História Estrelas - Cadeia?

            Sabe quando algo parece completamente irreal para ser verdade? Achei que minha cota de coisas inimagináveis já havia acabado. Primeiro o acidente de Taehyung, tardei a acreditar que aquilo era real de fato, agora estou sendo presa no dia do meu aniversário. Só consigo pensar em como isso é loucura.

            - Vocês podem me explicar o que está acontecendo?

            - O delegado irá explicar melhor – respondeu o mais baixo mal-humorado.

            Pela janela, via a garota anterior se transformando em uma tempestade, o vento se agitava e os trovões se tornaram constantes. Yuri ficou em casa com Suni e Yoongi nos seguia em um táxi. Eu queria abrir a porta e me jogar para fora do carro, mas isso de forma alguma ajudaria na minha situação, aí sim que eu seria tratada como prisioneira.

            Nunca havia ido em uma delegacia, nunca havia andado em uma viatura ou algo do tipo. O delegado designado me olhava de cima a baixo com desprezo, os policiais me jogaram de qualquer jeito em uma cadeira a sua frente e eu engoli em seco.

            - Sabe por que está aqui, certo?

            - Eu juro que eu não fiz nada, isso é um mal-entendido tremendo – gaguejei e o homem bigodudo a minha frente riu sem humor. – Do que estou sendo acusada?

            - Esta é uma pequena lista.

            Ele me entregou um papel e eu li cada um dos itens entendendo cada vez menos o que estava acontecendo. Fui processada por alguém que preferiu não se identificar, acusada de difamação, pequenos furtos, danos morais, calúnia, agressão e roubo de identidade.

            - Armarão para mim! Eu não fiz nada disso, eu juro!

            - Há diversas provas e testemunhas que provam o contrário.

            - Isso é completamente injusto! É meu aniversário, eu nem devia estar aqui! – Levantei e bati as mãos na mesa, estava muito irritada e com medo de ser presa por algo que eu não fiz. O delegado fez um sinal para os policiais e cada um agarrou um de meus braços, deixando-me praticamente suspensa no chão.

            - Talvez passar uma noite aqui acalme os ânimos de nossa estrelinha.

            Fui jogada em uma pequena cela, as paredes são cinzas e sem vida, o chão é frio e duro. Há uma pequena cama e um banheiro improvisado. Minha cabeça parecia a ponto de explodir e eu queria fazer um escândalo, exigindo para que me tirassem dali imediatamente. Minha consciência gritava para que eu não fizesse isso para minha situação não piorar.

            Eu sabia que Yoongi já estava a caminho, esperava que ele conseguisse me ajudar e não acabasse sendo preso também, meu irmão não é lá a pessoa mais calma nessas situações, assim como minha mãe, que estaria armando a maior confusão se estivesse aqui. Ironicamente, meu coração gritava por Taehyung, embora soubesse que ele não poderia fazer nada. Talvez eu pensasse isso porque ele sempre está lá para me salvar, meu cavaleiro de armadura dourada.

            - Ei! – Segurei as barras geladas e chamei a atenção do policial que estava mais próximo de mim. Pensei que se é isso que acontece nos filmes, talvez pudesse funcionar agora. – Por favor, me deixe dar um telefonema!

***

Jimin

            Namjoon me deixou em casa já bem tarde, dei um beijo na testa de minha mãe e corri para meu quarto. Estava exausto, minha cama me chamava e eu me sentia magneticamente atraído por ela, meu corpo pedia boas horas de sono. Estava quase dormindo quando meu celular tocou, atendi preguiçosamente.

            - Oi, diga.

            - Graças a Deus alguém me atendeu! – Ao ouvir a voz de Linna, endireitei minhas costas e forcei meus olhos a abrirem com força, ela parecia desesperada. – Estou tentando falar com Astrid e ela não atende de jeito nenhum!

            - Ela deve estar vendo um filme com Suni agora, o celular deve estar desligado... Alguma notícia de Tae?

            - Sim! Ele estava respondendo ao tratamento, os médicos achavam que ele estava perto de acordar e de repente ele piorou – Linna começou a soluçar e eu coloquei os sapatos e o casaco novamente -, o coração dele parou por um momento, Jimin. Não posso perder meu irmão não sei o que fazer.

            - Aguenta aí que já estou indo.

            Ela desligou o telefone e eu peguei minha bicicleta, até o táxi chegar eu já estaria lá, estaria economizando um bom tempo. Chovia forte, as gotas de chuva se misturando com minhas lágrimas não me incomodavam, afinal, meu rosto estaria molhado de qualquer forma. Uma súplica silenciosa estava presa em minha garganta.

            Por favor, não deixe que Taehyung morra.

            Você precisa sobreviver, Tae, você precisa lutar.

            O que eu faria se perdesse meu melhor amigo? Tenho outros amigos, mas Taehyung é insubstituível. Não quero viver em um mundo sem aquele garoto maluco. Entrei encharcado da cabeça aos pés no hospital e Linna me abraçou assim que me viu.

            - Como ele está?

            - Vivo – ela soluçava em meu ombro e eu a abraçava protetoramente. – Os médicos conseguiram, mas ele voltou para o estado de observação.

            - Eu achei que ele estava bem, até tinha dado um sinal de melhora para Astrid...

            - Todos nós achamos, foi muito repentino. Foi Astrid que avisou aos médicos quando seu coração parou de bater, nenhum de nós esperava por isso...

            - Astrid? Quando foi isso?

            - Há duas horas mais ou menos.

            - Não, ela só veio hoje durante a tarde. Passei a noite toda com ela, Astrid não saiu de casa.

            - Ela deu um escândalo quando aconteceu, teve que ser arrastada pela segurança para fora do prédio e bateu em todos que estavam em seu caminho, nunca vi Astrid assim...

            - Mas não era Astrid, Linna... – quase podia ver as engrenagens girando em minha cabeça, mas preferi não contrariar Linna nesse momento difícil.

            - De qualquer forma, Astrid foi proibida de visitar Tae por seu comportamento, os médicos disseram que poderia fazer com que Tae piorasse.

            Comecei a andar em círculos com as mãos na cabeça. Astrid não veio aqui durante a noite, tenho certeza disso, passamos a noite abrindo presentes e comendo bolo de chocolate. Astrid só vai visita-lo por volta das 13 horas, todos os dias ela faz isso. A não ser que... Meus pensamentos foram interrompidos com uma ligação.

            - Por que não atende o celular, Astrid?

            - É o Yoongi, estou ligando do celular dela porque não encontro o meu.

            - Aconteceu alguma coisa...?

            - Astrid foi presa, Jimin.

            - O QUÊ? – Linna olhou assustada para mim, assim como todas as pessoas ao redor, respirei fundo e tentei alinhar meus pensamentos. – Como assim Astrid foi presa?

            - Ninguém sabe porquê.

            - Astrid foi presa?? – Linna perguntou e eu indiquei que sim devagar com a cabeça. – Vai lá ver o que aconteceu, vou ficar bem. Quando tiver mais notícias de Tae eu aviso.

            Desliguei o celular e voltei a pedalar, os raios se intensificaram e eu pedalei cada vez mais rápido até a delegacia indicada por Yoongi, que ficava alguns quarteirões dali. Taehyung e seus pressentimentos, mesmo em coma, é impressionante.

***

Astrid

            Embora ele já estivesse a caminho, só poderíamos nos falar no dia seguinte. Tenho sérias dúvidas se esse é o procedimento padrão ou se há algo por trás das cortinas que não estou entendendo. Dormir foi um desafio, a cama era muito dura e eu sentia muito frio. Tinha medo de não conseguir ser libertada e perder alguns anos de minha vida vendo o Sol nascer quadrado.

            Pela manhã, um dos policiais veio me levar para alguma outra sala, eu o segui a puxões e com a cabeça baixa. Encontrei Namjoon em uma sala e o abracei assim que o vi.

            - Namjoon, ainda bem que você está aqui – minha voz saiu entrecortada e ele me deu um abraço apertado. Seu sorriso com covinhas me tranquilizou um pouco.

            - Bela forma de comemorar seus 18 anos.

            - Diga-me que trouxe boas notícias, por favor!

            - Não sou formado ainda, mas o delegado não precisa saber disso, certo? Conversei com minha professora e ela e Yuri me ajudaram a reunir provas que comprovam sua inocência. Está tudo ao seu favor, exceto por uma coisa.

            - O quê?

            - O delegado, ele está levando isso para o pessoal, apesar de ser ilegal.

            - Como vou sair dessa então?

            - Você tem diversas testemunhas e seu álibi é muito bom. Mas a pessoa que te processou também tem algumas testemunhas... Conseguir que você não vá presa é a parte fácil da coisa, difícil vai ser retirar o processo. De onde tiraram que você roubou a identidade de alguém?

            - Satomi deve estar por trás disso, ela me odeia, disse que não vai parar enquanto não tirar tudo de mim...

            - Estava vendo os papéis de sua acusação e encontrei algo que você não havia me dito antes – ele olhou em meus olhos quase querendo rir e eu devolvi o olhar assustada. – Você é acusada de ter cometido o acidente de Kim Taehyung.

            - Por que raios eu faria isso com o meu namorado?! Não faz o menor sentido!

            - Eu sei que não, mas encontraram seu DNA por ali, e testemunhas afirmam ter visto alguém que bate com suas características na hora do acidente.

            - Eu não estava lá, Yuri pode comprovar isso, eu estava em casa...

            - E eu posso provar através de testes que o DNA foi plantado e as testemunhas induzidas, ainda assim não vai ser fácil, mas eu e minha professora estamos trabalhando nisso, deixe tudo conosco, vamos conseguir, eu prometo – Namjoon me deu outro abraço apertado e o policial indicou que ele saísse, só poderia receber mais uma visita, e ela foi feita logo em seguida por Jimin.

            - Então quer dizer que você anda fazendo “pequenos furtos”? – Corri para seus braços e enterrei meu rosto em seu ombro, ele me envolveu e eu me senti protegida e acolhida.

            - Fui acusada de tantas coisas bizarras que não sei nem explicar, Chim, só quero acordar desse pesadelo agora...

            - Bem, tenho duas notícias para você, uma boa e uma ruim. Qual você quer ouvir primeiro?

            - Eu realmente preciso da notícia boa.

            - Taehyung teve um ataque cardíaco ontem à noite – senti o meu coração parar de bater por um momento e todo o ar deixou meus pulmões -, mas, ele está bem agora. E os médicos dizem que isso pode fazer com que ele acorde mais rápido.

            - Estou com medo de perguntar sobre a notícia ruim...

            - Você foi proibida de visita-lo enquanto ele estiver hospitalizado...

            - O quê?! Mas porquê?! Eu não fiz nada!

            - É uma história engraçada... Disseram que você fez um escândalo e bateu em muita gente lá dentro na noite passada, só que tipo, você estava em casa quando tudo isso ocorreu. Eu perguntei o horário, estávamos abrindo presentes nessa hora.

            - O que está acontecendo, Chim? Nada mais faz sentido...

            - Eu tenho uma teoria, mas ela é bizarra demais, então não vale a pena nem contar para preocupa-la.

            - Como alguém pôde me acusar de ter causado o acidente de Tae? Eu o amo com minha vida, por que eu faria isso? Jiminie, tem algo muito errado nessa história toda.

            - Dadas as circunstâncias, é mais fácil encontrar algo que está certo do que algo que não faz sentido algum...

            O policial apareceu novamente para levar Jimin embora e eu senti um vazio triste. Queria fugir dali apenas para ver Taehyung, queria lhe dizer para lutar e não desistir, eu passaria a tarde toda ao seu lado, tentando, de alguma forma, deixa-lo feliz e mais tranquilo. Dar-lhe alguma motivação para acordar.

            Voltei para minha cela e fiquei entediada rapidamente, não tinha o que fazer ou com o que me distrair, ficar presa em meus pensamentos era a pior prisão de todas. Poucas horas depois, o delegado bigodudo e mal-humorado voltou e abriu as grades.

            - Seu advogado é mesmo muito bom, mocinha.

            - Namjoon é o melhor de todos – respondi seca, olhando o homem com o mesmo ar de desprezo que ele me olhava. – Eu disse que era inocente.

            - Se eu fosse você, eu ficaria bem quietinha, posso lhe acusar de desacato a autoridade e aí será a sua palavra contra a minha.

            Revirei os olhos e assinei uma pequena pilha de papéis junto com Namjoon. Minha ficha estava limpa, mas eu teria que pagar uma pequena quantia de indenização à pessoa que me denunciou. Bem, era melhor do que nada. Assim que senti a brisa suave em meu rosto, suspirei aliviada e abracei Namjoon.

            - Você vai ser um excelente advogado um dia.

            - Eu já sou, meu bem.

            - Agora estamos quites, irmãzinha, quero ver a moral que você vai ter para me zoar daqui para frente – Yoongi bagunçou meus cabelos e me deu um abraço apertado.

            - Que bom que agora está tudo bem – Jimin me envolveu em seus braços novamente e caminhamos animados de volta ao meu apartamento.

            - Vou valorizar muito minha liberdade daqui para frente, sério.

            - Ah, As, só uma coisa... – Namjoon chamou minha atenção e eu olhei para ele. – Minha professora e eu conseguimos descobrir as identidades das pessoas que testemunharam contra você, isso é ilegal, mas ninguém precisa saber, okay...?

            - Quem?

            - Três garotas chamadas, Ambre, Vick e Kim, não conheço nenhuma delas, mas você devia ficar esperta com elas...

            Ambre? Ela não era nossa aliada? Não faz sentido, nós confiamos nela. Faz sentido ter sido Vick, se Satomi desse as caras como Satomi, certamente seria presa, a polícia ainda está atrás dela. E Kim, a ex-namorada de Yoongi? O que raios ela tem a ver com isso? Me sinto dentro de um episódio de How To Get Away With Murder e não é tão legal quanto eu havia imaginado.

            Cheguei em casa e tomei um banho quente e demorado, tirando de mim todas as energias ruins. Yuri e Suni me receberam com abraços apertados, estava muito feliz por estar de volta. Coloquei um pijama – sim, um pijama, queria passar o dia todo com ele, o mais confortavelmente possível -, e minhas adoradas pantufas de coelhinho. Joguei me no sofá com Suni e passamos o resto dia assistindo animes e comendo besteiras.

***

            Dois dias depois, estava no treino de futebol, nosso próximo jogo estava próximo e sem nossa excelente Satomi, o técnico havia perdido as esperanças em nós. Fui eleita como capitã substituta e não me sentia feliz como achei que estaria, o técnico Whon cobrava demais de mim e não me apoiava em nada, sentia o peso todo em meus ombros e queria joga-lo sobre o treinador enquanto gritava.

            Drible atrás de drible, gol atrás de gol. Estava exausta, sentia falta de ver Taehyung pelo canto dos olhos assistindo ao nosso treino, sempre que me sentia exausta ou desmotivada, podia contar com sua natural animação como um impulso. Jimin dava conta do trabalho muito bem, mas sentia saudade de Taehyung. Saudade, essa era a palavra.

            Quando o treino acabou e eu corri direto para o vestiário a fim de tomar uma ducha gelada, senti algo bom em meu peito, uma sensação da qual eu não conseguia explicar, mas que de alguma estranha forma, tranquilizou meu espírito por completo. Enquanto estava a caminho de casa, Jimin correu em minha direção e pulou enquanto empurrava meus ombros, sorrindo de orelha a orelha.

            - Aish, Jiminie, está louco? Quase me mata do coração!

            - Desculpa! É que eu precisava dizer isso pessoalmente!

            - Está feliz assim por que Lena vai voltar para cá?

            - Não! Vou te dar uma última chance!

            - Aish, eu não sei! Me conta logo, Jiminie! – Revirei os olhos devagar e ele me abraçou com força, não entendi porquê. – Ganhou algum jogo de videogame novo ou algo do tipo?

            - Não, As, melhor, mil vezes melhor – sua voz se tornou um sussurro feliz e ele olhou em meus olhos enquanto segurava meus ombros, me assustei ao ver seus olhos levemente inchados. – Taehyung acordou.