— Mamãe, mas é meu cabelinho lindo. — Ela disse, e meu coração se apertou.
— Meu amor, teremos que rapar. Você quer que ele caia aos poucos, e você fique triste por conta disso? — Perguntei a ela.
Ariel secou uma lágrima que rolava por seu rosto, e seguiu com a enfermeira para o outro quarto. Ouvi o barulho de seu cabelo lindo ser rapado, e enfiei minha cabeça em um travesseiro para reprimir um choro. Ariel voltou cabisbaixa, e careca.
— Eu estou horrível, mamãe. — Ela disse chorando.
— Meu amor. — Disse a abraçando. — Você é linda, e sempre será.
— Minha vida acabou. — Ela disse fazendo bico.
— Ariel, você só tem cinco anos. — Disse.
Lydia, Johnson, Melanie, Andrew, Madison, Gilinsky, e Emma apareceram e abraçaram Ariel que não tirou a cara de choro. Lydia cochichou algo no ouvido dos filhos, e eles sorriram. Ambos saíram do quarto, e voltaram após alguns minutos. Andrew e Melanie, chegaram correndo alegres, e estavam carecas. Eles abraçaram Ariel, e então eu comecei a chorar.
— Agora estamos todos lindos. — Melanie disse sorrindo. Ariel ficou tão feliz que eu tive que me agarrar em Madison para não abraça-la até ela explodir.
As crianças começaram a brincar sorridentes, e eu os adultos conversávamos assuntos aleatórios. Sammy e Nate estavam gravando um vídeo para uma nova música.
— Licença. — Uma enfermeira disse batendo na porta. — Mandaram entregar isso para a Ariel. — Ela disse, e me estendeu o papel já que Ariel não sabia ler.
— O que é isso, mamãe? — Ariel perguntou. Li a carta, e me surpreendi, Ariel iria adorar.
— É uma empresa, eles realizam o desejo de crianças com câncer. Você pode pedir o que você quiser, e eles iram te dar. — Falei sorridente.
— Eu posso pedir uma família? — Ela perguntou sorridente.
— Ahm... Não meu amor. — Falei triste.
— Então eu não posso pedir qualquer coisa. — Ela retrucou grossa.
— Ariel mais respeito, eu sou sua mãe. — Falei autoritária.
— É tudo culpa sua, mamãe. A culpa é sua que o papai perdeu a memória, e agora não somos uma família. — Ela gritou, e saiu correndo do quarto. Melanie e Andrew a seguiram, me levantei para ir atrás dela, mas Lydia me parou.
— Deixa que a gente fala com ela. — Lydia disse, e ela e Emma saíram do quarto atrás das crianças.
Me agarrei a Johnson e comecei a chorar, como ela pode pensar que foi minha culpa?
— Não se deixe abalar, Amanda. Ariel ainda é pequena, não sabe o que está falando. — Johnson disse me abraçando.
— Eu sou uma mãe horrível. — Resmunguei.
— Ariel ainda é pequena, Amanda. Ela com certeza disse sem pensar. — Madison disse.
(...)
Deixei Ariel com Emma e Lydia. Passei o dia resolvendo coisas do hospital, assim que cheguei a ala das crianças para buscar Ariel, encontrei ela brincando com Sammy... e Amélia?
Amélia lia a história de um livro enquanto Ariel estava sentada no colo de Sammy. Me escondi atrás da de uma parede para ouvir o que eles falaram.
— Fim. — Amélia disse sorridente.
— Eu adorei. — Ariel disse sorridente. — Você podia tanto ser minha mamãe, Amélia.
— Eu iria amar, mas você já tem uma mamãe, Ariel. Amanda é uma ótima mãe. — Ela disse sincera. Agora eu estou surpresa.
— Não é não. — Ariel resmungou. — Você sim, é legal. — Ela disse sorrindo.
— Muito obrigada. — Ela disse sorridente. — Mas você já tem uma mãe, e deve respeitar isso.
— Uma empresa disse que eu posso fazer qualquer desejo, você iria para Disney comigo e o papai? Nós seriamos uma família, não precisamos contar para a mamãe. — Ariel disse.
— Ariel, você ficou louca? — Sammy perguntou. — Você sabe o quanto você machucaria sua mãe? De onde você tirou essa ideia absurda?
— Eu estou morrendo papai, por favor. Faça isso por mim. — Ariel suplicou.
— Ariel, você não está morrendo, pare de drama. — Sammy a repreendeu.
— Por favor, papai. Por favor, por favor, por favor. — Ariel suplicou repetindo, quase me levantei e dei um soco na boca dela.
— Tá bom. — Sammy disse.
— Você fingiria ser minha mamãe, por favor? — Ariel perguntou para Amélia.
— Claro, amor. — Amélia disse sorridente, e a abraçou, mas acontece que ela estava abraçada a Sammy, e acabou que eles três se abraçaram. Sammy e Amélia quase se beijaram, e isso quebrou meu coração.
Sabe aquela dor bem lá no fundo? Aquela que aparece do nada e se torna tudo, se torna lágrima, tristeza e acaba com o seu dia? Aquela dor que você entra em baixo do chuveiro, encosta na parede e espera que a água a leve embora? Aquela que você não sabe da onde veio, qual o motivo certo para que ela esteja incomodando, mas que ela está ali. Doendo. Aquelas lágrimas que escorrem por seu rosto, estragando aquele seu sorriso lindo, tão pesadas que parecem levar a dor junto. Mas não. Ela não vai junto.... Ela permanece ali. E só piora. Quando a única pessoa que seria capaz de curá-la com um abraço está longe! Sabe aquela dor? É bem essa que eu estou sentindo no momento.
Me levantei cautelosa, e sai daquele local. Eu já chorava tanto que não enxergava quase nada.
Às vezes eu me pergunto se a culpa do que está acontecendo é única e exclusivamente minha. Talvez sou eu que ponho confiança, intensidade nas coisas. Meu tombo foi tão alto e tão dolorido que eu não consigo nem disfarçar a minha dor (e olha que isso era uma das minhas melhores habilidades). Eu nem consigo fazer as pessoas sorrirem que era o que eu mais amava em mim. Eu me sinto destruída, sem ânimo, sem motivação. Tenho vontade de me isolar de tudo e de todos, não quero que sintam pena de mim, pois não vai resolver nada, não quero que me deem conselhos, pois não tenho força para segui-los, só quero me isolar, me machucar até aprender que jamais se deve criar expectativas em relação a qualquer pessoa.
— Amanda, o que aconteceu? — Thomas disse assim que entrei no quarto.
— Não consigo falar agora, por favor só me tira daqui por favor. — Disse me jogando em seus braços.
— O que aconteceu? — Ouvi a voz de Sammy assim que Thomas me tirava do quarto carregada em seus braços.
— Eu não sei. — Thomas disse. — Mas se eu souber que você está metido nisso, vou te colocar em coma de novo. — Thomas disse, e saiu comigo do hospital.
Ele me colocou deitada sobre o bando de trás, e dirigiu para a casa de Lydia. Me sentia dopada pela dor. Como eu pude deixar isso acontecer? Como eu pude perder minha filha e o homem que eu amo?
— Amanda. — Thomas me chamou. — O que aconteceu?
Contei a ele o que havia ouvido, e Thomas cerrou os punhos. Não sei se ele estava com raiva de Sammy, ou de Ariel, ou de ambos.
Thomas deve ter avisado que estávamos indo para lá, já que assim que chegamos ela saiu ao meu encontro.
— Caramba, amiga. Parece que você levou uma baita de uma surra. — Lydia disse fazendo carinho em meu cabelo, enquanto eu estava deitada em seu colo.
— Eu sei, me sinto péssima. — Falei.
— Gilinsky, Madison, Emma, Nate, Bella, e os meninos estão vindo para cá. — Johnson disse.
— Que galera boa, viu. — Thomas brincou. Lydia se levantou e foi ver como Melanie e Andrew estavam. Thomas me puxou para o seu colo, e eu deitei minha cabeça sobre seu peito. — Vai ficar tudo bem, minha princesa. — Ele disse me abraçando.
— Eu sou uma péssima mãe, não consigo nem reconquistar o homem que eu amo. Eu sou uma decepção, Thomas. — Choraminguei.
— Ei, não fale isso. Você é a melhor coisa que me aconteceu. — Ele disse. — Você é minha irmãzinha, tenho tanto orgulho de você. Nem tudo é um mar de rosas, mas acredite em mim, tudo irá ficar bem.
— Eu amo você. — Disse o abraçando forte.
— Amo você também, minha pequena Campbell. — Ele disse sorrindo.
Os meninos chegaram e me cumprimentaram, fiquei envergonhada de estar em um mesmo ambiente que Cameron, mas ele parecia não se importar, os meninos devem ter explicado tudo a ele.
— Então, quando vamos para a Disney? — Nash perguntou.
— Disney? Vocês vão pra Disney? — Perguntei confusa.
— Claro, temos uma família para resgatar. — Cameron disse sorrindo.
— Não sei se eles querem ser resgatados. — Murmurei.
— Amanda, sua família está em jogo, você vai se arrependeu quando Ariel começar a chamar Amélia de mamãe. Quem vai levar essa, meu bem? Amanda ou Amélia?
— Amanda é claro. — Falei.
— Então, não temos mais o que discutir. Sammy pegou a carta, eles iram hoje à noite. Podemos ir amanhã de manhã? — Nate perguntou.
— Claro. — Falei. — Qual a desculpa que Sammy arranjou para Ariel sumir do nada? — Perguntei.
— Disse para mim, fala para você, que Ariel queria ir para a praia. — Madison disse.
— Que desculpa esfarrapada. — Cameron disse.
— Então, nada de fofoca mais. Temos trabalho a fazer. — Taylor disse sorrindo.
(...)
Já estávamos no aeroporto. Eu estava suando de tanto nervosismo. Quando já estava pensando em desistir, vi aquela multidão de meninos correndo com malas. Matthew acabou tropeçando, e jogou as malas para o lado, que atingiram Aaron, que tentou se segurar em Cameron, que sem deu um tapa em Nash. Carter começou a rir de tudo, e acabou levando uma mala na cara. Os que não foram atingidos foram ajudando os que estavam no chão.
— Relaxa, Amanda. — Johnson disse. — Eles não vão dar problemas.
— Tem certeza? — Perguntei vendo os meninos batendo as malas uns nos outros, e correndo.
— Não. — Ele disse. — Mas pensamento positivo é muito bom.
Os meninos pararam de brincar, e embarcaram no avião, agora não tinha mais volta.
Engoli o choro mais uma vez. Engoli a vontade de gritar para todos. E engoli um pouco da dor também. Mas isso está acumulando e acumulando aqui dentro de mim, e eu não aguento mais. Já pensei em desistir. Já fiz até milhares de loucuras para ver se tirava pelo menos um pouco dessa dor, mas parece que com o tempo só vai aumentando. Por isso foi desconfiando do que me dizem, dizem que com o tempo passa, cura. Mas isso é mentira. Por que para mim o tempo passa, continua e dói mais.
Sabe quando você chega a olhar para o céu, tentando achar uma esperança, ou um milagre para curar a tua dor? Quando você mal consegue respirar, de tanto soluçar, chorar, espernear. E tudo que mais quer na vida é abrir seu peito com as próprias unhas e arrancar esse coração, joga-lo no lixo, chuta-lo com toda sua força e isola-lo para bem longe.
Eu queria fazer isso, queria deixar que o orgulho vencesse, e eu não ligasse mais para isso, ou para eles. Mas são minha família, são tudo o que tenho.
Mesmo com todos os defeitos, nunca se abandona sua família, e estou indo para a Disney resgatar a minha.
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