não era como se eu não gostasse de ficar perto das pessoas ou de conversar com elas, então porque eu tinha tanto medo? Por que eu colocava tantas barreiras no caminho para o meu sonho? Frustrado com aqueles pensamentos, com a minha sempre presente falta de atitude, com a minha timidez, abri a porta e avancei para dentro do aposento. Mas estaquei assim que percebi os olhares sobre mim.

Dois garotos e uma garota conversavam a uns dois metros de distância de onde eu estava, alguns outros alunos encontravam-se espalhados pela sala, se alongando ou apenas conversando. Assim que ouviram o barulho da porta se abrindo, viraram seus rostos para verificar o que poderia ser o tal som, como qualquer ser humano normal faria. Mesmo sabendo disso, já fora o suficiente para levar embora o pouco de coragem que eu havia conseguido juntar.

 Identifiquei entre os três à minha frente Jung Hoseok, o aluno responsável pelo clube de dança, e Jeon Jungkook, com quem eu conversara para fazer a inscrição - o que me surpreendera, porque o garoto é do time de basquete e eu nunca imaginara que ele também dançava. 

"Jimin, não fica aí parado só encarando, faz alguma coisa".

- Oi. - Sorri tímido, tentando parecer um adolescente normal, que não estava quase morrendo por dentro por ter que interagir com novas pessoas.

Percebendo meu nervosismo, os três pararam de conversar e Hoseok veio até mim, sorrindo amigavelmente. Agradeci mentalmente por isso, porque eu não saberia o que fazer se o mais velho não tivesse vindo até mim. O Jung era bem conhecido por sua personalidade alegre e acolhedora, e devo admitir que aquele sorriso lançado em minha direção pelo mais velho me acalmou um pouco, como provavelmente era sua intenção.

- Oi! - Respondeu animado ao se aproximar. - Veio para participar da aula? 

Balancei a cabeça em uma resposta positiva. O sorriso nos lábios de Hoseok aumentou ainda mais ao detectar o gesto, parecendo verdadeiramente alegre pela entrada de mais um ao grupo.

- Ótimo! Seja bem-vindo. - Falou e, esticando a mão em minha direção, continuou. - Me chamo Jung Hoseok, sou o responsável pelo grupo de dança. Você já fez a inscrição? Qual seu nome?

Percebi que os boatos sobre a animação do garoto à minha frente eram mais que verdadeiros. Meio atordoado pelas perguntas disparadas a mim, apertei sua mão esticada enquanto informava-lhe meu nome.

- Park Jimin. - Soltei sua mão após o leve aperto e levei a minha própria até o bolso traseiro de minha calça. Meus dedos encontraram o papel dobrado, logo puxando-o para fora da peça de tecido  - S-sim, já fiz a inscrição. Aqui está.

Entreguei-lhe a folha para que ele pudesse confirmar o que eu dizia. Sorriu novamente após constatar que estava tudo certo e guardou o papel.

- Tudo ok, Park Jimin. - Fez um sinal positivo com o dedão. - Estamos ensaiando uma coreografia, precisamos te encaixar em algum lugar. Quer nos mostrar o que sabe fazer?

Engoli em seco. De tudo o que eu pensei que poderia ocorrer quando finalmente entrasse para o clube, aquilo era o que eu mais temia. Ter que dançar sozinho na frente de seus olhos julgadores. Não era possível que aquilo estivesse acontecendo, eu não podia ser tão azarado assim. Sei que parece algo simples e que eu estou fazendo drama, mas não estou. Quando há olhos grudados em mim, é como se eu perdesse toda minha habilidade de me mover. Eu sabia que não deveria ter ido. "O que eu faço?".

- Não precisa se preocupar, só queremos ter uma noção para sabermos onde te colocar na coreografia. - Hoseok tentou me tranquilizar, devia ter sentido o meu pânico. - A não ser que você prefira ficar de fora.

Não foi um desafio, ele apenas me deu as opções para que eu escolhesse a que mais me deixasse confortável. Por mais que fosse tentador apenas observar, eu não poderia fazer isso. Já sentia o nervosismo se apossar de meu corpo com a perspectiva de dançar na frente de toda aquele gente, mas eu não podia desistir. Eu prometi para mim mesmo que não iria. Balancei a cabeça negativamente, eu não ia ficar de fora.

Os lábios do mais velho se curvaram em outro sorriso, que me parecia sua marca registrada. Pediu para que a garota ao seu lado se preparasse para colocar uma música. Eu não a conhecia, mas não negaria que ela era bonita. 

- Eu me lembro de você. - Tomei um leve susto, não percebendo que Jungkook tinha se aproximado. - Você fez a inscrição comigo aquele dia, até estranhei você não ter aparecido depois.

Jungkook se lembrara de mim? Não sei porque, mas isso me parecia algo impossível. Senti minhas bochechas esquentarem mediante a abordagem do outro. Eu deveria responder alguma coisa, contudo, minha mente não sabia o que deveria ser dito naquela situação. Era sempre assim quando algum estranho tentava conversar comigo. Era a maldita timidez me atrapalhando.

Sorri meio sem jeito, levando minha mão à nuca.

- É... - Meus olhos desviaram-se para o chão enquanto pensava em uma resposta. - E-eu me esqueci...

O moreno arqueou as sobrancelhas.

- Você se esqueceu?

Eu não tinha me esquecido, mas foi o que saiu na hora. Me repreendi mentalmente, tentando, de modo falho, compreender como meu cérebro funcionava. Por que eu dissera aquilo?

- Bem, fico feliz que tenha se lembrado. Se for bom, pode ser o que esteja faltando para nossa coreografia...

- Não tem nada faltando em nossa coreografia, Jeon Jungkook! - A fala do garoto foi cortada por uma voz feminina que esbanjava autoridade, como se estivesse desafiando o outro a contraria-la. Olhando para a fonte da voz, encontrei a mesma garota de antes, encostada ao lado da caixa de som.

Jungkook revirou os olhos.

- Você sabe que tem! - Gritou de volta, para depois voltar-se para mim novamente. - De qualquer modo, boa sorte.

 

O que aconteceu depois disso foi muito embaraçoso para mim, então pularei os detalhes.

Eu não consegui dançar, não como eu deveria. Tropeçava em meus próprios pés e saí do ritmo mais de uma vez, até que eu finalmente encontrei o chão. Os risos após constatarem que eu estava bem era inevitáveis, entretanto, foram desastrosos para minha consciência. Nunca ria de um tímido.

Depois disso, fiquei sentado em um canto, observando os outros alunos a trabalharem na coreografia.

Deixei a sala na primeira oportunidade que tive, quando Hoseok resolveu dar uma pausa.

Eu falhei, não podia acreditar nisso. Saí correndo igual a um covarde. Como eu iria encarar Tae depois daquilo? 

Dançar era a coisa que eu mais amava no mundo e nem isso era capaz de fazer, só podia ser uma piada. Eu era uma piada. Como realizaria meu sonho se nem ao menos era apto a me apresentar em frente a meia dúzia de pessoas? Chegava a ser ridículo.

Mordi meus lábios, tentando desviar minha linha de pensamentos para outra coisa, ou sabia que acabaria em lágrimas.

Foi quando eu ouvi.

Estava andando pelos corredores da escola, perdido em meus pensamentos autodepreciativos que eu sabia que não deveria ter, quando uma música baixa e conhecida invadiu meus ouvidos. Reconheceria aquelas notas em qualquer lugar.

Diminuí meus passos devagar, parando para ouvir. Meus olhos percorreram a extensão do local em que eu estava, procurando a fonte sonora. A alguns metros à minha frente, uma porta estava meio aberta. Em cima dela havia uma placa.

Sala de música.

Minha mente se perdeu em meio àqueles acordes, me enchendo de um sentimento de nostalgia. A música soava tão baixa que nem sei como, distraído como estava, fui capaz de ouvi-la. Mas eu agradecia por ter ouvido; a melodia me fez esquecer momentaneamente a tristeza que começava a crescer em mim.

Meu corpo foi embalado pela harmoniosa composição, protagonizada pelo belo som do piano. Apenas percebi que me aproximara da sala de onde ela vinha quando parei em frente à porta semiaberta. Fui tomado por uma extrema curiosidade de descobrir quem era o músico por trás daquela maravilha. Quem quer que fosse, era muito talentoso. A balada era difícil de ser tocada, mas eu a ouvia com perfeição.

Me permiti fechar os olhos e me deixar ser levado pelo dilúvio de sentimentos que a música fazia reflorescer dentro de mim; sentimentos bons, sentimentos que eu gostaria de sentir outra vez. Fui transportado para uma outra época, uma época de poucas preocupações e sorrisos fáceis. Não que minha vida fosse triste naquele momento, mas eu sentia falta da simplicidade de ser criança.

Sorri, qualquer sentimento ruim que se fizera presente alguns instantes antes indo embora. Minha música preferida de todos os tempos sempre teria esse efeito sobre mim. Meus músculos se contraíam diante a vontade incontrolável de seguir o ritmo da nostálgica melodia.

Mais do que isso, meu corpo sentia a necessidade de se deixar ser guiado pela música. Permitir que extravasasse toda a tensão a que estava submetido através dos movimentos leves e precisos. Sempre que algo me incomodava, era dançando que eu relaxava. E era o que meu metabolismo me exigia naquele momento. Era o que eu precisava desesperadamente fazer.

Quase que hipnotizado, adentrei a sala. Olhos fechados, permiti que a música se apoderasse de meu corpo.

Não sei por quanto tempo fiquei ali, movendo-me conforme os passos outrora memorizados, agora já tão naturais. Não percebi quando a melodia cessou, nem quando os olhos do pianista finalmente se voltaram para mim.

- Esplêndido.

 

 


Notas Finais


Obrigada por lerem!

Críticas e/ou elogios são sempre bem-vindos :)


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