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História Eterna aliança - Desejos


Escrita por: Shays

Capítulo 16 - Desejos


Fanfic / Fanfiction Eterna aliança - Desejos

Ela parecia totalmente alheia ao que fazia. Servia uma xícara de um maravilhoso chá, enquanto Izume, habilidoso, enrolava o macarrão na faca. O forte tinha sido deixado de lado por um tempo e o sol banhava o terraço com um brilho dourado.
O mesmo brilho que ela emanava, e que parecia em sintonia com a luz dourada a seu redor. Isso a surpreendia e então ocupou-se com a atividade.
Enquanto tomava o chá quente e cheiroso, os olhos desobedientes se voltaram para Sasuke sentado à frente. Ele recostou-se, numa posição relaxada. Tomava goles de café expresso de vez em quando, um dos braços dobrado na cadeira e uma das pernas cruzada sobre a coxa nua. Conversava com Izume, respondendo às perguntas com bom humor, mas os olhos desviavam-se para ela enquanto falava, mandando faíscas elétricas.
O que estava acontecendo estava fora de seu controle. Completamente fora de controle, e ela não se importaria. Não queria questionar, analisar, examinar ou compreender. Queria apenas entregar-se a essa maravilhosa sensação a invadir-lhe cada célula do corpo.
Depois de Izume ter jantado, jogaram cartas. Um jogo barulhento e veloz que envolvia bater de cartas e gritos exaltados de Izume e Sasuke. E no meio do jogo, Sasuke ainda achava tempo para admirá-la, sentir a sensação maravilhosa que despertara nele quando Sakura aproximou-se no terraço. A transformação era tão incrível, inacreditável.
No entanto, diante dele, presenciava o milagre.
O cabelo sofrera uma mudança inimaginável. A pele bem cuidada brilhava, a maquiagem trazia vida aos traços que julgara comuns.
E agora ele não conseguia deixar de fitá-la.
Ele a desejava e não pretendia negar.
O corpo ficara alerta tão logo a vira aproximar-se, exibindo o corpo sedutor que estivera escondido todo o tempo — invisível debaixo das roupas largas.
Como ela o mantivera escondido?
Ainda não compreendia. Por que esconder um corpo tão sedutor?
Mas agora era visível. Completamente. Nunca mais iria escondê-lo.
Especialmente dele.
Ficou excitado e teve que lutar para controlar-se.
Não devia se apressar. Não se atreveria. Ela ainda estava em estado de choque, insegura.
Tenho que ir devagar. Muito devagar.
Deixá-la acostumar-se, ganhar autoconfiança.
Voltou a fitá-la enquanto Izume  organizava outra rodada, contando as cartas com cuidado, separando-as em três pilhas.
Percebia estar sendo observado. Viu o olhar encoberto, o ligeiro tremor da mão quando ela pegou as cartas.
Sakura também se sentia observada, admirada.
Sentiu o coração descompassar...
O que está acontecendo comigo ?
Que pergunta tola! Sabia o que estava acontecendo e não podia controlar. Não conseguia mais parar. Respondia à devastadora sexualidade do homem com quem se casara para mantê-la com Izume. E como podia impedir?
Desde que o vira, naquela traumática noite na vila, havia ficado interessada nele. Abafara a sensação, constrangida, sabendo que jamais deveria demonstrar interesse, pois alguém como ela agir assim seria... grotesco.
Fora fácil. Para Sasuke, ela não existia como mulher. Como para nenhum outro homem. Então, embora a reação instintiva fosse de constrangimento, também soubera que isso não importava, era irrelevante. Tudo que importava era Izume. E nos últimos dias, quando Sasuke visivelmente esforçara-se por deixá-la à vontade e fazê-la esquecer o trauma sofrido, quando ele tinha sido gentil e atencioso, bem diferente da reputação de príncipe play-boy, mesmo assim não importava.
Permitira que ela começasse a relaxar, a sentir-se à vontade. Começasse a vê-lo não como um príncipe, não como homem, mas como pessoa.
Haviam conversado. Nada especial, nada profundo, apenas conversado. Sobre Izume, claro, mas também sobre outras coisas enquanto ele brincava, absorto, com os trens, com os brinquedos entregues na villa ou os descobertos na sala de jogos.
Não sabia ao certo sobre o que conversaram, nada lhe veio à mente, mas sabia ter sido sem tensão, sem esforço.
Tinha sido... amigável, fácil, casual. Mas agora sentia-se excitada.
Toda vez que ele a olhava.
O que está acontecendo comigo?
Mas Sakura sabia.

— Boa noite querido, durma bem.
Sakura curvou-se para beijar Izume. Ele já estava adormecido. Do outro lado da cama, Sasuke acariciou os cabelos dele.
Insistira em dar banho em Izume aquela noite.
— Não queremos que o vestido novo da mamãe fique molhado, certo?
Ele é quem ficara molhado, a camiseta colada ao torso. Desviou o olhar, mas não antes de Sasuke notar que ela o admirava.
Havia um brilho decidido no olhar dele quando falou:
— Vou me arrumar e encontro você para jantar. Ele dera instruções ao chef para preparar um jantar especial. Independentemente dos resultados, pretendia tornar a noite especial para ela.
E seria especial. Outra onda de admiração varreu-o como acontecia toda vez que a olhava.
Era incrível!
Será que ela já tinha se olhado? Com certeza! Entretanto, a reação inicial, quando saíra correndo, reclamando ter sido um desastre, provava não ter percebido a transformação.
Ele contornou a cama.
— Você vai precisar de um xale. Ainda esfria à noite. Vamos escolher um.
Abriu a porta do closet e entrou. Observou as roupas novas penduradas e protegidas por plásticos, com ar de aprovação. Queria que ela tivesse muitas roupas bonitas e aquilo era apenas o começo.
Ela o seguiu, como planejara.
— Aonde você guardaria uma echarpe? Sakura não respondeu. Não podia.
A parede do closet era toda espelhada e, refletida no espelho, havia uma pessoa que nunca vira.
Sasuke olhou primeiro a mulher no espelho; depois, a mulher que olhava para o espelho.
Deixou-a olhar, observando o ar de incompreensão.
— É você. Você de verdade. O "eu" que escondeu todo esse tempo.
A voz era calma, serena, constatando um fato que não mais lhe permitiria negar, esconder.
Ela arregalava os olhos.
— Não pode ser eu.
Ele aproximou-se por trás.
— É você mesma.
Pousou-lhe as mãos nos ombros. A pele sedosa. Sentiu-a estremecer ao toque, embora não tivesse se afastado. Continuava olhando seu reflexo.
— Como fizeram isso? Ele deu um sorriso.
— Tinham um ótimo material para trabalhar. Levou a mão aos cabelos e deixou-a cair.
— Meu cabelo.
— Devem ter usado algum produto . Afinal, tudo que precisavam fazer era... produzi-la. — A voz suavizou-se. — Sempre esteve aí, Sakura, e sempre estará.
Tirou as mãos. Não queria. Queria segurar-lhe os braços, virá-la de frente para ele, beijá-la e... Mas sabia que não devia. Não agora, não ali.
Ainda não.
Deu um passo atrás.
— Você acha que colocaram os xales numa gaveta? Vamos procurar.

Sasuke retirou a garrafa de champanhe do balde de gelo e encheu as taças.
Sentados no terraço, na mesa que durante o dia era coberta de livros e brinquedos de Izume. O guarda-sol fora retirado e uma toalha branca forrava a mesa, arrumada com prataria e cristais. Um lindo arranjo floral ornava o centro e as chamas das velas, em candelabros prateados, oscilavam ao vento. As estrelas iluminavam o céu escuro. As luzes dos barcos pesqueiros ao mar brilhavam. Cigarras ciciavam e o perfume das flores enchia o ar.
A refeição fazia justiça à arrumação. Além de deliciosa, a apresentação era sofisticada, difícil resistir. E Sakura não resistiu — nem resistiu à segunda taça da bebida que cintilava, à luz das velas, na taça comprida e refinada.
— A você — disse Sasuke, levantando a taça. — À nova Sakura. A verdadeira.
Os empregados tinham deixado café, biscoto e champanhe de uma safra especial. Sasuke deliciava-se.
E não era só com isso que se deliciava.
Tomou outro gole, apreciando a bebida e recostou-se. Os olhos pousaram em Sakura.
Encontrara um xale numa suave composição de tons que combinavam com a cor do vestido. Enrolara-o nos ombros, uma das extremidades caindo-lhe no pescoço, o que não escondia a fartura dos seios no corpete justo.
Não, não devia deixar os olhos pousarem naquela parte do corpo dela. Queria — e como! — mas sabia que não devia. Ela podia não ficar à vontade. Ainda não. Precisava ir devagar.
Saborear.
Tomou outro gole de champanhe, saboreando-o também.
— A você — repetiu. — À nova e linda Sakura.

— Fale sobre sua irmã?
A voz novamente rouca e suave.
— Ino? — Parecia confusa. — Ino era a melhor irmã do mundo. — Sentiu a garganta apertada.
— Era um anjo. Todos a amavam. Era tão linda, alta, magra, pernas compridas, o cabelo loiro até a cintura e aqueles olhos azuis, maravilhosos. Quando ainda estava na escola, os meninos andavam atrás dela e quando virou modelo ficou ainda mais linda.
— Não me admiro que um príncipe tenha se apaixonado por ela. — Parou abruptamente.
Sasuke escolheu as palavras com cuidado.
— Ino era bonita, muito bonita. Mas era... — Fez uma pausa. Loira burra, Itachi, cruel e insensível a chamara. Entretanto, a mãe natural de Izume possuía uma aparência cândida.
— Não é o único tipo de beleza.
Mas se Sakura crescera ouvindo que apenas aquele tipo de beleza, loira e magra, como o das modelos era aceitável, natural que nunca tivesse tentado melhorar a aparência. Não se admirava por ter aceitado ser a irmã feia, vivendo à sombra de Ino.
— Ino— falou, rindo. — Me chamava de testa de marquise, mas não no mau sentido. Costumava chamar-me assim, irritada. Por que eu nunca...
Parou, levando a taça aos lábios para disfarçar o silêncio.
— Nunca o quê?
O que lhe acontecera? O que a fizera achar-se feia? Ele achava que devia ser a irmã, mas ela negava. Então quem?
Queria saber. Queria descobrir o que lhe fizeram e quem.
— Por que você nunca o quê?
Ele queria respostas. Queria compreender. Para que a amargura que a consumia a deixasse para sempre.
— Porque eu nunca parava.
— Parava de quê?
— De me ocupar, suponho. De me mostrar útil.
— Para quem? — perguntou em voz baixa.
Sakura apertou com força a haste da taça.
— Ino. Meus pais.
— Por que precisavam que você fosse útil?
Ela não o encarava.
— Porque...
— Por quê?
Apertava a taça. Podia ver-lhe os nós dos dedos ficarem brancos.
— Porque eu só servia para isso. Não era bonita, como Ino, e só ela era inteligente, eu não muito. Ela era tudo que meus pais queriam.
Os olhos desviaram-se, perdidos. Algo acontecia. Ela tomou outro gole e colocou a taça na mesa. Fitou-o, enraivecida.
— Quando Ino nasceu, deixei de existir. Só servia para ajudar. Tomar conta de Ino. Ajudar Ino. Ino, Ino, Ino! Tudo girava em torno de Ino. Eu era apenas um estepe... um excesso de bagagem não desejado, justificado apenas se pudesse cuidar de Ino e, mesmo assim, mal. Eu queria odiá-la. Mas não podia. Ninguém podia. Porque ela não tinha nada que pudesse despertar ódio. Ela realmente era encantadora, todos a amavam. Não é de admirar que meus pais a adorassem. Adoravam-na tanto que perdoaram tudo mais. Até mesmo o fato de ter se tornado modelo. Só não lhe perdoaram uma coisa. Só uma. — Retesou-se e continuou. — Morrer. Isso não puderam perdoar. — Abaixou a cabeça, exausta.
- Não podiam viver sem ela. Foram para a garagem, trancaram as portas, entraram no carro e ligaram o motor.
Por um momento, reinou o silêncio. Sasuke estremeceu.
— Seus pais se suicidaram? — Isso não constava do dossiê de Ino .
— Quando souberam que ela não se recobraria, que seria um vegetal, em coma até... — Interrompeu-se, o rosto sombrio. — Ela era tudo para eles, o mundo. Dedicaram-lhe a vida e ela partira. Deixara-os. Deixara-os para ser modelo. — Engoliu em seco.
— Deixara-os por um homem que, assim pensavam, só a envolvera em confusão... e depois os deixou por completo, sozinhos.
Suavemente, ainda estremecendo, Sasuke falou:
— Mas tinham o bebê, você. Ela o olhou, sem expressão.
— O bebê era um bastardo, sem pai, motivo de constrangimento, uma desgraça. Quanto a mim, eu era... irrelevante. Não contava. Desnecessária.
Enraiveceu-se.
Desnecessária. A palavra soava familiar.
Ele também era desnecessário, sempre fora. Era o estepe, o excesso de peso. Deixado numa prateleira, em caso de emergência. Mas sem outra utilidade além de ir vivendo, esperando o dia em que deixaria de ser desnecessário.
Sentia raiva. Mas dessa vez de si próprio. Por ter aceitado o veredicto dos pais. Ressentia-se do papel para o qual nascera. Aceitara ser o estepe de Itachi.
Mas, não era mais assim.
Emocionado, olhou a mulher que fora tão terrivelmente desnecessária para os pais, mas que era tão necessária para o único ser humano para quem ele tinha se provado necessário. Izume.
Pegou-lhe a mão.
— Mas agora você é necessária, essencial. Você é a alegria de Izume e eu.... eu sou a segurança dele. E juntos — apertou-lhe as mãos, num gesto protetor — vamos cuidar dele, amá-lo.
Gentilmente, levantou-a. Emocionou-se ao conduzi-la pelo terraço até o quarto. Ficaram parados olhando Izume adormecido.
Passou-lhe o braço pelos ombros, fitando o único ser humano para quem eram absolutamente necessários.
Unidos com esse objetivo.
Mas havia outro mais, Sasuke sabia.

                         ....



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