História Estrelas do Céu de Abraão - Capítulo LVI.

Hyrum acordou sentindo um dor forte na cabeça, devido a pancada que havia levado de Hamurabi. O irmão não queria, mas foi a única saída para ajudar Maya fugir. Levantou, meio sonso, e encontrou Hamurabi e Naomi.

— O que aconteceu?  Maya e Israel, onde estão?

— Eles foram embora, são livres agora. — Hamurabi respondeu, seriamente.

— Como é que é?

— É isso mesmo que você ouviu. 

— Você está feliz  com isso, meu próprio irmão, foi você quem me desmaiou para que eles fugissem... — Hyrum se deu conta.

— Eu tive que fazer, irmão. Você não me deu escolhas.

— Mas isso não ficará assim, eu vou encontrá-los, eles não foram muito longe, vou castigá-los, quanto à você, irmão traidor, saía dessa casa, ela me pertence, eu sou o filho primogênito. E não vou aceitar um traidor aqui dentro. Quando eu voltar não quero te encontrar aqui.

Hyrum saiu batendo a porta com força. 

— Está vendo? Desse jeito ele vai terminar sozinho. — Hamurabi disse a Naomi.

A esposa preocupada, questionou:

— E se ele resolveu cumprir a promessa de se vingar?

— Fique tranquila, não faz ideia  de para onde eles foram, nunca os encontrará,  vai acabar desistindo.  E nós, meu amor, vamos embora, para Israel, Judá.

Naomi sorriu, contente, em breve estaria em casa.

***

Era de manhã quando o barco chegou à Nivine. Maya acordou cedo, teve dificuldade, para dormir com o barco se movimentando, nunca tinha viajado em uma embarcação.

Viu Israel sozinho, e foi até ele.

— Precisamos conversar. — começou.

Ele riu, olhou para ela, também não tinha dormido muito, pensando em como seria sua vida se encontrasse a família. Encontrando ou não, as coisas já tinham mudado, ele não era mais um escravo. E Elias, era responsável por isso, parecia ser mesmo um bom rapaz, mas tinha Maya.

Poderia sim ser mais fácil se ele não fosse apaixonado por ela. Ou se Elias não fosse, não poderia competir com Elias.

— Sobre o Elias!? É sempre ele, agora. — comentou inciumado.

— Você está sendo muito injusto com ele, Israel. — disse Maya.

Ela tinha razão, mas ele não admitiria que concordava.

— Ele quer te roubar de mim. — falou, sem pensar.

Maya ficou sem palavras, surpresa com aquelas palavras:

— Não diga uma bobagem dessas. — por fim, ela disse. — Vocês poderiam ser amigos. 

— Acho difícil isso, afinal, ele é quase um sábio, e eu... Sempre me trataram como um animal. Não sei ler, não sei nada.

— Não sabe ler ainda, isso não significa que você não possa aprender. Você aprende rápido, por isso sobreviveu até hoje. E eu só disse isso porque... Ambos tem um bom coração.

Israel sorriu, talvez fosse melhor assim, Elias poderia fazer ela feliz, de um jeito que ele não poderia.

— Chegamos. — avisou Elias. — Chegamos a cidade real da Assíria.

— Já esteve aqui alguma vez? — perguntou Elias a Maya.

— Nunca, me levaram direto para Babilônia. — ela se referiu ao dia em que foi escravizada pelos assírios.

Eram momentos sombrios, em que foi afastada da família, lágrimas brotavam de seus olhos quando se lembrava.

Elias percebeu o desconforto da jovem, e a acalmou com suas palavras: — Não pense mais nisso, você agora é livre. Selima desejava assim, e assim será.

Logo chegaram em frente ao grandioso palácio.

— É imenso esse lugar! — exclamou ela.

— Não acredito que vão deixar eu entrar nesse lugar. — Israel falou, pessimista, olhando para o palácio.

— Claro que vai entrar, você está comigo. — Elias garantiu à ele.

— Esqueci que você é o nobre, o parente do soberano. — o ex escravo falou com ironia. — Mas eu prefiro ficar num lugar mais simples, não me encaixo em tanto luxo, não me sentiria à vontade.

Conhecendo o amigo muito bem, Maya disse a Elias: — Ele é um teimoso, nem adianta insistir, dê algumas moedas à ele. 

Foi exatamente o que o hebreu fez.Sem dizer, uma palavra, Israel pegou as moedas, e se retirou.

— Israel é orgulhoso, ele ter aceitado essas moedas, já foi muita coisa!— Maya disse a Elias.

— Espero que ele vá para Israel, conosco.

— Eu também, quero que ele encontre a família, saber de onde vem pode ajudar ele a se encontrar também.

— Você está certa. — concordou Elias. — Agora, vamos entrar, você tem que conhecer minha tia avó, a rainha-mãe Adele.

— Eu num palácio, quando eu ia imaginar algo assim?

— E o que que tem? Você é princesa da Núbia, esqueceu?

A princesa da Núbia sorriu.

— Por muito tempo esqueci, mas você me fez lembrar de quem eu sou, realmente.

***

— Está é Maya, a filha de Zuma. — disse Elias,  apresentando ela a Adele.

— Seus pais ficarão muito felizes, em reencontrá-la, Maya.

— Eu também não vejo a hora de revê-los. 

— E o que senhora acha de ir conosco para Núbia? — perguntou Elias à Adele.

— Preciso consultar ao rei, mas gostaria sim, e ir para Israel também, ansiosa para ver o Joabe, meu neto.

— E eu estou ansiosa para conhecer toda a família. — falou Maya. 

Elias recordou dos primos.

— Por falar em família, e o meus primos? — perguntou ele. 

—Adivinha?Área de treinamento.

— Bem óbvio.  Irei vê-los. Shalom.

Ao ficar sozinha com a núbia, Adele disse à ela.  — Vou te dizer uma coisa Maya, eu não aprovava a ideia de Elias ir para Babilônia, longe da proteção da guarda real, mas parece que a viagem foi a melhor coisa que poderia acontecer na vida dele.

— Elias despertou em mim o desejo de ser livre, ele fez com que eu percebesse que eu livre para amar, posso livre todos os sentidos.

— Amor e liberdade tem que está lado a lado. — reconheceu Adele.

— É lindo isso o que está me dizendo, quer dizer que vocês se apaixonaram? Mas é nítido o brilho no olhar de ambos.

— Está muito óbvio?

— Sim, e é lindo. Amar é muito bom, eu fui muito feliz ao lado de Quenaz.

— O avô de Elias, não é?

— Sim. — Adele respondeu saudosa. — Fomos muito felizes juntos.

***

— Pelo que vejo... — falou Elias, e sorriu. — Tudo está como antes.

Esaú e Jacó treinavam na área de treinamento do palácio, como faziam em Hebrom. Pararam ao ver o primo.

— É assim que gosto de ver vocês. 

— Ouvi seu conselho, você estava certo, como sempre, Elias. — Jacó reconheceu.— Mas, primo, você disse que só voltaria para cá, com Maya...

— Ela veio, está no jardim com Adele. Agora assim podemos voltar para Israel, mas antes... Irei até a Núbia. Querem ir conosco?

— É claro. — os gêmeos disseram juntos, como costumava ser.

A atenção de Elias, voltou para os meninos que treinavam com espadas de madeira.

—  Aqueles são o príncipe Tamuz e Rafael o filho do comandante Adonis. — explicou Esaú.

— Rafael, filho da hebreia Rebeca, da tribo de Judá. Minha mãe a conhece,  e é muito grata à ela, Rebeca foi ama de leite de Yarin. — Elias recordou.

— Hoje ela é dama da rainha Belit. — falou Esaú.

Elias estava surpreso, os primos sabiam em demasia sobre o reino. Será que pretendiam ficar?

Olhando para Rafael, Elias recordou-se de Israel, aquele menino se parecia com o ex escravo. Mas não, não fazia sentido? Fazia!?

— O que tenho reparado é que... Rafael é excelente com as espadas, cavalga com destreza, nada, corre... — comentou Esaú. — E o príncipe não aceita bem ver suas habilidades, que ele não realiza com a mesma facilidade...

***

A rainha Belit estava pensativa no harém, conferiu que tudo estava em ordem, menos ela, que havia falhado como mãe. Se lembrou do que disse à ele mais cedo ao filho mais velho, ao encontrá-lo treinando com o filho do comandante.

— Meu filho, não é correto se achar superior a Rafael porque é um príncipe, e ele não. 

Ignorando as palavras da mãe, o menino continuou com tom soberbo ao dizer:

— Mas eu serei rei da Mesopotâmia, um dia, mostrarei a todos meu poder, todos irão se curvar a mim.

— Quando você for rei, faça por onde para manter os dias de glória do reino, como seu pai tem feito. — a rainha respondeu ao filho.

Belit, estava tão aborsa em pensamentos que nem notou a presença de Adele.

— O que houve, Rainha? — ela perguntou a Belit.

A rainha mãe se tornou como uma mãe para ela, uma conselheira, uma confidente.

— O mesmo de sempre... Tamuz. Assur Bel é um menino tão tranquilo, mas Tamuz é um menino complicado.

— Ele ainda é muito jovem, ainda vai amadurecer.

— Eu não sei se ele mudará, tenho medo de que o poder o torne ainda pior, eu juro pelos Deuses que tento fazê-lo entender, rainha-mãe, mas Tamuz é...

— É como o avô. — completou Adele, com pesar. — Meu filho Marduk nunca me ouviu, sempre tentei o aconselhar, mas ele nunca me ouviu, e deixou que o poder o destruísse, confesso que também tenho medo que Tamuz seja um rei tirano como um avô, eu certamente não estarei entre os vivos para ver, mas todo o reino sofrerá as consequências de suas insanidades.

— Eu não vou desistir de transformar meu filho num rei não como o avô, e sim como o pai dele.

— Belit, você é uma excelente rainha, e uma ótima mãe, não sinta culpa, os pais, fazem o que pode, ensinam os filhos, se eles vão seguir ou não, cabem à eles. Fique tranquila, está cumprindo bem seus papeis, de soberana, e de mãe.

— Obrigada Adele, você tem sido muito especial para mim, como a mãe mesmo.

— Belit, querida, pode contar comigo sempre... Venha comigo, irei te apresentar a Maya,  princesa da Nubia. 

***

— Soberano. — falou Elias, ao entrar na sala do trono.

— Elias, quanto tempo mais pretende ficar no palácio?

— Uns dois dias, Maya quer muito conhecer o reino de sua familia.

— Lamento que já vai partir.  Estou impressionado com você, primo. Tanto que farei  um convite; Não quer ser um conselheiro real?

— Soberano,  eu fui pego de surpresa com esse convite.

— Farei de você, o principal. Com o tempo, poderá vir a ser vizir, governador!

— Eu fico até envergonhado de negar uma colocação como essa, não entenda como uma desfeita. Mas eu pretendo voltar para Israel, minha terra. Esse sempre foi meu plano. 

— Entendo, uma pena seria excelente para o reino. Maya é a moça núbia que era escrava?

— Sim, Maya. Acredita que ela é filha de um ex rei núbio? Seu irmão é o atual governante. Conhecerei a Núbia.

— Já estive por lá, belas terras! — elogiou o rei Tiglate. — Tenham uma boa viagem!

                ***

          Reino da Núbia, Napata

— Se parece com o Egito. — disse Adele ao ver as pirâmides.

Ela, Elias, Israel, Maya já caminhavam pelas ruas de Napata, capital da Núbia.

Adele, ao olhar para Israel, o ex-escravo estava mais tranquilo na Núbia, bem diferente da Assíria, podia sentir sua liberdade.

— Já esteve no Egito, rainha? — perguntou Maya.

— Sim, uma vez, mas eu era uma menina, princesa de Jericó, meus pais vieram, e meu irmão Marek também, foi uma viagem inesquecível. 

— A Núbia era colônia egípcia, depois conquistou sua liberdade. —

— E você ficou sabendo de tudo isso, apenas lendo pergaminhos e papiros? — perguntou Israel, muito impressionado com o conhecimento de Elias.

— Exatamente, Israel.

***

Bonami, subiu ao trono da Núbia, no segundo reinado de seu pai, Zuma. Com o independência do Norte de Israel, e da Núbia, ele subiu a trono, enquanto seus pais Zuma e Mandisa ficaram vivendo em Israel.

— Soberano, a rainha mãe da Mesopotâmia está no palácio. 

— Como o rei dissera no papiro. 

— Peça que eles me esperem no jardim real.

—Será mesmo, sua irmã desaparecida? — a rainha Nubity,  perguntou.

— Irei descobrir agora. — respondeu o rei, levantando-se do trono.  — Se for mesmo Maya, me fará muito contente!

                        ***

Bomani reconheceu a irmã Maya assim que a viu.  Depois de tanto tempo já estava ficando desacreditado que ela tivesse viva. Contente,  o rei cuchita pediu que vestissem Maya como uma princesa. O vestido que a colocaram era florido, de linho fino, e preparou um banquete para ela, no jardim do palácio.  Todos olharam encantados enquanto ela chegava ao local. Elias ficou ainda mais fascinado ao vê-la. Admirada com a mesa, exclamou:

— Um verdadeiro banquete! 

—Você é princesa Maya, irmã do rei. Essa será sua vida, agora.

Sentou-se de frente para o irmão, ao lado de Elias.

—E o nosso pai, já se encontrou com ele, Maya?

— Não. Tive que fugir da Babilônia, e estou aqui.

— Fugir!? Explique Maya,  onde esteve durante todos esses anos.

— Maya estava sendo escravizada. — explicou Elias. —Todo esse tempo.

— Será que esse é o destino de todos de nossa família, ser escravo?

— Assim como a servidão acabou para você meu irmão, e para os nossos pais,  finalmente acabou para mim, também.

— Eu quero me casar com Maya, Soberano. E espero ter sua aprovação, e de seus pais.

Bomani ficou surpreso.

— Bom, eu pensei que Maya ficaria na Núbia conosco, acredito que viverá em Israel, como nossos pais... É o que deseja, Maya?

— Sim, é o que mais desejo na vida. 

— Se é assim, porque eu ficaria contra essa união? Cuide de minha irmã, rapaz.

— Cuidarei sim,  rei.

Uma voz de criança, foi ouvida. — Papai.

— Esse é meu filho, Zuma. 

— O nome de nosso pai. — Maya falou, emocionada.

— Ele será o meu sucessor, rei Zuma II.

O escriba se aproximou da mesa, e fez uma reverência.

— O soberano me chamou, aqui estou eu.

— Meu escriba, acompanhe o jovem Elias até nosso acervo, e biblioteca real. Ele é um fascinado por letras.

— Sim, soberano. 

— Muito obrigado, soberano. Irei agora mesmo. 

— Fique e aproveite um pouco mais o banquete, rapaz. — pediu a rainha Nubity. 

— Elias é só escutar falar sobre papiros,  que se empolga.

— E eu já estou satisfeito,  se não se importar, soberano, irei.

— Pode ir sim.

Elias saiu juntamente com o escriba.

— Rapaz simpático. — comentou a rainha Nubity. — Parece um príncipe.

— Sim, ele é muito gentil. bondoso. — concordou a núbia, sem jeito, enquanto o irmão a observava.

— Quanto partirão para Israel? — quis saber Bomani.

— Ficaremos alguns dias... Quero rever meus pais, logo.

—  Entendo sua ansiedade. Eles ficaram encantados, como eu estou. — o rei sorriu. — Você está linda, Maya.

— E eu estou encantada com meu sobrinho, é tão lindo! 

— Terei de me retirar, continuem aproveitando o banquete. — avisou o rei. 

— Então Adele, o que achou da Núbia? — perguntou a rainha Nubity. 

— Muito agradável, me faz lembrar do Egito. 

— Temos um pouco da cultura egípcia, em nossa cultura. 

—  Maya está ainda mais bonita,  vestida como a verdadeira princesa que você é.

— Eu nunca tinha estado no Egito, nem na Núbia, está sendo maravilhoso conhecer outros lugares,  ser livre. 

— Bomani me lembra muito Zuma. — comentou Adele

— A soberana o conhece? — Nubity quis saber. 

— Sim, Zuma é um grande guerreiro, seu pai participou de todas as batalhas da conquista de Canaã, todas as guerras que Josué liderou.

— Mas você não é Assíria?

— Bom, na verdade eu sou cananéia, mas casei com um hebreu de Judá, Quenaz. Vivi muitos anos em Israel... — explicou Adele.

Adele estava muito nostálgica e ansiosa para chegar a Hebrom logo, e está junto da família.