História Estrelas - Promessa

Yuri

            Já faz uma semana. Uma semana desde que aquilo aconteceu. Falar sobre aquilo ou Seokjin se tornou um assunto proibido em nosso apartamento. Sem falar, sem pensar, sem sentir – era esse o lema que nossa Astrid desenvolveu. Ela parecia estar se afundando cada vez mais em si mesma, dizia que estava bem, mas não ia à escola ou conversava com alguém. Só ficava enfiada no quarto e ia trabalhar. Sua vida nesses dias se resumiu a isso.

            Certo dia, eu simplesmente cansei. Entendia sua dor, mas sua vida não podia parar. Entrei em seu quarto e abri as janelas e a cortina, permitindo a entrada de luz e uma brisa fresca. Puxei seus edredons e fiz com que ela se levantasse, que começou a jogar almofadas em mim.

            - Está maluca, Yui? Por que está fazendo isso?

            - Porque a Astrid que eu conheço não deixa nada derruba-la, e não vai ser um idiota que vai conseguir fazer isso!

            - Mas eu estou triste, Yuri, não posso fazer nada...

            - Você não está nem tentando! Só fica trancada aqui, tomando sorvete e ouvindo Adele. Se você continuar faltando na escola, vão ligar para sua mãe e você terá que voltar para Busan. Você quer isso?

            - Não...

            - Então coloca o uniforme. Estamos indo para a escola, queira você ou não.

            Bati a porta de seu quarto e terminei de colocar meu uniforme, Yoongi estava preparando waffles, ele disse que Astrid adorava quando pequena e que talvez isso fizesse bem.

            - Está com cara de que estar prestes a matar alguém... – Yoongi me entregou um waffle e coloquei mel sobre ele. De início, questionei suas habilidades culinárias, mudei de ideia assim que aquele pedaço de céu tocou minha boca, estava divino.

            - Se nada na sua vida der certo, Yoongi, você pode ser chef de cozinha ou algo do tipo, isso aqui está maravilhoso.

            - Obrigado, eu acho... Conseguiu convencer Astrid a ir para a escola?

            - Nada que gentileza e um choque de realidade não resolvam.

            Nós rimos e comemos mais um waffle até Astrid sair do quarto, estava de uniforme e com o cabelo arrumado. Felizmente, o inchaço em seus olhos e rosto já haviam diminuído. Ela sequer olhou para nós enquanto tomávamos café. Quando deu o horário, fomos para o colégio, mesmo com todos os protestos de Astrid. No intervalo, deixei Astrid nos cuidados de Jimin, Seokjin veio falar comigo.

            - Nossa amizade também será afetada por isso? – Perguntou quando estávamos indo para o pátio, após a aula de inglês.

            - O que você acha? – Respondi revirando os olhos. Sério mesmo que ele está me perguntando isso?

            - Como ela está?

            - Como você acha que ela está, Jin? Ela viu você agarrando outra menina, que nem era uma menina qualquer, era a Ambre ainda por cima! O que você faria se fosse ao contrário?

            - Eu... não sei, nunca imaginei isso.

            - É, ela também não. E ela não merecia isso, Jin – dei as costas e sai andando, ele me puxou pelo braço, fazendo com que eu olhasse em seus olhos. Seokjin definitivamente não é mais o mesmo garoto com quem eu estudei a vida toda, ele estava bem mais bonito e inteligente, não sei dizer quando ele se tornou o tipo de cara capaz de pisar nos sentimentos de uma amiga e namorada.

            - Eu ia terminar com ela, juro.

            - Isso não muda nada, Jin.

            - Preciso falar com ela, me explicar...

            Perdi a paciência e o empurrei.

            - Você tem que colocar na sua cabeça que o que você fez é imperdoável, não existe explicação. Você vai se afastar dela, deixa-la em paz. Não precisa fazer isso por ela, faça por si mesmo. Acho que Jimin já deu o recado, e vale para nós dois.

***

Astrid

            Yuri estava agindo como minha mãe, nunca havia visto ela dessa forma. Conforme andava pelo colégio, podia sentir os olhares de pena caindo sobre mim. Essa era uma das coisas que estava tentando evitar, era como se todos soubessem, incluindo os professores, que pegaram leve comigo durante as aulas. Hoseok não ousou olhar em meu rosto, descobri que ele sabia de tudo e que acobertou Jin nessa história toda, o que foi igualmente doloroso.

            Tive aula de biologia hoje, Taehyung sentou ao meu lado em nossa bancada no fundo do laboratório e fez as anotações do quadro. Às vezes sentia seu olhar de canto me observando, vez ou outra me lançava um sorriso ou tentava me divertir com alguma piada, eu não esboçava reação e detestava ficar desse jeito. Eu devia estar parecendo um zumbi, alguém que só estava andando e respirando por necessidade mesmo, Yoongi disse que meu olhar não carregava expressão, completamente oca por dentro.

            - Estou parecendo o maior idiota aqui tentando fazer você rir e você não vai ao menos me dar um sorriso? – Nossa aula havia acabado e ele estava caminhando comigo para o portão da escola. Quando ouvi o que disse, acabei sorrindo involuntariamente, o que fez ele dar um sorriso de canto. – Viu? Não foi tão difícil assim!

            - Eu sei, desculpa, Tae. Estou um pouco distraída hoje.

            - Estou vendo... No que está pensando?

            - Agora? Se o Yoongi também estará estranho quando chegar em casa. Yuri está estranha, na verdade todos estão.

            - Até eu?

            - Você é sempre estranho, Taehyung – empurrei ele de lado e nós rimos baixo.

            - Besta. Mas se quer saber de uma coisa, nós continuamos os mesmos, você que está estranha. É estranho te ver tão triste, não quero que você se sinta assim.

            - Mas dói tanto, Tae, não achei que doeria tanto... – senti as lágrimas brotando em meus olhos e tratei de enxugar o roto com força com o dorso da mão, desviei os olhos para evitar seus olhos castanhos, que me olhavam com tantos sentimentos ao mesmo tempo que eu sequer conseguia distingui-los. Seus braços me envolveram de repente e por um momento parei de me preocupar com tudo ao meu redor. Apenas estar ali em seu abraço desengonçado importava. Não estávamos mais no meio do corredor do colégio, sequer sabia onde estava e o que estava acontecendo, de uma forma estranha, a única coisa que me dizia que aquilo era real era o aroma característico de suas roupas, o perfume amadeirado combinado com um suave amaciante, semelhante ao de seu moletom.

            - Eu sei, As, dói porque você o amava demais. Mas não vai melhorar se você não permitir que melhore, não vai parar de doer se você não parar de dar importância... – Seus dedos passaram cuidadosamente sobre meus cabelos e repousaram em minhas costas, apoiei minha cabeça contra seu ombro e permiti que meu corpo se entregasse ao seu abraço inesperado.

            - Por que você se importa? – Perguntei com a voz fraca. Talvez não era a melhor coisa para se dizer naquele momento, mas as palavras simplesmente saíram. Achei que ele ficaria irritado ou daria risada, no entanto, ele apoiou o queixo sobre minha cabeça.

            - Eu te entendo, As. E acho que ninguém merece sentir isso. Além do mais, amigos fazem isso, não é? Ou não? – E então ele me soltou rapidamente, ainda com as mãos em meus ombros. Seu rosto não estava próximo do meu, mas também não estava assim tão longe. Ele inclinou um pouco a cabeça e me lançou um olhar confuso. – Não tenho muita experiência com amizades, não sei muito bem o que fazer.

            - Não, está certo. É isso que os amigos fazem. – Ele sorriu e me abraçou novamente. Taehyung às vezes parecia uma criança, daquelas que se escondem com um sorriso arteiro quando fazem bagunça e que às vezes são tão doces com sua ingenuidade que nos fazem sorrir sem dar conta. – Obrigada, Tae, de verdade.

            Caminhamos próximos até o portão, Yuri já estava me esperando, quando nos viu, acenou para Taehyung e indicou para que eu me apressasse. Ele me deu um beijo na testa e perguntou olhando em meus olhos:

            - Promete que vai pelo menos tentar ficar melhor?

            - Taehyung...

            - Promete! Ou vou prefere que o Jimin seja meu informante?

            - Aish, não precisa disso. Prometo que vou melhorar, está bom assim?

            - Perfeito.

***

            Decidi que estava disposta a melhorar de verdade, ninguém poderia dar um fim a meu sofrimento senão eu mesma. Para começar com o pé direito, topei sair com Yuri, já não saíamos há muito tempo. Confesso que estava com medo desse seu plano maluco, ela escolheu minhas roupas e pagou um táxi para irmos até o tal local. Felizmente, não era nada de outro planeta: fomos ao shopping e assistimos a um filme de comédia (meu gênero favorito). Comemos um balde de pipoca e tomamos muito suco (Yuri implica demais com refrigerantes e não me deixa tomar também), acabei me divertindo bem mais do que imaginava.

            Hoje à noite será o seu tão esperado encontro com o Namjoon, estou muito feliz por ela e torcendo muito para que tudo dê certo para eles. Segui Yuri até um centro de beleza chique que tem no shopping sem entender muito bem o que estávamos fazendo ali.

            - Boa tarde, temos duas reservas no nome de Park Mei – disse Yuri para a recepcionista gentil que nos entregou dois cartões vermelhos, tinham o dizeres “Cliente Vip”.

            - Yuri, o que a mãe do Jimin tem a ver com nossa vinda aqui? – Perguntei sussurrando, ela riu.

            - Ela nos deu como cortesia, a senhora Park é dona dessa rede, As. Ela disse para nos aproveitarmos e ficarmos lindas!

            Fiquei surpresa e entusiasmada. Yuri e eu passamos por diversos tratamentos, desde massagens a cortes de cabelo, nos divertimos muito e tivemos um verdadeiro dia de Spa, foi um bom começo para lavar a alma. Passei o resto da tarde ajudando Yuri a escolher um vestido para seu encontro, ela disse que Namjoon a levaria a um restaurante e que ela devia estar elegante. Depois de muito tempo, finalmente encontramos algo que a satisfizesse: um vestido longo e azul, da mesma cor de seus olhos.

            Chegamos em casa e se apressou em se arrumar. Eu resolvi fazer algo diferente, fazia tempo que não escrevia poesia e agora me sentia inspirada o bastante para escrever pelo menos três. Comecei a me sentir melhor com o lápis e o caderninho em minhas mãos, poder expressar o que estava sentindo em forma de arte era, além de belo, extravasante, podia entregar meus pensamentos ao lápis e deixar que ele se encarregasse do resto.

***

Yuri

            - Como nossa estrelinha está? – Perguntou Jimin pelo telefone, estava sussurrando para que Astrid não pudesse me ouvir.

            - Sem aquele olhar sem alma, felizmente. Está escrevendo poesia, acho que isso representa uma melhora, né?

            - Sim, parabéns por ter conseguido tira-la daquele quarto, logo ela ia virar parte da mobília.

            - Verdade! – Falei abafando o riso, olhei no relógio: estava quase na hora. Mal podia contar minha animação e ansiedade. – Bem, agora preciso ir, tenho um encontro.

            - Com quem?

            - Namjoon.

            - Já era hora hein, Yui!

            - Quieto aí, Park. Pelo menos eu tenho um encontro – falei dando risada, ele riu também.

            - Aish, Yuri, como você é má. E fique a senhora sabendo que eu só não saio com alguém por que eu não quero, opção não falta!

            - Relaxa aí, Jiminie, eu e Astrid vamos desencalhar você, tenha fé.

            - Não obrigado, quero as duas malucas bem longe de minha vida amorosa.

            - Besta! Até depois.

            - Até.

            Arrumei meu cabelo em uma trança de lado e pedi para Astrid colocar uma presilha brilhante para dar o toque final. Yoongi disse que eu estava uma gata, Astrid jogou uma almofada nele e disse para ele ser mais educado, ele mudou para ‘você está estonteante’, o que fez nós rirmos muito. A campainha soou no horário combinado. Namjoon estava elegante sem parecer formal demais.

            - Yuri, você está linda! – Senti minhas bochechas corarem e meu coração acelerar, dei um beijo em seu rosto e ele deu outro no meu.

            - Obrigada! Você também está maravilhoso, de verdade! – As palavras se atropelavam e me deixaram envergonhada, ele sorriu do meu jeito bobo, o que não ajudou muito, só resultou em uma sensação agradável no estômago – deviam ser as tais borboletas que Astrid sempre disse, nunca havia sentido antes. – Permita-me?

            - Cla-claro... – Ele sorriu e segurou minha mão. Por que ele tinha que ter esse sorriso tão lindo com covinhas tão adoráveis? Estava sendo difícil lutar contra esse turbilhão de sentimentos que estava sentindo. Talvez me entregar a isso fosse a decisão certa, mas não a mais racional. Entrei em seu carro e coloquei os cintos, ele parecia igualmente feliz e nervoso (daquele jeito bom), não quero estragar as coisas, não dessa vez, não com ele. Tudo precisa ser diferente.

            É assim que é estar apaixonada de verdade?