História Estrelas - O último pedido

            Estava rodopiando em meu quarto com uma camisola de seda verde enquanto abraçava o vestido que usaria mais tarde no baile. Pulei na cama algumas vezes e me olhei no espelho, estava completamente elétrica e animada. Ouvi um barulho atrás de mim e encontrei Taehyung passando pela janela.

            - Enlouqueceu? – Eu o ajudei a entrar e ele sentou cansado no chão ao meu lado, estava suado e com um sorriso lindo, também devia ter acabado de acordar. – Sabe quão alta essa torre é?

            - Eu precisava ser o primeiro a ver minha princesa no aniversário dela – ele apoiou sua testa na minha e eu ri baixo. Sim, eu era uma princesa e era meu aniversário de 18 anos, logo, minha coroação como herdeira do reinado de meus pais.

            - Não sei o que eu faria se você tivesse caído, é perigoso subir torres hoje em dia e meu cabelo não é comprido o bastante para fazer uma corda...

            Taehyung interrompeu meu falatório exagerado com um beijo demorado. Eu tinha certeza de que não sonhava, era capaz de sentir tudo com intensidade, desde o frio na barriga a palpitação no coração. Seus lábios eram tão doces quanto mel, faziam com que eu me perdesse naquele paraíso e implorasse por mais.

            - Feliz aniversário, minha princesa – sua voz saiu como um sussurro e seus lábios seguiram para meu pescoço, fazendo-me suspirar.

            Joguei o despertador longe e com raiva por ter feito com que eu acordasse na melhor parte. Era um presente ter sonhos bons, os pesadelos reinavam em meu quarto, mas eu já havia me acostumado com eles. Acordei para a realidade com pesar. Apesar de ser mesmo meu aniversário de 18 anos, Taehyung ainda está em coma e eu não sou uma princesa em uma torre alta com uma camisola de seda.

            Tomei banho e coloquei um suéter e jeans confortáveis. Arrumei meu cabelo em um coque bagunçado e segui para a cozinha, encontrei Yuri e Yoongi fazendo panquecas enquanto ouviam uma música animada no rádio, sorriram assim que notaram que eu os observava.

            - Bom dia, estrelinha! – Yuri virou a panqueca no ar e a colocou em um prato, empurrando-o na minha direção sobre a bancada. – Aposto que deve estar com fome!

            - Não quero ver nenhuma carinha triste, hoje é dia de festa e você deve estar sorrindo! – Yoongi cobriu de chocolate e pequenos morangos a panqueca que Yuri me entregou e desenhou um sorriso nela.

            - É um milagre de aniversário ver os dois cozinhando juntos, vocês deviam fazer isso mais vezes, sério, isso aqui está muito bom mesmo.

            - Yuri está me ensinando uma coisa ou outra para que eu não morra de fome nos Estados Unidos.

            - Por favor não me lembre disso hoje, Yoongi. Quero tentar ter um aniversário legal apesar do mundo a minha volta estar desmoronando lentamente.

            - Deixa a vibe deprê na cama hoje, As. Hoje é seu dia e vamos aproveitar – Yuri me abraçou e roubou um dos morangos da minha panqueca, estreitei os olhos em sua direção e ela riu. – É para o bebê!

            Era divertido ver Yoongi e Yuri trabalhando juntos, eram uma boa dupla, ele gosta de cozinhar e ela cozinha bem, eles se completavam. Yoongi fazia malabares com as panquecas e surpreendentemente não derrubou ou grudou nenhuma delas no teto. Nenhum deles me ajudou a arrumar a bagunça, então eu me joguei preguiçosamente no sofá e liguei a televisão.

            - Bom dia, pessoal! – Jimin entrou no apartamento com uma porção de coisas em mãos, apoiei minha cabeça no sofá e observei enquanto ele deixava tudo sobre a mesa. – Encontrei essa garotinha perdida por aí, podemos ficar com ela?

            Olhei para a porta e Suni entrou com um vestido animado e florido, carregava duas caixas em mãos e eu a ajudei colocando-a junto das outras. Suni correu na minha direção com um sorriso enorme e eu a abracei em meu colo.

            - Feliz aniversário, unnie!

            - Obrigada, Suni!

            Desde que Tae sofreu o acidente, há quase três semanas, Suni passava os finais de semana conosco enquanto Linna trabalhava, ela se tornou oficialmente parte de nosso grupinho da felicidade. Jimin me deu um abraço apertado e bagunçou meu cabelo levemente.

            - Parabéns, pequena!

            - Pequena nada que eu sou do seu tamanho – eu o empurrei devagar e ele riu alto – e você me respeita porque agora eu sou mais velha que você.

            - Por apenas mais 8 meses, estou contando!

            - O que tem nesse monte de caixas, Jiminie? – Yuri começou a mexer nelas e Jimin rapidamente afastou algumas delas.

            - Essas aqui só podem ser abertas depois do parabéns, nas outras têm tudo que é necessário para fazer uma festa legal.

            Ele separou três caixas que estavam envoltas num papel de presente colorido e as colocou junto de outras duas. Começamos a abrir as caixas e a espalhar seu conteúdo sobre a mesa, os meninos não deixaram que eu os ajudasse tanto, então eu fui desenhar uma faixa de parabéns com Suni.

            - Minha garota chegou e ninguém me avisou? – Yoongi entrou na sala fingindo estar irritado e Suni rapidamente correu até ele com os braços abertos. – Cadê o meu beijo?

            - Nem parece o Yoongi que a gente conhece – comentou Jimin dando de ombros enquanto Suni dava um monte de beijinhos pelo rosto de meu irmão, fazendo com que eu e Yuri ríssemos.

            - Só Suga e Suni conseguem deixa-lo assim, é impressionante.

            Suni rapidamente voltou sua atenção para Yoongi e eu passei a decorar a faixa sozinha enquanto eles enchiam bexigas. Não faríamos uma festa ou algo do tipo, apenas uma pequena reunião com música e videogame. Não almoçamos, apenas beliscamos um pouco dos salgadinhos e amendoins que Jimin trouxe ao longo da tarde.

            - Jimin, eu juro que vou jogar uma panela em você se continuar provando a massa do meu bolo!

            - Aish, Yuri, para quê tanta violência? Falta amor no seu coração – ele a abraçou por trás e ela o empurrou com o quadril com um semblante irritado. Yuri pode roubar da nossa comida, mas ninguém pode roubar da comida da mesma.

            - Vá caçar o que fazer, Park. Essa cozinha é pequena demais para nós dois.

            - Vou atormentar Astrid então – ele sorriu e caminhou em minha direção com um olhar repleto de segundas intenções.

            Passamos a pintar a placa juntos, ele criticava meus desenhos e eu criticava sua letra horrorosa, ele então passou a jogar tinta em mim e eu só faltei voar em seu pescoço.

            - As, por que não leva Suni para ver Taehyung enquanto terminamos aqui? – Sugeriu Jimin enquanto pendurava a faixa no centro da sala. Parecia uma obra maluca do Picasso com o toque colorido de Romero Britto, éramos artistas de fato.

            - Oba! Quero ver o oppa!

            - Você vai me trocar assim desse jeito? – Yoongi, o mestre no drama, atacou novamente. – Você gosta mais dele do que de mim!

            - Tem lugar para os dois no meu coração – Suni deu um beijo em seu rosto e me deu a mão enquanto seguíamos para a porta.

            Era sempre muito divertido pegar ônibus com Suni, ela ficava maravilhada com tudo e se divertia com pequenas coisas, além de que tinha uma facilidade tremenda para fazer amizades, era sempre muito gentil com todos.

            - Você acha que o oppa vai melhorar, unnie?

            - Eu acho que sim, temos que torcer por ele – senti um aperto em meu peito. A verdade é que a cada dia, as chances de Taehyung sair do coma diminuíam. Apenas pensar em perde-lo me dava uma vontade absurda de chorar. - Precisamos ter fé.

            - Já de volta, Astrid? – Perguntou Rose, a enfermeira chefe, logo que fizemos a ficha para visitar Tae.

            - De volta não, essa é a primeira vez que venho aqui hoje – respondi com um sorriso sem entender muito bem o que ela quis dizer, ela riu baixo e continuou como se eu fosse maluca.

            - É claro que sim, querida, você passou a manhã toda aqui. Até estranhei, já que você nunca vem pela manhã. Foi embora há duas horas, no máximo.

            Preferi não a contrariar, tenho certeza absoluta de que não saí de casa hoje a não ser agora. Acabei fazendo bastante amizade com as enfermeiras e médicos do hospital, assim que as aulas acabavam, vinha direto para cá e só ia embora para ir ao trabalho. Todos os dias eu o visitava e tentava deixar seu dia um pouquinho mais feliz, trazia alguma flor bonita que encontrava pelo caminho ou até mesmo algo que me fazia lembrar dele. Os médicos diziam que ouvir minha voz poderia fazer bem a ele.

            - Olá, amor – entrei no quarto devagar e mirei seu rosto sereno. Sempre que via ele pensava a mesma coisa: ele está apenas dormindo. Seu rosto já não tinha curativos e nem sua cabeça e braços, apenas as costelas estavam em recuperação. – Trouxe alguém para vê-lo hoje.

            - Oi, oppa – Suni murmurou devagar com um pequeno sorriso, sentando-se em meu colo ao lado de Tae. – Senti muito a sua falta, quer dizer, ainda sinto.

            - Sabia que hoje é meu aniversário, Tae? – Coloquei minha mão sobre a sua com cuidado e senti seu toque gelado. – Acorde e venha comemorar conosco.

            - Vai ter bolo, oppa! Eu e Yoongi-oppa enchemos uma porção de bexigas coloridas enquanto a unnie fazia a faixa de parabéns com Jiminie.

            - Sabia que sua sobrinha está namorando com meu irmão, Tae? Foi uma grande novidade para todos nós – falei dando risada, as bochechas de Suni coraram e ela deu um sorriso lindo.

            - Vamos nos casar quando eu crescer! Você precisa estar bem para me ver nesse dia, oppa!

            - Tae não deve ficar tão feliz com isso...

            - Mas eu amo você também oppa! – Ri ao me lembrar de como tudo isso começou, na semana passada.

            - Astrid – Suni não me chama assim, só quando é algo bem sério, ela me olhava com seriedade e eu imaginei o que estava por vir -, você ama meu tio?

            - Mais do que tudo no mundo.

            - Então você vai se casar com ele?

            - Com toda certeza, mas só quando ele acordar – tenho certeza de que isso o deixaria muito feliz, ele vivia me enchendo o saco sobre isso e eu sempre dizia “mais tarde”. – Aonde quer chegar, Suni?

            - A gente se casa com alguém quando gosta bastante da pessoa, certo?

            - Isso mesmo, quando gosta bastante de montão.

            - Então eu vou me casar com Yoongi-oppa – respondeu com um sorriso e um olhar determinado, quase engasguei de tanto rir.

            - Você gosta do meu irmão, Suni?

            - Sim, e ele falou que também gosta de mim.

            - Por que nunca me disse isso, senhor Yoongi? – Ele levantou uma sobrancelha confuso e eu devolvi o olhar com um sorriso.

            - Estávamos esperando o momento certo... Suni, quer se casar comigo?

            - Yuri! Jimin! Corram e tragam a câmera! Estão perdendo um pedido de casamento lindo! – Yoongi me empurrou de lado e eu ri baixo com Suni. Os dois chegaram rapidamente e assistiram à cena com um sorriso, Suni aceitou e beijou a bochecha de meu irmão, que lhe devolveu com um beijo na testa.

            - É, Tae, os dois estão noivos, é oficial.

            - Você e a unnie vão ser nossos padrinhos, mas você vai ter que acordar para isso, oppa. Está dormindo faz muito tempo – Suni não sabia do acidente, Linna lhe disse que Tae estava dormindo e que por isso ela precisava acordar quando a mãe pedia. Suni uma vez disse que caso eu o beijasse, ele despertaria, isso quebrou meu coração dezenas de vezes.

            - Sabe o que eu quero de aniversário, meu amor? Que você simplesmente acorde. Pode fazer isso, Tae, por favor? – Senti as lágrimas brotarem em meus olhos de novo e esfreguei meu rosto com força.

            - Oppa! Você está fazendo a unnie chorar! Não pode fazer isso!

            - É, oppa... pare de fazer a unnie chorar – precisava me manter forte, Suni estava comigo e ela não devia me ver assim, ela me abraçou devagar e não consegui conter minhas lágrimas, que caíam silenciosamente por meu rosto. – Me dê esse presente de aniversário, Tae.

            Suni encostou o rosto em meu ombro e eu a abracei com a mão livre. Já era ruim passar o aniversário sem meu pai, agora sem Tae também? Nunca tive a chance sequer de comemorar um aniversário com ele.

            - Ei, unnie, olha – Suni disse baixinho e eu olhei na direção que ela indicou. Sob a minha mão, alguns dedos de Tae se levantaram preguiçosamente, observei-os tremendo devagar sem mexer um músculo, até que eles finalmente baixaram e sua mão envolveu a minha, segurando-a completamente. – O oppa está acordando?

            - O oppa está acordando – apertei sua mão devagar e deixei as lágrimas rolarem com um suspiro. Suni pulou de meu colo e foi dizer a uma enfermeira que Tae tinha dado algum sinal, eu me abaixei devagar e selei nossos lábios, tentando não me movimentar muito para que nossas mãos se soltassem. – Isso é um sinal, certo, amor? Você vai acordar logo, logo, tenho certeza disso.

            - Unnie, uma moça disse para eu te entregar isso aqui – ela me entregou um envelope cor-de-rosa com um adesivo de coração, dele tirei um cartão de aniversário, que jogou confetes em mim quando eu o abri.

            “Hoje é um dia muito especial simplesmente porque VOCÊ veio ao mundo! Desejo a você toda felicidade do mundo, parabéns!”

            Sim, As, eu sei que hoje é seu dia, gostaria de lhe dar os parabéns pessoalmente, mas ambas concordamos que isso não daria tão certo, não é? Desejo sorte a você. Isso mesmo, sorte. Sorte, porque vou tirar tudo de você, não vou me contentar apenas em ter Taehyung. Porque ele vai ser meu, Astrid, custe o que custar. Anote o que estou dizendo. Ah, é. Já está anotado.

Um beijo do fundo do meu coração,

Você sabe quem, 28.02.

            Guardei o cartão com raiva em meu bolso e suspirei nervosa. Mas que droga! Por que ela sempre tem que aparecer nesses momentos?! Mexi nos cabelos de Taehyung com cuidado e dei um beijo doce em sua testa, tocando seu rosto com cuidado e me despedindo, assim como Suni.

            Suni insistiu em irmos pelo caminho do parque, então fiz o que ela pediu. Comprei sorvete para nós, dessa vez foi morango para ela e baunilha para mim. Sempre que tomava sorvete, lembrava instantaneamente de Taehyung e um sorriso tomava meu rosto, caminhamos devagar até meu prédio, conversando sobre um montão de coisas diferentes.

            - Feliz aniversário, Astrid – ouvi a voz e me virei, Jungkook havia acabado de entrar no elevador conosco. Revirei os olhos e ele sorriu, aproximando-se de mim devagar. – Não vai me deixar lhe dar um abraço para comemorar?

            - Não, Kook.

            - A unnie tem namorado.

            - Eu sei disso, mas ele não está aqui agora, né? – Meu coração doeu ao lembrar do Kookie que eu conheci. Nunca imaginei que aquele garoto tímido e divertido que conheci se tornaria um dos suspeitos pelo acidente do meu namorado.

            - Por que você não segue a sua vida, Kookie? Está agindo como Linda, já pensou nisso? Por que não dá uma chance a ela em vez de perder tempo comigo?

            - Linda não é Astrid, e eu amo você.

            - Isso não é amor, Jungkook, isso é doentio! Eu gostava de quando você não era esse cara esquisitão e idiota!

            A porta do elevador se abriu e eu puxei Suni rapidamente pela mão, entrei no apartamento e fechei a porta logo em seguida. Namjoon e Jimin jogaram confetes sobre mim e eu quase caí para trás com o susto. Suni se divertia com os confetes coloridos enquanto eu abraçava Namjoon.

            - Você veio!

            - Claro que eu vim, boba, não perderia por nada o aniversário da funcionária e amiga mais atrapalhada que eu tenho – disse Namjoon enquanto bagunçava meus cabelos e me dava um abraço de urso.

            - Chegou bem na hora! Acabou de sair a primeira rodada!

            Yoongi colocou uma grande pizza marguerita sobre a mesa e Yuri foi a primeira a se servir. O aroma delicioso preencheu todo o apartamento e o sabor estava simplesmente divino. Tínhamos maneiras diferentes de mostrar nossa herança gastronômica italiana, eu me especializei nos macarrões e meu irmão nas pizzas, a dupla perfeita.

            Jimin colocou chapéus de festa em nossas cabeças e saiu desfilando por aí com colares de flores e línguas-de-sogra na boca, ele fez uma playlist e a deixou tocando enquanto jantávamos. Yoongi fez pizza para todos os gostos, disse a ele que caso a carreira de rapper não desse certo, ele poderia apostar em uma pizzaria, todos concordaram.

            Ligamos o videogame algum tempo depois e jogamos alguns jogos de corrida e luta que tínhamos, também jogamos uma partida de banco imobiliário, Namjoon ganhou e esfregou sua vitória na cara de todos.

            - Agora eu quero bolo!

            - Se minha garota quer bolo, que ela tenha bolo! – Suni abraçou Yoongi e ele deu um beijo em sua cabeça.

            - Parem de melação vocês dois, meu deus...

            - Está com inveja, Park?

            - Qual é, minha namorada mora do outro lado da Terra, óbvio que estou com inveja. Além disso, Suni nem me dá valor mais...

            - Jiminie não fica assim... – Suni o abraçou rapidamente e todos rimos do olhar que Yoongi deu a Jimin, que sorria vitorioso.

            - Eu quero bolo também! Se a aniversariante quer, o desejo dela tem que ser atendido!

            Yuri pegou o bolo da geladeira com um sorriso enorme no rosto, ele estava envolto em glacê e tinha pequenas estrelas de açúcar ao seu redor, ela também havia feito os brigadeiros que Lena nos ensinou.

            - Yuri... tem algo errado com meu bolo... – virei na direção dela para que ficasse à mostra o túnel que havia em uma das laterais.

            - Park Jimin eu vou te matar! – Yuri voou em cima de Jimin com uma colher de pau em mãos e bateu em seu corpo diversas de vezes.

            - Ninguém vai impedir essa maluca não?!

            - Não é bom para nosso filho, Jimin, você vai ter que aguentar aí – Namjoon e Yoongi estavam apoiados um no outro, quase caindo de tanto rir. Yuri só parou de bater em Jimin quando ele se rendeu.

            Apagamos as luzes e começamos a cantar enquanto batíamos palma. Olhava o rosto sorridente de meus amigos e só conseguia pensar em como sou sortuda em tê-los ao meu lado. Sabia que meu pai estaria cantando conosco no céu com um sorriso, desejei que Taehyung estivesse aqui junto conosco nesse momento também.

            - Faz um pedido, unnie!

            - Mas não pode contar, se não ele não realiza!

            Olhei para a vela iluminada a minha frente e fechei os olhos com força.

            Tenho que fazer um pedido certo? Bem, então vamos lá.

            Desejo Taehyung de volta, desejo que ele saia desse coma de uma vez. É só isso que eu quero, o que eu mais quero. Estrelas, poderiam por favor atender este meu último pedido?

            Soprei a vela e todos bateram palma, desejando que meu pedido se realizasse tanto quanto eu.

            - Agora quero abrir meus presentes!

            - Abre o meu primeiro, unnie! É de coração! – Suni me estregou um punhado de flores que havia colhido no parque e um desenho de todos nós com as mãos dadas, até o bebezinho de Yuri e Namjoon estava ali. Abracei Suni com lágrimas nos olhos e ela sorriu orgulhosa de seu trabalho.

            - Agora o meu e de Lena, que é com certeza o mais especial! – Jimin me entregou um embrulho florido e eu o abri temendo que algo pulasse em cima de mim. Era uma camisa autografada por um jogador da seleção brasileira, um dos meus craques favoritos. – Espero que sirva, deu um trabalho danado para a Lena conseguir isso.

            - Seu presente pode até ser legal, Jimin, mas não ganha do presente do melhor irmão do mundo – Yoongi me entregou uma caixa enorme, cabia nossa televisão dentro dela, no entanto, a única coisa que havia nela era uma bola de basquete.

            - Uma bola de basquete? Mas eu não jogo basquete...

            - Vai reclamar do meu presente? Quanta ingratidão! Vou ficar com ela já que você não quer! – Ele tirou a bola da minha mão e todos riram, menos eu, porque eu queria um presente. – Comprei algo para você com o troco da bola, está aqui. – Meu irmão deixou em minha mão um par de brincos brilhantes que combinavam perfeitamente com o colar de estrelas que o Tae me deu.

            - Agora o meu!

            - Estou com medo, Namjoonie...

            - Cale a boca e abra, estrelinha – eu ri e ele me entregou um embrulho florido, dentro dele tirei um vestido maravilhoso, curto e azul, lindo demais para ter sido escolhido por Namjoon.

            - Yuri! Eu amei!

            - É tão difícil de acreditar que foi um presente escolhido por mim?

            - Com certeza, hyung – Jimin colocou a mão em seu ombro e todos demos risada.

            - Pessoal, muito obrigada! Esses foram os melhores presentes que já recebi!

            - Falta um, unnie... – Suni me entregou uma caixa grande e quadrada que estava envolvida em um papel de presente com planetas e foguetes, segurei a caixa um pouco confusa, sem entender muito bem quem havia me dado. Até que li aquela caligrafia tenebrosa.

            Taehyung

            Retirei o papel de presente com cuidado, esperando usá-lo na decoração do meu quarto ou em qualquer outro projeto louco de arte. Quase caí para trás quando vi o que estava ali, não sabia se ria ou se chorava, acabei fazendo os dois. Retirei a carta que se encontrava sobre o presente e a li.

            Eu escrevi isso bem antes para não correr o risco de esquecer. Não que eu fosse esquecer o aniversário da minha princesa, calma, é que às vezes minha memória me prega peças. Só às vezes, porque como pode ver, eu sabia exatamente o que você queria de presente. Já disse o quanto sou sortudo por namorar você? Já disse o quanto te amo hoje? Se não fiz isso ainda, por favor puxe minhas orelhas agora mesmo! Desejo a você muitos anos de vida e felicidade e também que todos os seus sonhos se realizem! Astrid, você é a estrela mais brilhante do meu céu, te amo mais do que Kit Kat e bala de goma – o que é muito mesmo, você sabe o quanto eu sou fanático por doces...

Ao amor da minha vida, mesmo que ela seja às vezes um pouco bem chata,

Kim Taehyung, 28.02

            Dobrei a carta e enxuguei meu rosto com cuidado. Eu achava que não era capaz de amar Kim Taehyung ainda mais, a cada dia me surpreendo. Mesmo não estando comigo agora, ele arrumou um jeito de dizer que me ama e de estar presente. Somos inseparáveis sendo constantemente separados. Nunca desejei tanto que ele estivesse comigo, queria beija-lo e dizer o quanto eu o amo também.

            - O que o oppa te deu, unnie?

            - Isso – retirei o capacete de joaninha e o abracei enquanto todos riam sem entender o presente. Aquilo significava demais para mim, era com certeza um dos melhores presente que já recebi.

            Arrumamos a bagunça enquanto ouvíamos e cantávamos as músicas escolhidas por Jimin. Elas não eram lá tão boas quanto as que meu irmão escolheu para o baile, mas nos divertimos muito com cada uma delas. Suni pediu para dormir conosco e Linna deixou, então arrumamos o sofá para ela.

            Tomei banho e coloquei um pijama macio e quentinho, Yuri e Yoongi fizeram o mesmo depois que Jimin e Namjoon voltaram para a casa. Estávamos escolhendo um filme pelo Netflix quando alguém bateu na porta repentinas vezes.

            - Quem pode ser a essa hora da noite? É quase meia noite! – Resmungou Yuri enquanto abria a porta. – Olá...? Boa noite.

            Olhei para trás quando percebi que seu tom se tornou mais formal e avistei dois policiais com o rosto fechado. Lancei um olhar reprovador para Yoongi no mesmo instante.

            - Não olha para mim desse jeito, não! Eu não tenho nada a ver com isso.

            Da última vez que policiais vieram em nossa casa, antes de eu me mudar para o apartamento, foi para deixar um Yoongi completamente bêbado em casa juntamente com uma multa por pichação e um mandado expulsando-o de um shopping em Busan.

            - Você é Astrid Fontanatta? – Perguntou o maior deles, Yuri negou e olhou em minha direção, calcei minhas pantufas de coelhinho e caminhei envergonhada até os policiais.

            - Astrid, sou eu, o que desejam?

            - Astrid Fontanatta, você está presa – o mais baixo deles puxou meus braços com força num movimento rápido e senti o metal gelado das algemas em meus pulsos.

            - Presa?! Mas eu não fiz nada!

            - É o que todos sempre dizem, por favor não dificulte as coisas. Vamos dar um passeio até a delegacia agora.